No Ceará, há quem bote boneco de todas as formas. A expressão pode servir para caracterizar o amigo engraçado, inconveniente, dramático, ou qualquer outra conotação, positiva ou negativa, encontrada no "cearensês". A popularização do termo "botar boneco" começou no interior do Estado com os ditos bonequeiros, como também são chamados os profissionais de teatro de bonecos, e representa a alma brincante do ofício. O Festival Abril com Bonecos começou como uma comemoração entre atores da área e, atualmente, é o único evento específico de teatro de bonecos do Ceará. O evento terá programação formada por 20 grupos bonequeiros locais, além da participação de sete mestres da Cultura, em uma programação online e gratuita até o dia 21 de março.

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Inicialmente, o festival acontecia em abril como forma de celebração do Dia Nacional do Boneco, comemorado no dia 27 de abril. Neste ano, devido à pandemia causada pela Covid-19, o projeto renasce em formato virtual e continua a manifestação dessa linguagem teatral através de apresentações de grupos como a Cia Chacoalho, Carroça de Mamulengos e a Cia. de Teatro Epidemia de Bonecos. As demais atividades, como debates com mesas-redondas, envolvem os seguintes mestres da Cultura: Mestre Augusto Bonequeiro, Mestre Bil Bonequeiro, Mestre Chico Bento, Mestre Wagner Oliveira e a apresentação de espetáculos do Mestre Cheirinho, Mestre Gilberto Calungueiro e Wanderley das Laranjeiras.

"Na edição de 2021, estaremos no palco virtual, mobilizando crianças, jovens e adultos de forma a impactar e transformar o dia a dia das pessoas, num momento de fruição artística, fazendo com que o Teatro de Bonecos integra o imaginário de todos e que a população se aproprie dele como um patrimônio cultural", explica a produtora do festival, Sheila Fernandes. O evento movimenta artistas da Capital e do interior do Estado para promover a categoria com espetáculos que levantam várias bandeiras.

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A edição homenageia dois grandes contribuintes na área. Um deles é o mestre bonequeiro José Mauro Ferreira da Silva, acompanhado por Augusto Oliveira, o Augusto Bonequeiro, que se dedica há 40 anos ao teatro de bonecos com destaque nacional e internacional. Augusto menciona que a primeira grande homenagem foi quando começou a ser reconhecido pelo seu ofício através do termo "bonequeiro". No entanto, a formalização no evento pelos seus companheiros de trabalho tem significado "sério, importante e relevante". O artista criou diversos bonecos e repassou conhecimentos para muitos brincantes.

O ator Cleodon de Oliveira, da Cia. Chacoalho, trabalha com o teatro de bonecos desde 1992, quando se apaixonou pela linguagem teatral após trabalhar durante anos com teatro de palco. A Chacoalho foi criada no mesmo ano e o nome veio da intenção de "chacoalhar, movimentar e balançar a plateia". O profissional aponta a interação com o público como uma das principais características desta forma de teatro, uma maneira de envolver o espectador, principalmente as crianças, no universo dos bonecos. Desde então, a companhia se tornou reconhecida no Ceará e continua produzindo e fortalecendo a técnica, em parceria com a Rede Cearense de Teatro de Bonecos, para que seja cada vez mais reconhecida como linguagem artística.

"O teatro de bonecos trabalha com o imaginário da criança e do adulto de uma forma muito direta, que muitas vezes outras linguagens artísticas necessitam de um processo maior para passar aquela mensagem", explica Izabel Cristina, da Cia. de Teatro Epidemia de Bonecos. "Muitas vezes, equivocadamente, é compreendido como um teatro fácil, mas pelo contrário, o ator tem que ter uma presença de espírito muito forte, conhecendo os cidadãos, o território em que eles estão inseridos, as necessidades, os problemas, preconceitos, para falar isso de uma forma acessível e sempre colocando os valores humanos em primeiro lugar", completa.

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Para o fortalecimento da rede, tanto Izabel, quanto Cleodon, enfatizam a necessidade de políticas públicas que possam dar visibilidade a estes grupos de profissionais, como acontece com o Festival Abril com Bonecos, por meio da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural. "É luta e batalha para que o povo cearense tenha acesso e veja, compreenda o teatro de bonecos, porque é realmente uma linguagem que mexe diretamente com a memória afetiva e emocional das pessoas, independente da idade", finaliza.

Festival Abril com Bonecos

Quando: até 21 de março
Onde: Youtube da Rede Cearense de Teatro de Bonecos e do Theatro José de Alencar
Mais informações: (85) 99677 5031 ou Instagram @redecearensedeteatrodebonecos

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