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Na era dos streamings, CDs continuam atraindo compradores e vendedores
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Na era dos streamings, CDs continuam atraindo compradores e vendedores

Lançado há mais de 40 anos, o Compact Disc (CD) revolucionou a indústria fonográfica, mas teve sua força diminuída com o advento dos downloads e dos streamings. Em 2022, contudo, foi a mídia física mais lucrativa e segue movendo paixões
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 João Carlos Santos, agente de microcrédito, coleciona CDs e outras mídias físicas desde a infância (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS João Carlos Santos, agente de microcrédito, coleciona CDs e outras mídias físicas desde a infância

O ano era 1982. Logo no início da década de 1980, as empresas Philips e Sony apresentavam ao mundo, em uma feira de áudio no Japão, uma tecnologia que iria revolucionar, mais uma vez, a indústria fonográfica: o Compact Disc (Disco Compacto, em português).

Desenvolvido para armazenar e reproduzir músicas com o uso de um leitor, o CD impactaria de forma profunda o consumo de músicas que há anos era guiado principalmente pelos discos de vinil. Afinal, passaria a ser mais prático ouvir seu artista preferido, os "chiados" do vinil sumiriam e objeto era o mais tecnológico até então.

O compositor, pianista e cantor Billy Joel foi o primeiro artista a ter um CD comercializado, o "52nd Street". Quanto ao Brasil, o primeiro disco compacto lançado foi de Nara Leão, produzido em abril de 1986.

Se nos primeiros anos "encheu os olhos" do público com as novidades oferecidas, o CD passou a perder sua força nas décadas seguintes, principalmente a partir da disseminação do MP3, da pirataria digital e dos streamings.

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Ainda assim, é preciso dizer que o CD segue tendo espaço. No Brasil, ele foi o formato mais lucrativo em 2022 no mercado fonográfico de mídia física. O faturamento foi de R$ 6,7 milhões, seguido pelas vendas de discos de vinil, com R$ 4,7 milhões, e DVDs com vendas de R$ 0,4 milhão.

Os dados foram divulgados em março pela Pró-Música Brasil, entidade que representa as principais gravadoras e produtoras fonográficas do País. Segundo a instituição, as receitas de vendas físicas representaram 0,5% do total das receitas da indústria fonográfica brasileira - dominadas, hoje, pelo streaming, que representou 86,6% do total das receitas em 2022.

O fato é que o CD não foi esquecido nem morreu - uma prova é a de que o álbum "Nu Com a Minha Música", de Ney Matogrosso, teve edição em CD em 2022. Apreciadores do formato seguem adquirindo a mídia física, seja pela materialidade, pelo hábito adquirido na infância ou até para escutar no carro.

O consumo de CDs

"A mídia física, para mim, é insubstituível. Hoje em dia eu não utilizo streamings. Gosto de escutar a mídia física. É uma sensação totalmente diferente você pegar um produto, ver o encarte, as letras e a ficha técnica. Eu acompanho, leio, vejo quem está tocando ali. Não é simplesmente estar escutando música por um tempo. Eu gosto de perpetuar as músicas".

A declaração é do agente de microcrédito João Carlos dos Santos. Aos 38 anos, desde pequeno nutre relação especial com o universo dos CDs, uma influência que veio da família, quando escutava vinil com seu pai. Os discos compactos que mais se destacavam na sua casa eram os de forró - João, aliás, revela ter tido coleção de 300 CDs do gênero musical na época.

 João Carlos Santos, agente de microcrédito, coleciona CDs e outras mídias físicas desde a infância
João Carlos Santos, agente de microcrédito, coleciona CDs e outras mídias físicas desde a infância (Foto: FERNANDA BARROS)

Com o passar do tempo, seu gosto musical foi se diversificando. Hoje, escuta bastante rock, MPB e bossa nova e quase não tem mais CDs do forró - aqueles que ainda permanecem são resquícios de lembrança afetiva do agente de microcrédito. A sua coleção é composta por acervo entre 1.800 a 2.000 CDs atualmente.

"Basicamente toda semana estou comprando, seja em uma loja física ou pela internet", conta. Para ouvir suas músicas, utiliza um receptor de áudio conectado ao seu aparelho de DVD.

No caso da arquiteta Nayane Alves, 24, o som do carro é o aparelho utilizado para escutar seus artistas preferidos. Foi por causa dele, na verdade, que ela começou a colecionar CDs. "O meu carro é antigo e não tem Bluetooth, então eu senti a necessidade de ouvir música que não fosse só pelo rádio", compartilha.

Essa "estrada" começou há três anos e o som do carro se tornou um grande companheiro para a arquiteta, pois ela afirma morar "muito longe dos lugares que frequenta" e, por isso, passa diariamente de uma a três horas no veículo. Os principais discos tocados são de bandas de rock e heavy metal, com atenção especial ao Whitesnake.

"Poder possuir a mídia, colecionar mesmo e também ouvir o álbum inteiro. Quando a gente coloca no Spotify é tudo bagunçado, e eu gosto de ouvir exatamente como ele foi feito pra se ouvir", declara Nayane sobre os aspectos que despertam sua atenção nos CDs.

Para ela, usar streaming só é opção quando não possui o CD da música que deseja ouvir. "Eu acho mais prazeroso ouvir pelo CD. Quando um artista faz um álbum, eu imagino que ele tem um conceito sobre como esperava que seu público ouvisse. Acho que se eu comprar mídia física eu consigo me aproximar do artista e do conceito que ele pensou", acrescenta.

Vladimir Primo de Souza, história, tem coleção com mais de 3500 CDs
Vladimir Primo de Souza, história, tem coleção com mais de 3500 CDs (Foto: AURÉLIO ALVES)

Esse é um pensamento que se assemelha ao de Vladimir Primo de Sousa, historiador e um dos organizadores do Telha Rock Festival, em Iguatu. "O 'colecionar' não é só escutar a música, envolve também a relação que você tem com a banda ou com o disco", lembra.

A sua trajetória como colecionador começou em 1992, quando tinha 13 anos. Assim como João, também foi influenciado pelo ambiente familiar, mas a partir de um presente especial: quando seu pai adquiriu o primeiro aparelho de CD, deu a Vladimir o CD de "Nevermind", do Nirvana.

Esse foi o pontapé para a coleção que hoje chega a 3.500 CDs e 700 vinis. Os artistas que mais se destacam em suas prateleiras são ligados ao rock e ao heavy metal, com destaque para Black Sabbath e Iron Maiden. Seu blog, "Vladimir Sonorizando", começou como uma catalogação de sua coleção.

"Eu amo a música. Eu gosto muito de música e, para mim, não é só o 'escutar'. São as sensações que envolvem a materialidade da mídia física, além dos encartes e das capas. Para mim, é necessário concentração para ouvir música, algo que não consigo no streaming".

Em sua análise, porém, streamings e CDs podem ser complementares. "Streamings podem ser muito importantes na parte da divulgação de bandas. Quando havia lojas de CD em abundância, era possível escutar o que estava exposto na loja, e hoje isso não existe mais", contextualiza.

Afeição de quem vende

Quase 30 anos já se passaram desde que Sidney Barros, 40, começou a colecionar CDs. Na época, em 1994, ele contou com a ajuda do seu irmão, que vendeu a bicicleta para conseguir comprar um aparelho capaz de reproduzir a mídia. Hoje, é ele quem contribui para outras pessoas seguirem com a paixão pelos CDs. Ele mantém a loja Sidney Discos, na Cidade dos Funcionários. Técnico de informática por formação, ele faz questão de ressaltar: essa é uma profissão secundária, pois dedica a maior parte do seu tempo para vender os artigos de seu estabelecimento, que inclui ainda os vinis.

"Tem que amar música. Se não amar, não entra, porque é um negócio complicado", compartilha.

Fortaleza - Ce , Brasil, 19-10-2020:  Sidney vende discos e é colecionador. Em seu espaço, Sidney reúne sua coletânea. Ele envia discos por encomendas no Instagram "Sidney Discos" para Fortaleza, Brasil e até para o mundo.  (Foto: Júlio Caesar / O Povo)
Fortaleza - Ce , Brasil, 19-10-2020: Sidney vende discos e é colecionador. Em seu espaço, Sidney reúne sua coletânea. Ele envia discos por encomendas no Instagram "Sidney Discos" para Fortaleza, Brasil e até para o mundo. (Foto: Júlio Caesar / O Povo) (Foto: JÚLIO CAESAR)

A partir do lado consumidor e colecionador, veio o aspecto do vendedor. Ele começou a vender CDs no começo dos anos 2000, pela Internet. A loja física veio com a pandemia. Nesse período, Sidney notou o crescimento no comércio da mídia. "Tinha dado uma caída antes da pandemia. Quando ela veio, o consumo aumentou. Acho que isso aconteceu pelo fato de que as pessoas que gostam de música não tinham opções de saída", relata.

"O som do streaming é mais comprimido. Se você pegar um CD original e ouvir vai ver uma diferença gigantesca. Outra coisa é a parte gráfica. Quem gosta de ouvir rock, MPB, gosta de ler ficha técnica e saber quem está tocando", acrescenta.

Sidney não mantém apenas a loja. Ele também tem um selo no qual realiza lançamentos em CDs de álbuns de bandas. É possível tanto artistas procurá-lo para o serviço quanto ele mesmo entrar em contato com grupos de seu gosto.

O segundo caso é o que acontece com a banda cearense de heavy metal Hellhoundz. "Todo o processo de ensaios, pré-produção, gravação, mixagem, masterização, criação da capa e arte do CD até chegar na prensagem sai 100% do nosso bolso", destaca o baterista Rodrigo Magnani.

Edições especiais

Para além da materialidade física e da possibilidade de "imersão" maior no trabalho musical, o CD pode chamar a atenção de consumidores pelo cuidado de muitos artistas no produto que será oferecido. Edições com encartes mais elaborados, pôsteres, fotos, itens colecionáveis e design luxuoso são atrativos que aumentam o desejo pelo consumo da mídia.

Exemplos marcantes desses trabalhos mais cuidadosos são artistas de K-pop, que incrementam o prazer dos fãs em colecionar suas obras com itens que extrapolam a audição.

A estudante de jornalismo Mariana Bueno, 22, relata como quis desde cedo ter CDs. Na época, o interesse era concentrado em nomes como One Direction e Demi Lovato, por exemplo. Quando fez 18 anos, houve um acréscimo importante: "Eu conheci o K-pop e conhecendo ele cada vez mais vi os estilos diversos de álbuns que a indústria coreana produz. Fiquei muito encantada porque eram diferentes e lindos. Mas só comecei a colecionar em 2019, porque comecei a estagiar e a ter meu dinheiro para isso".

A estudante de jornalismo Mariana Bueno coleciona CDs de artistas de K-pop; as edições são conhecidas pelo primor na apresentação (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal A estudante de jornalismo Mariana Bueno coleciona CDs de artistas de K-pop; as edições são conhecidas pelo primor na apresentação

"Eu acho lindo o design diferente deles, os itens variáveis que são colecionáveis individualmente também, o fato de que por ser um álbum é realmente um álbum, a maioria deles tem mais de 80 fotos do grupo e dos integrantes individuais com o conceito do álbum. Todos eles possuem mais de uma versão, com conceitos diferentes e você pode escolher o seu favorito", afirma.

Geralmente, Mariana adquire álbuns dos artistas que acompanha - como o grupo GOT7, no qual compra "todos que saem", e o SF9, em que adiciona à coleção os que "gosta muito das músicas" e tem um "carinho especial". Apesar de ter diminuído a frequência de compras, ela aponta que adquirir álbuns se tornou algo "intrínseco" à sua vida.

"Eu também tenho alguns álbuns de grupos de K-pop que não sou necessariamente fã, mas que gosto muito das músicas (sessão fotográfica) deles", pontua.

Lojas de CDs em Fortaleza

Freelancer Discos

Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 14h às 22 horas; sábado, das 10h às 22 horas (Quintino Cunha); segunda a sexta-feira, das 12h às 17 horas; sábado, das 9h às 14 horas (Centro)

Onde: Av. Emília Gonçalves, 1344 - Quintino Cunha e Galeria Pedro Jorge (R. Sen. Pompeu, 834 - Centro)

Bruta Flor

Horário de funcionamento: quarta e quinta-feira, das 18h às 23 horas; sexta-feira e sábado, das 12h à meia-noite; domingo, das 12h às 16 horas

Onde: R. Antônio Augusto, 806 - Meireles

Sidney Discos

Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 18 horas; sábado, das 9h às 16 horas

Onde: R. Pedro Hermano Vasconcelos, 346 - Cidade dos Funcionários

Planet CD's

Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 18 horas; sábado, das 9h às 15 horas

Onde: Galeria Pedro Jorge (R. Sen. Pompeu, 834 - Centro)

Disco Mania

Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 8h às 18 horas; sábado, das 8h às 16 horas

Onde: Galeria Pedro Jorge (R. Sen. Pompeu, 834 - Centro)

Edmar Discos

Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 10h às 18 horas; sábado, das 9h às 13 horas

Onde: Av. Professor Gomes de Matos, 1556 - Montese

 

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