O que é uma feira? A pergunta parece simples, mas não é.
Se for o comércio em barracas, a da Beira-Mar precisa mudar de nome. Os feirantes, hoje, usam boxes — o arquiteto Fausto Nilo, um dos autores do desenho original da revitalização, critica a mudança. Ele deixou o projeto, em 2018, por divergências com a Prefeitura.
Tampouco pode-se definir pelos produtos. Isso exigiria determinar quais devem estar à venda, no mínimo, em uma feira. Na Parangaba há de animais vivos a videogames; na Gentilândia, restam apenas alguns vendedores de vegetais, temperos e carne.
Se o critério for o caráter popular, muitas das chamadas "feiras agroecológicas" ficariam de fora. Produtos orgânicos, de preço elevado, estão longe das possibilidades financeiras de grande parte das pessoas.
Existem diversos métodos para determinar o conceito. Todos excluíam um ou mais dos inúmeros comércios populares de Fortaleza — Mercados dos Peixes (da Beira-Mar, do Montese e da Barra do Ceará), Feira da Madrugada (que ocupa a rua, mas se mescla aos boxes dos galpões privados), Feiras de Pequenos Negócios (nos terminais de ônibus), as temáticas ou para públicos específicos (como a Auê Feira Criativa, a Feira Negra e a Feira Empreendedora LGBT), a Ceasa (onde muitos feirantes reabastecem seus estoques), feiras de agricultura familiar (nas quais o próprio vendedor cultivou o produto que oferece)...
O geógrafo Milton Santos, nos anos 1970, já estudava — com pesquisadores de diversos países — o tema. Como bom acadêmico, não parou de aprofundar o assunto até ter uma resposta que julgasse satisfatória. Resultado: a obra "O Espaço Dividido", de quase 400 páginas.
Ainda assim, Milton teve dificuldades em definir o que é uma feira. Mais fácil responder o que não é: estabelecimentos como super/hipermercados, redes atacadistas e shoppings, segundo ele, fazem parte de um "circuito de economia" diferente, mais formal. Bodegas ou vendas de bairro, ambulantes e camelôs, apesar de estarem no mesmo "circuito" que as feiras, podem existir fora delas.
Comparar os circuitos, porém, é importante. Isso permite entender a diferença dos ambientes.
Um é vibrante, convidativo, diverso. Em Fortaleza, apenas as feiras-livres — sem contar as de outros tipos e os mercados públicos — são quase 80, com mais de 3 mil vendedores em mais de 20 quilômetros de ruas.
O outro preza pela ordenação, padronização, produtos divididos por marcas, itens "gourmet". Há regras estritas, que definem até mesmo quem pode ou não frequentar estes locais.
Isso permite dizer que as feiras são uma forma de resistência. O comércio é apenas o ponto de partida, há muito mais: senso de comunidade, laços sociais, pertencimento, afetuosidade.
Deste modo, responder "o que é uma feira?" segue sendo complicado. Mas há uma maneira, embora não tão objetiva: vivenciando as feiras.
O objetivo dos próximos textos é trazer um pouco desta vivência. E, para encontrar a feira mais próxima, basta checar o mapa abaixo. O melhor de tudo: ela estará lá toda semana.