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Mariana Lima: cantora gaúcha une jazz e afeto nos palcos de Fortaleza
Vida & Arte

Mariana Lima: cantora gaúcha une jazz e afeto nos palcos de Fortaleza

A cantora Mariana Lima se destaca ao unir jazz e raízes afetivas nos palcos de Fortaleza. Artista traz no timbre da voz uma história de deslocamentos, descobertas e paixões
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Fortaleza, CE, BR 09.06.25 Na foto, Mariana Lima, cantora  (Fco Fontenele/O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 09.06.25 Na foto, Mariana Lima, cantora (Fco Fontenele/O POVO)

Mariana é uma artista que traz no timbre da voz uma história de deslocamentos, descobertas e paixões que ultrapassam fronteiras físicas e sonoras.

Natural do Rio Grande do Sul, sua trajetória musical só ganhou contornos definidos depois que decidiu deixar a região para morar em Fortaleza. Foi na capital cearense que Mariana encontrou o ambiente ideal para se aprofundar no universo do jazz - gênero que, até então, era praticamente desconhecido para ela, porém, hoje ocupa um lugar central em sua carreira e em sua identidade artística.

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A transição geográfica significou para Mariana não apenas uma mudança de endereço, mas uma verdadeira transformação de perspectiva, com a oportunidade de recomeçar, experimentar e se conectar com novos repertórios e linguagens musicais.

Mariana Lima e a chegada em Fortaleza

"Eu sempre digo para todo mundo que existe uma Mariana antes do Ceará e uma Mariana depois do Ceará", afirma. Para essa gaúcha de formação musical diversa, a chegada à terra da luz foi o ponto de virada, o lugar onde ela se descobriu, ampliou suas referências e consolidou sua paixão pelo jazz.

"A música sempre fez parte da minha vida", conta. "Na minha família tem muitas pessoas com tendências artísticas, né, o meu pai pinta, o meu vô sempre gostou de fazer coisas assim, com as mãos... e eu tinha um tio que gostava muito de música", relembra.

Foi justamente com o tio, que tocava violão, que ela teve seu primeiro contato com o instrumento e a canção, um momento mágico que despertou o desejo de cantarolar: "Eu gostava demais de música, gostava de cantar, gostava de acompanhar esse meu tio tocando violão, depois eu aprendi a tocar violão e eu só sentia que tava certo".

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Desde pequena, a influência de grandes vozes femininas também marcou o seu caminho: "Minha primeira influência como cantora foi a Elis Regina, na casa onde eu morava no Rio Grande do Sul, quando eu era bem novinha... eu gostava muito de cantar as músicas da Elis, eu achava que eu conseguia usar bastante da minha voz, do meu timbre de voz para cantar as músicas dela".

Além da pimentinha, Mariana sempre admirou outras cantoras como Nina Simone, Etta James, Ella Fitzgerald, Gal Costa e Maria Rita, que ajudaram a moldar seu repertório afetivo e seu jeito de interpretar.

A chegada a Fortaleza, há cerca de três anos, trouxe a necessidade e o desejo de aprender mais e com outras influências. "Quando eu vim para Fortaleza, tive minha primeira aula de canto, que também foi meu primeiro acesso ao jazz. Foi o primeiro local onde eu fui cantar, pediram especificamente que eu cantasse jazz, que eu nunca tinha feito na minha vida".

Foi nesse momento que Mariana mergulhou no universo do jazz, descobrindo um novo vocabulário musical e uma nova forma de expressão.

A busca por aprimoramento se intensificou: "Eu era muito 'destrambelhada' e fui ganhando umas dicas de todas as pessoas que eram próximas a mim, com muito carinho, me ajudando a melhorar, tanto a minha performance como a minha interpretação vocal".

Esse processo foi fundamental para que Mariana conseguisse moldar sua voz e sua postura artística, e também para que ela se sentisse segura para se apresentar nesse gênero.

Além da música, a artista também investiu em sua formação teatral, que considera transformadora: "Já fiz o Curso de Princípios Básicos de Teatro (CPBT), do Theatro José de Alencar. O teatro mudou a minha vida, mas também a minha performance, me mudou como artista no completo e também como ser humano".

O contato com o teatro e a dança contribuiu para sua presença de palco e para a construção de uma interpretação mais profunda e expressiva.

Apesar do vínculo forte com o jazz, Mariana é uma artista plural e não gosta de se limitar a rótulos.

"Eu não acho que eu me estabeleci como uma cantora de jazz, para ser honesta. Eu acho que hoje eu sou uma intérprete de música internacional, na maior parte das vezes, e eu também faço jazz. Mas ser uma cantora, que é considerada uma cantora de jazz, é muito legal, me deixa orgulhosa".

A intérprete busca um equilíbrio entre o respeito ao gênero e sua autenticidade pessoal: "Eu precisava encontrar um equilíbrio para que eu conseguisse entregar o jazz, mas ainda com o meu jeito, ainda sendo a Mariana", reflete.

Conheça a artista

"Elas, o Ceará e o Jazz"

Um projeto que exemplifica a força feminina na cena local é o "Elas, o Ceará e o Jazz", que Mariana integra com orgulho e entusiasmo: "É um projeto muito importante para a gente que é mulher e que quer ocupar esse espaço no jazz. A gente conversa muito sobre o que significa ser mulher nesse meio, e como é importante a gente se apoiar e fortalecer umas às outras".

A iniciativa musical - formada também pelas cantoras Raara Rodrigues e Ângela Lopes - na perspectiva de Mariana, "é uma forma de mostrar que a mulher pode e deve estar presente em todos os espaços da música, principalmente em um gênero que ainda é muito masculino".

Para Mariana, o projeto é mais do que música: é resistência e afirmação. Ela relata os desafios enfrentados como mulher na música, especialmente em relação ao espaço e às oportunidades: "Eu encontrei mais barreiras dentro da música por ser mulher no Rio Grande do Sul, quando eu cheguei aqui no Ceará, eu percebi uma diferença absurda nisso. Nos locais onde a gente tocaria um jazz, eles dão preferência para a mulher. Já na parte dos instrumentos, há preferência para os homens".

Sua mensagem para outras mulheres que querem seguir na música é clara: "Eu gostaria muito de inspirar outras mulheres a se sentir assim também". Hoje, para Mariana, seu trabalho reflete uma trajetória marcada por mudanças, descobertas e encontros, em uma jornada guiada pela coragem de se reinventar e pela paixão por um gênero musical que se tornou essencial em vida.

 

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