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Conclave: os números que contam a história da maior eleição da Igreja Católica
Reportagem Especial

Conclave: os números que contam a história da maior eleição da Igreja Católica

À sombra da Capela Sistina, a Central de Dados do O POVO+ vasculhou as catacumbas virtuais do Vaticano para lançar um olhar analítico sobre o histórico e o presente da eleição mais importante da Igreja Católica. Nesta reportagem, conheça o perfil dos cardeais, suas origens e a linhagem de sua nomeação para tentar entender o cenário de escolha do próximo papa

Conclave: os números que contam a história da maior eleição da Igreja Católica

À sombra da Capela Sistina, a Central de Dados do O POVO+ vasculhou as catacumbas virtuais do Vaticano para lançar um olhar analítico sobre o histórico e o presente da eleição mais importante da Igreja Católica. Nesta reportagem, conheça o perfil dos cardeais, suas origens e a linhagem de sua nomeação para tentar entender o cenário de escolha do próximo papa
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Em maio de 2025, a Cidade do Vaticano será palco da eleição do novo líder da Igreja Católica. Após a morte do papa Francisco, um novo conclave foi convocado. Cardeais vindos de todos os continentes reúnem-se sob o silêncio e a solenidade de um ritual que combina tradição apostólica, cerimônia litúrgica e o segredo absoluto.

Ao todo, são 252 religiosos que vão participar, direta e indiretamente, do processo de escolha do próximo responsável por comandar mais de 1,3 bilhão de fiéis.

Desde o século XIII, o conclave — do latim cum clave, “com chave” — ocorre a portas fechadas. A eleição do novo Sumo Pontífice carrega não apenas o peso da sucessão de Pedro, o apóstolo considerado o primeiro papa, mas também a responsabilidade de guiar católicos de todo o mundo.

Em levantamento a partir das bases oficiais do Vaticano, a Central de Dados do O POVO+ lança um olhar analítico sobre a histórico e o presente do conclave. As informações compiladas traçam o perfil dos cardeais, revelando suas origens geográficas, faixas etárias e os pontífices que os nomearam ao cardinalato.

Os gráficos apresentados permitem visualizar a distribuição dos cardeais por idade, países e linhagem de nomeação – um retrato que ajuda a entender o alcance das escolhas feitas pelos últimos pontífices e o cenário que moldará a próxima liderança da Igreja.

 

 

O perfil do colégio de cardeais: quem vota e quem já não vota

O colégio de cardeais que se reúne no Vaticano em 2025 é composto por 252 membros. Desses, 135 têm direito a voto no conclave, que são os chamados cardeais-eleitores, aqueles com menos de 80 anos, conforme determina a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis. Os outros 117, embora não participem da votação, acompanham as cerimônias e mantêm influência nos bastidores da Igreja.

 

Cardeais que participam do conclave 2025

 

O perfil desses cardeais também reflete a marca de três papados distintos. Francisco, que liderou a Igreja entre 2013 e 2025, nomeou a maior parte dos eleitores: 108 cardeais aptos a votar foram escolhidos por ele. Esse número equivale a aproximadamente 80% do total de votantes e indica um colégio fortemente moldado pelas diretrizes e prioridades do último papa.

As nomeações de Bento XVI ainda garantem 22 votos no conclave, enquanto apenas cinco eleitores foram escolhidos por João Paulo II. Isso evidencia o impacto do tempo: os cardeais indicados nas décadas passadas já ultrapassaram a idade-limite ou se aposentaram.

 

Idade dos cardeais no conclave de 2025

 

Entre os 117 não eleitores, a distribuição é mais equilibrada: 41 foram nomeados por Francisco, 40 por Bento XVI e 36 por João Paulo II. Esse cenário ilustra como os três pontificados ainda compartilham influência simbólica no corpo de cardeais, mesmo com a concentração de votos nas nomeações mais recentes.

A predominância de cardeais designados por Francisco tende a influenciar a escolha do próximo papa, indicando que a linha de pensamento e as prioridades pastorais impulsionadas por seu pontificado possam ter peso decisivo na eleição.

Dos 135 cardeais aptos a votar, 108 foram nomeados por Francisco. Outros 22 foram escolhidos por Bento XVI e apenas cinco por João Paulo II, evidenciando a predominância de religiosos alinhados ao perfil de nomeações do papa argentino.

 

Cardeais que participam do conclave 2025 separados por quem os indicou

 

 

De onde vêm os cardeais: a geografia do conclave de 2025

O colégio de cardeais que se reúne para eleger o novo papa em 2025 também revela a distribuição geográfica da liderança da Igreja Católica. Os dados mostram como as nomeações ao longo dos últimos papados buscaram, em maior ou menor medida, refletir a presença global do catolicismo.

A Europa permanece como o continente mais representado, com 114 cardeais no total. Desses, 53 têm direito a voto no conclave e 61 já ultrapassaram a idade-limite. Mesmo diante do crescimento da Igreja em outros continentes e da estagnação da população católica na Europa, o peso histórico e institucional do Velho Continente continua evidente.

A Ásia, impulsionada pelo aumento do catolicismo em países como Filipinas e Índia, soma 37 cardeais, sendo 23 eleitores. A África, com uma Igreja em expansão, conta com 29 membros – 18 deles com direito a voto.

Nas Américas, a distribuição é segmentada. A América do Sul – onde está o Brasil, maior país católico do mundo – terá 17 eleitores e 15 não eleitores. A América do Norte reúne 28 cardeais, dos quais 16 votantes. Já a América Central soma oito membros, com quatro aptos a votar. A Oceania tem apenas quatro cardeais, todos com direito a voto.


Cardeais que participam do conclave 2025 por continente

 

Ao olhar sobre os países daqueles que participam do conclave é possível perceber uma configuração que reafirma o peso crescente das regiões fora da Europa. Entre os países com maior número de cardeais aptos a votar, o Brasil desponta como um dos principais protagonistas. Dos oito cardeais brasileiros, sete são eleitores.

 

Brasil tem 7 cardeais eleitores que participam do conclave 2025

 

O País é a terceira nação com o maior número de votantes no conclave, superando tradicionais centros católicos europeus. Por outro lado, a Itália segue liderando com ampla margem. São 51 cardeais no total, sendo 17 com direito a voto. Já os Estados Unidos aparecem na sequência, com dez cardeais eleitores entre os 17 membros do seu colégio.

Completando o pódio, o Brasil é acompanhado pela Espanha e França, com cinco eleitores, cada um. Argentina, Índia, Portugal, Canadá e Polônia, por sua vez, vêm logo depois, com quatro eleitores. Alemanha, Filipinas e Reino Unido têm três candidatos, e México, Costa do Marfim, Japão e Suíça têm dois.

Outros 54 países têm um cardeal eleitor, cada um; enquanto 23 nações têm pelo menos um cardeal não-eleitor – Venezuela e Vietnã têm dois religiosos nessa situação.

 

Países representados no conclave de 2025

 

 

Quando o tempo decide: os conclaves mais longos e mais rápidos da história

A Central de Dados do O POVO+ mergulhou nas catacumbas digitais do Vaticano para extrair as memórias que contam a história dos conclaves. Entre pergaminhos e atas virtuais, foi possível perceber alguns comportamentos ao longo dos séculos no processo de escolha dos líderes da Igreja Católica.

O mais longo de todos foi o conclave de 1740, que durou 180 dias, entre 19 de fevereiro a 17 de agosto. Seis meses de intrigas e vetos culminaram na eleição de Bento XIV, um papa que herdou uma cúria exausta, mas que chegou a um consenso. Antes dele, em 1691, outro impasse prolongado: 150 dias até que Inocêncio XII fosse conduzido ao trono papal, encerrando um conclave que durou de 12 de fevereiro a 12 de julho.

Não foram exceções. O século XVIII e o final do XVII colecionaram encontros duradouros – o conclave de 1774-75 durou 133 dias até a eleição de Pio VI; o de 1669-70 precisou de 130 dias para chegar ao nome de Clemente X. Esses longos embates refletiam tanto disputas teológicas quanto pressões das monarquias europeias que, naquela época, tinham voz ativa nas escolhas.

Mas nem sempre o Espírito Santo precisou de tanto tempo. Há registros de escolhas quase instantâneas. O conclave de 2013, que elegeu o papa Francisco, durou apenas dois dias — o mesmo tempo necessário para a escolha de João Paulo I, em agosto de 1978. Outros nove conclaves na história moderna também se resolveram em 48 horas ou menos, como o que conduziu Bento XVI ao papado em 2005.

 

Duração dos conclaves em dias


Desde o conclave de 1404, que elegeu Inocêncio VII com a participação de apenas nove cardeais, a eleição dos papas oscilou entre assembleias restritas e encontros cada vez mais numerosos, acompanhando a transformação do papado e da própria Igreja Católica. Dos dados obtidos pelo OP+, foram 64 reuniões dos cardeais para definir um novo papa.

 

Linha do tempo dos conclaves da Igreja Católica

 

Ao colocar uma lupa sobre os dados do Vaticano, o conclave de 1769 se destaca com um lugar singular na história da Igreja Católica. Aquela foi a eleição papal com o maior número de votações já registrado: 265 cédulas depositadas ao longo de 93 dias, entre 15 de fevereiro e 19 de maio daquele ano. Apenas 44 cardeais participaram do processo que escolheu Clemente XIV.

Outro ponto que chama atenção nos conclaves contemporâneos é a composição dos colégios de eleitores, que se ampliaram de forma significativa sobretudo no século XX. Os conclaves de agosto e outubro de 1978, que elegeram João Paulo I e João Paulo II, respectivamente, reuniram 111 eleitores cada. Esse número subiu para 115 nas eleições de 2005 (Bento XVI) e 2013 (Francisco).

 

Número de votações e participantes dos conclaves ao longo da história

 

 

As supostas votações dos conclaves de 2005 e 2013

As votações nos conclaves modernos tendem a ser rápidas e marcadas por uma significativa consolidação de favoritos, contrastando com as longas eleições do passado. Apesar do sigilo, vazamentos e relatos de vaticanistas experientes ofereceram vislumbres raros do processo, como nos conclaves de 2005 e 2013.

No conclave de 2005, que durou apenas dois dias, Joseph Ratzinger foi superando Jorge Bergoglio – justamente aquele que iria lhe substituir anos depois. Segundo informações publicadas pela revista Limes, baseadas em anotações atribuídas a um cardeal anônimo, Ratzinger começou com 47 votos e venceu na quarta votação com 84, vencendo gradualmente seus principais concorrentes.

 

Suposta votação de papa Bento XVI no conclave de 2005

 

O conclave de 2013 repetiu o padrão de transição progressiva de votos, mas com um protagonista diferente. Segundo o  vaticanista "Aquele que é especialista em assuntos relativos ao Vaticano" Gerard O’Connell, que revelou os detalhes das votações em 2019, a disputa começou dividida: Angelo Scola liderava com 30 votos, seguido por Jorge Mario Bergoglio (26) e Marc Ouellet (22).

Na segunda cédula, Bergoglio assumiu a dianteira com 45 votos, superando Scola (38). A vantagem do cardeal argentino se consolidou na terceira rodada (56 a 41) e aumentou na quarta (67 a 32). Na quinta e última votação, Bergoglio foi eleito com 85 votos, bem acima da maioria exigida, enquanto Scola caiu para 20.

Assim, Jorge Mario Bergoglio tornou-se o primeiro papa latino-americano e o primeiro jesuíta a liderar a Igreja Católica, adotando o nome de Francisco.

 

Suposta votação de papa Francisco no conclave de 2013

 

 

Metodologia

Os dados foram analisados pela Central de Dados do O POVO+, a partir de um levantamento histórico sobre os conclaves, bem como do Colégio de Cardeais atual, disponíveis no site oficial do Vaticano. Foram compiladas informações a partir de registros históricos do Vaticano e, em seguida, coletados dados referentes aos conclaves a partir 1404.

As informações sobre a dinâmica das votações de cada conclave recente foram obtidas a partir de fontes jornalísticas e testemunhos de cardeais, divulgados na imprensa após a realização dos conclaves.

Para garantir a transparência e a reprodutibilidade desta e de outras reportagens guiadas por dados, O POVO+ disponibilizou as informações utilizadas neste material em tabelas no Google Planilhas, disponíveis publicamente clicando aqui.

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