"Ao longo desses 30 anos, já convivemos com 'vacas magras' e já curtimos frutíferos invernos", contextualiza o professor Joca Andrade sobre a história do Curso Princípios Básicos de Teatro. "Mas não imaginávamos uma imersão mundial em situação atípica", segue. O desafiador percurso formativo das turmas 2020-2021 do curso do Theatro José de Alencar — com ele e as professoras Neidinha Castelo Branco e Juliana Veras — culmina amanhã, 17, no lançamento do primeiro filme produzido como conclusão do CPBT: "Entrelace", construído de maneira coletiva por estudantes, professores e artistas convidadas. Refletindo sobre isolamento, o média-metragem teve o próprio processo atravessado por reflexões e adaptações comuns ao período. A estreia da produção ocorre gratuitamente, e em exibição única, no Cineteatro São Luiz. A distribuição de ingressos será na bilheteria, duas horas antes da sessão.

"Essa foi a primeira vez que acionamos a possibilidade de fazer aulas on-line, por necessidade. O curso teve um momento de respiro para que a gente pudesse entender como prosseguir", recupera Juliana Veras. O primeiro módulo do CPBT ocorreu pouco antes do início oficial da pandemia, mas rapidamente o processo se tornou virtual.

Ao longo do percurso, as três turmas passaram a trabalhar como uma só e, com todo o contexto de adaptações, o grupo optou, no módulo final, por construir de maneira inédita um filme. "Pensamos que poderíamos aproveitar que estávamos precisando viver essa reviravolta para experimentar outra forma e criar um produto apenas", segue a professora.

Conforme Joca, a decisão se deu por conta das "experiências vivenciadas em que a presença do audiovisual foi significativa, no que se refere ao desenvolvimento de habilidades dos alunos no uso dos recursos técnicos que estavam as suas mãos, principalmente celulares".

Dramaturgicamente, a construção do argumento de "Enlace" partiu de questões dos próprios alunos. "Nós tínhamos nove núcleos de produção dramatúrgica independentes, três para cada professores e monitoria. O pano de fundo de cada história, claro, foi profundamente afetado pela pandemia", explica Neidinha.

Cada núcleo apresenta versões de situações vividas pelas próprias pessoas envolvidas. "O roteiro foi produzido a partir de personagens fictícias, mas com um toque de autoficção, em que os alunos-atores foram provocados a trazer urgências enquanto pessoas que estavam vivendo esse tempo de isolamento", dialoga Juliana.

"Indignação, raiva, desejo, ruptura, medo, bravura são alguns temas abordados. Não se pretende contar histórias com finais fechados, o espectador é instigado a imaginar o que poderá vir a ser depois dali", estimula o professor.

A escolha de se construir um filme como conclusão de um curso de teatro se liga, ainda, a debates sobre as fronteiras intercambiáveis entre teatro e audiovisual que povoaram ao longo do último ano e meio o campo artístico. "Tudo que é novo traz em si a angústia, mas também o desafio, e nós resolvemos abraçá-lo, especialmente pelos alunos que sempre nos procuram na expectativa do que veem em nossos trabalhos anteriores", ressalta Neidinha.

Defendendo que teatro demanda trocas presenciais, o grupo sabe que o tema é passível de múltiplas opiniões e, por isso, tem expectativas quanto à repercussão da produção. "A opção de criar um filme gera um impacto porque tem uma modificação de olhar dentro de um curso de teatro — que foi feito de forma híbrida, com a maior parte on-line. Vamos saber o que isso acarreta quando acrescentarmos esse elemento tão esperado para a obra cênica que é o público", compreende Juliana.

"O CPBT é um lugar de experimento, então encaramos os desafios como parte das realidades impostas. Fazer adaptações e reinventar procedimentos é uma prática constante dos docentes e discentes do Curso", estabelece Joca.

Em diálogo, Juliana ressalta o potencial da experiência: "Mantivemos a mesma pulsão poética que guia as criações do CPBT, que é a de buscar onde estão as urgências dos alunos e descobrir formas de comunicá-las para o seu meio. Pra mim, é um momento de resistência, de ver que a arte pode encontrar espaços de respiro. Quem sabe se esse 'aliar de linguagens' não nos leva a lugares de uma percepção do sensível mais profundos, mais distantes, mais além?", convida.

Confira ficha técnica completa de "Enlace":

Elenco: alunos das turmas manhã, tarde e noite

Manhã – Alehff Einstein, Carla Limma, Ian Carneiro, Luciana Sousa, Odeth Menescal, Thais de Araújo, Welleslen Rodrigues

Tarde – Ana Bianca, Biennes, Dimas Fontenelle, Gabriel MeLi, Hanna Viana, Horácio Almeida, Jade Lanter, Luiza Danielle, Lük, Ris Márquez

Noite – Abelinha, Bernadete Gomes (Beldete), Fernando Montecristo, Jefferson Sucesso, Lara Oliveira, Léo Karv, Jane Eyre, July Façanha, Kayo Fernandes, Lilly Cavalcante, Ruth Ramos, Sol Bezerra, Uyana Fernandes

Argumentos e roteiros: turmas, criação coletiva

Direção de fotografia, montagem e edição: Tim Oliveira

Assistentes de edição: Biennes, Dimas Fontenelle, Lük, Isaac Branco, Ian Carneiro, Iuri Cintra, Yara Canta

Cinegrafista: Leandro Stigliano

Supervisão de roteiros: Tim Oliveira, Isaac Branco, Iuri Cintra, Yara Canta, Juliana Veras, Neidinha Castelo Branco e Joca Andrade

Monitoria:
Manhã – Baruque Teixeira, Eloiza Temóteo, Isaac Branco, Paulo de Souza

Tarde – Lourdes Martins, Levy Érico, Kaly Gerônimo, Thalyta Dutra

Noite – Yara Canta, Camila Delamônica, Iuri Cintra, Pâmela Canário

Direção geral: Juliana Veras, Neidinha Castelo Branco e Joca Andrade

Assistência de direção: Yara Canta, Iuri Cintra, Isaac Branco

Realização: CPBT/TJA

Apoio: Secult e Seduc

Entrelace

Quando: sexta, 17, às 19 horas

Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500)

Gratuito, com ingressos disponíveis duas horas antes. Uso de máscara e comprovante de vacinação obrigatórios

Mais infos: @entrelace.filme