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"Minha defesa é fazer arte", diz Otto, multiartista, agora na literatura
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"Minha defesa é fazer arte", diz Otto, multiartista, agora na literatura

"Meu Livro Vermelho", obra de estreia do cantor e compositor Otto na literatura, apresenta "diário compartilhado" do pernambucano. Publicação passeia por temas políticos e filosóficos
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Foto: Hugo Sá/Divulgação "Meu Livro Vermelho" reúne registros produzidos entre 2014 e 2019

O cantor e compositor pernambucano Otto não se considerava um dos melhores alunos na escola. Sempre gostou de ler, mas relatava dificuldade com a gramática. Fez carreira na música e, entre as inúmeras melodias, aprimorou a relação com as palavras com o tempo. Quando seu antigo professor Paulo Bispo começou a segui-lo no Instagram, onde compartilha escritos com milhares de seguidores, o artista questionou como sua linguagem seria definida pelo mestre. A resposta está descrita por Paulo em um dos textos do "Meu Livro Vermelho", obra de estreia de Otto na literatura. O trecho diz: "É poesia viva, de vida contundente, porque sua vida é a palavra musicada".

Para Otto, a escrita surge fluída. Gosta dos versos, porque não precisam de "panfletagem" e não perdem a capacidade de "estremecer". Adiciona como característica a rima, pela naturalidade do ofício. Mas também acrescenta a política, as causas sociais e tudo o que pode compor o olhar de um "nordestino que gosta do País". Justo por apreciar o local onde vive, não se deixa levar pelo patriotismo cego. Ele utiliza o olhar crítico para questionar as desigualdades e violências, e clamar a necessidade de mudança. "Tem coisas que a gente tem que gritar, alertar sobre o que vai acabar e ser destruído no ecossistema. Isso também faz parte do meu mundo".

"Meu Livro Vermelho" nasce, então, como um oráculo. "É mais aconselhado abrir a página que você quiser do que seguir uma continuidade. Os pensamentos, no final, se correspondem", aconselha o autor. O trabalho, que já está disponível para venda on-line, é um compilado de registros feitos entre os anos de 2014 e 2019. Textos, fotografias e reflexões se unem para traduzir os sentimentos cotidianos do artista. "Há vinte anos eu nem pensaria em lançar um livro, mas o tempo passa e a gente vai maturando a ideia. Chegar neste lugar aos 53 anos está me emocionando muito", discorre o compositor.

"Meu Livro Vermelho" reúne registros produzidos entre 2014 e 2019(Foto: Hugo Sá/Divulgação)
Foto: Hugo Sá/Divulgação "Meu Livro Vermelho" reúne registros produzidos entre 2014 e 2019

Os conteúdos selecionados para a obra foram inicialmente publicados no Instagram, a principal ferramenta de comunicação de Otto. O pernambucano relata que, em meio à repercussão dos acontecimentos políticos de 2016, sua relação com a mídia tradicional ficou estremecida. "Eu vi que no Instagram era onde eu me comunicava com os meus seguidores, principalmente nos últimos quatro anos. Aconteceram coisas que me forçaram muito a falar, me expressar e protestar", explica. No "diário compartilhado", ele divide panoramas de ocorrências históricas e traça inquietações diante das eventuais asperezas. "Hoje eu posso ser mais claro, me expressar melhor, colocar minha experiências e razões. É muito bom porque ao mesmo tempo você não precisa da crítica, de um julgamento maior. É o meu lugar, meu espaço", determina.

Assim, a plataforma se torna uma janela para a escrita, um dos principais prazeres nos últimos dez anos. "É um vício, assim como cantar, mas acho que escrever foi um aprendizado pós-música para traduzir o pensamento, que é algo mais subjetivo", compara. Quem acompanha Otto nas redes também poderá conferir outras formas de manifestação artística. "Só criando eu vou sobreviver. Eu sei que posso contar com as pessoas que gostam da minha música, da minha literatura, elas me entendem. A minha defesa, em todas as crises, é fazer arte". Com a bagagem da carreira musical, ele afirma que atingiu um ponto no qual pode ter paciência e esmero para "abrir o peito". "Eu curto muito a minha vida e até o final dela eu vou criar, distribuir o que aprendi, melhorar a minha técnica e mergulhar cada vez mais no meu ofício".

A arte também é exteriorizada na pintura, o que há de mais "artesanal" em seus trabalhos. A música, mesmo no árduo período de pandemia, não perdeu força. Otto lançou singles nas plataformas digitais desde 2020 e está prestes a lançar seu próximo disco. A produção do novo álbum foi toda criada no aplicativo GarageBand, no qual é possível tocar instrumentos. "Eu tenho alta sintonia com a tecnologia. Eu não busco um patrocinador, eu tenho meu Instagram, meus seguidores e sirvo a eles. Eu fiz o disco no iPhone e no iPad, estou absorvendo o novo. Eu falo muito de Deus digital porque a internet tem essa facilidade de comunicação, talvez seja a última religião da terra".

Apesar da afinidade com o virtual, o artista está entusiasmado com o retorno aos palcos no dia 4 de dezembro, em São Paulo. Na ocasião, Otto irá se reconectar com os fãs a partir do lançamento de três músicas do novo trabalho. "Eu tenho um respeito muito grande à minha região e minha origem, me deixa feliz e emocionado poder representar a nossa cultura, principalmente com jovens. Quando eu falo de jovem, eu falo de vida. É renovar esse País, buscar a democracia, o respeito, inclusão social. É o nosso dever para que a gente nunca apague essa verdade", sustenta.

"Meu Livro Vermelho"

Quanto: R$ 70

Disponível em www.impressoesdeminas.com.br 

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