É 2006. Meryl Streep, atuando como Miranda Priestly, a editora da revista "Runway", e Anne Hathaway, chamada Andrea "Andy" Sachs, sua co-assistente "de paraquedas" atuam em "O Diabo Veste Prada". São protagonistas do filme e de uma aula sobre como o caminho percorrido das cores, mesmo a quem não se importa com ele ou com a moda e a indústria por trás dela, permeia suas decisões até do vestir. Em uma das cenas, Miranda pergunta a Andy, ainda sem conhecimento da influência da moda em sua vida, qual tom de azul de um dos dois cintos apresentados por ela decidiria para a sessão de fotos. Andy ri, porque, para ela, são iguais. A história então se desenrola.

Miranda a explica porque uma cor, na moda, é decisiva, parte de uma rede, maior e interligada. A personagem cita diversos fatores que fazem com que um determinado tom de azul tenha mais oportunidades de aparecer-lhe, mesmo após sua baixa, nas araras de um brechó. Até chegar a este ponto, passa antes pela fabricação e projeção de uma cor, vinda da indústria de tintas, como do design de produto e de moda — certificado pelas passarelas, fortes lançadoras de tendências globais, por exemplo.

É sob este guarda-chuva que a Pantone (mais importante birô de cores do mundo), desde o início do novo milênio, considerando entre os métodos para sua obtenção, estudos e pesquisas culturais, revela anualmente sua cor eleita do ano, reflexos do comportamento atual em sociedade, captado pela tonalidade em destaque.

Assim quando lançaram para 2021 a dupla Illuminating e Ultimate Grey, em um período adverso para a humanidade, com o isolamento social devido à Covid-19, a nova tonalidade, Very Peri, anunciada na última semana — mas lembrando um comeback da de 2018 (Ultra Violet) —, é baseada em experiências cotidianas próximas. "Esse momento de dualidade de sentimentos" que estamos vivendo, "Uma incerteza, medo e a vontade de viver, de retomar nossas vidas…", analisa Lícia Rodrigues, consultora de imagem e estilo, sócia e diretora criativa das marcas Say So e My Tag! na cidade.

A cor, conceitua, "é uma mistura de tons de azul (cor que carrega consigo um significado de constância, credibilidade, harmonia… O azul é sempre vinculado aos sentimentos bons.) com tons de vermelho violáceos (cor do fogo, cor da coragem, da paixão). Essa mistura trouxe um tom de azul novo, moderno, mas, em simultâneo, seguro: nem tão brilhoso, nem tão opaco; nem tão claro, nem tão escuro.", opina, com aplicação, na prática. "É o que estamos sentindo no momento de nossas criações, queremos ousar, fazer diferente, mas não podemos arriscar demais fazendo algo que não seja comercial.", direciona estando no mercado.

"A cor na moda é o elemento que causa maior impacto visual. É o primeiro elemento que enxergamos e afeta nossa percepção", analisa Lícia sobre relevância. Como as cores nos afetam, aborda, não acontece ao acaso e nem é uma questão de gosto pessoal. "Essas mensagens transmitidas pelas cores ficaram enraizadas em nossa linguagem e pensamentos ao longo de anos de vivências comuns", explicadas, ajuda a entender, com o auxílio de simbolismo psicológico e de tradição histórica. É por isso, também valida, incluindo-se no grupo, que quem trabalha com cores, como designers de moda, pintores, arquitetos, orientam-se pelos dossiês como os desenvolvidos pela Pantone, gigante de um sistema codificado de cores, respalda a consultora.

Voltando a fita

Very Peri resgata uma mistura de coincidências, começando, no início de 2021, com a tonalidade violeta usada por Kamala Harris em sua posse como vice-presidenta dos Estados Unidos. Meses depois, a cor foi observada nos looks de red carpet das celebridades, aumentando a repercussão e a introdução da cor em escala global. Quem viu recentemente uma foto de Gaga na estreia de "House of Gucci" a bordo de um longo roxo esvoaçante da grife? Reveja escolhas da moda que acenderam antecipando a trend de 2022.

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