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Fortaleza das feiras: a polissemia de Messejana, uma Cidade à parte
Reportagem Seriada

Fortaleza das feiras: a polissemia de Messejana, uma Cidade à parte

Maior comércio popular da Capital, a Feira da Messejana é um evento dominical para feirantes e frequentadores há pelo menos 80 anos e já se tornou parte da cultura local. Conjunto de polimorfismos, polifonias e polissemias movimenta o bairro-pólis
Episódio 4

Fortaleza das feiras: a polissemia de Messejana, uma Cidade à parte

Maior comércio popular da Capital, a Feira da Messejana é um evento dominical para feirantes e frequentadores há pelo menos 80 anos e já se tornou parte da cultura local. Conjunto de polimorfismos, polifonias e polissemias movimenta o bairro-pólis
Episódio 4
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Aos domingos, a paisagem da lagoa de Messejana, espelho d’água que emoldura a maior estátua de Iracema de Fortaleza, muda seu contorno com diferentes formas, cheiros, sons e cores: é a Feira da Messejana, um conjunto de polimorfismos, polifonias e polissemias que fortalece a autonomia do bairro-pólis; uma cidade à parte.

Considerada a maior feira popular da Capital, ela começa junto ao Mercado Público de Messejana e se estende ao redor da lagoa até a praça que fica nas proximidades da Rodoviária de Messejana, por onde chegam viajantes à Cidade.

Feira de Messejana


Assim como outros comércios populares, esse nem sempre foi seu endereço; e, tal como os outros, esse também não é seu único nome: Feira dos Cacarecos, Feira do Rolo e Feira do Malandro são algumas das alcunhas pelas quais atende.

O primeiro é uma referência ao “de tudo um pouco” que é o chamariz das feiras livres, uma alternativa ao comércio formal que oferece ao consumidor produtos diversos a preços acessíveis; já os outros dois referem-se à prática do rolo, sistema de trocas informais, e ao estigma da malandragem que habita esse que é um dos bairros mais populosos de Fortaleza Situado ao sudeste de Fortaleza, Messejana é um dos bairros mais populosos e conhecido por sua autonomia, não à toa ser considerado uma cidade à parte, contíguo à Região Metropolitana (RMF). Localizado na periferia, faz divisa com os bairros Cajazeiras, Parque Iracema, Cambeba, José de Alencar, Curió, Guajeru, Coaçu e Paupina, abrigando uma população estimada em mais de 41 mil pessoas.  e fica na periferia.

Fato é que o evento dominical para feirantes e frequentadores há pelo menos 80 anos já se tornou parte da cultura local. Uma vez dentro, mesmo que esteja certo de que não precisa de nada, algo há de lhe interessar: frutas e verduras, carnes, confecções, calçados, miudezas, artigos de mobiliário, novos e usados, ferramentas, produtos de limpeza e higiene pessoal, bicicletas e acessórios para a bike, produtos automotivos, pássaros, artigos de pescaria e o que mais se possa imaginar.

A tradicional feira da Messejana é conhecida pela diversidade de produtos a venda(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS A tradicional feira da Messejana é conhecida pela diversidade de produtos a venda

A montagem das barracas começa bem cedo, entre 3 e 4 horas da madrugada — porque às seis já tem cliente. “Ao invés de ir ao Centro, venho aqui na feira da Miss Jane”, brinca uma jovem enquanto separa as bananas que vai levar. Não antes sem pechinchar por um desconto: “Faz quatro por cinco (reais)?”.

Pelo labirinto de barracas coloridas exala o aroma dos temperos de nome poético como a pimenta do reino ou a dedo-de-moça, das frutas e do “Doutorzinho”, o famoso gel para massagem.

O cheiro verde faz inspirar bem forte só para respirar sua cor de esperança — que logo muda a paleta e vira odor de peixe, mas também não demora a tornar-se cheiro de comida fresca.

Messejana tem umas das maiores feiras de Fortaleza    (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Messejana tem umas das maiores feiras de Fortaleza

► som de feira é acompanhado pela música que varia à medida em que se caminha, às vezes com uma disputa de caixas de som entre os dois gêneros que mais prevalecem: brega e forró.

Clássicos que combinam com a dose de choro engolida com a cachaça que dona Vera já começa a servir às 8 da manhã — até antes; vai do freguês. “Meu fi, hoje é domingo, graças a Deus”, lembra um senhor.

Se não vender pela qualidade da trilha sonora — a placa anuncia o pendrive com mil músicas gravadas (forró, dance, brega, pagode, sertanejo, seresta, rock, hip-hop, Jovem Guarda, gospel, clássicas, internacional, funk, reggae, MPB) —, certamente a qualidade do aparelho sonoro vai atrair clientes. Não pode é sair sem comprar.

A tradicional feira da Messejana reúne vendedores de uma diversidade de produtos (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS A tradicional feira da Messejana reúne vendedores de uma diversidade de produtos

“Minha filha, você rodando aqui, você encontra cada curiosidade que dá uma novela. Todo dia tem uma coisa diferente. Tem gato, pinto, galinha, cacareco, vidro de perfume seco, você fica abismado. Botijão de gás, bicicleta, celular, tudo o que você imaginar”, conta a feirante Aurênia, dona de um quiosque de comida.

Ela explica que a feira voltou ao funcionamento normal há pouco tempo, depois que a Prefeitura finalizou as obras de requalificação no entorno da lagoa.

“Eles entregaram em janeiro, ficou bom o calçamento, mas pode rodar que você não encontra um banheiro. E outra, a estrutura lá do Mercado não aguentou nem a primeira chuva. Fizeram a gente sair pra ver se acabava com a feira, mas a gente ficou. A gente já perdeu ali, se saísse daqui ia perder também. Quando era do outro lado era melhor, porque dava acesso a quem vinha do terminal. Aqui o movimento é bem menor. Enfraqueceu muito com essa mudança”, relata.

“Mudou pra cá, depois foi pro terminal, depois voltou pra cá, daqui botou pra lá de novo. Já rebolaram a gente pra todo canto. Mudou muito o movimento, a situação financeira do povo, acho que o que não muda é só a ruma de coisa que tem aqui. Gosto de trabalhar aqui por causa disso, essas figuras que aparecem de vez em quando, as conversas, as amizades, o movimento. São 20 anos servindo caldo de peixe, panelada, arroz, cuscuz, sarrabulho pra esse povo”, diz.

Feira da Messejana recebe pessoas de várias cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Feira da Messejana recebe pessoas de várias cidades da Região Metropolitana de Fortaleza

No ritmo frenético, não há como “atalhar” ou “empaiar” ninguém para entrevista — a conversa tem de ser em movimento mesmo. Todas acontecem enquanto os feirantes despacham um cliente, trocam dinheiro para um colega ou organizam suas mercadorias.

— Tá com raiva hoje?

— Não, senhor, esse é meu jeito mesmo. Muita gente me faz essa pergunta que o senhor me fez agora.

O diálogo acontece entre seu Luciano Pedro e um cliente da Banca do Bem, onde vende “tudo em ferramentas” há mais de 20 anos com o bom humor de quem trabalha com atendimento ao público de domingo a domingo: “Faço no São Cristóvão, Palmeiras, Sítio São João, Santa Maria e aqui”.

Além de produtos, a tradicional feira da Messejana oferece serviços (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Além de produtos, a tradicional feira da Messejana oferece serviços

“Criei meus filhos tudo com o dinheiro dessas feiras, me aposentei e não consegui deixar (as feiras). Aquela coisa que você faz e gosta, sabe? A minha profissão é essa. Gosto de trabalhar onde tem gente, movimento. O nosso dinheiro tá nos bolsos desse pessoal aí. Se a gente não souber falar com o freguês, vai embora e o dinheiro vai junto”, expressa.

Além da variedade de produtos, é possível encontrar serviços diferenciados. Fabiano Leitão aprendeu a fazer corte de cabelo e design de barba há mais de 20 anos, num curso que participou enquanto estava detido. Desde que saiu da prisão, trabalha como barbeiro e cabeleireiro numa parte da feira voltada aos cuidados com a beleza.

“Acompanhei essas mudanças de lugar tudo. Cheguei a ter um salão no José Walter, mas desestabilizei (financeiramente) e tô tentando estabilizar de novo. É assim a vida”, retrata.

O cabeleireiro Fabiano Leitão trabalha há pelo menos 10 anos na Feira da Messejana(Foto: Karyne Lane/O POVO)
Foto: Karyne Lane/O POVO O cabeleireiro Fabiano Leitão trabalha há pelo menos 10 anos na Feira da Messejana

Entre os clientes debaixo da mangueira, pessoas que só cortam o cabelo com ele e vão aos domingos na feira apenas para isso. “Se garante. A gente só faz com ele, eu e meu esposo”, enuncia uma cliente.

 

 

Elas “botam banca”: o dia a dia das mulheres feirantes

 

Quando percebe a reportagem, dona Maria Estela, esposa de seu Luciano e também feirante, reforça o reclame de Aurênia: “Eu quero que bote um banheiro, minha filha. Essa aqui com o bucho na goela com vontade de urinar direto e não tem onde (aponta para outra feirante, uma jovem gestante)”.

“Aqui é um pouquinho dele e um pouquinho meu, é separado mas é junto. Uma hora da madrugada a gente já estava aqui hoje. E olha que eu vou dormir só depois do (programa) Big Brother (Brasil), viu? É o costume de tá no meio do mundo. Nós faz é adoecer se ficar em casa”, narra.

Mulheres feirantes reclamam da falta de banheiro feminino na feira da Messejana(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Mulheres feirantes reclamam da falta de banheiro feminino na feira da Messejana

Perto de completar 30 anos de feira, dona Vera completa o itinerário na Messejana aos domingos: “Domingo aqui e sábado na feira do São Cristóvão. Fazia a Santa Maria, mas lá ficou muito violento, aí fiquei só nessas duas. Comecei aqui vendendo água de saquinho de 10 centavos, vendia chá, vendia café, depois passei para din-din, milho, aí comecei com churrasco, depois bebida, depois comida, e aí foi crescendo”.

Hoje a barraca funciona como um restaurante ao ar livre onde ela serve, além de bebidas, pratos como panelada, sarrabulho, carneiro, porco cozido, bife ao molho, estrogonofe e peixe torrado.

— Que horas a senhora acorda para preparar tudo isso?

— Eu nem durmo, não. Eu faço as carnes e os caldos à noite, uma da manhã faço arroz, cuscuz, café, chá. Três chego por aqui e começo a montar as coisas.

A feirante Vera Maria começou vendendo café e hoje tem uma barraca de comida na Feira da Messejana(Foto: Karyne Lane/O POVO)
Foto: Karyne Lane/O POVO A feirante Vera Maria começou vendendo café e hoje tem uma barraca de comida na Feira da Messejana

Em meio ao alaranjado característico que reflete das lonas usadas para cobrir a estrutura das barracas, uma cor se destaca. É a de Marylene Oliveira, a feirante da barraca cor-de-rosa. “Espia, até as caixa da mulher é rosa”, repara uma consumidora de passagem.

“Hoje em dia você pode ver que tem em outras barracas, mas quem começou fui eu. Eu comecei com os pratos, depois veio as caixas, aí de repente eu encontrei a sacola rosa. Aí coloquei cabelo rosa, adereço rosa, roupa rosa. Hoje em dia meu guarda-roupa é 50% rosa”, relata.

Mary, como grafado nos caixotes personalizados para ninguém “surrupiar”, começou com uma barraca e hoje já administra três — tudo sozinha. Abastece na Ceasa e comercializa nas feiras dos bairros Tancredo Neves, Serrinha, São Cristóvão e Messejana há 4 anos, desde que ficou viúva.

Marylene Oliveira, a feirante da barraca cor-de-rosa  (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Marylene Oliveira, a feirante da barraca cor-de-rosa

“Eu estava em depressão e uma amiga da minha mãe me chamou pra fazer os fretes dela, aí comecei a me interessar. Só que chegou a pandemia e começou a parar. Aí comecei a entender como funcionava a Ceasa e comecei a trabalhar pra mim. Me mudei para o José Walter só pra facilitar o deslocamento, tanto pra Ceasa quanto pras feiras”, revela.

É uma luta diária que, para ela, por ser mulher, se torna mais complicada: “Eu sempre tenho a sensação de que estou só. Carrego e descarrego tudo só. Muito homem mexe comigo, principalmente porque vê que eu tô só. Mas nem ligo mais. Eu parei de trabalhar com bebida (alcoólica) porque tinha muito assédio. Em qualquer lugar do mundo você é assediada, imagina nas vendas. Eu tenho passado por situações que se fosse em outro momento eu já teria desistido”.

A feira, como demonstra Mary, não é um ambiente muito receptivo para as mulheres — para não dizer que lhes é hostil. A maioria delas, sejam feirantes ou consumidoras, é tratada como mais um item à venda — e atravessada por olhares invasivos ou comentários desagradáveis, por vezes assediadores.

Frutas são alguns dos produtos vendidos na Feira da Messejana (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Frutas são alguns dos produtos vendidos na Feira da Messejana

Enquanto conversa justamente sobre as situações de assédio com as quais se depara no dia a dia como feirante, Mary é interrompida por um rapaz que passa: “Eu tenho água e tenho ovo grande, hein? Ô, morena, cê vai querer meu ovo?”, num trocadilho com o produto que vende. “Eu não”, responde ela, prontamente. “Viu aí, né? E, antes, eu dava só uma risadinha sem graça. Hoje, eu já rebato”, revela.

Realidade que também faz parte do cotidiano de Virgínia, 53, Fernanda, 31, e Ana Luiza, 16: três feirantes, três gerações de mulheres da mesma família.

Durante o tempo em que dona Virgínia e a jovem Ana Luiza se dividem para servir e atender aos clientes da banca de comida, Fernanda cuida da barraca vizinha e ajuda com os pagamentos.

“Criei minhas filhas na feira”, aponta dona Virgínia, entre um vai-e-vem e outro.

Fernanda continua: “Ela começou vendendo café, quando a feira ainda era lá em cima, depois passou para cá, no terminal, começou uma barraquinha pequena. Veio e foi várias vezes, mudança direto. Eu vinha pequena acompanhando”.

Ela seguiu os passos da mãe e cedo engravidou de Ana Luiza, que hoje auxilia a avó. “Não tinha com quem deixar, cresceram na feira também. Minha filha foi no mesmo caminho, já tem uma neném de 1 ano e 4 meses. Ainda não dá pra trazer pra feira porque não tem quem olhe”, comenta.

“Eu amo a feira, cresci no movimento, não tem como. É difícil, meio perigoso, muito homem confunde, você tá sendo simpática e eles acham que você tá dando liberdade. Já aconteceu muito de vender e a pessoa não querer pagar, e é uma raridade passar policial aqui. Mas é isso”, atesta.

 

 

Para feirantes, Feira da Messejana é patrimônio cultural

Um processo contínuo de embates, tensões e resistência marca o cotidiano e a história dessa feira popular, que vaga feito ambulante sem um lugar definitivo e vez por outra sofre com a ameaça de deixar de existir.

Neto é morador da Messejana e tem esse comércio na rotina desde a infância, quando ia com o pai “dar uma olhada nas bicicletas”. Já adolescente, passou a ir sozinho, “só para olhar mesmo e comprar alguma besteirinha”.

Depois de adulto, deixou o emprego como vigilante para vender antiguidades. Começou com alguns videogames e hoje tem uma loja “que você quase não consegue andar dentro de tanta coisa que tem”. Mesmo assim, não deixa a clientela da feira por nada.

Pedro Nunes do Nascimento Neto, ou simplesmente Neto, vende antiguidades e é feirante na Messejana há 25 anos(Foto: Karyne Lane/O POVO)
Foto: Karyne Lane/O POVO Pedro Nunes do Nascimento Neto, ou simplesmente Neto, vende antiguidades e é feirante na Messejana há 25 anos

Foi graças a ela que, junto com a esposa Ana Cláudia, uma feirante que trabalha com brechó, teve de onde tirar o sustento por décadas. Juntos, eles vendem em casa e também nas feiras do São Cristóvão e do Canindezinho.

“Hoje, graças a Deus, a gente não tem nenhuma mansão, mas tem uma casa muito boa, um carro. Tudo daqui”, conta. Durante a conversa, um cliente chega e, no meio da negociação, Neto faz uma pergunta cuja resposta diverte a todos:

— Você mora aqui na Messejana?

— Não, eu moro em Fortaleza! (risos)

Ausência de banheiro é a principal queixa dos feirantes em Messejana (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Ausência de banheiro é a principal queixa dos feirantes em Messejana

Ao falar sobre as constantes mudanças, o feirante reflete: “Eu sou da época que a feira era em frente à pracinha onde tinha as caçambas. Já levaram e trouxeram a gente várias vezes, e tiram na marra mesmo. Nada contra política, mas o prefeito daqui também devia rever que nós também pagamos impostos. A partir do momento que eu compro uma água ali eu estou pagando um imposto”.

“Nós aqui não temos um banheiro químico. Um vereador botou na época da eleição, antes de terminar eles tiraram. As mulheres sofrem muito. Os homens em qualquer canto fazem, mas elas, não. Aqui tem meses que a gente não vê um policial. Direto tem confusão, porque você sabe, né, com bebida no meio. Aí quem paga o pato somos nós. Já caíram por cima de mercadoria minha brigando, já tive que apartar confusão. E a gente tem medo, porque já teve gente baleada por isso. Se alguém mexe com nossas mercadorias a gente não pode fazer nada. E a gente chega aqui é de madrugada pra montar as barracas e colocar as coisas. Fica perigoso”, observa.

Neto, que hoje é careca, brinca que iniciou quando o cabelo batia na cintura. Vizinho de dona Virgínia, viu Fernanda nascer, depois Ana Luiza: “Essa menina até pouco tempo ela andava na areia aqui da feira, nesse pedaço que hoje é pavimento, hoje ela já é mãe e tá aí ajudando a vó dela”. Quando termina de despachar outro cliente, esse de longa data, ele conta:

— Me esqueci o nome dele porque só chamo pelo apelido.

— E qual é?

— Coqueiro. Você já viu o tamanho dele?

Entre grandezas e miudezas, na Feira da Messejana encontra-se de tudo um pouco(Foto: Karyne Lane/O POVO)
Foto: Karyne Lane/O POVO Entre grandezas e miudezas, na Feira da Messejana encontra-se de tudo um pouco

“Ele é gaiato, é daqueles ricos mala. Diz que compra aqui pra terapia, ele pega os produtos e restaura só por hobbie, porque se aposentou e era muito elétrico, aí não sabe ficar parado. Agora tá pensando em abrir uma lojinha na Cidade dos Funcionários pra passar o tempo, porque a mulher dele já está brigando por acumular coisa demais no apartamento. Aí ele quer comprar as coisas bem baratinho pra revender lá”, comenta.

“Eu boto aqui e não tem esse valor todo, não, mas se eu botar lá na Beira-Mar tem. Uma peça que eu vendo aqui por 150 (reais), lá eu vendia por 350. E os turistas pagavam. Só que quando eu fui vender lá quem me tirou foi a Guarda Municipal, como se eu não fosse nem gente”, acrescenta.

O comerciante acredita que “pelo prefeito, até pelo governo, se pudesse acabar com essa feira aqui já tinham acabado”.

“Ano passado ameaçaram de tirar a gente daqui. Mas a Feira do Malandro já é uma parte histórica de Fortaleza, não acaba, não. Não pode acabar. É a mesma coisa que fizeram com a caixa d’água da Messejana, que demoliram quando ainda tinha condição de recuperar. Ainda tenho lembrança da caixa d’água quando eu era pequeno, me lembro dela todinha bem direitinho”, reivindica.

“A gente precisa de uma pessoa que fale pela gente lá dentro. E vocês (jornalistas) são a nossa voz. Porque vocês falando, aí o prefeito, o governador, vai ver com outros olhos. Que aqui é gente também, e eles precisam da gente. Eu sei que a sua voz vai longe. Vai chegar a outros feirantes também. O que eu estou lhe passando é a mais pura verdade do que eu vejo acontecer aqui há 25 anos”, finaliza.

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