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Macaúba do Bandolim recebe homenagens de músicos na Caixa Cultural
Vida & Arte

Macaúba do Bandolim recebe homenagens de músicos na Caixa Cultural

Dos 80 anos de vida do músico Macaúba do Bandolim, 60 são firmados na arte. Em entrevista ao V&A, artista repercute homenagem na Caixa e rememora o legado do Macaubar
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Caixa Cultural Fortaleza comemora trajetória do mestre Macaúba com espetáculos (Foto: Jamille Queiroz/divulgação)
Foto: Jamille Queiroz/divulgação Caixa Cultural Fortaleza comemora trajetória do mestre Macaúba com espetáculos

"Quem não tivesse o que fazer, podia fazer lá em casa". A frase é dita como bordão e espelha o bom humor com o qual os visitantes eram recepcionados pelo casal Macaúba do Bandolim e Beliza Guedes na casa adquirida em meados da década de 1990 na Praia de Iparana, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Quem repete o dito é Bel, como também costuma ser chamada, enquanto explica o planejamento por trás do espetáculo "Macaúba 80". O projeto renasce neste mês de novembro para celebrar as oito décadas de vida de Macaúba, considerado o mestre do choro e o maior bandolinista do Ceará, completadas no dia 31 de julho.

O cenário praiano foi resgatado para que a iniciativa pudesse se tornar real e ganhar estrutura na Caixa Cultural Fortaleza, equipamento situado na Praia de Iracema. No palco, fotografias de colegas e depoimentos de admiradores remontam o "Macaubar", local considerado como ponto de encontro entre realizadores culturais do Estado. O que era para ser apenas o lar dos artistas, também foi ampliado aos colegas de profissão, amigos de longas datas ou até aqueles desconhecidos que tinham interesse pela movimentação. "Virou um bar sem a gente nem pensar. Por ele ser músico, ter uma casa na praia, todo mundo queria vir. Eram grupos de pessoas que tinham afinidade de cantar e fazer amizade", define Beliza.

Foi neste lugar que, entre acordes de viola e incontáveis encontros, confissões foram reveladas em conversas que quase viraram "sessões de análise" e amores - e desamores - desenvolveram as próprias histórias. A saudade foi convertida no Projeto Macaubar, realizado pela primeira vez no Theatro José de Alencar e que ganha adaptação na nova edição que começa neste domingo, 5. "É uma produção espetacular, com muito cuidado no repertório. A gente vai tentar retratar o ambiente da casa, vamos também fazer um painel de fotos do pessoal que frequentou o Macaubar. Ninguém pode perder a oportunidade de curtir", convida.

Uma das modificações é o acréscimo de músicos da nova geração no agrupamento, a exemplo de Marinaldo do Bandolim e Ronaldo do Cavaco, filhos do artista homenageado. Eles fazem parte de uma sucessão de figuras da arte que surgiram e, desde então, são acolhidas por Macaúba. "Quando eu estou no palco, sinto como se estivesse lá (no Macaubar). Apesar de alguns (convidados) não terem nem nascido na época, são todos experientes. Me sinto muito feliz tocando com eles e por ter sido escolhido pela Caixa para este projeto. É uma troca muito bonita, tanto eu passo experiência para eles, quanto para mim. Eles me respeitam muito e eu respeito eles", define o músico.

Ele pontua que o contexto atual é bem diferente e rememora quando aprendeu a tocar ainda na infância. Nascido José Felipe da Silva, o menino aprendeu a entender os instrumentos de maneira autodidata. "Aprendi música escutando no alto-falante. Aprendia um lado num dia e depois ia de novo para aprender o outro", conta. Cresceu observando a presença do pai, o músico e ourives Valter Pereira, em eventos e contrariou as preocupações da figura paterna ao seguir pela estrada artística.

Engrenou em atividades na tinturaria e fábrica de tecido na juventude, mas estabeleceu ofício na fábrica de alumínio Ironte, onde permaneceu por 24 anos. Em paralelo, não esqueceu do pertencimento à arte e começou a tocar na noite de Fortaleza. "Adoro boteco. É onde tudo acontece e você vê de tudo", menciona aos risos. As noitadas fizeram com que o artista experimentasse diferentes estilos, mas o gênero que o conquistou foi o choro. "A primeira casa que toquei foi no Bar da Gia. Também no Cais Bar. Lá o pessoal não aceitava música cantada, então a casa era lotada com o choro. Também tive uma casa muito maravilhosa, o Kukukaya, onde o choro resistiu por uns anos", recorda.

A dedicação aos instrumentos fez com que Macaúba fosse diplomado em 2018 pelo Governo do Ceará como Mestre da Cultura, título recebido a partir do mérito de Tesouro Vivo pela contribuição para a memória do patrimônio imaterial cearense. "A noite antigamente era mais difícil, a gente se sacrificava, os cachês não eram muito bons, a gente tocava toda noite para manter uma família. Eu sempre lutei pelo choro. Hoje está melhor, tem muito jovem tocando, é a nova geração do choro", pondera.

Se a cena atual do gênero está mais favorável para aqueles que chegam, muito é devido aos mais de 60 anos de choro percorridos por Macaúba. Assim como o Macaubar ainda é referenciado como um espaço de coletividade e aprendizados, a presença do músico cearense perpetua o talento de quatro gerações e é uma expressão contínua de quem leva a música como uma filosofia de vida. Conforme a entrevista se encaminha para o final, a voz do artista embarga de emoção ao rever recortes da própria estrada. "Estou feliz porque continuo ainda sendo muito bem visto na música e nas amizades. Para ser bom músico, tem que ser boa gente. Sem ser boa gente, não é bom músico. Eu sou boa gente e assim sou feliz".

Memória e legado

Idealizado por Bel Guedes, o projeto "Macaúba 80" acontece de forma gratuita nos dias 5, 12 e 19 de novembro no pátio externo da Caixa Cultural Fortaleza. Para homenagear Macaúba do Bandolim, músicos de diferentes gerações vão participar do evento. O repertório, performado em uma representação do Macaubar, une músicas do samba e do choro. Também terá canções autorais como "Ferro do Engomar" e "De Pai para Filho". O evento é livre para todos os públicos e também contará com intérprete de Libras.

 

Macaúba 80

  • Quando: 5, 12 e 19 de novembro, às 17 horas
  • Onde: Caixa Cultural (av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
  • Gratuito

 

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