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Em exposição, artista cearense propõe novos olhares para o envelhecimento
Vida & Arte

Em exposição, artista cearense propõe novos olhares para o envelhecimento

Artista visual cearense Sérgio Gurgel lança neste sábado, 16, "Antessala", sua primeira exposição individual no âmbito institucional
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FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-11-2019: Sérgio Gurgel, artista plástico. Entrevista para p projeto Atelier. (Foto: Júlio Caesar / O Povo) (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR FORTALEZA-CE, BRASIL, 21-11-2019: Sérgio Gurgel, artista plástico. Entrevista para p projeto Atelier. (Foto: Júlio Caesar / O Povo)

Afetos, memórias, envelhecimento e ressignificações. Temas que talvez não exibam conexões entre si logo à primeira vista, mas que são apresentados por diferentes caminhos e sentidos em “Antessala”, primeira exposição individual em âmbito institucional do artista visual cearense Sérgio Gurgel. A mostra abre neste sábado, 16, a partir das 10 horas no Sobrado Dr. José Lourenço e traz ao público uma imersão em diversas narrativas. O evento conta com coordenação de Aldonso Palácio (Contemporarte) e curadoria de Carolina Vieira.

Natural do município de Acopiara, Sérgio Gurgel cresceu envolto por um universo majoritariamente feminino à sua frente. Sua vivência durante a infância se concentrou na antessala de sua casa, ambiente que estimulou sua imaginação e fantasia quando se propôs a conferir gavetas antigas em que encontrava diferentes utensílios, incluindo roupas. Enquanto outras crianças se ocupavam em jogar videogame e futebol, o artista passava seu tempo em um espaço atrelado à “arrumação” e marcado pela forte presença de figuras femininas, desenvolvendo, também, suas percepções sobre velhice e a ressignificação de objetos.

O nome da mostra, então, acompanha a referência que Sérgio Gurgel tem de uma fase importante da sua vida, em que esteve rodeado de afeto e de mulheres que viriam a ser as suas “divas”, entre tias, avós e pessoas marcantes de sua cidade. “Essa exposição surge como uma espécie de oferenda às minhas divas e às minhas entidades que são as senhoras que povoaram a minha vida, minha infância, e formaram a minha identidade, meu modo de ver o mundo”, declara.

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A ideia da exposição, segundo o artista, surgiu de uma necessidade própria de apresentar o seu processo criativo. Para ele, “Antessala” representa debater também “o isolamento que o idoso vive”, colocado, muitas vezes, à parte das atenções de outras pessoas. Assim, ele propõe apresentar uma visão de vitalidade e destaque às pessoas que fazem parte dessa faixa etária, com obras em que o imaginário é formado por mulheres idosas, com rugas e personalidades marcantes.

A curadoria de “Antessala” é feita pela pesquisadora de arte Carolina Vieira, que acompanha a produção de Sérgio há alguns anos. Ao pensar na montagem da exposição, o artista logo lembrou de Carolina e, assim, a convidou para participar do processo, chamado que ela considerou como “uma surpresa muito boa”.

Segundo a pesquisadora, a mostra representa também uma tentativa de expor o “máximo de trabalho” realizado por Sérgio, contemplando produções concebidas desde 2015 até mais recentes. Nesta exposição, as temáticas principais abordadas são “o envelhecimento, o abandono e o isolamento”, de acordo com Gurgel. Carolina acrescenta o pensamento de que a exposição discute bastante o processo dele enquanto investigador e observador de memórias, abordando o contato com o universo feminino que existe desde a sua infância.

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“São diversos objetos que trazem memórias e uma carga energética de histórias de algum modo”, afirma. Na exposição, espelhos e móveis recebem a interferência de Sérgio, transformados visualmente de maneira a exaltar potências afetivas e a ajudar a narrar a história de mulheres que fazem parte de sua trajetória. Para a pesquisadora, entre as variedades que existem nas obras de Sérgio, os aspectos que mais se destacam e têm mais força são “o feminino e a velhice”.

As peças físicas que fazem parte de seu trabalho tiveram origem, de forma geral, a partir do abandono e da reciclagem, um processo que remete ao tempo em que “investigava” objetos nas gavetas da casa de sua avó e, assim, construía narrativas imaginárias. O que começou como “brincadeira de criança” acabou se desenvolvendo em uma percepção mais crítica acerca das diferentes situações que envolvem o abandono, seja ele material ou afetivo.

O percurso de sua narrativa na exposição, marcado por pinturas em várias superfícies de objetos, tem início com a sala “Recinto”, em que são apresentados espelhos colecionados tanto a partir de demolições de casas quanto encontrados em lixões. Praticando seu processo de ressignificação, Sérgio Gurgel estimula a reflexão de que “é preciso muito treino para se olhar no espelho”, evocando pensamentos sobre a formação de identidade das pessoas. Mais uma vez, sua atuação relembra sua infância e, a partir de fragmentos entintados em espelhos de três de suas “divas” - Madalena (93), Maria Matilde (85) e Maria das Neves (70) -, apresenta sua exaltação a mulheres que “fazem parte da formação da sua existência”.

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A travessia em “Antessala” continua com “Naufrágil”, espaço que se constitui em torno da história de Dona Valneide (67). O artista visual a conheceu em Fortaleza e, em sua exposição, constrói narrativas com referências à sua trajetória em meio ao desenvolvimento do centro da cidade. Para completar a experiência de visitação, a mostra traz o ambiente “Orgosma”, onde são apresentadas visões sobre sexualidade a partir da retratação de texturas da “pele envelhecida”, com “dobras e pregas” nos trabalhos artísticos.

Os caminhos de reflexão propostos por Sérgio Gurgel se complementam e não se encerram na exposição. De acordo com ele, seu trabalho é contínuo e não há finalizações. Entre novas propostas e ressignificações, as narrativas apresentadas por ele revelam atenção e profundidade. “Meu trabalho, como artista, é transformar histórias individuais em coisas eternas”, enfatiza.

Serviço

Quando: abertura sábado, 16, às 10 horas; visitação até 20 de fevereiro; de terça a sexta, de 9h às 17 horas, e sábados, de 9h às 14 horas

Onde: Sobrado Dr. José Lourenço (rua Major Facundo, 154 - Centro)

Mais informações: @sobrado154 ou @_sergiogurgel

Gratuito

 

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