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Documentário em finalização traz histórias de dramistas no Ceará
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Documentário em finalização traz histórias de dramistas no Ceará

Documentário em produção resgata história de grupos de dramistas no Ceará; V&A traz discussões sobre permanências e futuros dessa tradição
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Na foto, da esquerda para a direita, as dramistas do grupo Anil, de Meruoca, Maria Bento, Suzete Nunes, Toinha Victor e Terezinha Victor (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Na foto, da esquerda para a direita, as dramistas do grupo Anil, de Meruoca, Maria Bento, Suzete Nunes, Toinha Victor e Terezinha Victor

Ao encontrar a palavra “tradição” no dicionário, é possível se deparar com termos que resumem sua aplicação em diversas frentes. Independentemente do cenário, para uma tradição é preciso continuidade e que sua presença não se confirme em esquecimento. Para destacar a atuação cultural dos dramas populares no Estado, está sendo finalizado o documentário “Dramistas: Memórias do Ceará”, que apresenta grupos que mantêm a prática dramista até hoje.

Na obra, são retratados quatro grupos dos municípios de Tianguá, Uruoca, Guaramiranga e Meruoca. O interesse para a realização do documentário surgiu a partir do contato com as vivências e os saberes das dramistas de Meruoca, mesma cidade da produtora do longa-metragem. O filme busca contar quem são essas pessoas e registrar a importância do drama para a cultura cearense. A previsão é de que seja lançado em junho.

Durante a produção do documentário, Augusto Cesar percebeu como o drama acaba representando a “emancipação” e o “protagonismo” de mulheres. Em Uruoca, por exemplo, saiu das dramistas a primeira mulher com “autorização social” para andar de bicicletas, segundo o diretor. A prática anteriormente era associada a uma atividade tida como “masculina”. Em relato à equipe do longa-metragem, dona Zilda, de Guaramiranga, afirma que passou a ser mais respeitada quando se tornou mestra dos dramas.

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Para o diretor e roteirista Augusto Cesar, o documentário pode contribuir para a preservação dos dramas ao “jogar holofote” a suas brincantes. Além disso, com a visibilidade, há mais chances de apoio financeiro e fomento à prática dramista. Por fim, há a importância de manter “a memória viva”: “Você deixa um registro que ficará para as próximas gerações, inclusive servindo de subsídio para pesquisas futuras”, acrescenta.

Nos Dramas Cantados há música, cantada por mulheres dramistas e acompanhada por instrumentos como violão, triângulo, pandeiro e cavaco, e representações dramáticas com indumentárias e expressões corporais. Entre os temas trabalhados por essa manifestação estão situações cômicas do cotidiano, críticas sociais e questões religiosas, como o nascimento de Jesus.

Aos sete anos de idade, Ana Maria da Conceição, diplomada mestra pelo edital “Tesouros Vivos da Cultura”, viu pela primeira vez dramas praticados na comunidade de Tucuns, em Tianguá, e logo se apaixonou. Ela comenta que, na época, a comunidade enfrentava escassez intensa de recursos, com dificuldade de acesso à água encanada, transporte e energia. Manifestações culturais, entretanto, não faltavam. Aos dez anos cantou sua primeira música e deu uma pausa no ramo aos 19, quando se casou e passou a dedicar sua atenção a outras atividades.

Com a chegada da televisão na comunidade, os dramas em Tucuns passaram a ocorrer com menos frequência. Entretanto, por meio do projeto “O Drama em Cena”, houve, a partir de 2006, a revitalização dos dramas no local, incentivando sua continuidade e permanência. Em 2008, Ana Maria foi diplomada mestra por meio do edital dos “Tesouros Vivos da Cultura”, concedido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult).

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Atualmente com 65 anos, mestra Ana relata que se sente “realizada” em ser dramista. Ela alega que o “Dramistas de Tucuns” costuma receber convites para apresentações em outras cidades, mas, com a pandemia, os ensaios e as reuniões do grupo deixaram de ocorrer. A mestra afirma que está sendo uma situação “muito difícil” de enfrentar.

Diante disso, ela ressalta a importância das dramistas para a cultura cearense: “Quando levamos o drama, outras pessoas aprendem. Se estamos parados, as pessoas vão perder o gosto pelo drama e acontecerá o mesmo que ocorreu comigo quando eu me casei e tive filhos: esqueci o drama. O drama não pode ser esquecido”.

Quanto ao futuro dessa tradição, mestra Ana deseja que seu legado como dramista continue e que, a partir disso, os dramas se espalhem para mais locais: “Eu tenho essa fé e essa vontade de deixar minha história. É meu desejo que eu seja raiz e tronco, e que esse tronco tenha muitos galhos que levem essa cultura popular para o Brasil”.


O sentimento de realização que Mestra Ana carrega consigo quanto ao drama é semelhante ao de Maria Bento, do grupo “Dramistas de Anil”, de Meruoca. “Eu me sinto muito bem sendo dramista. Fico bastante feliz quando me encontro com as outras dramistas. Quando nos reunimos é muito significativo”, comenta.

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O drama na comunidade de Anil teve início na década de 1980, com dramistas visitando casas para arrecadar donativos para festas natalinas. Vinda de uma família humilde, Maria Bento teve o primeiro contato com essa manifestação popular a partir de sua mãe, que se apresentava.

Atualmente com 55 anos, começou a participar aos 17, mas como figurante. Hoje, porém, tem atuação intensa no grupo, ficando inclusive na coordenação geral do espetáculo “Um drama de Natal”, compilação de danças e canções típicas do drama e apresentado pelo “Dramistas de Anil” em 2018 na Xlll Mostra Estadual Ceará Natal de Luz. O grupo esteve presente nas cidades de Meruoca, Alcântaras e Fortaleza.

A pandemia atingiu a atuação do “Dramistas de Anil”. Segundo Maria Bento, antes desse período se iniciar o grupo tinha apresentações marcadas, mas foram interrompidas. Houve a tentativa de realizar, em dezembro, uma apresentação virtual, mas acabou não sendo possível. Ela relata que algumas pessoas do grupo enfrentaram adversidades econômicas e alimentícias e também houve dificuldades para se comunicarem. “Eu sinto falta de me encontrar com elas, de saber como elas estão”, declara.

Ela comenta a necessidade de um local para que o grupo se reúna e possa realizar seus eventos. O “Dramistas de Anil”, segundo Maria Bento, atualmente conta com 22 pessoas, entre dramistas, instrumentistas e responsáveis pela produção. Há duas crianças participando do grupo.

Maria Bento relata a preocupação que tem de que a prática do drama “se acabe”. “Às vezes as pessoas não dão importância”, lamenta. Diante disso, ela se posiciona a favor de mais engajamento do poder público para suporte e apoio dessa manifestação para que mais jovens também passem a se interessar mais pelo drama. O engajamento de pessoas mais novas, aliás, é algo que ela busca trazer, motivando e convidando-as a participarem.

Em relação ao futuro da tradição dramista, Maria Bento tem “muita fé” de que a prática será mais reconhecida pela sociedade e que poderá permanecer por bastante tempo. Para ela, se houver maior apoio é possível agregar mais jovens e, assim, fortalecer ainda mais o drama. “É uma cultura muito rica”, enfatiza.

O resgate e o futuro

A resistência e a continuidade de grupos dramistas passam pelas memórias e pelo reconhecimento de suas atividades. Em Uruoca, município localizado a 295,6 km de distância de Fortaleza, está sendo consolidado um movimento de reativação do grupo “Diamantes Uruoquenses”. O especialista em gestão cultural Léo Jaime, de 29 anos, participa desse processo.

Léo criou um coletivo com “amantes da cultura” para resgatar tradições “que estavam adormecidas” na cidade, como as práticas de reisados e também de dramas. Assim, começou há dois anos a investigação a respeito das atividades realizadas pelo grupo dramista “Diamantes Uruoquenses”, que esteve paralisado após o falecimento de Belaniza Queiroz. Nessa ação, conheceu pessoas que participaram do drama e teve acesso a fotografias de apresentações e até a textos produzidos na década de 1970, por exemplo.

Segundo ele, houve a tentativa de promover uma reunião com dramistas que demonstraram interesse em retornar às apresentações, mas a pandemia impossibilitou o encontro. Além da participação de pessoas mais velhas, há o desejo de incluir jovens e adolescentes para a continuidade dessa tradição.

Para o especialista em gestão cultural, é possível perceber a importância dos dramas apenas conversando com quem participa ativamente dessa manifestação. Segundo Léo, por meio dela as pessoas podem se sentir valorizadas: “Nós vemos que, ao participarem desses grupos, elas se sentem mais valorizadas e animadas. Desde que eu comecei a trabalhar com cultura, eu friso: é a possibilidade de gerar oportunidades, tanto para o jovem quanto para o idoso, de se sentirem bem”.

Léo Jaime acrescenta: “É necessário esse resgate e essa valorização da cultura popular para que esses momentos não deixem de existir, porque eles são muito importantes”.

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