Já se vão 20 anos desde que a funkeira carioca Deize Tigrona despontou no País com "Injeção", música de batida marcante que brinca com duplos sentidos. Duas décadas depois, a artista, aos 43 anos, reforça aspectos da identidade artística e aposta em novos caminhos no disco "Foi Eu Que Fiz", primeiro álbum em mais de 10 anos. Em retomada da carreira desde 2019 a partir de parceria com o coletivo Batekoo, Deize traz sete faixas que exploram temas da sexualidade com abordagens diretas e beats que flertam com eletrônico, pop, rock e trap. O álbum já está disponível nas plataformas.
Além da música, a trajetória de Deize inclui ainda trabalhos como doméstica, gari e artista plástica. Além de "Injeção", a lista de sucessos de Deize inclui "Prostituto" e "Sadomasoquista". Ainda nos anos 2000, pausou a carreira por motivos pessoais e familiares, tendo retornado de forma mais contínua nos últimos quatro anos. "Assinar com a Batekoo foi muito importante, porque é um selo preto LGBTQIA+. Tive que tomar uma decisão, porque tinha recebido o convite de outra produtora que não era de pessoas pretas. Decidi assinar com a Batekoo devido ao selo me entender enquanto mulher e à paciência, porque tenho mais idade que eles", compartilha Deize.
Recentemente, a cantora lançou singles como "Vagabundo" (2019) e "Sexo, Internet & Funk" (2020), e apareceu na música "Pelo Amor de Deize" (2020), da cantora Jup do Bairro. O projeto de um disco já existia desde o começo, mas teve que ser pausado pela pandemia.
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"A Batekoo falava em lançar o selo Batekoo Records para lançar o meu disco. Mesmo com a pandemia, eu não deixei de escrever, a gente não deixou de acreditar", afirma. "Foi Eu Que Fiz" traz sete faixas com participações de produtores musicais reconhecidos no País — a banda Teto Preto, Malka, DJ Chernobyl, FrancêsBEATS e, em duas faixas cada, JLZ e BADSISTA — que agregam beats diversos para compor um panorama sonoro complexo e atraente.
Pioneira do funk, Deize avalia que ainda há preconceito com o gênero, mas vê mudanças — positivas e negativas — na recepção. "Hoje tem grandes produtoras investindo. O funk está mudando de cor, apesar de ainda ser marginalizado. O funk que me interessa é o que abre portas, dá oportunidade para as pessoas da comunidade, faz as pessoas acreditarem que podem mudar de vida e entender que funk também é arte", defende.
A posição de pioneirismo e identidade da artista a colocam em lugar de referência no gênero. "Encaro na maior normalidade. (Ser) referência é também uma reverência à minha trajetória, devido aos altos e baixos. Isso me coloca em lugar de conforto por ver outros vindo e se inspirando. Fico satisfeita em ver o movimento crescer e saber que me apoiam e que gostam de mim", celebra.
"Sempre quis ser artista, falava na portaria de onde eu trabalhava como empregada doméstica que queria gravar um disco e as pessoas falavam que era muito caro. Pintou uma oportunidade de um festival aqui na Cidade de Deus. Muitas das minhas músicas foram parar na mão de DJs, em outras vozes, e quando tive oportunidade de palco, muita gente não acreditava que as músicas eram minhas", relembra.
Vem daí, inclusive, o nome do disco, uma afirmação de Deize sobre o próprio protagonismo e autoria de diversas "canetadas" ao longo dos anos, como canta em "A Mãe Tá On", faixa final do disco: "A mãe tá ligada em tudo/ O trampo da mãe não para/ É rap, é trap, é funk/ A mãe tá na batalha/ São anos de canetada/ Pra mãe não se fuder". Os versos dão conta, em poucas palavras, da trajetória e da personalidade da artista: atenta, atual, insistente, irreverente, múltipla, hitmaker. A demanda, agora, é por reconhecimento — especialmente financeiro.
"O que vejo ao longo da carreira é a minha persistência em não desistir, a minha voz e o meu objetivo, que é unir a fama com a grana. O meu percurso é de resistência, de insistência, de acreditar. Também é de carinho e amor pelo que faço. O que pretendo é conciliar a fama com a grana. Está na hora da grana, não tem jeito (risos)", profetiza.
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Foi Eu Que Fiz - Deize Tigrona
7 faixas
Com produção e beats de Malka, JLZ, Teto Preto, Badsista, DJ Chernobyl, JLZ e FrancêsBeats
Onde ouvir: bit.ly/FOIEUQUEFIZ
Siga a artista: @deizetigrona
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