O indie pop brasileiro tem mais uma crescente voz para os fãs apostarem todas as fichas. Com apenas 24 anos, Maielle Ramos da Silva - ou simplesmente Maielle - encanta novas gerações com um canto que, segundo ela, esteve presente desde que nasceu, quando foi ninada ao som do timbre de coral de sua família.
"Uma forma de equilibrar / Todos os pontos de vista / Da plateia que me vê distante / Malabarista principiante" é o que diz Maielle em "Malabarista", música declarada como "quase uma autobiografia" pela autora. Com a produção musical sustentada pelo trabalho que faz com games, a artista se inspira na interatividade das animações criadas para compor suas canções.
Nascida em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Maielle cresceu para a arte. Na escola, ela passou por cursos de teatro, dramaturgia e de circo. Na universidade, fez cinema e animação. Mas a música nunca durou muito tempo distante do coração da artista.
Um relacionamento ruim quase a fez desistir do cenário musical, mas o talento da jovem foi incentivado pelos amigos. Durante a pandemia de Covid-19, Maielle se reconectou com a música e embarcou na carreira como cantora sem passagem de volta.
A arte do canto foi também retomada pela identificação com o mundo em volta. Os pais da artista — que eram de coral —, cantores que conheceu por meio de um reality show e gêneros musicais estrangeiros conduziram Maielle de volta para a música durante a pandemia.
Trazendo referências — entre elas, a jovem destaca Duda Beat, Liniker e Marina Sena no Brasil e, no meio estrangeiro, Daniel Caesar e a dupla Chloe x Halle — e sendo também a própria inspiração, a artista escreve música com uma linguagem que remete muito à própria fala. Maielle tem "coisas inusitadas" nas canções, tem coros que refletem a origem, tem vocais bem agudos e quase líricos. A autora declara: "Eu falo das coisas que eu conto na terapia. Tem uma autoconsciência muito grande".
A música começou a tomar rumos concretos na vida de Maielle quando ela escreveu uma canção sobre um fracassado relacionamento amoroso já bem conhecido dos amigos. "Eu tinha coisas dentro de mim que as pessoas não aguentavam mais me ouvir falar, então fiz uma música para elas me ouvirem cantar sobre isso", destaca Maielle.
Atualmente, a artista tem cinco "importantes" músicas. A primeira lançada foi "Nunca Disse Que Te Amava". Para que ela pudesse se concretizar, a artista aprendeu sobre todos os processos que envolvem produção musical com uma produtora de Florianópolis. Os conhecimentos de cinema e audiovisual de Maielle foram a peça chave para o desenvolvimento do projeto no formato de videoclipe.
"Malabarista", canção de 2021, é a música onde Maielle mais explora a própria vida. A composição fala sobre o acúmulo de tarefas que alguém assume para tentar se sentir mais amada pelas pessoas. "Ela pega muito em quem eu sou e sempre fui", afirma a artista.
Mas foi "Caramelo", de 2022, a canção que fez Maielle chamar a atenção fora da "bolha" na internet. A música, que começou a ser escrita no início de um novo relacionamento e foi finalizada no fim desse envolvimento, viralizou nas redes sociais quando a cantora fez a divulgação falando da própria vivência ao mudar-se para o Rio de Janeiro.
Neste ano, a artista passou por diversos problemas que acompanharam a mudança de cidade. Ao chegar na capital fluminense, a jovem foi vítima de um golpe, acabou testando positivo covid-19 e ainda perdou os móveis de casa por um problema da transportadora. Buscando ajuda para se reanimar, Maielle pediu na internet que as pessoas buscassem conhecer "Caramelo".
Outras composições da artista são "Longe de Casa" e "Suficiente". A primeira foi feita para um curta-metragem de um amigo da faculdade, mas se tornou uma letra de identificação quando a cantora sentiu saudade da família e da cidade natal. "Parece que eu fiz no passado para a Maielle do futuro", destaca. A segunda é a música mais recente da carreira.
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"'Suficiente' fala um pouco do sentimento que me faz ser uma malabarista", conta Maielle. A canção aborda a cobrança que a jovem sente para atingir a expectativa que outras pessoas depositam nela.
Sobre planos para o futuro, Maielle ressalta o desejo de experimentação. Com o lançamento de um novo EP programado para o começo de 2023, Maielle reuniu músicas já lançadas e duas composições inéditas. O trabalho terá um enfoque no gênero pop urbano e na melancolia inseparável da autora. Entre as novas canções, haverá "Repara", que fala sobre a descoberta da bissexualidade da jovem.
Bate-pronto com Maielle
O POVO - Sonho de parceria?
Maielle - Feat dos sonhos? Baco Exu do Blues, MC Zaac, Duda Beat…
O POVO - Quem é Maielle?
Maielle - É uma pessoa que entende muito dos próprios sentimentos e tá entendendo como colocar isso para fora.
O POVO - Um sonho de carreira?
Maielle - Caraca, tive uma crise de identidade agora… Meu sonho de carreira acho que é me tornar uma das maiores artistas de indie pop do Brasil.
O POVO - Coisas que você já fez pela sua carreira e não faria mais?
Maielle - Gastar muito dinheiro com videoclipe e não gastar com divulgação.
O POVO - Experimentos que você ainda quer fazer?
Maielle - Eu quero juntar muitos ritmos. Eu quero fazer "feats" e conversar com artistas que as pessoas não esperam.
O POVO - Qual você considera que seja o perfil dos seus fãs?
Maielle - Eu acho que meus fãs são muito parecidos comigo. São pessoas que são jovens adultos que estão se entendendo um pouco mais e vivendo seus próprios relacionamentos. Jovens que estão tentando lidar com os próprios sentimentos, talvez.
O POVO - Um público que você deseja aumentar o alcance?
Maielle - As massas. Eu quero atingir as massas, mas sem perder o que eu tenho de único.
O POVO - Um lugar que você sonha em se apresentar?
Maielle - Caraca… Rock in Rio.
Ao fim das perguntas rápidas, Maielle confessou que a entrevista a fez pensar em assuntos que nunca antes havia refletido e afirmou que levará os temas para a próxima sessão de terapia. Seria então o Vida&Arte o gatilho para uma próxima composição?
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