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Iniciativas inspiradoras de Brejo Santo ganham prêmio nacional
Reportagem Seriada

Iniciativas inspiradoras de Brejo Santo ganham prêmio nacional

Entre 700 ações inscritas, Brejo Santo arrebatou três premiações envolvendo crianças do ensino infantil. Consideradas criativas e inovadoras, as atividades envolveram alunos e familiares da comunidade escolar
Episódio 3

Iniciativas inspiradoras de Brejo Santo ganham prêmio nacional

Entre 700 ações inscritas, Brejo Santo arrebatou três premiações envolvendo crianças do ensino infantil. Consideradas criativas e inovadoras, as atividades envolveram alunos e familiares da comunidade escolar
Episódio 3
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O trabalho das professoras Allessya Felinto, Cicera Oliveira e Rosely Felipe, durante a pandemia da Covid-19, com turmas do Infantil V, no município de Brejo Santo, distante 502 quilômetros de Fortaleza, foi reconhecido nacionalmente no último mês entre boas práticas desenvolvidas na primeira infância.

Turma de Alessya Felinto construiu brinquedos que fizeram parte da infância dos pais. Na foto, aluna e mãe trabalham com brinquedos de barro(Foto: Arquivo pessoal/Allessya Felinto)
Foto: Arquivo pessoal/Allessya Felinto Turma de Alessya Felinto construiu brinquedos que fizeram parte da infância dos pais. Na foto, aluna e mãe trabalham com brinquedos de barro

A premiação foi conferida pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e Itaú Social. Entre 700 práticas concorrentes, o prêmio destacou 100 iniciativas inspiradoras neste período de ensino remoto em todo o Brasil. Como reconhecimento, as docentes ganharam R$ 1 mil e um curso da Base Nacional Comum Curricular (Bncc) de 40 horas.

Educadora na Creche Pró-Infância Professora Maria Leoneide Lima, Cícera desenvolveu com a turma de 25 alunos a ação “faz de conta brincar de mercado”, onde os pequenos tinham de montar uma feira com produtos da própria casa e desenvolver uma série de situações: separar por tamanho e quantidade, vender, comprar, criar as próprias moedas, por exemplo.

Atividade do mercado da professora Cicera Oliveira envolveu toda a família (Foto: Arquivo pessoal/ Cicera Oliveira)
Foto: Arquivo pessoal/ Cicera Oliveira Atividade do mercado da professora Cicera Oliveira envolveu toda a família

“Ao receber as fotos e os vídeos, eu fiquei encantada com os resultados. Os estudantes realizaram muito bem as situações problemas e utilizaram recursos da própria realidade”, considera. “Essa brincadeira, apesar de fazer de conta, promoveu todos os direitos que são garantidos por lei às crianças, educar, participar, expressar, conhecer, e ainda aprenderam brincando com o concreto”, completou.

No Centro de Educação Infantil (CEI) Catequista Maria Alacoque, Allessya resgatou brinquedos e brincadeiras dos responsáveis pelos alunos. Para ela, a atividade buscou valorizar a cultura local e aproximar o diálogo entre a comunidade escolar. Para começar o exercício, houve uma grande roda de conversa onde os pais apresentavam os costumes e cada estudante tinha de escolher o que desenvolveria.

“A atividade envolveu toda a família. Eles participaram, conversaram, enviaram fotos e se empenharam na construção dos objetos. Mesmo que não fossem da turma, até os irmãos participaram”. Para Allessya, houve uma mudança de rota na forma de ensinar.

“A gente teve de se reinventar como profissional, incentivando os pais através de mensagem, fazendo ligação, entregando atividades escritas, tomando todos os cuidados necessários, mas sem deixar ninguém sem as ações”.

Parceira de trabalho no município de Brejo Santo das outras duas professoras, Rosely Felipe explorou as possibilidades com o boneco de lata. Para tanto, gravou vídeos sobre como construir a engenhoca, conversou com os pais, sugeriu que utilizassem material da própria casa e deixassem os estudantes à vontade. A música “boneca de lata”, de Beatriz Bedran, foi tema da iniciativa.

Eike Ryan, estudante de Cicera Rosely, constrói boneco de lata durante aulas remotas(Foto: Arquivo pessoal/ Cicera Rosely)
Foto: Arquivo pessoal/ Cicera Rosely Eike Ryan, estudante de Cicera Rosely, constrói boneco de lata durante aulas remotas

“No início foi muito mais desafiador. Eu me perguntava o que eu ia fazer com as crianças. Com os adolescentes é mais fácil, agora com crianças de 5 anos? A secretaria nos ajudou bastante, nos incentivando, com formações”, comentou a educadora da CEI Morro Dourado.

Com o agravamento da pandemia da situação epidemiológica, a entrega de atividades impressas está suspensa. A dispensa do material na casa do alunado sem acesso à internet é a estratégia mais comum para driblar a falta de conectividade. “A cada dia a gente tenta melhorar. Nós não queríamos essa situação. Mas infelizmente a realidade é essa. A gente procura outras estratégias para ficarmos mais junto dos estudantes apesar de o contato ser remoto. A gente tem total apoio das formadoras”, reconhece Rosely.

 

 

Formação continuada promove superação dos desafios tecnológicos

 

“Tudo o que nós achávamos conhecer sobre informática acabou não valendo. Era um conhecimento muito fragilizado. Além de nós termos de aprender para dar as aulas, precisamos também ensinar aos alunos”, analisa o professor Diego de Souza sobre as dificuldades enfrentadas durante a pandemia. O docente ministra a disciplina de Língua Portuguesa no Ensino Médio da EEM Dona Marieta Cals, localizada em Cariré, distante 287,2 quilômetros de Fortaleza.

O ensino remoto protagonizou a educação na pandemia de Covid-19(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação O ensino remoto protagonizou a educação na pandemia de Covid-19

Para superar os obstáculos, o educador participou dos cursos do programa de formação continuada: Itinerários Formativos, da Secretaria da Educação do Estado (Seduc). A versão piloto da iniciativa ocorreu em 2018 com 882 inscritos. No ano seguinte, foram 2.095 certificados emitidos. Em 2020, as formações tiveram de ser adaptadas e, apesar da pandemia da Covid-19, contou com 6 mil docentes matriculados de 23 regionais de ensino.

“De início, foram conceitos de informática, conceitos de trabalhos em plataformas. Logo depois, nós fomos para o trabalho empírico, onde aprendemos a usar as ferramentas digitais”, lembra Diego. As formações iniciaram com o período pandêmico já em curso.

Professor Diego de Souza no local de trabalho(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Professor Diego de Souza no local de trabalho

"Quando você sente que instâncias superiores se preocupam com sua formação, sente-se mais motivado. Até então, a iniciativa era mais do professor. Não é fácil tirar do próprio bolso para reciclagem, mas esses cursos gratuitos ofertados pela Secretaria de Educação melhoram o nosso currículo", avalia.

Para o professor, os itinerários já mostram resultados. Porém, ainda é necessário mais investimentos e atenção redobrada para aqueles excluídos digitalmente dos encontros remotos.

"O que nós aprendemos com isso ficará para o resto da vida. Quando as aulas voltarem de forma presencial, aquilo que no digital nós não utilizávamos, nós usaremos." Diego de Souza, professor de Língua Portuguesa no ensino médio, em Cariré

"Nem todos os alunos têm acesso, nós temos alunos que ainda não têm internet ou aparelho celular. Nós temos alunos com um aparelho para três ou quatro pessoas. É um resultado a longo prazo, mas aqueles que têm acesso nós temos visto proveitos", frisa.

E projeta: “O que nós aprendemos com isso ficará para o resto da vida. Quando as aulas voltarem de forma presencial, aquilo que no digital nós não utilizávamos, nós usaremos. Nosso público será mais atraído. Muitos de nós conhecíamos o básico, com esse avanço que tivemos, isso fortalecerá nosso currículo e nosso conhecimento”.

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