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Com folclore em nova roupagem, série brasileira "Cidade Invisível" estreia sexta, 5, na Netflix
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Com folclore em nova roupagem, série brasileira "Cidade Invisível" estreia sexta, 5, na Netflix

Lançamento da Netflix, "Cidade Invisível" apresenta personagens da cultura popular em nova roupagem. No elenco, Alessandra Negrini e Marco Pigossi
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Jéssica como sereia na série Cidade Invisível. Atriz precisou fazer aulas de natação para interpretar a personagem Camila (Foto: Alisson Louback / Divulgação Netflix)
Foto: Alisson Louback / Divulgação Netflix Jéssica como sereia na série Cidade Invisível. Atriz precisou fazer aulas de natação para interpretar a personagem Camila

Cuca, Iara, Saci-pererê, Boto-cor-de-rosa… E se os seres fantásticos do folclore brasileiro estão entre nós? A partir dessa questão, o diretor Carlos Saldanha apresenta "Cidade Invisível", nova série brasileira da Netflix. Na trama, essas imagens e narrativas folclóricas encontram-se por aí, permeando o real, entre humanos no Rio de Janeiro. Ao descobrir as entidades, um policial ambiental se dá conta de diversos conflitos. Em sete episódios, a obra rememora a cultura popular do Brasil e aborda preservação do meio ambiente, investigação policial, drama familiar e autoconhecimento numa mistura de mistério e fantasia. Com Marco Pigossi, Alessandra Negrini e Jéssica Córes no elenco, a produção estreia dia 5 de fevereiro.

"Se você parar de contar essas histórias, elas morrem", disse Carlos Saldanha, criador e coprodutor executivo da série, ao O POVO durante coletiva de imprensa virtual realizada na última terça-feira, 26. A ideia é trazer a brasilidade de uma forma contemporânea. Tais histórias, parte da identidade do País, integram o imaginário coletivo da cultura nacional. "Cidade Invisível" seria a sua interpretação dessas narrativas. Trata-se do primeiro projeto em live-action completamente brasileiro do diretor, conhecido por "A Era do Gelo", "Rio" e o indicado ao Oscar de melhor animação "O Touro Ferdinando".

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Segundo Carlos Saldanha, a extensão territorial do País faz com que essas histórias sejam inúmeras. Não existe apenas um saci ou um boto, mas, sim, vários - "E tudo tem uma questão ambiental, emocional", afirma. Por ser um projeto tão diferente, o diretor não consegue pensar nas expectativas, mas considera: "Quis fazer algo que eu gostasse de ver". Gravada em 2019, a produção é inspirada numa história de Carolina Munhóz e Raphael Draccon - autores conhecidos pela literatura de fantasia -, que já trabalharam com a Netflix na série "O Escolhido".

O projeto foi desenvolvido em cada detalhe por Saldanha, que viu na série algo novo e único. Com "a roupagem diferente", sentiu ter "um trunfo na mão". "A Netflix comprou a ideia", comenta. Esses personagens da cultura popular brasileira serão apresentados, portanto, aos mais de 190 países em que o serviço de transmissão atua. Com Mirna Nogueira como roteirista-chefe, a direção ficou por conta de Júlia Jordão e Luis Carone.

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Sobre processos

O processo de realização da série foi pautado pela coletividade, num "set mágico", afirmam as atrizes Alessandra Negrini e Jéssica Córes e o ator Marco Pigossi, que participaram da coletiva virtual da série. Além deles, "Cidade Invisível" tem Julia Konrad, Manu Diegues, Fábio Lago, Wesley Guimarães, José Dumont, Victor Sparapane e Áurea Maranhão no elenco.

"Apesar de a gente já ter as referências do folclore, é um universo novo, porque tá num ambiente urbano. Essas entidades estão meio perdidas, meio marginais na Cidade. Eu acho sensacional essa releitura", afirma Alessandra Negrini, a Inês, misteriosa dona de um bar e uma das entidades mais poderosas da série: a Cuca. "Estou acreditando que é uma história universal, que nosso íntimo possa ser reconhecido universalmente", completa.

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"Eu acho genial o Saldanha trazer esses elementos novos e repaginar, principalmente. No caso, a sereia, que é a minha personagem Camila, a Iara, essa figura das águas. É uma sereia preta e a gente não está acostumado a ter uma entidade como essa uma mulher preta", aponta Jéssica Córes, que interpreta a figura mítica da sereia Iara.

"Meu personagem não está no mundo místico, então a pesquisa foi muito mais envolta do que é ser um policial ambiental, da relação com a natureza, a esposa e a filha. O Eric é o que liga o cotidiano ao místico", completa Marco Pigossi, que dá vida ao policial ambiental Eric.

Os seres fantásticos

As narrativas dos seres folclóricos foram apropriadas para obras de diversas linguagens, como a série de livros "Sítio do Picapau Amarelo", publicada pelo escritor Monteiro Lobato entre 1920 e 1947. Com enredos do Saci e de seus amigos, a coleção foi adaptada para a televisão em 2001. Ao O POVO, o escritor, jornalista, geógrafo e contador de causos Mouzar Benedito comenta sobre alguns personagens do folclore brasileiro. Sócio-fundador da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), Mouzar escreveu diversos livros sobre o tema. Dentre as obras, a coleção infantojuvenil "Mitologia Brasílica", com histórias brasileiras e as ressignificadas de outros países.

Cuca

Da Península Ibérica, região do Sudoeste da Europa, a Cuca é retratada originalmente como uma bruxa que assusta pessoas, especialmente crianças. Em alguns lugares de Portugal, no entanto, ela aparece como um dragão. Aqui, a Cuca foi explorada nos programas de televisão como um Jacaré. Muito disso se dá porque, no livro "O Saci" (1921), Lobato a descreve como uma velha com aparência desse réptil.

Saci

Mito mais conhecido do Brasil, o Saci pode ser assim assimilado: um menino negro, travesso, que tem uma perna só, fuma cachimbo e usa um gorro vermelho - mágico - na cabeça. De acordo com os povos indígenas guarani, o personagem era um curumim, um deus menor que ajudava pessoas perdidas a saírem da mata.

Ao explorarem o Brasil, os portugueses o transformaram em "demônio" como parte da dominação cultural. Quando milhares de pessoas foram trazidas à força da África, o menino passou a ser preto, atrelando uma demarcação de inferioridade - na visão dos colonizadores - pela cor da pele. Quando encurralados pelos senhores por algum erro ou rebelião, passaram a dizer: "foi o Saci". A lenda perdeu a perna, ganhou um cachimbo e, posteriormente, um gorro (típico da cultura europeia).

Iara

Por aqui, existia o Ipupiara (do tupi), criatura que vivia na água e atacava homens. Ao chegarem no Brasil, os portugueses identificaram o mito como se fosse uma sereia. Entretanto, na cultura indígena, não existe palácio, por exemplo. A partir desse encontro, surgiu a sedutora Iara, uma mulher com calda de peixe, descrita em muitas versões com o cabelo verde. Encanta homens com seu canto hipnotizante e os leva para o fundo do mar.

Boto-cor-de-rosa

Na região da Amazônia, as lendas narram que o boto tucuxi - espécie de golfinho - se transforma à noite em um homem sedutor, que dança bem e encanta qualquer mulher. Apresentado em muitas histórias também como o boto-cor-de-rosa, mantém seu respirador - o espiráculo, um buraco no topo da cabeça - na sua versão humana. Por isso, está sempre de chapéu. Quando mulheres solteiras engravidavam, contam-se as histórias que era o encantamento com o boto.

Estreia da série "Cidade Invisível"

Quando: sexta-feira, 5

Onde: Netflix

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