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Crises no Twitter e no Meta determinam uma nova era das redes sociais?
Reportagem Especial

Crises no Twitter e no Meta determinam uma nova era das redes sociais?

Principais redes sociais há anos, Twitter, Facebook e Instagram vivenciam seus piores momentos de instabilidade desde sua fundação. Ao mesmo tempo, passam a ficar ofuscadas por outras plataformas, como mensageiros alternativos e o TikTok. Será que estamos em um novo ciclo nas redes? Especialistas respondem

Crises no Twitter e no Meta determinam uma nova era das redes sociais?

Principais redes sociais há anos, Twitter, Facebook e Instagram vivenciam seus piores momentos de instabilidade desde sua fundação. Ao mesmo tempo, passam a ficar ofuscadas por outras plataformas, como mensageiros alternativos e o TikTok. Será que estamos em um novo ciclo nas redes? Especialistas respondem
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Professor de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos d'Andréa aponta que é preciso fazer um acompanhamento “mais de longe” para não correr o risco de uma análise precipitada. “Não podemos nos deixar levar pelo calor do momento e dizer que é o fim de uma era. Mas realmente estamos vivendo um momento de mudanças significativas”, afirma.

O pensamento é acompanhado por Lígia Sales, que é pesquisadora e pós-doutoranda em Comunicação e Novas Mídias pela McMaster University, do Canadá:

"Embora tudo nas plataformas digitais aconteça de forma extremamente acelerada, ainda tenho cautela ao afirmar que essas mudanças causadas pela era Musk no Twitter e mesmo no grupo Meta representem o surgimento de algo completamente novo"

Mas, afinal, em que pé estamos em meio a tantas transformações e notícias de esvaziamento dessas que são as principais redes sociais há anos?

Para se ter ideia, uma possível alternativa ao Twitter ganhou bastante repercussão neste mês de novembro de 2022 ao receber um fluxo migratório intenso de usuários advindos do microblog do passarinho azul – também chamou atenção pelo nome singular, é verdade. O Koo já tem reunido uma lista extensa de matérias aqui pelo O POVO, confira algumas delas:

“O Twitter é um lugar que tem histórico de uma dinâmica mais associada à liberdade. O Musk deu uma cartada muito arriscada ao comprar a plataforma. Ele está tentando fazer ajustes internos, lidando com pressões de todos os lados, além de saídas e entradas de usuários", aponta Carlos d'Andréa, especialista em estudos sobre plataformas digitais.

Especialista em Mídia, Carlos d'Andréa

"O que está em jogo são os limites da liberdade de expressão”, analisa Carlos d'Andréa.

De acordo com ele, os limites testados pelo multimilionário dono do Twitter já estão trazendo “sérios problemas”, como a debandada de anunciantes. Ao mesmo tempo, esse reposicionamento da empresa tende a afastar usuários e reaproximar outros que antes estavam banidos, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

À época da exclusão de seu perfil, entre os motivos estava a “incitação à violência” que teria levado à invasão de apoiadores trumpistas ao Capitólio dos EUA. Mas após uma enquete feita pelo novo administrador do Twitter, a conta foi reativada. "O povo falou. Trump vai ser reintegrado", postou Musk, anunciando que o resultado da votação havia sido 51,8% dos usuários concordando com a volta do ex-presidente.

Noutra frente da crise, o TikTok acabou assumindo o protagonismo entre produtores e consumidores de conteúdos. Curtos, rápidos e dinâmicos, os vídeos da plataforma passaram a ditar o formato (vertical) que seria repetido por outras redes, como o Instagram, com o Reels, e o YouTube, com o Shorts.

Especialista em pesquisas, a Opinion Box divulgou em setembro de 2022 que os brasileiros aumentaram a frequência de acessos ao TikTok, revelando seu comportamento na plataforma ao longo do dia.

 

“Essa é a bola da vez. Tem uma coisa meio viciante, do fluxo infinito de passar de um vídeo para o outro, de prender as pessoas por um tempo muito extenso. É isso que está colocado agora”, evidencia Carlos d'Andréa.

 

Quando as redes se tornam antisociais

Antes vistas como espaço para troca de sabedorias, vivências e experiências, as redes sociais passaram a ser tornar reduto de pessoas com pensamentos cristalizados. O que restou foi “o surgimento de pequenas bolhas, que funcionam como casulos onde as pessoas que comungam dos mesmos valores de reúnem para trocar figurinhas, notícias e fake news”, analisa a Lígia Sales, que defende que o momento atual é de “hiper individualização” no consumo das redes.

Especialista em Mídia, Lígia Sales

O problema é que o hábito de ter trocas afetivas, intelectuais e políticas só com quem pensa exatamente como você pode se tornar prejudicial.

“Esta prática nos impede de lidar com frustrações, com ideologias diferentes e de termos que alcançar sabedoria e manejo social para lidar com ideias divergentes. É claro que isso não pode significar que seja aceitável um espaço, digital ou analógico, onde leis e princípios fundamentais de respeito ao próximo seja desrespeito. Bolhas de redes sociais digitais não são o espelho da realidade, apenas aquilo que Narciso quer ver: ele mesmo. E isso pode ser perigoso”, completa.

 

 

Em meio ao caos, o Google passa ileso

Na conversa que O POVO teve com Carlos d'Andréa, iniciada pelo WhatsApp e continuada por ligação, uma curiosidade foi apontada pelo pesquisador da UFMG. Em meio às sucessivas crises no Twitter e nas redes sociais mantidas pelo Meta, uma corporação passa ilesa de toda a confusão: o Google.

“Diferentemente do Facebook que toda hora está em crise, o Google segue intocado. É uma empresa que tem um modelo muito organizado, que vai mantendo seu espaço e concentrando ainda mais mercados”, comenta.

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