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Por que vacina contra Covid-19 foi criada em meses e não há vacina contra aids após 40 anos
Reportagem Especial

Por que vacina contra Covid-19 foi criada em meses e não há vacina contra aids após 40 anos

A natureza do vírus, as variações e o próprio empenho do governo e da indústria farmacêutica explicam a diferença

Por que vacina contra Covid-19 foi criada em meses e não há vacina contra aids após 40 anos

A natureza do vírus, as variações e o próprio empenho do governo e da indústria farmacêutica explicam a diferença
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O mundo científico foi capaz de encontrar uma vacina contra a Covid-19 em poucos meses, mas contra a aids a pesquisa não teve sucesso, apesar de anos de esforços. Como se explica essa diferença? Para começar, a própria natureza do vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da aids, que é difícil de neutralizar.

O HIV "infecta as células do sistema imunológico", integrando no DNA seu próprio material genético, explica Olivier Schwartz, diretor da unidade de vírus e imunidade do Instituto Pasteur. Isso o torna um inimigo muito mais difícil de localizar. Enquanto não são necessárias, essas células imunes passam por fases dormentes, durante as quais o vírus pode se desenvolver. Enquanto uma infecção com SARS-CoV2 (o vírus da Covid-19) é curada na maioria dos casos naturalmente e a imunidade é adquirida ao mesmo tempo, o mesmo não acontece com o HIV.

Em segundo lugar, sua variabilidade é muito maior do que a do coronavírus. O HIV "sofre mutações muito mais facilmente" e, portanto, "é mais difícil gerar anticorpos de amplo espectro que podem bloquear a infecção", explica Olivier Schwartz. "Sabemos vacinar contra uma variante rapidamente, mas não quando um vírus sofre mutações excessivas", enfatiza Nicolas Manel, chefe de equipe do Instituto Curie. Um recente ensaio de vacina na África Subsaariana, para gerar imunidade contra várias variantes do HIV, foi abandonado devido à falta de eficácia.

 

Aids: pandemia que já dura 40 anos desacelera nos anos 2000(Foto: AGÊNCIA BRASIL)
Foto: AGÊNCIA BRASIL Aids: pandemia que já dura 40 anos desacelera nos anos 2000

Contra o coronavírus, os governos assumiram o comando: Estados Unidos, por exemplo, anunciaram investimentos colossais, o relaxamento das regulamentações, o teste de novas pistas de pesquisas. Mas contra o vírus da aids o esforço não foi o mesmo. Apesar dos avanços formidáveis no tratamento médico, o HIV continua matando.

 

 

 

 

Descoberta do HIV

O 1º de dezembro é o dia de luta contra a doença,descrita em 1981 e cujo vírus causador foi isolado em 1983. Nunca antes uma doença infecciosa teve a causa descoberta tão rapidamente. Mas, nem todas as estratégias de combate avançaram de forma tão célere. Nos últimos 40 anos, a ainda causou uma profunda mudança social. No ano passado, 680 mil pessoas morreram de aids.

Para descobrir uma vacina, uma decisão de investimento estratégico de longo alcance terá que ser feita. Mas o mercado farmacêutico, com exceção das vacinas anticovid, está enfraquecido. "A falta de investimento é alarmante", lamenta Nicolas Manel. "Existem muitos pesquisadores motivados, mas trabalham com meios limitados", explica.

A vacina é, a priori, a única forma de erradicar totalmente o vírus, com o qual ainda vivem cerca de 38 milhões de pessoas no mundo. No momento, os pacientes têm à disposição um tratamento de terapia tripla "que funciona maravilhosamente bem e medicamentos que podem prevenir a doença", explica Monsef Benkirane, diretor de pesquisas do Instituto Francês de Genética Humana.

 

 

 

Atualmente, há uma dezena de vacinas em estudo. Entre elas, um produto desenvolvido pelo laboratório Moderna com tecnologia de RNA mensageiro, método inovador que deu origem ao grande sucesso de sua vacina contra a Covid-19. "O uso dessa tecnologia abre uma nova porta, cheia de esperança para vírus como o HIV", diz Gilles Pialoux, chefe do serviço de doenças infecciosas e tropicais do hospital Tenon em Paris e especialista em aids. Mas os resultados finais levarão anos para chegar.

 

 

Pandemia atrapalha luta contra aids

A pandemia de coronavírus teve um impacto muito negativo na luta contra a aids, pois interrompeu enormemente o acesso ao sistema de saúde e às redes de exames e laboratórios.

Ao mesmo tempo, a pandemia de Covid-19 ativou novos campos promissores na pesquisa de vírus. "Nunca se falou tanto sobre saúde, doenças infecciosas, o esforço coletivo necessário para combater uma pandemia global", destaca Serawit Bruck-Landais, da associação francesa Sidaction.

Ibrafig mapeou todos os pontos de testagem de hepatites virais gratuitos no país, pelo SUS, com objetivo de orientar a população a procurar o ponto mais próximo de sua residência (Foto: Marcos Moura/SMS)
Foto: Marcos Moura/SMS Ibrafig mapeou todos os pontos de testagem de hepatites virais gratuitos no país, pelo SUS, com objetivo de orientar a população a procurar o ponto mais próximo de sua residência

 

 

Anvisa aprova novo tratamento para HIV

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo medicamento para o tratamento do HIV. Trata-se da combinação de duas substâncias — a lamivudina e o dolutegravir sódico — em um único comprimido. 

Para a agência, a aprovação representa um avanço no tratamento, já que reúne em uma dose diária dois antirretrovirais. “A possibilidade de doses únicas simplifica o tratamento e a adesão de pacientes”, informou, por meio de nota.

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De acordo com a bula aprovada pela Anvisa, o novo medicamento reduz a quantidade de HIV no organismo, mantendo-a em um nível considerado baixo. Além disso, o remédio promove o aumento da contagem de cédulas CD4, que exercem papel importante na manutenção de um sistema imune saudável, ajudando a combater infecções.

Camisinha, uma das principais formas de prevenção do HIV/aids(Foto: FranckinJapan/Pixabay)
Foto: FranckinJapan/Pixabay Camisinha, uma das principais formas de prevenção do HIV/aids

O novo medicamento será indicado como um regime complemento para o tratamento da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1) em adultos e adolescentes acima de 12 anos pesando pelo menos 40 quilos, sem histórico de tratamento antirretroviral prévio ou em substituição ao regime antirretroviral atual em pessoas com supressão virológica.

O registro foi concedido ao laboratório GlaxoSmithKline Brasil Ltda. que, segundo a Anvisa, apresentou estudos de eficácia e segurança com dados que sustentam as indicações autorizadas. A bula aprovada pode ser consultada aqui.

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