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Novos equipamentos dão fôlego ao itinerário cultural de Fortaleza
Reportagem Seriada

Novos equipamentos dão fôlego ao itinerário cultural de Fortaleza

Fortaleza renova seu roteiro cultural. A reinauguração da Biblioteca Pública Estadual do Ceará, do Complexo Cultural Estação das Artes Belchior, do novo Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Albuquerque são alguns dos equipamentos disponíveis aos fortalezenses e visitantes
Episódio 1

Novos equipamentos dão fôlego ao itinerário cultural de Fortaleza

Fortaleza renova seu roteiro cultural. A reinauguração da Biblioteca Pública Estadual do Ceará, do Complexo Cultural Estação das Artes Belchior, do novo Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Albuquerque são alguns dos equipamentos disponíveis aos fortalezenses e visitantes
Episódio 1
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O café da manhã nas Tapioqueiras da Messejana, a madeira de carnaúba na estrutura da Casa José de Alencar e o encontro do rio com o mar na Sabiaguaba podem anteceder o sabor do peixe frito nas barracas da Praia do Futuro. Em algum lugar de Fortaleza ou mesmo fora da capital cearense, alguém traça rotas para encontrar a arte e a cultura da Cidade.

Se tiver de férias, a ideia pode parecer ainda mais convidativa. Neste roteiro, tem Espigão da Praia de Iracema, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), Mercado Central, Catedral Metropolitana, Forte Schoonenborch e Passeio Público. A visita ao Centro da Cidade, com o pastel com caldo de cana da tradicional pastelaria Leão do Sul e outros tantos lugares, também é “de lei”, como se diz por aqui. Da tradição mencionada, Fortaleza também pulsa novidade.

Polo gastronômico irá abrigar 17 quiosques de culinária tradicional da Sabiaguaba.(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Polo gastronômico irá abrigar 17 quiosques de culinária tradicional da Sabiaguaba.

No ato de organizar caminhos, quem procura conhecer — ou mesmo reconhecer — as inúmeras paisagens e os diversos espaços da Capital, pode incluir no roteiro novas possibilidades de trajetos. É que Fortaleza ganhou uma série de equipamentos culturais recentemente, com visitas gratuitas e abertas ao público. Uma nova efervescência cultural cruza a Cidade, com a inauguração da Biblioteca Pública Estadual do Ceará, do Complexo Cultural Estação das Artes Belchior, do Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Albuquerque, da Cidade da Criança, do Instituto Sérvulo Esmeraldo, do Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba e do Vagão de Trem e Castelinho Cafeteria da Praça Luiza Távora.

Da literatura às imersões audiovisuais, o roteiro revela um novo momento para a apreciação, a divulgação e o fomento da arte e da cultura na Capital, especialmente com a retomada econômica e comportamental devido à ampla vacinação contra a Covid-19. Depois de dois anos de restrições pertinentes, devido ao combate da pandemia do coronavírus, os equipamentos chegam num período oportuno para explorar espaços, sentir um pouco a Cidade, encontrar amigos e familiares num movimento pela liberdade, esperança e vontade de viver.

Sala de projeção do Museu da Imagem e do Som reaberto após reforma(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Sala de projeção do Museu da Imagem e do Som reaberto após reforma

O Vida&Arte, nesta reportagem seriada, explora as novas rotas desse percurso cultural. O compilado conta um tanto sobre cada lugar ao longo dos episódios. A entrada nos espaços está sujeita à apresentação do Certificado Nacional de Vacinação Covid-19, acompanhado de documento oficial com foto.

Este ano começou com novos ares para as programações culturais de Fortaleza. Fundada há 155 anos, a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), localizada nas imediações do Dragão do Mar, passou por sete anos de reformas em sua estrutura até sua reabertura no segundo semestre de 2021. Por isso, nosso passeio inicia pela instituição. Uma prévia: mais de 100 mil exemplares contemplam o acervo da Bece, entre livros de ficção, cordéis, quadrinhos e edições impressas O POVO.

Complexo Cultural Estação das Artes Belchior entregue em março de 2022(Foto: Eduardo Abreu/Suspiro Comunicação)
Foto: Eduardo Abreu/Suspiro Comunicação Complexo Cultural Estação das Artes Belchior entregue em março de 2022

No coração do Centro de Fortaleza, a Cidade da Criança, patrimônio histórico com 120 anos de existência, foi reinaugurada no fim de 2021. A partir da reabertura, o V&A descobriu empreendimentos no entorno, como a Cafeteria Santa Clara Reserva da Família no Cineteatro São Luiz e o Aconchego Bistrô Cearense no Museu da Indústria. Estendendo o passeio, a rota também passa pela antiga Estação Ferroviária João Felipe. Após obras de modernização e restauração, o patrimônio foi reaberto em março de 2022 como Complexo Cultural Estação das Artes.

Já o Museu da Imagem e do Som (MIS), no bairro Meireles, apresenta imersões audiovisuais em diferentes formatos. Com mais de quatro décadas de história, o equipamento funcionava apenas num antigo casarão da avenida Barão de Studart, imóvel construído há mais de 70 anos. Após quatro anos fechado para restauração, o espaço reabriu com um prédio anexo, de arquitetura contemporânea. A estrutura logo sugere o olhar para o futuro em diálogo com a preservação da memória.

Fachada do Museu da Imagem e do Som (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Fachada do Museu da Imagem e do Som

Ainda no âmbito museológico, a casa do escultor, gravador, ilustrador e pintor cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) abriga o Instituto Sérvulo Esmeraldo. A associação civil sem fins lucrativos reúne acervo documental do multiartista, natural do Crato. O museu-casa propõe convite à pesquisa, apreciação de obras e atividades formativas.

Na Praia da Sabiaguaba, localizada no bairro homônimo, uma estrutura com mais de 15 quiosques integra o Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba. Inaugurado em março último, o equipamento guarda a tradição da culinária cearense nas barracas que já existiam por ali, às margens do Rio Cocó, idealizada pela própria comunidade da Sabiaguaba.

Para completar o roteiro, o Vagão de Trem e o Castelinho Cafeteria da Praça Luiza Távora, no bairro Aldeota, também reabriram em março deste ano. Por ali, já funciona o Centro Cearense de Artesanato (Ceart). Os espaços passaram por três meses de reforma e foram ocupados pelo café O Cafeeiro. Instalado desde 2011 na praça, o Vagão do Trem é uma construção belga de 1930. O Castelinho, tombado como patrimônio cultural do Estado, também remonta o século XX, e foi construído a partir de uma promessa feita entre noivos.

Dentro do vagão, os clientes também podem aproveitar a biblioteca do espaço (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Dentro do vagão, os clientes também podem aproveitar a biblioteca do espaço

Nesta cruzada de valorização dos equipamentos, é esperado, também, o olhar para estruturas em bairros afastados da rota turística do Grande Centro de Fortaleza, como o Farol do Mucuripe; a Estação Ferroviária da Parangaba, tombada pelo município em 2007 após mobilização da população do bairro; o Mercado da Aerolândia; a Escola de Música do Ancuri; e o Polo de Lazer da Lagoa da Messejana, com obras de anfiteatro, píer e reforma de quiosques autorizadas em novembro de 2020, iniciadas no mesmo mês e paralisadas sem mudanças.

Fortaleza detém o título de Cidade Criativa em design desde 2019, escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Somados à chancela da Unesco, os novos equipamentos da Capital, sejam públicos ou privados, renovam fôlego não só ao itinerário cultural, mas também ao fortalecimento da economia criativa da Cidade e dos laços simbólicos do povo desta terra.

 

 

Conexão entre literatura e Ceará

 

Por Clara Menezes

 Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) conta com acervo variado de ficção, cordéis, livros raros, adultos e infantis, além de edições impressas do O POVO(Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO)
Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) conta com acervo variado de ficção, cordéis, livros raros, adultos e infantis, além de edições impressas do O POVO

Com a reabertura das atividades presenciais da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), o espaço volta a ser um lugar de referência cultural para o estado cearense. Uma biblioteca pública é formada pela memória do lugar em que reside. O conjunto de livros neste espaço não permanece somente no âmbito da literatura. Ele expande seus próprios limites e alcança todas as linguagens artísticas.

As obras que estão dispostas em estantes, mesas, ambientes fechados e até nas casas de pessoas comuns têm um objetivo principal: preservar a(s) história(s) de sua população. Alguém que entra na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), reaberta presencialmente em agosto após sete anos fechada para reformas, entende isso logo depois de passar pela recepção.

Os espaços da Biblioteca Pública Estadual do Ceará são abertos para os visitantes poderem explorar(Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO)
Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO Os espaços da Biblioteca Pública Estadual do Ceará são abertos para os visitantes poderem explorar

Na entrada, palavras cruzadas dispostas na parede mostram ao visitante o que ele está prestes a conhecer: cordéis, quadrinhos, ficção, pesquisa e mais. Mesmo com tudo isso, é quando adentra qualquer um dos setores que a pessoa percebe o real significado daquele ambiente de cultura. A instituição centenária, fundada em 1867, é - por si só - uma referência arquitetônica do modernismo cearense. O endereço, que foi ocupado pelo equipamento em 1975, passou por renovações que trouxeram um adicional: a conexão direta com a Cidade.

Sentado em poltronas ou em mesas de estudo, o leitor olha para o lado e reconhece o lugar em que mora. Do térreo, é possível usufruir de um ambiente rodeado de árvores. Do primeiro andar, alguém pode ler e apreciar a visão da Cúpula do Planetário Rubens de Azevedo, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, ao redor do verde da natureza. Entretanto, o segundo piso é aquele que mais chama atenção. O lugar, reservado para a pesquisa de obras raras e periódicos, mostra a paisagem de tudo já citado junto com o mar da Praia de Iracema. Lá no fim do campo de visão, encontra-se o navio petroleiro Mara Hope, que encalhou há três décadas próximo ao Marina Park Hotel e se tornou um ponto turístico de Fortaleza.

Espaço da Bece conecta o equipamento a Fortaleza por meio de janelões em vidro. Leitores podem admirar as paisagens da Capital enquanto apreciam o lugar
Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO
Espaço da Bece conecta o equipamento a Fortaleza por meio de janelões em vidro. Leitores podem admirar as paisagens da Capital enquanto apreciam o lugar

"Se você vir à biblioteca e começar a passear, nota que ela está muito conectada à cidade. Você olha para o lado e vê Fortaleza. Isso sozinho já é um atrativo para vir para a biblioteca. Nos outros andares, essa ideia de olhar para fora está mais forte. No segundo andar, você olha e vê o mar, a cidade", detalha a gestora executiva Suzete Nunes. Para aqueles que passam os dias em ambientes fechados fazendo pesquisa acadêmica, o segundo piso destinado a pesquisadores se torna um novo respiro.

O equipamento cultural, gerido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE) em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), cumpre o papel de biblioteca tradicional. Há um acervo de mais de 100 mil exemplares, com possibilidade de estudar e alugar as obras. Porém, o lugar não se contenta apenas com o convencional. Diferente das memórias de muitos cearenses que frequentavam o espaço antes das reformas, há poucos balcões com bibliotecários. Os profissionais ainda estão lá para auxiliar na busca por livros e nas dúvidas dos visitantes, mas eles não são mais a ponte única entre a população e os conteúdos. As pessoas podem livremente encontrar seus títulos preferidos, folhear as páginas e manter uma conexão direta com a literatura.

Obras raras, como registros históricos de jornais, estão entre os exemplares da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece)(Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO)
Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO Obras raras, como registros históricos de jornais, estão entre os exemplares da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece)

"A biblioteca, antes da modernização, tinha muitos balcões. Era mais cinza e sóbria. Era um espaço muito querido na cidade, mas, arquitetonicamente, era mais convencional. Então, toda vez que você ia em um setor, você se deparava com um balcão e um atendente. Agora isso está mais livre. O balcão e o bibliotecário existem, mas você não precisa necessariamente dele para ter acesso ao livro. Você pode livremente pegar o livro para fazer sua leitura e seu percurso", comenta Suzete.

A Bece possui um acervo de raridades, além de ter um espaço para pesquisas e estudos(Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO)
Foto: BARBARA MOIRA/ O POVO A Bece possui um acervo de raridades, além de ter um espaço para pesquisas e estudos

Os setores são divididos em 12: atualidades; artes e iconografia; leitura acessível; espaço multiuso; laboratório de conservação e restauro; processamento técnico; obras gerais; coleção Ceará; microfilmagem; obras raras; e periódicos. Um dos principais destaques são os livros que preservam a história e a cultura cearense, que também estão disponíveis on-line para consulta de disponibilidade. Não só: o ambiente destinado exclusivamente a crianças cria uma ligação entre literatura e afeto a partir de objetos interativos, lugares para desenhos e contações de histórias.

Agora com vínculo com os equipamentos do Dragão do Mar, a biblioteca estadual ganha novas possibilidades de atuação. Com atividades virtuais e presenciais, o equipamento cultural já planeja projetos que possam conectar as linguagens artísticas voltadas, principalmente, para o Estado. "O conceito da biblioteca vai para além da função tradicional da biblioteca, que é o acesso ao livro, a pesquisa, o estudo… Ela também se coloca em um lugar de centro cultural. É um equipamento de fruição e formação, tendo o livro e a leitura como centralidades. Mas também se conecta com outros campos do conhecimento e das artes", indica a gestora executiva.

Segundo ela, há sempre a reafirmação de que é uma biblioteca pública, pertencente ao Estado. "Para nós, o mais importante é que a biblioteca abrace a população na sua diversidade, que ela seja realmente um ambiente de referência do ponto de vista da produção. Entendemos que é um espaço de acesso ao livro, mas, sobretudo, é um espaço de produção de conhecimento. Ela está inserida em um contexto muito importante para a cidade", conclui.

 

 

Para explorar a Bece

 

 

Biblioteca Pública Estadual do Ceará

Quando: segunda-feira a domingo, das 9 às 16 horas

Onde: av. Presidente Castelo Branco, 255 - Centro

Mais informações e agendamento: @bece_bibliotecaestadualdoceara

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