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Perpetradores, colaboradores e espectadores do Holocausto: lições para o presente
Reportagem Seriada

Perpetradores, colaboradores e espectadores do Holocausto: lições para o presente

O POVO dá início a série de inforreportagens em preparação às redações do Enem 2022. Fatores que fizeram parte do genocídio nazista seguem trazendo debates centrais à nossa sociedade
Episódio 1

Perpetradores, colaboradores e espectadores do Holocausto: lições para o presente

O POVO dá início a série de inforreportagens em preparação às redações do Enem 2022. Fatores que fizeram parte do genocídio nazista seguem trazendo debates centrais à nossa sociedade
Episódio 1
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O Holocausto, no qual uma estimativa de 6 milhões de judeus foram mortos pelo regime nazista da Alemanha, ocorreu no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e ultrapassou limites geográficos, afetando todos os segmentos das sociedades. Fato histórico e humano, a Shoá (como também é chamado) mostra como o uso das estruturas burocráticas estatais e de mecanismos de convencimento pode, ao longo do tempo, levar à implementação de políticas que vão da exclusão ao genocídio. Décadas depois, continuamos a debater sobre os fatores que levaram a um dos maiores crimes contra a humanidade.

 

 

Responsabilidades compartilhadas

A depressão econômica de 1929 e as crises políticas internas na Alemanha deram relevância ao partido nazista. A partir de 1933, o nazismo se valeu do desejo da população em dar explicações fáceis para os problemas que assolavam a sociedade alemã, apontar supostos culpados e apelar para a união nacional.

Desde sua chegada ao poder, Adolf Hitler (1889–1945) e o partido nazista criaram uma série de dificuldades para os judeus que moravam na Alemanha que resultaram no confinamento dos judeus em guetos, a exportação para campos de concentração e a morte de milhões de pessoas. Líderes de governos aliados também estiveram como perpetradores e colaboradores do maior genocídio do século XX, fosse promulgando leis anti-judaicas, fosse deportando pessoas para os campos de trabalho e extermínio.

Usualmente colocada como espectadora, a sociedade civil alemã e dos países ocupados desempenhou papéis cruciais. Na Alemanha e nos países aliados aos nazistas, a maioria da população tinha noção do que acontecia e parte dela acabou, por entusiasmo ou medo, contribuindo com o regime. Ao mesmo tempo, grupos optaram por correr riscos para abrigar pessoas perseguidas e combater o horror em curso. Afinal, quem foi responsável pelo Holocausto?

Fontes: Enciclopédia do Holocausto, do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos; Yad Vashem – Centro Mundial de Memória do Holocausto; Museu do Holocausto de Curitiba

 

 

 

A banalidade do mal


 

A filósofa política alemã Hannah Arendt formulou o conceito de "banalidade do mal" durante o julgamento de oficial nazista(Foto: Ryohei Noda/ Creative Commons)
Foto: Ryohei Noda/ Creative Commons A filósofa política alemã Hannah Arendt formulou o conceito de "banalidade do mal" durante o julgamento de oficial nazista

O conceito de banalidade do mal foi criado pela filósofa alemã judia Hannah Arendt (1906–1975) após assistir ao julgamento do oficial nazista Adolf Eichmann (1906–1962), em 1961. Durante sua defesa, Eichmann insiste que apenas cumpriu ordens e não se preocupou em questioná-las. Arendt entende que o oficial não era exatamente um carrasco monstruoso, mas um burocrata pouco reflexivo que desejava ascender na carreira e se restringia à obediência cotidiana enviando judeus aos campos de concentração.

A filósofa percebe que o mal pode se expressar como o mal banal — aquele que é “fruto do não-exercício do pensar”. Quando os indivíduos se afastam da responsabilidade e do domínio de seus pensamentos e atitudes, não refletem sobre fatos e, assim, desconectam-se do sentido do que é ser humano. Essa visão empobrecida desconsidera o campo ético. Está, portanto, instalado o estado de banalidade do mal, no qual nem a violência nem a agressividade perturbam a ordem social.

 

 

No TikTok

Crianças visitam o Museu do Holocausto de Curitiba, no Paraná(Foto: Divulgação / Museu do Holocausto)
Foto: Divulgação / Museu do Holocausto Crianças visitam o Museu do Holocausto de Curitiba, no Paraná

O Museu do Holocausto de Curitiba mantém um perfil no TikTok a fim de dialogar com o público jovem e chamá-los para visitar o espaço. Além de divulgar os itens do acervo e as salas de exposição, o Museu indica filmes e séries sobre a Shoá.

 

 

Os números da catástrofe

Calcular com exatidão o número de pessoas mortas pelo nazismo é uma tarefa extremamente difícil. Estimativas foram calculadas a partir de relatórios da Guerra e estudos demográficos de perda populacional durante a Segunda Guerra Mundial. São contabilizados cerca de 6 milhões de judeus, além de milhares de soviéticos, ciganos, pessoas com deficiência e criminosos reincidentes.

Possivelmente 1.900 testemunhas de Jeová foram assassinados. Presume-se que milhares de homossexuais foram agregados de forma parcial dentre os criminosos e os aqueles tidos como “antissociais”. Número indeterminado de oponentes políticos alemães e de ativistas dos movimentos de resistência também morreu.

 

 

Mortos por nazistas durante a Segunda Guerra Mundial


 

Geração Z

Jovens alemães com idades entre 16 e 25 anos (Geração Z) estão muito mais interessados na era nazista do que seus pais (75% x 66%). Ao estudar o período, os jovens fazem analogias com problemas enfrentados pela sociedade atual, como o racismo e a discriminação. É o que aponta a pesquisa Gen Z and Nazi History: High Receptivity and Strange Fascination, que entrevistou mais de mil alemães.

Manifestante antiacina segura uma bandeira alemã com os dizeres "Terror Stop! Regime" enquanto demonstra em 26 de janeiro de 2022 em Berlim, enquanto delegados do Bundestag (câmara baixa do parlamento) debatem planos para impor vacinas obrigatórias contra o Covid-19. (John MacDougall/AFP)(Foto: John MacDougall/AFP)
Foto: John MacDougall/AFP Manifestante antiacina segura uma bandeira alemã com os dizeres "Terror Stop! Regime" enquanto demonstra em 26 de janeiro de 2022 em Berlim, enquanto delegados do Bundestag (câmara baixa do parlamento) debatem planos para impor vacinas obrigatórias contra o Covid-19. (John MacDougall/AFP)

“Esta geração está vendo com seus próprios olhos como as democracias podem ser ameaçadas hoje”, comenta Floriane Azoulay, diretora dos Arquivos de Arolsen. “Acho muito compreensível que eles combinem a lembrança com um longo e duro olhar sobre o mundo em que vivem hoje, um mundo onde as vozes do populismo, do autoritarismo e da intolerância estão ficando cada vez mais altas”. O nazismo era um movimento de extrema-direita com raízes ultranacionalistas, autoritárias, populistas, além de defender políticas discriminatórias e xenofóbicas.

Enquanto 14% das pessoas com idades entre 40 anos e 60 anos citam o racismo como um problema importante, o tema é apontado por 39% da Geração Z. Ambos os grupos percebem paralelos entre o momento atual e o contexto do nazismo. Para os jovens, os paralelos são mais evidentes na virada política para a direita, nas fake news e no racismo cotidiano. 

"O Holocausto ainda é visto como um recorte da História conectado exclusivamente à Segunda Guerra Mundial e desvinculado das nossas mazelas contemporâneas. Falta dar sentido a essas histórias, descartando o viés conteudista e massificado da tragédia. A conscientização só vai existir se traçarmos paralelos constantes com a atualidade que nos aflige e com o contexto em que vivemos.”" Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba



Desinformação e distorção

Quase metade do conteúdo sobre o Holocausto no Telegram rejeita ou distorce a história da morte de milhões de judeus e grupos minorizados durante o governo nazista. O mesmo ocorre com 19% do conteúdo relacionado ao tema no Twitter, 17% no TikTok, 8% no Facebook e 3% no Instagram.

Equiparar o Holocausto com outros momentos apropriando-se da força emocional e retórica, como chamar de nazistas pessoas com as quais você discorda ou comparar medidas de saúde pública durante a pandemia de Covid-19 à perseguição na Alemanha de Hitler, é comportamento presente em todas as plataformas. Em seguida, aparecem postagens negando a existência do Holocausto.

Fonte: Unesco. História sob ataque: negação e distorção do Holocausto nas mídias sociais

 

 

Livros, filmes e podcasts sobre o Holocausto

 


 Que tal fazer um Quiz

Agora que chegamos até aqui, que tal testar seus conhecimentos sobre o Holocausto e os temas discutidos nesta inforreportagem? 


 

Apostas do Enem

O tema desta inforreportagem foi escolhido por professores que compõem a banca do concurso "Redação Enem: Chego Junto, Chego a 1.000", uma realização da Fundação Demócrito Rocha (FDR). A partir deste tema, estudantes da 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede de escolas públicas do estado do Ceará são convidados a escrever uma redação nos moldes do exame. Esta publicação é a primeira da série de cinco temas e os próximos são:

  • Os efeitos da pandemia de Covid-19 na Educação brasileira.
  • Racismo no século XXI.
  • A guerra na Ucrânia e a necessidade de se estabelecer a paz mundial.
  • O humor no Brasil e a questão dos limites. 
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