Em matéria publicada no dia 4 de abril, o Vida&Arte propôs a avaliação pontual das ações direcionadas à cultura na última gestão de Camilo Santana (PT) como governador, iniciada em 2015 e vigente até o primeiro semestre de 2022. Os artistas ponderaram o desempenho do petista frente às demandas da área, grandemente impactada pela pandemia da Covid-19, no Ceará. Os depoimentos destacaram pontos positivos, como a inauguração de equipamentos culturais, mas também reforçaram a descontinuidade de editais e a necessidade de investimentos em fomentos públicos.
No cenário das eleições, o cargo de representante do Estado é disputado por Capitão Wagner (União Brasil), Elmano de Freitas (PT) e Roberto Cláudio (PDT) - candidatos que lideram pesquisa Ipespe Ceará divulgada pelo O POVO - além de Chico Malta (PCV), Serley Leal (Unidade Popular) e Zé Batista (PSTU). Em meio aos possíveis futuros caminhos em relação à cultura no Ceará, realizadores compartilham perspectivas para o próximo mandato estadual. Entre as reivindicações, artistas requerem expansão de equipamentos culturais nos municípios e constância nas políticas de investimento.
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Anna K.
"Não há o que esperar do próximo gestor! Manter esse pensamento, esse verbo transitivo direto sempre como cerne da questão, talvez seja sempre o problema: nós precisamos agir, cobrar, gritar, defender, ir atrás! Independente de quem assuma o governo do estado e a Secult, temos que ser sempre oposição, exigir, lutar, brigar pelo que acreditamos que é certo.
Depois algum tempo, tanto atuando como artista ou como gestora pública, eu insistirei muito por uma política de descentralização de poderes. Há de se criar possibilidades e mecanismos para que as prefeituras injetem recursos financeiros em suas secretarias municipais (de cultura) e que estas sejam geridas com pessoas competentes e técnicas para isso e não sejam - mais uma vez - prestação de favores eleitoreiros. É preciso construir e fortalecer boas secretarias municipais, com suas leis, fundos e conselhos fortes e autônomos".
Anna K Lima é autora de "Claviculário" (2018) e "Olhar Bem Perto" (2021). Mediadora de encontros de escritas e escutas, é capricorniana, mãe do Arjuna e se considera "atrevida". Trabalha há mais de 25 anos com oficinas e cursos de escrita e leitura. Em 2018 viajou o país no projeto Arte da Palavra, pelo Sesc Nacional, mediando oficinas de escrita afetiva. Idealizou, junto a duas outras grandes mulheres, a Aliás Editora, que se atreve a propulsionar mulheres pelo mundo através da palavra. Há seis anos vive dessa e nessa aventura.
Hertenha Glauce
"Após dois anos e meio de pandemia, o setor cultural foi o que teve suas atividades paralisadas em primeiro lugar e o último a voltar. Se assim entendermos esse delicado momento, perceberemos que para o próximo governo não adianta apenas manter as políticas já bem conduzidas no Ceará. Será preciso ampliá-las e intensificar o olhar solidário aos artistas e técnicos da cultura. Vislumbrando um cenário favorável ao setor cultural, após a saída do atual governo federal, que tirou da pauta a cultura, podemos imaginar que teremos o retorno do Ministério da Cultura e um fortalecimento de todo o setor produtivo, fazendo crescer novamente a economia, inclusive, nos estados".
Hertenha Glauce é atriz, arte-educadora e diretora de teatro. Possui Especialização em Arte e Educação pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e graduação em História pela Universidade Federal do Ceará.
Lays Antunes
"O novo governador deve ter responsabilidade com o setor cultural, lembrando que a economia criativa é fundamental para a expressão das identidades múltiplas que compoem o estado. Deve ter constância e firmeza nos investimentos à cultura, lembrar que artista tem que pagar as contas como todo mundo e que a arte é um ofício como todos os outros, que demanda saberes e é necessária para a sociedade. Que um investimento responsável gera dignidade ao setor e multiplica o financiamento em forma de expressão de talentos e geração de bens imateriais. O novo governador precisa encarar a cultura como um setor estratégico cujo financiamento gera retorno não só em recursos, mas também em valorização do Estado".
Lays Antunes é cineasta formada em Cinema e Audiovisual, membro da diretoria da CEAVI (Ceará Audiovisual Independente), roteirista filiada à Associação Brasileira de Autores Roteiristas (ABRA) e Produtora associada à Conexão Audiovisual Centro Oeste Norte Nordeste (CONNE). Já trabalhou em diversos projetos de distribuição nacional e internacional como desenvolvedora de projetos, roteirista e produtora. Atualmente presta serviços através de sua empresa Memorabilia Narrativas Audiovisuais para empresas parceiras nas áreas de roteiro e projetos. Em paralelo, realiza projetos de sua autoria. Por suas diversas curiosidades, também tem projetos autorais em áreas como moda sustentável, investigações fotográficas sobre identidade e memória e fez vários cursos de curta duração em áreas como pintura, gestão e design. Gosta de saber um pouquinho de cada coisa e tudo acaba virando roteiro.
Luana Florentino
"Os equipamentos estão sucateados, a Capital precisa de memória patrimonial, de atividades culturais não só de entretenimento, como de continuação dos nossos projetos. Queremos ser bem pagas no Ceará, como as atrações de fora são. É urgente políticas públicas, editais, centros culturais funcionando e a valorização dos nossos artistas, principalmente as mulheres, eternas retirantes por falta de apoio do Estado".
Luana Florentino lançou seu primeiro disco em 2021, intitulado RIO - Dançar o Mundo com canções e poesias autorais. É graduada em Comunicação Social - Jornalismo pelo Centro Universitário Estácio Fic do Ceará, Especialista em Educação Popular e Promoção de Territórios Saudáveis na Convivência com o Semiárido e Graduanda em Licenciatura em Teatro pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE). Como artista cênica, atuou também em espetáculos de teatro, circo/dança e música. Possui experiência como educadora por meio da cultura popular em Territórios Indígenas (Povo Jenipapo Kanindé). É Educadora Popular por meio de Performances, Contação de Histórias e Cenopoesia. Tiradora de loa e batuqueira (Maracatu Solar), Brincante e Zabumbeira (Pifarada Urbana), Brincante da Cultura Popular (danças tradicionais de Coco e Reisado) Idealizadora da Sertão.
Neto Holanda
"Como morador e artista da Região Metropolitana de Fortaleza, sinto falta de mais equipamentos culturais na minha cidade (Maracanaú), o que poderia favorecer a criação, a promoção e a fruição da cultura dentro do próprio município. Demanda esta que talvez seja comum nas cidades vizinhas, como Pacatuba e Caucaia, por exemplo. Desse modo, os editais de incentivo (que contemplam os centros culturais) poderiam se estender mais para o interior, fortalecendo a autonomia local e democratizando o acesso à cultura aos trabalhadores da artes e às suas comunidades".
Neto Holanda é arte-educador, ator, palestrante, palhaço e produtor cultural pelo Coletivo Paralelo (Maracanaú/CE). Pesquisa temas como corporeidade, ludicidade e espiritualidade no trabalho do artista e do não artista. Idealizador e professor da residência artística Academia do Riso: Escola de Iniciação à Palhaçaria (Fortaleza/CE). Gestor do Apê Cultural, espaço cultural independente no município de Maracanaú/CE.
Sherida Livas
"O Ceará é um dos estados mais ricos e de grande potência cultural do País. E a nossa maior
riqueza vem do nosso povo. Acredito que valorizar nossos artistas seja um dos passos mais
importantes nesse próximo governo. Necessitamos ser a atração principal e a referência, para que realmente possamos ser vistos com outra óptica. Além de ações que inviabilizem projetos em diversas áreas da cultura, através de projetos menos burocráticos, com remunerações justas e transparentes para artistas locais. Não deixando de citar a área da Moda, que além de ser um dos maiores geradores de renda para o Estado, é também um fator de grande importância cultural, afinal nós vestimos e produzimos nossa identidade, e isso deve ser levado a sério. Assim como também, a criação de projetos que atendam demandas em áreas mais carentes, furando a bolha e criando novas perspectivas e rotas criativas para o Estado".
A estilista Sherida Livas assinou a coleção "TerraLuz", em maio deste ano, na passarela do Dragão Fashion Brasil e lançou a primeira coleção autoral, "Plantasia", no dia 26 de agosto.
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