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‘Amores Materialistas’ tem humor e melancolia nas relações modernas
Vida & Arte

‘Amores Materialistas’ tem humor e melancolia nas relações modernas

Estrelado por Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans, novo filme de Celine Song, "Amores Materialistas", se apossa dos clichês de trio amoroso para se sustentar na ironia
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Da esquerda para direita: os atores Chris Evans, Dakota Johnson e Pedro Pascal em cena do longa
Foto: KILLER FILMES/DIVULGAÇÃO Da esquerda para direita: os atores Chris Evans, Dakota Johnson e Pedro Pascal em cena do longa "Amores Materialistas"

Quando se lê a sinopse de "Amores Materialistas", de uma casamenteira em Nova York dividida entre um garçom pobre e um empresário milionário, muito dificilmente alguém poderia supor que essa história comece na pré-história, em uma caverna. Mas o tom sarcástico logo fica evidente: um homem chega da colheita e entrega um anel feito com galho e flores para uma mulher, sua amada. O amor pelas "coisas materiais" é tão antigo assim?

Apoiando-se numa percepção calculista do que constrói e destrói casamentos, Lucy (Dakota Johnson) não tem o menor pudor em declarar suas ambições econômicas quando se trata de relações amorosas.

"E tem que ser rico", ela diz assertiva ao descrever o que seu futuro marido precisa ser. Com uma longa cartela de clientes, ela já passou por essa discussão diversas vezes ao aproximar homens e mulheres "parecidos" - mas e quando a cliente é ela mesma, será que todas essas regras ainda funcionam?

Em um desses casamentos que ela arranja, dois homens atravessam seu caminho ao mesmo tempo: Harry (Pedro Pascal), o irmão do noivo recém-casado que senta ao seu lado atraído pela natureza da sua profissão, e John (Chris Evans), antigo namorado que naquela noite está coincidentemente trabalhando como garçom da festa.

O roteiro de Celine Song é muito direto no que pretende fazer com esse clichê, já que um pretendente significa o passado e o outro, o futuro - ambos incertos. Na vida de Lucy, o presente sobra.

'Amores Materialistas': humor e melancolia

Distante da comédia, Song encarou dilemas semelhantes no seu longa anterior, "Vidas Passadas" (2023), indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Nele, casada com um americano, Nora vê sua certeza ameaçada quando uma paixão de infância da sua terra natal chega à cidade. Ela ama mesmo aquele homem ou ama apenas a saudade que ele representa?

"Amores Materialistas" tenta trazer essa conversa quando Lucy se vê questionando seus próprios princípios, mas o faz com uma fragilidade difícil de provocar comoção. Dakota não ajuda muito porque sua interpretação é muito morna e com pouco impulso, situação recorrente na sua carreira recente em filmes como "A Filha Perdida" e "Madame Teia". O que dá um pouco de respiro à personagem é que essa quietude também vai se revelando como disfarce para esconder seus sentimentos.

Sem qualquer destaque visual, sonoro ou cenográfico, o filme perde a oportunidade de se tornar uma comédia romântica emblemática para esse tempo de hoje em que se discute tanto sobre a crise dos relacionamentos - quanto a virtualização da imagem e dos desejos. Não é uma trama sexy, engraçada ou meramente dramática, o que pode deixar seu espectador confuso.

Para não fazer mais um enlatado americano, Celine acaba se apoiando integralmente numa melancolia que vai soando cada vez mais deslocada quando tenta conviver com a hipocrisia da protagonista. Ela é esperta ao criar as perguntas, sempre jogando para a audiência como se fosse um jogo interativo, mas é frágil demais quando precisa encontrar as respostas.

Queridinho do momento, também estando em cartaz com "Quarteto Fantástico" e em breve com "Eddington", Pedro Pascal acerta ao tornar a ambição desse homem infalível num elemento da sua vulnerabilidade. Nem ele, nem o Chris Evans têm tanto destaque assim, mas também é legal que a história não os faça serem rivais em busca do prêmio.

De toda forma, "Amores Materialistas" ainda consegue deixar pensamentos atraentes sobre o fabular "amor verdadeiro" que só existe quando se deixa ser levado por uma matemática irracional. Ao fim da sessão, tenho certeza de que todo espectador pelo menos vai sair pensando no que faria no lugar de Lucy, ainda sem ter certeza se ela fez mesmo a escolha certa.

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