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Don L lança música e defende novos ritmos e caminhos para arte e luta
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Don L lança música e defende novos ritmos e caminhos para arte e luta

Lançando "Na Batida da Procura Perfeita", com clipe correalizado com o aplicativo Kwai, rapper cearense Don L celebra "estética de terceiro mundo" e cosmologias indígenas
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Rapper cearense, Don L aborda cosmologias indígenas, cinema e formas de luta em nova música (Foto: Henrik Hoff e Victor Cazuza / divulgação)
Foto: Henrik Hoff e Victor Cazuza / divulgação Rapper cearense, Don L aborda cosmologias indígenas, cinema e formas de luta em nova música

"Caminhar e lutar / Em busca de um lugar / Onde a busca é o lugar", versa o rapper cearense Don L na música "Na Batida da Procura Perfeita". No mais recente trabalho, o cantor e compositor desloca referências e pontos de vista para abrir espaço a outros imaginários possíveis para o País. "Quero esse caminho novo, uma estética de terceiro mundo. Um outro Brasil possível. O que faço são só exercícios de imaginação", diz. A canção teve clipe produzido e lançado especialmente para o popular aplicativo Kwai, voltado a vídeos curtos.

Apesar de "Na Batida da Procura Perfeita" não estar necessariamente - por enquanto - ligada a um novo álbum, ela avança em interesses temáticos do artista, como o cinema brasileiro. Da citação ao cineasta cearense Karim Aïnouz no título do disco "Roteiro pra Aïnouz, vol. 3" (2017), o artista abre a nova música com um trecho retirado do curta "Documentário" (1966), de Rogério Sganzerla: "Você não queria ver um filme colorido, diferente, já que tamo aqui?". Nos primeiros versos, anuncia: "Amor de cinema / De terceiro mundo / Procura-se".

Sganzerla, vale contextualizar, é um dos principais nomes do movimento do Cinema Marginal, que desafiava a ditadura militar, os circuitos comerciais e o público. Dois anos após o curta citado, ele lançaria "O Bandido da Luz Vermelha", descrito pelo diretor em manifesto como um "faroeste sobre o terceiro mundo".

Confira "Na Batida da Procura Perfeita":

"Cinema é uma arte extremamente cara para ser realizada. Nossos cineastas, com recursos infinitamente inferiores aos concorrentes do centro do capitalismo, tiveram que se virar para fazer com o que tinham", ressalta Don L, que avança: "Isso demandou uma criatividade não só em nível de técnica, mas também os forçou um pouco a propor novos caminhos, algo original nosso", compreende.

"A possibilidade de um cinema original brasileiro sempre esbarrou na construção de outro Brasil. O que foi feito entre lá e cá, nesse processo de construção, reconstrução, idas e vindas, demandou - e formou em algum nível - outra sensibilidade e outra noção de tempo de quem consome essas obras", segue o rapper. Tanto a criação de caminhos próprios quanto novas relações com o tempo são motes da nova composição e da trajetória do rapper.

A letra aborda as "notícias de fachos e milicos", em citação direta ao atual contexto brasileiro, marcado por conservadorismo e presença da extrema-direita. Tanto na letra quanto no discurso, porém, a preferência de Don L é por ressaltar e evocar cosmologias indígenas como fontes de ensinamentos sobre luta. Na composição, logo após versar sobre "fachos e milicos", o artista imagina a fundação de uma "vila numa terra sem mal como os guarani", referenciando o mito indígena da Yvy Marã.

"Quando escuto 'Feira Moderna', do Beto Guedes, a frase mais importante é a que diz que a distância já morreu. Pra quem sabe que vai morrer lutando, não importa a distância entre o coração e o sonho. O coração já é o sonho. E o sonho é agora. Isso não é desacreditar da vitória. É saber que já vencemos. As cosmologias indígenas tem outra noção de tempo, acho que a gente pode aprender com elas. Não é papo de tilelê, é sobre luta, aprender a ser feliz na luta", reconhece o rapper.

Não por acaso, a música critica as demandas capitalistas por resultado ao reconfigurar o foco para o caminho, não a chegada. "Ela disse que o destino é incerto / Perguntou se eu poderia acompanhar / Eu disse que eu tava indo, eu quero / No caminho a gente decide um lugar", canta. "É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo", aponta Don L. "Quem se propõe a essa tarefa difícil, tem essa coragem, precisa pelo menos tentar conceber outra noção de tempo", reforça.

 
 
 
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A correalização do clipe da música com o Kwai é um gesto no sentido deste "caminho novo" e "da estética de terceiro mundo". "Espero que a nossa classe artística retome esse caminho. Temos algumas pessoas fazendo isso, que geralmente não têm o destaque que deveriam. Lançar pelo Kwai possibilita uma visibilidade nova num formato novo", elabora.

É, também, uma maneira de se arriscar, na prática, com os formatos e lógicas próprias das redes sociais. "A gente não sabe no que vai dar, tamo aprendendo, tentando usar a nosso favor pra chegar em mais gente, unir pessoas, disseminar ideias, aprender também", analisa, finalizando: "A gente tem esse novo grande irmão, o tal do algoritmo, que às vezes parece algo fora do ritmo. A gente tenta trazer um pouco de swing", experimenta.

Confira corte estendido do clipe no YouTube:

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Confira a música

bio.link/donl

 

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