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Conheça o MIS e o museu-casa Sérvulo Esmeraldo
Reportagem Seriada

Conheça o MIS e o museu-casa Sérvulo Esmeraldo

O Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque, no bairro Meireles, busca conservar a história do estado cearense e oferecer formação para as novas gerações. Já no Salinas, a casa do artista cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) vira museu, com visita guiada da curadora Dodora Guimarães, guardiã das obras de seu marido
Episódio 3

Conheça o MIS e o museu-casa Sérvulo Esmeraldo

O Museu da Imagem e do Som Chico Albuquerque, no bairro Meireles, busca conservar a história do estado cearense e oferecer formação para as novas gerações. Já no Salinas, a casa do artista cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) vira museu, com visita guiada da curadora Dodora Guimarães, guardiã das obras de seu marido
Episódio 3
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A casa protegida por dois leões de porcelana, que está localizada na avenida Barão de Studart e a alguns quarteirões de distância do mar, faz parte do imaginário local há mais de sete décadas. O casarão que um dia serviu de residência a políticos cearenses hoje sedia o Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Albuquerque. O espaço cultural, que estava há quatro anos fechado para reformas, reabriu em abril último e volta a integrar o dia a dia de Fortaleza. Ali, a história do estado permanece conservada. Além da restauração da arquitetura, trabalha com um acervo importante para a cultura. Mas o espaço retorna com um compromisso que extrapola a preservação da memória: junto com um prédio de cinco andares, o objetivo também é dialogar com a tecnologia e o incentivo ao futuro do Estado.

Museu da Imagem e do Som (MIS) reabre depois de uma grande reforma(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Museu da Imagem e do Som (MIS) reabre depois de uma grande reforma

Para Silas de Paula, diretor do MIS, o complexo tem um destaque em relação aos outros museus brasileiros: "O museu tem o Ceará. Ninguém mais tem o Ceará". De fato, a essência cearense está por todas as partes. Na exposição "Ontem Choveu no Futuro", do artista Batman Zavareze (que atuou nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 e com cantores como Roberto Carlos e Marisa Monte), os visitantes são convidados a imergir no trabalho de grandes nomes das artes visuais no Ceará.

Nas paredes, há imagens produzidas por Chico Gomes, Davi Pinheiro Santos, Hélio Rola, Mestre Júlio Santos, Patativa do Assaré, Tibico Brasil e - é claro - Chico Albuquerque. A música que acompanha a imersão é assinada por Alberto Nepomuceno e Leopoldo Miguez. Durante vinte minutos, o público assiste à mostra feita por meio de videomapping, uma técnica de projeção de vídeo em superfícies irregulares, para se questionar: quais as imagens que temos do nosso Estado?

Museu da Imagem e do Som do Ceará conta com salas de projeção (Foto:Thais Mesquita/OPOVO)(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Museu da Imagem e do Som do Ceará conta com salas de projeção (Foto:Thais Mesquita/OPOVO)

Ao sair desse ambiente, que está situado no novo edifício, é possível conhecer o "Laboratório dos Sentidos". Dentro da casa histórica, as pessoas descobrem questões específicas sobre a luz e o som a partir de uma perspectiva lúdica. Diferente daquele conceito padronizado de museu, em que ninguém deve tocar nos objetos, todos podem fazer experimentações. No local, crianças e adultos fazem experimentações com sonoridades, entendem o que está por trás de um disco de vinil, compreendem a biologia da visão e até usam a criatividade para criar sons e elaborar uma cena em stop-motion.

No Laboratório de Sentidos, os visitantes podem manipular diversas experiências em imagem e som(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita No Laboratório de Sentidos, os visitantes podem manipular diversas experiências em imagem e som

Silas de Paula ressalta que, apesar das áreas de entretenimento, o museu tem o intuito de oferecer formação às novas gerações. "Temos a arte de encantar, mas não é o suficiente", pondera. "Houve uma mudança mundialmente, que começa na América Latina, mas é uma mudança mundial, sobre o que é um museu. O museu é basicamente formação e educação com olhar sobre a questão social. Ele não é só um local para guardar coisa velha e antiga, para as pessoas terem ideia de memória", afirma.

Para isso, o complexo cultural abriu editais para incentivar profissionais a trabalharem com o MIS e a proporem conteúdos para serem produzidos. Também haverá uma programação formativa contínua aberta ao público geral. "Há uma possibilidade voltada para o mercado, que é a questão do videomapping. Temos isso na sala de imersão. Estamos trazendo o Batman Zavareze para formar pessoas no Ceará, não só para trabalhar no MIS, mas também para entrar em uma profissão que está em ascensão", explica o diretor. Segundo ele, o propósito é evidente: "queremos colocar o Ceará no mundo, esse é o papel do museu".

O prédio anexo do Museu da Imagem e do Som (MIS), um pavilhão de arquitetura contemporânea, conta com subsolo composto por salas de projeções(Foto: ThaÍs Mesquita)
Foto: ThaÍs Mesquita O prédio anexo do Museu da Imagem e do Som (MIS), um pavilhão de arquitetura contemporânea, conta com subsolo composto por salas de projeções

Para os próximos passos, porém, há muitas questões a serem pensadas e elaboradas. Silas de Paula acrescenta que o primeiro ano depois da inauguração é um período de experimentações. O acervo do Museu da Imagem do Som e do Ceará, por exemplo, ainda deve chegar em um futuro próximo. Também há a intenção de catalogar e digitalizar todos os conteúdos. A biblioteca que servirá para pesquisa e estudos deve ser inaugurada em breve. Outra perspectiva é a de ofertar serviços para empresas privadas e entidades diversas.

Mas o diretor cita o principal desafio do equipamento: "fazer com que as comunidades tenham uma relação de pertencimento com o espaço. Sem essa relação, nenhum museu sobrevive. São essas comunidades que vão nos fazer existir e continuar existindo. É muito fácil qualquer governo vir depois, e não necessariamente fechar, mas diminuir a subvenção. Isso é o que acontece normalmente no Brasil. Isso só não acontecerá, e essa é a parte desafiadora, se a gente conseguir manter o relacionamento com as comunidades. Elas são a cara do museu e as defensoras das ideias do museu".

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Museu da Imagem e do Som do Ceará Chico Albuquerque

Quando: quinta-feira a domingo, das 13 às 21 horas
Onde: avenida Barão de Studart, 410 - Meireles
Mais informações: @mis_ceara no Instagram
Uso de máscara e apresentação de passaporte de vacina são obrigatórios para acesso aos espaços internos. Gratuito

 

 


>> Ponto de Vista 

A casa-museu de Sérvulo

Por Bruna Forte

"Não somos ilhas: queremos ser um grande continente". Ao número 320 da Avenida Rogaciano Leite, o portão vermelho da casa 14 inaugura generoso convite: adentrar a intimidade do escultor, gravador, ilustrador e pintor cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017). O museu-casa abriga o Instituto Sérvulo Esmeraldo, associação civil sem fins lucrativos que reúne acervo documental do artista cratense para pesquisa e exposição, centro de formação e residência em arte contemporânea. Presidido pela curadora de artes visuais Dodora Guimarães, o Instituto iniciou o agendamento de visitas guiadas no último mês de março.

Sérvulo Esmeraldo é um dos maiores nomes das artes plásticas no Ceará. Funcionando na casa do artista, o Instituto Sérvulo Esmeraldo inicia visitação por agendamento(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Sérvulo Esmeraldo é um dos maiores nomes das artes plásticas no Ceará. Funcionando na casa do artista, o Instituto Sérvulo Esmeraldo inicia visitação por agendamento

Esposa de Sérvulo e dinamizadora do legado do artista, Dodora compartilha que o Instituto foi sonho construído junto. Criado ainda em 2013, o projeto agora finalizado estende ao público o cotidiano de vida e trabalho do cratense. "Esse trabalho não é para ficar guardado, restrito. Nós vamos receber pesquisadores, historiadores de artes, moradores, interessados na obra do Sérvulo… Trabalhamos em rede — o Instituto fica próximo a pelo menos quatro universidades, por exemplo, e isso é muito importante. Devemos estabelecer diálogo com os demais espaços culturais da Cidade, desenvolver ações recíprocas. O nosso objetivo é comum: a aplicação da arte no cotidiano da cidade", ressalta a curadora.

Com projeto do escritório Marcus Novais Arquitetura, que assinou também o conceito do Museu da Fotografia de Fortaleza, o Instituto Sérvulo Esmeraldo reúne o acervo documental do artista. São mais de 10 mil peças, entre obras, documentos, projetos, fotografias, correspondências pessoais e profissionais, matérias publicadas em jornais, maquetes, agendas, diários, anotações… "Uma riqueza tremenda, uma coisa fantástica!", celebra Dodora. "O que é um acervo documental? É um arquivo de um artista. É da maior importância porque esse arquivo contém as chaves do pensamento do artista — existem ali referências importantes da sua obra. Esse é um trabalho de bastidor, repleto das relações do artista com o mundo", explica.

A curadora e presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo Dodora Guimarães, na entrada do local onde funciona a iniciativa(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita A curadora e presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo Dodora Guimarães, na entrada do local onde funciona a iniciativa

A implantação do acervo de Sérvulo foi realizada por meio de um projeto aprovado pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e patrocinada pelas empresas Cagece, Banco do Nordeste, Cegás, EcoFor e Marquise Ambiental. O trabalho de desvendar o continente Sérvulo Esmeraldo junto à Dodora foi coordenado por Francisca Edwiges Pinheiro Ximenes. A presidenta do Instituto revela os tesouros garimpados no acervo: "Temos uma carta que Sérvulo recebeu de Oswaldo Goeldi, o xilogravador mais importante do Brasil. Ele conheceu o trabalho de um Sérvulo ainda jovem, gostou e escreveu desejando sucesso. Resgatamos também correspondências com artistas latino-americanos, como Julio Cortázar, Gabriel García Márquez, Eduardo Galeano, Néstor García Canclini. Há cartas desenhadas, narração de projetos para os amigos. É um acervo muito rico de informações".

O acervo documental do Instituto Sérvulo Esmeraldo compreende todo o trabalho que o artista produziu no Brasil, antes e depois do período em que morou na Europa. A temporada europeia das obras de Sérvulo, por sua vez, está documentada no Instituto de Arte Contemporânea (IAC) em São Paulo. As visitas ao museu-casa são guiadas por Dodora, profunda pesquisadora do legado eternizado por seu marido, e realizadas mediante agendamento por e-mail.

"Uma das ocupações do Instituto é a preservação desse acervo magistral que Sérvulo nos legou. Nós queremos trabalhar muito a valorização do patrimônio — e não apenas deixado pelo Sérvulo, mas todo o patrimônio artístico e cultural. Nós necessitamos desenvolver esse amor pela Cidade. Cada bem histórico que se destrói é um livro queimado, por isso eu luto diariamente pela preservação dessas obras", defende Dodora. Entre os projetos educacionais do Instituto, está previsto um curso de preservação, restauração e organização de documentos. Já o ateliê museológico conta com a exposição "Sérvulo Esmeraldo sempre", mostra de esculturas do cratense realizadas em Fortaleza. A instalação contou com apoio de Guto Lacaz e Edelson Diniz.

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Sérvulo recebe homenagem no Cariri com Centro Cultural

O Cariri, região onde Sérvulo nasceu, também rendeu-se aos encantos do ourives das formas: em 1º de abril, o então governador Camilo Santana (PT) inaugurou o Centro Cultural Cariri Sérvulo Esmeraldo como último ato de seu mandato. "Essa nomeação representa uma grande homenagem ao Sérvulo. De todas as homenagens que podemos fazer, certamente o Centro Cultural Cariri e o tombamento do Sítio Bebida Nova são o coroamento dos desejos do Sérvulo de colaborar com a cidade e com a cultura da região", pontua Dodora. O Sítio Bebida Nova, onde fica o Casarão dos Esmeraldo, é um antigo engenho de rapadura localizado na área rural do Crato onde Sérvulo praticamente nasceu. A missão do poder público é transformar o ambiente em uma instituição de natureza turística.

Para festejar a homenagem, o Centro Cultural Cariri receberá um monumento para o Crato projetado por Sérvulo em 1997. "O Sérvulo sempre esteve presente na discussão de políticas culturais para o Cariri, lutou e exigiu dos políticos. Agora, vamos construir o monumento que foi projetado como um marco da passagem do século na cidade do Crato. Nós ficamos com o projeto guardado, inclusive com a maquete. A obra é uma escultura muito bonita, que tem as marcas do Crato na sua concepção", finaliza Dodora.

Instituto Sérvulo Esmeraldo

Quando: de terça a sexta-feira, das 10 às 12 horas e das 14 às 17 horas; e aos sábados, das 14h às 17h
Onde: Av. Rogaciano Leite, 300, Casa 14 - Salinas
Mais informações e agendamento gratuito para visitação: institutoservuloesmeraldo@gmail.com

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