Um passeio pela história do humor no Ceará pode a um só tempo surpreender e despertar o riso. Onde mais um bode foi eleito vereador ou pessoas se reuniram debaixo de um cajueiro para eleger o maior mentiroso do Estado? E como explicar o dia em que a população resolveu vaiar o sol? Foi aqui, inclusive, que Chico Anysio (1931-2012) nasceu. Criador de mais de 200 personagens, o mestre pavimentou o caminho de vários artistas e incentivou o reconhecimento deste território como a “Terra do Humor”.
Não à toa, no dia de seu nascimento é comemorado o Dia Nacional do Humorista. A celebração se mistura à saudade. Este ano marca uma década sem Chico, que completaria 91 anos nesta terça-feira, 12. O cearense morreu aos 80, em 23 de março de 2012, no Rio de Janeiro. Insaciável artista das múltiplas mídias, antes de morrer, havia planejado peças. Figurinos inéditos — que usaria para as apresentações — estão em cartaz na exposição “10 anos de saudade” até 28 de abril, no Museu do Humor Cearense (MHC), equipamento anexo ao Teatro Chico Anysio (TCA), localizado no bairro Benfica, em Fortaleza.
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Quem visita o Museu, aliás, logo entende esse “itinerário gaiato” do Ceará. Na Avenida da Universidade, o prédio de fachada histórica, em cores amarelo e vermelho, guarda obras que expressam essa identidade. Trabalhos e objetos pessoais de Chico Anysio são destaques do acervo. Quando esta repórter bateu palmas e gritou “ô de casa”, foi recebida com a alegria do historiador e humorista Jader Soares, 60. Conhecido pelo personagem Zebrinha, ele é diretor do MHC, do TCA, e idealizador do Dia do Humorista. Junto ao fotojornalista Fábio Lima, iniciamos uma viagem pelo humor cearense. Já na entrada, uma placa anuncia: “Welcome, seja bem-vindo, se aprochegue”.
No corredor, um espaço cenográfico simboliza a Praça do Ferreira — o “centro da molecagem cearense”, afirma Jader. O visitante se depara com a história do bode Ioiô, eleito vereador da Capital em 1922, o Banco da Opinião Pública e o Banco da Democracia (onde intelectuais se reuniam), além de representações da Coluna da Hora, do contador de causos Quintino Cunha (1875-1943), do Cajueiro da Mentira e do sol "vaiado". O astro rei convida à entoar a vaia cearense: “Ieeeêi!”.
O corredor dá acesso a mais espaços. A Sala dos Humoristas conta com caricaturas e retratos de vários cearenses, como Paula Nei (1858-1897) — o primeiro humorista brasileiro, diz Jader. A Biblioteca Professor Raimundo homenageia um dos personagens marcantes de Chico Anysio, com livros escritos pelo maranguapense e mais de 2 mil obras de humor. Há, também, jaleco, peruca e bigode originais do Professor Raimundo, a última máquina datilográfica do mestre e o Troféu Imprensa (concedido por Silvio Santos a Chico em 1985).
A Sala Cine Holliúdy celebra o filme homônimo de Halder Gomes, com figurino do protagonista, cartazes, cenário e totem fotográfico. Já na Sala da Urna, o visitante encontra a Urna Funerária usada para guardar as cinzas de Chico Anysio antes de serem lançadas nos Estúdios Globo e no município de seu nascimento, Maranguape. Um quadro inacabado, pintado por Chico, também está em cartaz.
No MHC, tem ainda a Sala dos Troféus com cartazes e premiações de festivais; o Escritório do Riso, local de administração do equipamento; e a Sala de Vídeo, onde são exibidos obras audiovisuais em telão. Se quiser um lanche, há a Budega do Riso. Na atuação do equipamento, Jader destaca o projeto “Minha Escola no Museu”, com visitas guiadas a estudantes e educadores da Cidade.
Ao fim do corredor, o Teatro Chico Anysio aproxima o visitante do humor. Com capacidade para receber até 120 pessoas, o espaço é climatizado. Inaugurado em 1991 como uma homenagem a Chico em vida, o TCA realiza espetáculos, festivais e encontros. Foi o próprio Chico quem doou muitas das peças do equipamento. Após sua morte, a família também concedeu objetos do artista. Logo o acervo precisava de um projeto museológico. Assim, em 2014, nasceu o MHC. Zebrinha afirma que o espaço segue com a mesma essência de sua criação: fomentar a arte de fazer rir, especialmente no Ceará. É que “cearense não nasce, estreia”, já dizia Chico.
Confira um pouco da visita do Vida&Arte do Museu do Humor Cearense (MHC)!
E os figurinos inéditos de Chico Anysio? O V&A convida à exposição "10 anos de saudade". O equipamento cultural está aberto para visitas de segunda a sábado, das 13 às 19 horas.
Museu do Humor Cearense
Exposição “10 anos de saudade” até 28 de abril
Quando: de segunda a sábado, das 13 às 19 horas; aos domingos, o equipamento abre de acordo com a programação do Teatro Chico Anysio (TCA): se há espetáculo, o museu abre uma hora antes e segue uma hora depois das sessões
Onde: av. da Universidade, 2175 - Benfica
Quanto: R$ 10
Mais info: museudohumorcearense.com.br e zebrinha.net
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