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Chambinho do Acordeon: a representação de um legado
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Chambinho do Acordeon: a representação de um legado

Interpretando Luiz Gonzaga nos cinemas pela 2ª vez, Chambinho do Acordeon compartilha o amor pela sanfona e alerta para a valorização do forró no Brasil
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Interpretando Luiz Gonzaga nos cinemas pela 2ª vez, Chambinho do Acordeon compartilha o amor pela sanfona e alerta para a valorização do forró no Brasil. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Interpretando Luiz Gonzaga nos cinemas pela 2ª vez, Chambinho do Acordeon compartilha o amor pela sanfona e alerta para a valorização do forró no Brasil. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)

Quando um ídolo se despede, aqueles que ficam se encontram na missão de preservar sua memória e legado. Ação de grande responsabilidade, é para poucos a competência de assumir o compromisso de continuar sua trajetória de forma respeitosa e admirável.

Nivaldo Expedito de Carvalho, que nasceu nove anos após a morte de Luiz Gonzaga, é um dos que receberam a missão de preservar e ampliar a história e a contribuição do músico pernambucano por todo o Brasil.

“É uma honra e privilégio”, sintetiza Nivaldo, o Chambinho do Acordeon, que assume pela segunda vez o papel de representar o Rei do Baião no cinema. Convidado ao Programa Pause, comandado pelo jornalista Clóvis Holanda no YouTube do O POVO, Chambinho percorre o País para as promoções do filme “Luiz Gonzaga: Légua Tirana”, lançado no dia 21 de agosto.

Com direção de Marcos Carvalho e Diogo Fontes, a obra apresenta a trajetória do ícone da música nordestina a partir de sua infância, anos antes de se tornar símbolo de toda uma cultura, e revela às telas aquilo que motivou e trouxe inspiração para o autor de “Asa Branca”, “Pagode Russo”, “A vida de um viajante” e outros sucessos do baião.

“Eu recebi uma ligação do Marcos Carvalho (diretor) já com o convite. Confesso que fiquei com o pé atrás por se tratar do Gonzaga e assumir esse posto mais uma vez, mas quando ele me mandou o roteiro, eu achei muito legal, porque o filme aborda alguns dos temas que foram influências do Luiz Gonzaga antes dele se tornar o Rei do Baião. E isso me encantou muito por ser um período pouco contado… A gente sabe sobre ele desde quando tinha já seus 40 anos, já cantando ‘Asa Branca’, mas dos 17 (anos) para trás a gente ainda conhece pouco”, revela o músico.

A infância simples e humilde de Luiz Gonzaga em Exu, no Pernambuco, pode se assemelhar com a de Chambinho, esse que teve apoio dos pais, brincou de bola e se encantou com a sanfona antes de imaginar que ela seria o seu “instrumento do coração”.

Nascido em 7 de junho de 1980, na cidade de São Paulo, Nivaldo - o Chambinho - se mudou ainda novo com os pais para Jaicós, município do interior do Piauí, onde moravam os parentes.

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“Quando a gente foi morar no sertão, o meu avô, seu Zezinho Barbosa, era afinador de sanfona e eu tinha um tio que tocava em casamentos, aniversários, nos bares do interior… A gente era vizinho desse avô e ele tinha um ateliê de instrumentos, viu que eu tinha um interesse por aquilo e comprou a minha primeira sanfona”, recorda Chambinho.

Tocando para familiares e entre amigos, Chambinho detalha que “Asa Branca” – uma das mais importantes composições de Luiz Gonzaga – foi a segunda música que aprendeu a tocar na sanfona.

Instrumento de sopro, a sanfona, como bem lista o músico na entrevista, se encaixa em diversos ritmos e é um aparelho democrático, passeando por várias regiões e países. “Ele está na música do Rio Grande do Sul, de São Paulo, dos estados do Centro-Oeste, mas onde se encaixou melhor foi no Nordeste. Aqui você dá para tocar de tudo com a sanfona: forró, xote, baião, forró arrochado e arrastapé”, argumenta.

De volta à capital paulistana, desta vez já na juventude, Chambinho conta que se viu “perdido” ao esbarrar com variados gêneros musicais, porém nenhum lhe dava prazer como o forró.

“Lá tinha o movimento do hip-hop, samba, rock, sertanejo, mas eu não havia encontrado a minha ‘tribo’ dos forrozeiros ainda”, diz, acrescentando que foi vizinho de uma dupla de sertanejos com quem aprendeu sobre o estilo e o inspirou a comprar um piano sintetizador. “Era um instrumento maravilhoso, mas eu queria mesmo era a sanfona”, reforça.

“Foi então que surgiu o Falamansa, o Trio Virgulino, a banda Bicho de Pé e eu conheci Dominguinhos. Nisso, eu comecei a tocar na Banca Caiana e a gente se apresentava para um grande público no eixo Rio-São Paulo”, conta.

A carreira musical de Chambinho do Acordeon, no entanto, começou a se consolidar ao integrar a Banda de Pífanos de Caruaru, chegando a participar do disco “No século XXI, no Pátio do Forró” (2002), que conquistou o Grammy Latino daquele ano.

“Ali foi onde eu comecei a cantar, o Seu Sebastião Biano (Mestre da cultura e que esteve à frente da Pífanos desde a fundação) já se cansava, então me chamaram para ajudar nessa função da banda. Eu fui tomando gosto até que decidi que precisava gravar um trabalho meu”, relembra.

O rapaz tímido que auxiliava no conjunto de instrumentistas então gravou seu primeiro disco, “Pra Ficar”, em 2007, de forma independente e com apoio de amigos, que contou com regravações que faziam parte de sua história e a canção autoral “Verdade”.

“‘Verdade’ é uma música em homenagem à Jaicós, terra da minha família, fala da feira, do artesanato, da padroeira. Quando gravei, mandei para os parentes e as rádios da região, então ela começou a tocar por lá de forma orgânica por essa identificação do povo”, comenta ao Pause.

Ainda na entrevista, Chambinho explica que um convite para tocar em um evento que teve a presença de políticos e gestores da administração pública foi o pontapé para inúmeros convites de apresentações por todo o estado do Piauí.

Já usando o chapéu de sanfoneiro que é, orgulhosamente, marca da sua identidade visual até hoje, Chambinho acrescenta que a popularidade dentro do forró o fez ser convidado pelo “Fantástico”, da TV Globo, para fazer uma apresentação especial junto a outros músicos de todo o Brasil.

“Essa oportunidade abriu muitas portas porque, na sequência, me convidaram para fazer uma participação como músico dentro da novela ‘A Favorita’, eu era da banda do personagem vivido pelo ator Thiago Rodrigues, que foi, na novela, se apresentar no Faustão”.

O “take de 3 segundos”, como ele descreve entre risadas, foi o suficiente para ganhar destaque em toda a mídia nacional, o levando a se apresentar em diversas localidades. Com carreira firme na música, em 2012, Chambinho se juntou ao elenco de “Gonzaga: de Pai para Filho”, interpretando o Rei do Baião pela primeira vez.

Luiz Gonzaga teve uma trajetória muito difícil e complicada, ele passou por muitos preconceitos, e eu o considero um gênio e vencedor. Eu também venho de uma vida muito simples, sabe, foi só com quase 30 anos de idade que consegui comprar uma sanfona melhor”, relembra.

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Mesmo com os desafios para poder ter uma vida digna enquanto artista e músico, Chambinho reafirma que o instrumento é o que lhe dá satisfação. Com nome artístico apelidado por gostar do iogurte da Nestlé, o cantor mora há uma década em Fortaleza devido ao modesto desejo de “viver uma certa tranquilidade” e é aqui onde vê que a sanfona possui sua maior importância.

“Embora não tenha tantas escolas dentro de Fortaleza [que ensinam o instrumento], aqui é o lugar que tem mais sanfoneiros do Brasil. A sanfona está salva, o que a gente precisa trabalhar é a salvaguarda do forró”, alerta.

Mencionando as situações em que forrozeiros foram “excluídos” de eventos em que o forró é o ritmo principal, dando espaço para artistas de outros gêneros musicais na programação, Chambinho reclama da dificuldade em cantar em certos lugares por darem destaque a estilos que diferem do forró.

É preciso preservar o forró como ritmo principal do São João, a gente vê festas gigantes em junho que, muitas vezes, não têm um representante do forró. Não sou contra a entrada de outros estilos, sou amigos da turma do samba, do sertanejo, da música eletrônica, não há problema algum, o que não pode é chegar o nosso mês e os forrozeiros ficarem de fora da principal festa do nosso movimento”, lamenta o músico que acrescenta ser “a favor da ‘mistura’”.

Entre apresentações por inúmeras localidades, participações em programas de veiculação nacional, Chambinho do Acordeon pode ser assistido no filme “Luiz Gonzaga: Légua Tirana”, em Fortaleza, nas salas de cinemas dos shoppings Messejana, Jóquei, RioMar Fortaleza, North Shopping, Iguatemi e Parangaba.

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