Com doçura, alegria e muita música, Alice Peres é um sucesso nas redes sociais por criar conteúdos de forma espontânea e divertida. Desde criança, a cearense, hoje com 17 anos, está na internet mostrando seu dia a dia e reescrevendo um roteiro cheio de preconceitos e desinformação que a sociedade quis lhe impor por causa da Síndrome de Down.
Fortalezense, nascida em 7 de fevereiro de 2006, Alice começou a história na internet oficialmente em 2015, quando a mãe, Alessandra, foi aconselhada por uma amiga a postar conteúdos da filha com mais frequência. Na época, Alice passou a ter um perfil próprio no Instagram chamado "Mundo de Alice", nome que mantém com muito orgulho.
O perfil já nasceu "grande" de certa forma. A mãe de Alice conta que a escolha do nome queria mostrar que a menina tem "um mundo" em suas mãos, e que ter Síndrome de Down não significava uma limitação para a garota. De início, por ser criança, a família administrava a conta e respondia as mensagens que chegavam para ela.
O propósito da criação do perfil, conforme a mãe, "era impactar as pessoas para que elas acreditassem que seus filhos com Down têm, sim, potencial para crescer e se desenvolver, aí a gente escolheu esse nome".
Alice assumiu a criação de conteúdo de suas redes sociais quando se tornou adolescente e passou até a receber consultoria de mídias com a modelo e miss Helen de Lima, que virou uma grande amiga da menina. Desde então, Alice alcançou cada vez mais pessoas na internet com conteúdos sobre moda, beleza, música e rotina.
É por meio dos stories que ela expõe seu dia a dia com muitas músicas e interação com seus seguidores. "Eu gosto de gravar vídeos com a minha família, com meus amigos", destaca Alice.
Sucesso nas redes sociais, Alice precisa conciliar seu tempo com escola, festas e as atividades extracurriculares. A adolescente está no ensino médio de uma escola particular de Fortaleza, lugar em que é muito querida pelos amigos.
A influencer Alice Peres detalha a rotina de modelo e a história de vida da adolescente com Síndrome de Down
Na escola, a adolescente é frequentemente reconhecida. "Um menino uma vez me parou e falou assim 'Alice, você já fez stories hoje? Eu estou amando seus stories'. Aí eu agradeci, fiquei muito feliz", revela Alice com alegria.
Ela conta que gosta muito de estudar e que sua matéria favorita na escola é matemática, mas que não gosta tanto de ciências e geografia. Fora do colégio, ela frequenta aulas de dança, teatro e jiu-jítsu e conta toda sua experiência nas redes sociais.
Além de tudo, em casa, a adolescente ensaia seu desfile de passarela com sua amiga e assessora Helen. "Eu faço muitas coisas todo dia", brinca Alice.
A primeira aparição profissional de Alice foi em 2019 com um desfile para a loja de roupas BKT, em ação no Shopping Riomar Fortaleza com foco em pessoas com Síndrome de Down. O evento em si não foi remunerado, mas abriu portas para a influencer ser vista e convidada para outros eventos de moda.
A partir dali, Alice, que se reconhece como uma "menina vaidosa e que gosta muito de se arrumar", passou a treinar a habilidade para desfilar e fazer poses na passarela. Os ensaios, em sua maioria, são registrados e publicados nas redes.
Fora da internet, Alice participa ainda de diversos eventos e encontros sobre moda, programas e comerciais de TV enquanto personalidade digital. "Famosa!", exclama, ao falar como é vista por suas amigas.
FORTALEZA-CE, BRASIL, 30-06-2023: Alice, Mundo da Alice. Projeto Influencer. (Foto: Aurelio Alves/O Povo)
A paixão da jovem pela família se destaca entre os conteúdos publicados em seu perfil. Ao O POVO, ela mostrou o quarto dos pais e ressaltou, emocionada, a saudade que sente quando eles estão viajando. Ela conta que chega a dormir na cama do casal para "matar a saudade" e que sempre chora quando eles voltam para casa.
Em meio a tanto afeto, todos os dias, entre 15 e 16 horas, de forma categórica, o cheiro de bolo caseiro preenche a casa. É o "famoso" encontro para a "merenda", no qual Alice e os pais se reúnem com tia, avó e primos para lanchar. E a influencer faz questão que ninguém falte.
A menina é a caçula da família, tem dois irmãos e fala com saudade da época em que os três eram crianças e brincavam de bambolê, boneca e carrinhos. Atualmente, é com a tia, Carol, que Alice divide mais intimamente sua rotina e angústias da adolescência entre os estudos, o lazer e a produção de conteúdo.
Para além do reconhecimento que recebe pela produção de conteúdo, Alice também conquistou visibilidade em diversos meios de comunicação e passou a ser um importante símbolo anti-capacitista para a Associação Fortaleza Down, que luta contra o preconceito a pessoas diagnosticadas com a Trissomia do cromossomo 21.
Alice diz ter ciência de que é uma inspiração para outras pessoas com Síndrome de Down. Nas aulas de dança e de teatro, comumente outros jovens a cumprimentam. "Dizem que meus vídeos são legais e divertidos", comemora.
Perguntamos a Alice quais dicas daria para crianças e adolescentes com Síndrome de Down que também querem começar a criar conteúdo nas redes sociais. "Eu diria que sou uma menina muito feliz", responde sorrindo, ao lembrar de tudo que conquistou por meio do trabalho como influencer e de como sua leveza e bom humor cativam os seguidores.
Carreira de modelo e a luta por direitos
Em 2019, a produtora Lu Rufino, juntamente com a família da modelo Maju de Araújo, influencer também portadora da Síndrome de Down, resolveram criar o concurso de beleza "Miss Down", realizado no Rio de Janeiro.
Mesmo sem grandes pretensões de vitória e apenas pensando em aproveitar o momento, Alice foi eleita a primeira Miss Down do Brasil. Depois do título e da faixa, toda a família, orgulhosa, celebrou junto com a influencer a conquista do feito inédito.
Com a visibilidade conquistada por meio das redes sociais e as premiações em concursos de beleza, Alice está se tornando uma figura importantíssima na luta pelos direitos das pessoas com Trissomia 21 e no combate ao capacitismo no Ceará.
Ela não encara a Síndrome de Down como um obstáculo na vida. Seu comportamento e visão de mundo não diferem dos de outras adolescentes da mesma idade. É dentro dessa perspectiva que a influencer usa sua imagem e alcance na internet para naturalizar e humanizar a existência e os sonhos de pessoas com Síndrome de Down.
Em fevereiro de 2023 Alice atuou pela primeira vez como palestrante, no 2º Simpósio Sobre Trissomia 21, no Cariri. "Me senti muito feliz e muito realizada. É muito importante participar para acabar com o preconceito e fazer tudo que eu quero", explica.
Depois dessa experiência a menina, junto com a família, já se prepara para integrar outras ações e eventos como forma de ampliar suas participações na causa. "Eu quero estar em todos os lugares", reitera Alice confiante.
Na hora da merenda, perguntamos à Alice o que ela queria ser quando crescer e a resposta foi imediata: "Essa é fácil! Quando eu crescer, eu quero ser cantora, dançarina, médica, atriz, cozinheira, adulta e youtuber".
"Então você quer fazer de tudo que nem a Barbie?", perguntamos. Alice, respondeu decidida: "Eu não quero ser a Barbie não", acrescentando, com orgulho, que "não quer ser mais ninguém além dela mesma", com relação aos seus muitos planos e sonhos para o futuro.
Na relação dos inúmeros planos que a influencer tece para a própria vida, realizar um grande show chamado "O Mundo de Alice" ocupa o principal destaque. No espetáculo, a garota deseja cantar e dançar para todos que ama.
Todo mundo tem uma história de medo para contar e o sobrenatural é parte da vida de cada um ou das famílias. Alguns convivem com o assombro das manifestações ou rezam para se libertar das experiências inesperadas. Assista ao filme clicando aqui.
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