O levantamento do Data.Doc O POVO, baseado no acervo do jornal, iniciado em 1928, tem o seu primeiro registro de chacina em 1958, um crime de latrocínio que deixou seis vítimas em Quixadá. Além disso, faz menção a um episódio de briga entre famílias em Viçosa que deixou 19 mortos em 1878. De lá para cá, 248 pessoas foram mortas em 42 chacinas.
O sociólogo César Barreira — coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC) —, observa que, até a metade do século passado, a maior parte dos conflitos violentos estava ligada a questões agrárias. Outro espaço de conflito, lembra o pesquisador, eram as disputas políticas.
Na virada do século, entram em cena as gangues e, depois, as facções, trazendo consigo a guerra por territórios no contexto da disputa pelo monopólio do tráfico de drogas e de armas. “Aí entram situações em que os jovens começam a participar dessas disputas. Eles passam a ter acesso a essas armas de fogo, como se fossem pistoleiros, que eram os braços armados dos grandes proprietários de terra e dos políticos. Eles passam a ser os braços armados dos grandes traficantes”, diz o pesquisador. O professor ainda destaca a participação de agentes de segurança nas chacinas, como na Chacina da Grande Messejana e na Tragédia de Milagres.
"Nós tínhamos até, mais ou menos, a década de 1980, homicídios provocados por arma branca em sua maioria e, depois, passam a ser cometidos com armas de fogo, que são mais letais"
Barreira ainda cita o papel do aumento na circulação de armas de fogo para incremento da violência.“Nós tínhamos até, mais ou menos, a década de 1980, homicídios provocados por arma branca em sua maioria e, depois, passam a ser cometidos com armas de fogo, que são mais letais”, destaca. Isso permitiu um aumento no número geral de homicídios, sobretudo, a partir dos anos 2010 e, dentro desses números, há o aumento no número de chacinas.
Apesar da brutalidade de muitos crimes, as chacinas eram episódios relativamente raros no Estado até 2015. Até então, constavam 14 episódios, até que se inicia a "Era das Chacinas", que acompanha a "Era das Facções". Somente entre 2015 e 2021, são 28 chacinas no Estado. Apenas em 2017 e 2018, os dois anos com o maior número de assassinatos já registrados no Estado, foram 13 chacinas.
Coordenado pelo pesquisador Miguel Pontes, o levantamento do Data.Doc O POVO é o mais completo feito até agora e inclui apenas ocorrências com quatro ou mais mortos e não leva em conta mortes por intervenção policial, consideradas sem ilicitude pelo Código Penal; conflitos que deixam mortes em ambas as partes e ações de Estado, como o Massacre do Caldeirão.
Para acessar as informações sobre as chacinas, divididas por décadas, basta clicar no ano da linha do tempo abaixo.
Nos 20 anos da chacina dos portugueses, O POVO remonta a trajetória das chacinas no Ceará