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"Manter, aperfeiçoar e inovar": os desafios de Luisa Cela à frente da Secult
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"Manter, aperfeiçoar e inovar": os desafios de Luisa Cela à frente da Secult

Ao Vida&Arte, secretária da Cultura do Ceará Luisa Cela compartilha prioridades e planos de ação da nova gestão
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Manutenção de equipamentos e políticas é desafio da nova gestão da Secult, aponta a secretária Luisa Cela (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Manutenção de equipamentos e políticas é desafio da nova gestão da Secult, aponta a secretária Luisa Cela

Processo de restauro "urgente" do Theatro José de Alencar, ações de economia criativa, estratégias para sustentabilidade e manutenção de equipamentos. Estas são algumas das pautas compartilhadas em entrevista ao Vida&Arte por Luisa Cela, secretária da Cultura do Ceará. A gestora, que assumiu o cargo no domingo, 1º de janeiro, visitou a sede do O POVO na sexta, 30 de dezembro de 2022, para uma conversa de uma hora na qual adiantou ações prioritárias e reconheceu desafios da nova gestão.

LEIA MAIS | Parte 2 da entrevista - Luisa Cela: garantias orçamentárias e articulação política em pauta

O POVO - Você atuou como secretária-executiva da pasta de janeiro de 2019 até março de 2022. Que bases a experiência anterior te dá para a atuação como titular?

Luisa Cela - A secretaria não é mais um território desconhecido, chego com o conhecimento das equipes da Secult e dos Institutos Dragão do Mar e Mirante, do funcionamento da estrutura, das potências e dos desafios e aspectos de fragilidades que a gente sabe que ainda existem. É um território que pude conhecer e, inclusive, ajudar a pensá-lo do ponto de vista da instituição e da política: planejamento das políticas culturais, Plano Estadual de Cultura, plano de gestão, projetos e perspectivas que eram horizontes de construção ao longo da gestão do governador Camilo e da governadora Izolda.

OP - Com o acúmulo da experiência anterior e da transição estadual, o que desponta como prioridade máxima para o início dos trabalhos frente à Secult?

Luisa - Geralmente em governos de continuidade, como é o caso, tem uma máxima: "Manter, aperfeiçoar e inovar". Um primeiro desafio é conseguir compor uma equipe que garanta que tudo aquilo que foi conquistado seja mantido. Um segundo desafio é o processo de qualificação da Rede de Equipamentos. O governador Camilo fez um investimento significativo na ampliação da Rede — construindo inclusive os quatro primeiros equipamentos da Cultura fora de Fortaleza —, mas ainda existem fragilidades. Tem equipamentos, a gente sempre fala, como o Centro Cultural Dragão do Mar, o Theatro José de Alencar, o Museu do Ceará, que são importantes e precisam receber um olhar de investimento para que a gente possa ter uma rede potente na sua inteireza. Eles são âncoras importantes tanto para a dinamização da política para as artes, como também atrativos turísticos — o que traz a questão da economia da cultura e do turismo cultural, que são duas grandes áreas que a gente precisa explorar com mais força e consistência para um ciclo de avanço nas políticas. Claro que estou montando o time e que haverá a discussão desse planejamento da gestão com o Conselho Estadual de Políticas Culturais, os fóruns, mas essas são coisas que passam pela minha cabeça ao olhar para o que a gente conseguiu construir, consolidar, e apontando no sentido de aperfeiçoamento e inovação.

OP - Que ações são previstas para a manutenção estrutural e de programação de equipamentos já existentes, como os citados Dragão do Mar e TJA ?

Luisa - O primeiro desafio é a manutenção física, da infraestrutura. No Dragão do Mar, tanto o equipamento como o entorno, a praça Almirante Saldanha, precisam de intervenção, ser melhor iluminados. É preciso um olhar para aquele "complexo", que inclusive reúne quatro equipamentos da secretaria: a Biblioteca Pública, a Escola Porto Iracema das Artes, o Porto Dragão e o Dragão do Mar. Isso falando da Secretaria do Estado, porque se você atravessa a rua tem o Teatro São José (com gestão da Prefeitura de Fortaleza), então tem ali uma possibilidade de construir um importante complexo, mas precisa ter uma revitalização tanto urbana como do próprio centro cultural. Parte dessa reforma já está em andamento, principalmente nos museus, que estavam com problema de infiltração. A licitação da reforma da praça foi também já realizada, então tem uma perspectiva de encaminhamento de uma reforma estrutural. (Esse olhar) vale para o Museu do Ceará, o Theatro José de Alencar, o Centro Cultural Bom Jardim. Tem uma dimensão de infraestrutura, de atualização de equipamentos de som e iluminação, tecnologia. Por exemplo, o Museu da Imagem e do Som e a Estação das Artes têm toda uma estrutura multimídia forte, potente, atual. Há a dimensão de conceito do Dragão do Mar, atualizá-lo. Ele tem uma importância muito grande para aquela área e para a política cultural, é um equipamento onde praticamente todos os grandes festivais acontecem. O TJA precisa passar por um processo de restauro urgente. O Museu do Ceará e o Theatro José de Alencar são patrimônios tombados a nível nacional, são joias do nosso patrimônio. São atualizações de infraestrutura, de tecnologia, de conceito, de programas, de qual papel eles cumprem na rede, e uma retomada principalmente do Dragão do Mar, que a sociedade cearense sabe que está precisando de uma recuperada tanto no equipamento quanto de um olhar urbano.

OP - E sobre os novos equipamentos, quais os planos de manutenção?

Luisa - Existe o desafio de garantir recursos, orçamento, para um bom funcionamento deles. Eles têm um porte grande — o Complexo Estação das Artes, a Pinacoteca, o Centro Cultural do Cariri, o MIS e — e custeio de manutenção elevado. É preciso garantir recursos para isso e para a dinamização da programação. O investimento na Rede Pública de Equipamentos mais do que dobrou quando você pega 2015 e vai para 2022. O desafio fundamental é também criar uma inteligência de sustentabilidade. A gente vai ter a volta do Ministério da Cultura e sabemos que na nossa organização federativa os estados precisam do suporte financeiro da União. Os equipamentos culturais precisam fortalecer a capacidade de captação de recursos e de construção de parcerias. A discussão sobre uma política de bilheteria é uma questão importante. Coloco aqui como uma agenda para se abrir, mas uma Pinacoteca não deveria ter uma política de ingresso? Com gratuidade para determinados públicos, um dia gratuito. Mas e se eu sou um turista de fora? O Estado sempre precisará garantir o recurso para manter e financiar a política cultural, esse recurso não substituiria o Estado, mas contribuiria para a manutenção. É assegurar os recursos necessários para uma manutenção permanente e preventiva. A gente não pode deixar que o equipamento vá se deteriorando ao longo do tempo, é preciso estar sempre olhando, cuidando, recuperando, atualizando, porque senão chega num ponto que precisa de uma reforma estrutural e tem que fechar, como aconteceu com o Museu do Ceará. A manutenção preventiva é um desafio para todo o Estado, então é o fortalecimento de um setor de sustentabilidade e de captação de recursos — com a iniciativa privada, o Governo Federal, parcerias com festivais para dinamizar a programação — e a capacidade permanente de inovação, discussão sobre o programa. Como existe uma concentração muito grande dos equipamentos culturais em Fortaleza, mesmo com esses quatro que foram construídos em outros municípios, os da Capital precisam entender que são do Ceará e construir estratégias, políticas, parcerias, recursos e intercâmbios com equipamentos municipais e espaços independentes que podem ser dinamizados com a força dessa rede de equipamentos que se concentra ainda na Capital.

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