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Monólogo atrai atores e espectadores; conheça o formato teatral
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Monólogo atrai atores e espectadores; conheça o formato teatral

Formato composto por um único ator em cena, o monólogo exige entrega emocional e conexão direta com o público
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Espetáculo E.L.A é apresentado pela atriz Jéssica Teixeira de maneira gratuita no Theatro José de Alencar (Foto: Guto Muniz/Divulgação)
Foto: Guto Muniz/Divulgação Espetáculo E.L.A é apresentado pela atriz Jéssica Teixeira de maneira gratuita no Theatro José de Alencar

Em cena, há somente um ator com o palco inteiro à disposição. No teatro, o monólogo é o encontro mais íntimo entre artista e plateia, sustentado por cenografia, texto e atuação. O silêncio também exerce seu papel e, muitas vezes, a experiência se aproxima de uma confissão. Para quem assiste, pode ser como escutar alguém contar a própria história ao pé do ouvido.

Uma das mais antigas e desafiadoras formas de expressão cênica, o monólogo pode ser caracterizado pela presença de apenas um intérprete. Exige fôlego, concentração e entrega. Inicialmente, o sentimento de insegurança pode tomar conta ao encarar a solidão nos espaços, mas o formato continua atraindo artistas e emocionando públicos.

A atriz e produtora cearense Jéssica Teixeira começou a trajetória com monólogos em 2018 e, no ano seguinte, estreou com o espetáculo "E.L.A.". A artista comenta que veio da dança, o que a ajudou a manter a disciplina — atributo importante na hora de decorar os textos e mergulhar na atuação. "Querendo ou não, é um desafio muito prazeroso. Tenho meu tempo, meu ritmo e sigo tudo bastante à risca", afirma.

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O dramaturgo Kiko Rieser, diretor do monólogo "Nasci Pra Ser Dercy", comenta que, tecnicamente, o termo "monólogo" se refere a essa presença única em cena. Porém, destaca que há controvérsias na nomenclatura, especialmente quando o intérprete assume múltiplas personagens ao longo do espetáculo. Nesse caso, alguns profissionais preferem o termo "solo", por considerarem que a multiplicidade de vozes e perspectivas foge à ideia clássica de monólogo como discurso unitário.

Diretora da montagem "Vita & Virginia", Herê Aquino comunica que a principal relação do monólogo é entre quem interpreta e quem assiste. "Presença, escuta, um bom texto e uma relação viva com o espectador" são, segundo ela, elementos essenciais para a construção. Mais do que interpretar um texto, o artista precisa habitar a cena. Ela completa: "Tudo tem que ser simples a ponto de ser grandioso, porque o corpo que acredita no que está fazendo convence o espectador".

Como se preparar para um monólogo?

Jéssica também compartilha como o corpo é parte central do processo. A atriz, agraciada com o Prêmio Shell de Teatro em 2025, explica que sua preparação envolve acompanhamento com profissionais de saúde, jejum de até seis horas, sono adequado e dieta controlada. "O corpo é tudo. Preciso de jejum, de sono, redução alcoólica e de lactose para poder entrar em cena sozinha", conta. Estar leve é essencial para sustentar fisicamente as exigências do solo: "Eu canto, danço, interpreto. Quando estou com algo dentro de mim, sinto que minha performance fica aquém do que poderia ser", desenvolve.

Na prática da atriz, a memória tem papel crucial. Ela conta que lê o texto todos os dias assim que acorda e antes de dormir, por ser um momento em que o corpo e a mente estão mais relaxados. "Essa estratégia funciona para mim. Quando contraceno, às vezes decoro a primeira fala da outra pessoa e depois a minha, mas no monólogo é só comigo", conecta. Os fatores mencionados são cruciais para chegar ao que considera um dos principais motores para seguir na carreira: a conexão. "O teatro é, de fato, a arte da presença e do encontro, e ele tem um poder realmente transformador. É uma comunhão", reflete.

Em termos dramatúrgicos, o maior desafio é manter o "jogo de cena" com o espectador. Sem a presença de outros personagens, o roteiro precisa manter a atenção da plateia com tensão e ritmo. Para Herê, não existe um tipo específico de história ideal: "No teatro, seja monólogo ou não, uma boa história, direção e atuação seguram a cena".

Kiko Rieser destaca que o monólogo subverte a base do teatro tradicional, que se sustenta no diálogo entre personagens. Para ele, mesmo as peças que não contam uma história linear, como "O Céu da Língua", de Gregório Duvivier, podem se manter pela reflexão e invenção cênica. "Por ser ontologicamente uma subversão do cânone, permite todo tipo de estrutura", arremata.

 

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