Um projeto poético de literatura marginal periférica que teve construção coletiva e distribuição facilitada para estudantes e pessoas das periferias. Saral, do poeta, curador e gestor Talles Azigon, surgiu como ideia nos idos de 2017. Quatro anos e duas edições depois, o projeto chegará ao fim com um terceiro volume que traz ilustrações do artista Flávio Domingos. É possível colaborar com o financiamento coletivo virtual de Saral#3 até 18 de janeiro. A trilogia como um todo reforça temas e formas caras à produção do poeta, como a ligação entre linguagens, as potências de vivências periféricas e a democratização de acessos à cultura.
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A semente de Saral nasceu, remonta Talles, enquanto ouvia a canção "Diário de um detento", dos Racionais MC's, numa viagem de ônibus. "Eu estava extremamente envolvido com o movimento de saraus e, ao pensar nos Racionais, em como eles conseguiram se espalhar nas periferias, fiquei pensando que, além dos shows, a pirataria foi importante pois tornava o acesso facilitado", introduz. O pensamento logo se estendeu para ideias relacionadas a ampliar a circulação da própria produção literária.
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"Me questionei qual seria a possibilidade de minha literatura circular nos espaços em que eu marcava mais presença e com os quais mais me importava. Pensei que precisava lançar um livro sem valor de venda fixo, para facilitar o acesso para as pessoas que formavam meu público", explica. Concretizando a ideia, Talles reuniu poesias autorais, recorreu ao financiamento coletivo e, assim, conseguiu imprimir 500 exemplares de Saral#1.
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Em dois meses, por preços que variaram entre alguns centavos e mais de uma centena de reais, vendeu 400 deles. "Para um livro de literatura cearense, independente, marginal e periférica, era como se fossem 5 mil cópias", compara. O preço médio final de uma unidade do livro, pelo acompanhamento feito pelo poeta, acabou se aproximando do quanto ela "valeria" caso tivesse preço fixado.
O fato de cada pessoa comprar um exemplar pelo valor que pudesse, conseguisse ou quisesse pagar, para Talles, não faz a questão ser sobre dinheiro. "É sobre acesso, e posso dizer que o projeto Saral promoveu acesso", afirma. "Mesmo quando eu tinha alguns pouquíssimos exemplares ou quando doei vários deles para movimentos de saraus e artes de periferias - para que vendessem e ficassem com o dinheiro para si -, sempre fiz questão de manter a ideia inicial", avança. "O lance do valor não fixo dos livros do projeto Saral é uma estratégia e se manteve pois acredito que foi parte fundamental e compõe performaticamente a estética do projeto", avalia.
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Com os bons resultados do primeiro volume, Talles aprofundou a poética apresentada e produziu uma sequência apostando em novas partilhas. Para tanto, convidou o fotógrafo Léo Silva, também ligado a movimentos de arte nas periferias de Fortaleza, para compor o segundo livro. A ideia foi aproximar os pontos de vista das poesias de Talles e das fotos de Léo, que foram escolhidas a partir de curadoria da fotógrafa Iana Soares. O fotógrafo, para o poeta, traz uma dimensão da periferia que diverge do "trabalho colonialista". "Léo mostrava a periferia diversa, inteligente, potente, sem romantizar ou maquiar", avalia Talles.
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Saral#2, que também foi custeado por financiamento coletivo, teve projeção e alcance ainda maiores. "Ele possui três narrativas, uma poética, uma imagética e uma mista. Acredito que por isso chamou três vezes mais atenção do público", acredita o poeta, citando também o interesse crescente de crítica e público pela produção intelectual de negras e negros no Estado. Assim como ocorreu após a estreia de Saral, foi pela repercussão do segundo volume que Talles decidiu produzir mais uma edição, a final. "Precisava encerrar com um terceiro livro que continuasse essa linha criativa de oferecer uma nova dimensão da arte periférica", define.
Campanha de financiamento
Contribua em www.catarse.me/saral3
Siga os artistas
Talles Azigon, poeta: @tallesazigon
Flávio Domingos, ilustrador do Saral#3: @_epifanico
Léo Silva, fotógrafo do Saral#2: @desconectaoleo