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Inquietações contemporâneas marcam obras do 72º Salão de Abril
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Inquietações contemporâneas marcam obras do 72º Salão de Abril

Salão de Abril chega à 72ª edição - a segunda em contexto de pandemia - com mais obras selecionadas e premiação equiparada após solicitação da categoria
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Obra 'Máquina de Costurar', da artista Virginia Pinho (Foto: Thiago Matine / Secultfor / Divulgação)
Foto: Thiago Matine / Secultfor / Divulgação Obra 'Máquina de Costurar', da artista Virginia Pinho

Cinco meses após o encerramento das visitas ao Salão de Abril de 2020 - o principal salão de artes visuais do Ceará -, o evento chega nesta quinta, 29, à 72ª edição tanto com mudanças quanto continuidades importantes para o setor no Estado. Homenageando o artista sobralense Raimundo Cela e ocupando mais uma vez o Centro Cultural Casa do Barão de Camocim, que se reafirma como importante espaço de artes visuais no contexto cearense, o Salão será aberto somente para pessoas convidadas por conta das restrições da pandemia mas, a partir de terça, 3, passa a receber o público geral.

São 35 obras selecionadas, número maior do que o de edições anteriores - geralmente 30 - e, além disso, a premiação também será diferente em 2021, com equiparação entre todos os participantes. Cada projeto selecionado receberá R$ 5 mil.

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São mudanças que surgem "em diálogo com a comunidade artística", segundo o titular da Secretaria da Cultura de Fortaleza Elpídio Nogueira. "Foi uma maneira que encontramos de reconhecer a todos de forma igualitária e alcançar mais proponentes nesse momento delicado de restrições por conta da pandemia, onde a classe artística foi severamente atingida", afirma o secretário.

 
 
 
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No ano passado, o Salão teve que ser adiado e adaptado ao contexto da pandemia, enquanto esta edição se constrói fruto das experiências acumuladas de convivência com a covid-19 - tanto em termos práticos quanto simbólicos, como observa Luciara Ribeiro, educadora e pesquisadora que compõe a equipe de curadoria com Ana Cecília Soares e Luise Malmaceda.

"Não partimos da tematização da experiência pandêmica e dos seus impactos. Observamos os trabalhos como produções que refletem suas contemporaneidades, e, obviamente, a pandemia é uma delas", atenta a curadora. "Ela não aparece apenas como tema, mas também como impacto na elaboração dos trabalhos, nos processos criativos, poéticos e expositivos", avança Luciara.

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A presença de trabalhos que utilizam vídeo e fotografia como suporte foi significativa, bem como a de obras que, como coloca a curadora, "adentram a virtualidade e suas questões" - até mesmo em trabalhos de materialidades mais tradicionais. "Muitos artistas perderam espaços de ateliê ou tiveram que comprimi-los na tela do computador, o que impacta diretamente nesse processo. A virtualidade experimentada neste período pandêmico já é parte das narrativas das artes do nosso tempo e impactará consideravelmente no nosso modo de pensar, viver e produzir arte", elabora.

Obra do artista Eliézer, 'Menu do dia ou um prato que se come frio'(Foto: Thiago Matine / Secultfor / Divulgação)
Foto: Thiago Matine / Secultfor / Divulgação Obra do artista Eliézer, 'Menu do dia ou um prato que se come frio'

Uma das "inquietações" percebida pelas curadoras no conjunto das obras selecionadas foi em relação ao trabalho em casa, marcado por excessos e falta de limites entre ele e a vida privada e provocador de exaustão, cansaço e mecanização das ações.

"São muitos os sentimentos que impactam os corpos a médio e a longo prazo, que bloqueiam os processos criativos, que adoecem, que, inclusive, podem até modificar o formato dos nossos corpos. Adicionamos a isso o fato de o setor da cultura ter sido um dos que mais sofreu, economicamente, com a pandemia e a falta de políticas governamentais", destaca Luciara, lembrando que as precarizações e retiradas de direitos são comuns ao campo da cultura.

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"É a partir deste olhar do artista-trabalhador que, um dos eixos possíveis de leitura para este Salão de Abril, é pensar o trabalho e os debates que o atravessam. Para isso, como parte do programa público do Salão, será realizado um seminário dedicado ao tema que contará com a presença de pesquisadores convidados e artistas participantes", adianta a curadora. Detalhes desta programação e de outras do 72º Salão de Abril ainda serão divulgados.

Uma das atividades já marcadas, porém, é a de leitura de portfólios, na qual as três curadoras se reunirão - de forma presencial e virtual - com artistas que participam e que não participam do evento para trocas sobre os processos. "Acreditamos na importância de ouvirmos e conversarmos com todes. Com as sessões de leitura de portfólio, desejamos aproximar a prática artística com a curatorial, construindo espaços de troca, de escuta e de observação dos processos individuais. Acreditamos que a exposição também se efetiva através deste contato", destaca Luciara.

'Cartossangrias', instalação de Núbia Agustinha(Foto: Thiago Matine / Secultfor / Divulgação)
Foto: Thiago Matine / Secultfor / Divulgação 'Cartossangrias', instalação de Núbia Agustinha

As atividades presenciais ocorrem na Casa do Barão, que se reafirma como espaço das artes. "Ele vem se consolidando aos poucos como um local de difusão e valorização das artes visuais e o nosso intuito é que ele seja também um ponto de encontro e referência da Cultura de Fortaleza", defende Elpídio. O equipamento seguirá medidas sanitárias como aferição de temperatura, disponibilização de álcool em gel e entrada máxima de 20 pessoas.

Confira galeria com algumas das obras selecionadas:

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72º Salão de Abril

Quando: abertura exclusiva para convidados por conta de restrições da pandemia na quinta, 29, às 16 horas; visitação geral liberada a partir de 3/8 a 16/9, terças a sextas de 10 às 17 horas e sábados de 9 às 16 horas
Onde: Centro Cultural Casa do Barão de Camocim (rua General Sampaio, 1632, Centro)
Mais informações: @secultfor

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