... porque a gente passa o ano quase inteiro trabalhando para preparar tudo. São rotinas cansativas, mas é tudo muito gratificante. A saudade é grande dessa alegria de estarmos todos juntos, cantando e dançando, celebrando a cultura nordestina”, desabafa Tácio Monteiro, presidente da quadrilha Junina Babaçu.
“Estamos tentando driblar com os encontros virtuais, para conversar, relaxar e superar esse vazio que ficou não só para nós, mas também para todo mundo que ama a cultura junina”, completa.
Fundada em 1989, a quadrilha Junina Babaçu, de Fortaleza, é composta por cerca de 200 integrantes, dos quais 140 são dançarinos (brincantes). Em 2019, o grupo apresentou uma quadrilha cujo tema foi “O grande encontro”, celebrando músicos nordestinos.
Em 2020, a Junina Babaçu se preparava para uma apresentação em formato de homenagem aos 50 anos do Movimento Armorial, vertente artístico-cultural de valorização das artes populares nordestinas encabeçada pelo pernambucano Ariano Suassuna.
“É toda uma rotina que foi interrompida, de uma hora pra outra. Faz muita falta pra gente, é como se tivessem tirado uma parte da gente esse ano”, reitera o presidente do grupo.
“Pra nós foi um baque muito grande”, é como Reginaldo Rogério tenta resumir, ainda comovido, a sua reação diante do cancelamento das festas juninas em meio à pandemia. Presidente da tradicional “Quadrilha Zé Testinha”, o mais antigo grupo de quadrilha junina da capital, o quadrilheiro tem amargado o silêncio que hoje substitui a agitação dos ensaios do grupo antes da pandemia.
“Todo final de semana aqui na nossa casa tinha aquela muvuca dos ensaios, a alegria dos músicos, aquela preparação todinha. E de uma hora pra outra não tem mais, é muito duro lidar com isso”, relata. Quando a saudade aperta, Reginaldo se junta aos integrantes da família que também fazem parte da Zé Testinha para recordar os bons momentos vividos pelo grupo.
“Vamos para nossa quadra de ensaios, que fica aqui em nossa casa mesmo, e lá botamos uma música que lembra nosso pessoal, assistimos apresentações antigas e assim a gente vai driblando a saudade”, completa.
Para muitos quadrilheiros o cancelamento do festejo junino tem causado ainda mais frustração em face dos prejuízos causados pela interrupção do planejamento e da rotina de preparação para os festivais.
“A gente leva cerca de dez meses para deixar tudo pronto e apresentar o espetáculo nas quadras em junho e julho. Sair dessa rotina junina foi muito doloroso, o São João pra gente é mais que uma paixão, é nossa vida todinha, é o ganha pão de muita gente”, conta Lindemberg Medeiros, projetista da quadrilha Cumpade Justino, que atua há 24 anos no município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza.
“É com muito pesar que a gente precisou encarar a realidade de que esse ano não terá forró e quadrilha para encantar o público ”, conta.
“Depois de 44 anos fazendo quadrilha todos os anos, ter que parar foi um baque muito grande. Pra todos nós, porque a quadrilha é uma paixão não só da gente, mas do Ceará todo, do Nordeste todo.”
Reginaldo Rogério (Zé Testinha)
“Foi muito doloroso, o São João pra gente é mais que uma paixão, é nossa vida todinha, é o ganha pão de muita gente. A gente entende toda a situação, mas é muito doloroso ver tudo aquilo que a gente idealizou ter que esperar até tudo isso passar”.
Lindemberg Medeiros (Cumpade Justino)
“Foi muito difícil. Pra quem dança vai ficar esse vazio no peito, quem é quadrilheiro por paixão tem sentido muita falta. Esse ano vai deixar um vazio muito grande pra cultura junina”.
Tácio Monteiro (Junina Babaçu)
A pandemia cancelou o maior festejo popular do Nordeste