A Greve dos Jangadeiros no Ceará, há 140 anos, mudou o rumo da escravização e do tráfico de seres humanos negros para o Brasil. Em janeiro de 1881, nos dias 27, 29 e 30, um grupo de bravos do mar trancou o Porto de Fortaleza e, dali em diante, decretou que não haveria mais transporte nem comercialização de escravizados arrancados da África.
Na praia, o negro liberto José Luís Napoleão e Tia Simôa, sua companheira e esposa, lideraram os jangadeiros naquela que seria a ação mais ousada contra o sistema escravocrata implantado pela coroa portuguesa.
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O protagonismo de José Napoleão, de Tia Simôa e de outros jangadeiros anônimos, por causa dos silêncios e apagamentos da história, não se fixou na construção da memória até aqui. O mais escrito como herói foi Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar ou Chico da Matilde.
A seguir, em uma crônica da rima quebrada, quase nos passos do cordel, parte dessa narrativa que ainda tem muito para ser revelada pela historiografia da abolição da escravidão no Ceará e no Brasil.
A narrativa sobre a “Greve dos Jangadeiros”, ocorrida em janeiro de 1881, também é contada pelo traço do artista visual Carlus Campos. Como não há imagens históricas e retratos sobre os personagens José Luiz Napoleão e Tia Simôa, Carlus se vale de inspirações que compõem a cena da revolta que marcou o fim do transporte de escravizados no Porto de Fortaleza. Os corpos negros, o sol, o mar e a jangada como se fossem rabiscos na areia da praia e com a economia de cores.
140 ANOS DA GREVE DOS JANGADEIROS
— O POVO Online (@opovoonline) January 27, 2021
Quem foi o quase esquecido líder dos jangadeiros contra o tráfico de escravos antes do Dragão do Mar pic.twitter.com/RdeQqPW2Iv
Livro Abolição no Ceará (4ª edição/Maracanaú/1988), do historiador Raimundo Girão (1900-1988)
Dissertação de mestrado Esboço de uma biografia de musealização - o caso da jangada libertadora (2018/UFC), do museólogo Saulo Moreno Rocha, educador do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc)
Em 2021 completam-se 140 anos do movimento de jangadeiros que encerraram o tráfico negreiro no Ceará e começaram a encerrar a escravidão na província e no Brasil. O POVO vasculha as histórias dessa história, inclusive as que ficaram quase esquecidas