O Brasil foi o quinto país do mundo com maior número de dias de interrupção das atividades escolares presenciais. O ensino remoto, medida emergencial tomada como prevenção à Covid-19, não só foi desafiador como segue trazendo efeitos para a educação brasileira.
Conforme indicam especialistas e pesquisas, o País se encontra diante de impactos múltiplos, duradouros e transversais à toda a comunidade escolar (estudantes, professores e famílias). Efeitos cognitivos e emocionais de longo prazo devem ser esperados, afetando não apenas os índices de aprendizagem, mas também o engajamento dos estudantes.
No ano de 2021, registraram-se 46,7 milhões de matrículas nas 178,4 mil escolas de educação básica no Brasil. São cerca de 1,1 milhão de registros a menos em comparação com 2019, último ano sem pandemia.
A evasão escolar, entretanto, não é um fenômeno recente. Enquanto a Covid-19 pode ter acelerado algumas tendências, é preciso considerar também as mudanças na pirâmide etária brasileira e fatores sociopolíticos como renda e políticas públicas educacionais.
A educação infantil registrou a maior queda de matrículas dentre as etapas do ensino básico: 7,3% entre 2019 e 2021. São cerca de 650 mil crianças de até 5 anos que saíram das escolas. No Ensino Fundamental, a redução é de 1,5% no período.
O Ensino Médio viu as matrículas caírem em 2019. Diferentemente das séries anteriores, observa-se a recuperação dos números e alta próxima de 4% ao chegar em 2021.
Já a Educação de Jovens e Adultos (EJA) enfrenta uma evasão contínua e que se intensifica a partir de 2019. Daquele ano para 2021, a queda foi de 9,3% nas matrículas.
Estima-se que ao estudar de forma remota, os estudantes aprenderam efetivamente, em média, 17% do conteúdo de matemática e 38% do de linguagens.
Apenas 40% dos professores concordam que os alunos evoluíram com o aprendizado em casa.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) destaca que, nos testes de matemática, os resultados foram equivalentes ao que existia há 14 anos. Nas provas de português, a regressão foi de 10 anos.
Entre 2019 e 2021, houve um aumento de 66,3% no número de crianças de 6 e 7 anos de idade que, segundo seus responsáveis, não sabiam ler e escrever. O número passou de 1,4 milhão para 2,4 milhões.
Aproximadamente dois em cada cinco alunos estão avançando com dificuldades no processo de alfabetização, na percepção dos responsáveis.
Para as crianças que estão no Ensino Infantil, os pesquisadores mostram ainda que o afastamento das escolas e do convívio com outras crianças impactou negativamente nas habilidades motoras e na aptidão física.
Fontes: Instituto Península; Todos pela Educação; Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef); Instituto Unibanco e Insper; Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
O Brasil foi um dos países que menos investiram em educação durante a pandemia. O País investe US$ 3.256 por aluno ao ano. Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, a média é de US$ 10 mil por estudante a cada ano. Em outros países latinoamericanos o investimento é semelhante ao do Brasil: na Argentina são US$ 3.560 e no Chile, US$ 4.279.
Ao mesmo tempo, não houve aumento de recursos em 2020 para a educação brasileira. A OCDE analisou esse ponto em 43 nações. Dessas, 2 em cada 3 aumentaram o orçamento na área..
Fonte: OCDE. Relatório Education at a Glance 2021
A pandemia de Covid-19 afetou o acesso ao ensino no Brasil, especialmente onde já havia desigualdades pré-existentes. A falta de acesso a computadores e à internet é um ponto marcante no cenário de aulas remotas ou híbridas.
Diante da crise sanitária, as escolas brasileiras ficaram fechadas por uma média de 40 semanas. Na América Latina e no Caribe, foram 29 semanas com escolas fechadas. Já a média global foi de 22 semanas — o equivalente a dois terços de um ano letivo. O retorno às aulas presenciais tem apresentado novos desafios.
A falta de condições logísticas e de infraestrutura tem sido apontada no planejamento e na implementação de estratégias de recuperação da aprendizagem. Isso inclui dificuldades de transporte escolar e de alimentação para realizar atividades presenciais no contraturno.
Permanecem as dificuldades em conectar-se para fazer atividades remotas e juntam-se desafios de participação das famílias e de motivação de estudantes e professores.
Agora que chegamos até aqui, que tal testar seus conhecimentos sobre os efeitos da Covid na Educação e os temas discutidos nessa inforreportagem?
O tema dessa inforreportagem foi escolhido por professores que compõem a banca do concurso "Redação Enem: Chego Junto, Chego a 1.000", uma realização da Fundação Demócrito Rocha (FDR). A partir deste tema, estudantes da 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede de escolas públicas do estado do Ceará são convidados a escrever uma redação nos moldes do exame. Este é o segundo de cinco temas; os próximos são:
Especial reúne conteúdos para o concurso Enem 2022