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Há 100 anos, Parangaba e Messejana são parte de Fortaleza
Reportagem Seriada

Há 100 anos, Parangaba e Messejana são parte de Fortaleza

De aldeamentos indígenas a vilas portuguesas, distritos e bairros. Messejana e Parangaba têm muito o que contar sobre as próprias histórias e sobre as origens do Ceará. Há um século, com a lei nº 1.913, de 31 de outubro de 1921, essas memórias uniram-se às da Capital. Nesta reportagem seriada, O POVO conta parte dessas lembranças
Episódio 1

Há 100 anos, Parangaba e Messejana são parte de Fortaleza

De aldeamentos indígenas a vilas portuguesas, distritos e bairros. Messejana e Parangaba têm muito o que contar sobre as próprias histórias e sobre as origens do Ceará. Há um século, com a lei nº 1.913, de 31 de outubro de 1921, essas memórias uniram-se às da Capital. Nesta reportagem seriada, O POVO conta parte dessas lembranças
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Em 31 de outubro de 1921, Fortaleza cresceu. A partir da Lei nº 1.913, a Capital incorporou, de uma só vez, os territórios das vilas de Porangaba e Messejana, agora extintas. A medida foi tomada por Justiniano de Serpa, o então presidente do Ceará — cargo equivalente ao de governador. Se para o Estado e para a Capital ambos são bairros de Fortaleza, ainda hoje eles constam, nas documentações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como distritos.

Assista ao vídeo:

Em dois momentos anteriores, as vilas haviam sido destituídas. O primeiro foi em 6 de maio de 1833, quando o Conselho da Província aprovou a extinção das vilas de Messejana, Soure (Caucaia) e Arronches (Parangaba). Porém, na época, a decisão causou um levante entre os moradores de Arronches, conta o professor, pesquisador e guia de turismo Paulo Roberto Ferreira de Souza Júnior. Em 13 de dezembro daquele ano, a resolução foi anulada e as vilas, restauradas.

Dois anos depois, Arronches foi novamente destituído. Em 1839 foi a vez de Messejana, que foi reinaugurada em 1881. Arronches, por sua vez, foi reinaugurada em 1885 — mas agora com o nome original: Porangaba.

Linha do tempo

 

"São fundamentais, são relicários da história da cidade", sentencia o geógrafo e professor emérito da Universidade Federal do Ceará (UFC) José Borzacchiello da Silva, ao ser questionado sobre a relevância de Messejana e Parangaba para Fortaleza. "Eles vêm passando por mudanças significativas. E o próprio mercado imobiliário descobriu o potencial desses bairros", complementa.

O professor considera importante, ao se pensar as duas localidades, refletir também sobre a desigualdade social — e ele fala tanto sobre a desigualdade delas em relação à parte "iluminada" de Fortaleza quanto na distinção que existe entre elas mesmas. 

"Não podemos ler as duas centralidades, Messejana e Parangaba, sem compreender o que é a avenida Washington Soares, o prolongamento da rodovia e o Eusébio. Como Messejana é a porta para o Eusébio, e a classe média de padrão de vida alto que não quis ficar em Fortaleza, tinha o sonho de morar em casa e vai para o Eusébio. Então, Messejana passa a ser uma espécie de capital desse entorno enorme que pega a Sapiranga, Santa Maria, todo esse entorno, mas que tem um padrão mais elevado", exemplifica.

O professor recorre ao conceito de Milton Santos para se referir às áreas mais nobres da Cidade, como a Beira Mar, Aldeota, Meireles, Cocó. A que atrai turistas e que é amplamente divulgada. Por outro lado estão os espaços opacos, onde faltam investimentos e onde, no caso de Fortaleza, encontram-se, entre outros, Parangaba e Messejana.

Movimentação no terminal da Parangaba (Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira Movimentação no terminal da Parangaba

"São bairros que não têm voz. Têm voz para mostrar a força do trabalhador. As vezes que aparecem é pelo terminal e pela saga cotidiana do trabalhador que perde o ônibus, que tem que manter distanciamento social e pega um ônibus lotado. São bairros que aparecem na mídia muito mais a partir dos problemas", continua.

Com 45.675 habitantes, Messejana é o 10º bairro mais populoso de Fortaleza, enquanto Parangaba, com 33.906 habitantes, ocupa a 23ª de 121 posições, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Entre os bairros da Capital que têm 20 mil habitantes ou mais, eles estão entre os que apresentam maiores taxas mortalidade por Covid-19, segundo boletim epidemiológico da Secretaria divulgado no dia 22 de outubro.

Ao todo, 56 bairros se enquadram nessa condição. Entre eles, Parangaba tem a 8ª maior taxa de mortalidade: 486,6 por 100 mil habitantes. Desde o início da pandemia de Covid-19, foram confirmados 2.851 casos da doença e 165 mortes em decorrência dela entre moradores da Parangaba. Na Messejana, foram confirmados 5.798 casos — o terceiro, entre esses bairros, com mais diagnósticos positivos, atrás do Meireles e da Aldeota — e 179 mortes, levando a uma taxa de mortalidade de 391,9 por 100 mil habitantes.

Os bairros periféricos foram os que sofreram mais", pontua Borzacchiello. A dificuldade dessas pessoas em realizarem trabalhos remotos foi um dos elementos apontados por ele. "Essa população que depende dos terminais, do transporte coletivo, foi ela que sofreu. Ela que não podia garantir isolamento social. Então, ela ficou muito mais exposta devido às condições de trabalho e devido às condições de moradia", complementou. 

 

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