Quatro anos após ter fechado para reestruturação física e de conceito, o Museu da Imagem e do Som do Ceará foi entregue novamente à população em 1º de abril de 2022 — após solenidade com autoridades na noite anterior — contando com mostra fixa no já conhecido casarão histórico e a exposição imersiva "Ontem choveu no futuro", no subsolo do novo prédio anexo. Em pouco mais de um mês desde a reabertura, porém, o MIS se equilibra entre dois polos: o inegável interesse do público, comprovado pelas 17 mil visitas que ocorreram nos primeiros 30 dias, e alguns tropeços de programação, como a suspensão da exposição imersiva e o cancelamento de shows anunciados.
O número de visitantes, informado pela assessoria da Secretaria da Cultura do Ceará, inclui o público presente nas mostras expositivas, aulas, palestras e sessões de cinema na Praça. Com programações de quinta a domingo, o MIS realizou no primeiro mês eventos como aulas magnas, sessões de curtas-metragens experimentais e de animação e apresentação de palhaçaria para crianças.
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Os tropeços surgiram ainda nos primeiros dias, quando as anunciadas apresentações musicais de Mateus Fazeno Rock e da banda Vacilant, previstas para 8 e 9 de abril na Praça do MIS, foram canceladas após um primeiro show, de Fernando Catatau, ter causado incômodo na vizinhança — residencial, mas também hospitalar.
Os eventos aguardam novas datas, mas a assessoria da Secult já adiantou ao V&A que elas devem ocorrer na sala imersiva do andar -2, no prédio anexo, que passará por "adaptações" para se tornar "ambiente apropriado para receber apresentações musicais e performances artísticas em geral".
Era este o espaço que a exposição "Ontem choveu no futuro", de Batman Zavareze, ocupava até ser suspensa há quase duas semanas, em 28 de abril, para "readequação tecnológica". Dois dias depois do fechamento, o biotecnologista mossoroense Vinícius Barros, 30 anos, tentou visitar o MIS com amigos em uma viagem a Fortaleza, mas se deparou com poucas opções de programação.
"Além de gostar desse tipo de programa, me interesso bastante por coisas audiovisuais. Pelas publicações no Instagram do museu, fiquei interessado em ir, mas infelizmente não deu pra aproveitar muito. Fiquei decepcionado, porque com pouco tempo aberto já fechou para manutenção", relata sobre a tentativa de visita à exposição.
De acordo com a Secult, a suspensão da exposição imersiva se deu porque a sala "está recebendo novas máquinas importadas que tiveram a entrega atrasada devido à falta de chips na indústria global de tecnologia", impacto da pandemia. Entre os equipamentos novos, informa a assessoria, estão servidores, switches, ilhas de edição e sistema de gerenciamento de mídias.
Além disso, a sala do andar -2 terá "ajustes nos grids (...) para receber equipamentos de iluminação e som" e na pintura das paredes, sob orientação do artista. A Secult informa, ainda, que a montagem da rede corporativa de todo o prédio será feita no período, o que impacta nas previsões de abertura de ambientes como a biblioteca do MIS e o outro espaço expositivo do anexo, no andar 2.
A previsão do retorno da sala imersiva e do início das atividades dos novos espaços está ligada à atualização tecnológica do sistema que gerencia o prédio. Os movimentos devem ocorrer em junho. No mesmo mês, deve ser iniciada a digitalização do acervo do MIS, que está em "uma reserva técnica com todas as condições necessárias para a sua salvaguarda".
As questões da reabertura do equipamento abrem espaço para reflexões acerca da dinâmica de políticas culturais do Estado. Vocalista da Vacilant, Yuri Costa destaca o papel do poder público no retorno das atividades culturais com o arrefecimento dos números da pandemia.
"A retomada para a classe artística tem sido extremamente difícil para a grande maioria, seja por sucateamento dos espaços e políticas culturais, seja por questões sanitárias da pandemia que ainda nos assombra", aponta. "É crucial que, nesse momento, espaços consolidados, como o Dragão do Mar, e novos, como o MIS, sejam ocupados por artistas cearenses", defende.
"A maioria dos espaços que tínhamos para shows não existem mais e os nomes mais importantes no momento são as instituições culturais (onde) existe todo um processo burocrático, como credenciamentos, editais e outras ferramentas, que não chega em todos os artistas", pondera Allan Dias, produtor da Vacilant. "Precisamos estar muito atentos às instituições culturais, porque elas são fundamentais para o reinício do movimento, e espero que elas estejam dispostas a ouvir a classe artística como o MIS está sendo", segue.
"Parece ótimo quando abrem novos institutos e espaços culturais com a possibilidade de pessoas acessarem, utilizarem, conhecerem, trabalharem. Deveria ser uma experiência muito roxeda pra Cidade, só que a dinâmica de ocupação desses espaços precisa ser repensada", avalia Mateus Fazeno Rock.
Lançando olhar para o contexto geral, o artista destaca centralizações que atravessam o circuito. "É importante pensar a geografia, onde é que vão ser abertos esses espaços. A gente tá falando MIS, que fica numa região muito próxima de uma série de outros equipamentos culturais, mas tem toda uma cidade que também precisa ser amparada por eles, tem uma série de equipamentos já instalados que precisam de manutenção", aponta o artista.
"É uma questão cultural, de pensamento, administrativa, financeira, racial, social. Aproveito para convidar administradores a repensarem como distribuir a grana e a rotatividade de trabalho, como dar oportunidade a um monte de gente nova que precisa trabalhar e acessar os equipamentos", sugere Mateus. "Espero profundamente que o MIS consiga fazer um bom trabalho, mas também que outros equipamentos que já estão aí possam receber mais assistência", reforça.
Museu da Imagem e do Som do Ceará
Quando: de quinta-feira a domingo, das 13h às 21 horas
Onde: avenida Barão de Studart, 410 - Meireles
Mais infos: @mis_ceara
Entrada gratuita, sujeita à verificação do comprovante
de vacinação
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