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Crianças e smartphones, uma relação que deve ser mediada
Reportagem Seriada

Crianças e smartphones, uma relação que deve ser mediada

Pesquisa mostra que, no Brasil, 49% das crianças de 0 a 12 anos possuem um celular próprio, passando em média entre 3 horas e 4 horas frente às telas por dia. Por outro lado, especialistas alertam para os riscos do uso abusivo pelos pequenos. Entenda os riscos e saiba como regular o acesso daqueles que praticamente nasceram com um smartphone na mão
Episódio 2

Crianças e smartphones, uma relação que deve ser mediada

Pesquisa mostra que, no Brasil, 49% das crianças de 0 a 12 anos possuem um celular próprio, passando em média entre 3 horas e 4 horas frente às telas por dia. Por outro lado, especialistas alertam para os riscos do uso abusivo pelos pequenos. Entenda os riscos e saiba como regular o acesso daqueles que praticamente nasceram com um smartphone na mão
Episódio 2
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As crianças brasileiras passaram a ficar expostas às telas e ao ambiente digital cada vez mais cedo – e por mais tempo – do que o ideal recomendado. Diante disso, especialistas apontam para as problemáticas de saúde que os dispositivos tecnológicos podem causar principalmente quando estão nas mãos do público infantil. O uso exagerado desses aparelhos apresenta um novo e grande desafio aos adultos que podem e devem controlar o acesso dos pequenos.

De acordo com o Panorama Mobile Time/Opinion Box: Crianças e smartphones, 49% dos pequenos passaram a possuir um smartphone próprio em 2021. A impossibilidade de sair de casa, devido à intensificação da pandemia de Covid-19, teria transformado as telas em verdadeiras janelas para o mundo externo, onde estavam o estudo, a diversão e a comunicação com outras pessoas.

A flexibilização das medidas restritivas proporcionadas pela vacinação, por outro lado, passou a auxiliar no retorno às atividades e a quase um cenário anterior ao vírus – pelo menos no que diz respeito à posse de smartphones por crianças de 0 a 12 anos no Brasil. Prova disso é que a pesquisa Panorama Mobile mostra que em 2022 o índice baixou para 44%, valor ainda maior do que o assinalado em 2019, mas igual ao registrado em 2020.

 

Evolução da proporção de crianças de 0 a 12 anos com smartphone próprio

 

Conforme a idade vai aumentando, a parcela de crianças com dispositivos digitais próprios também avança. Do público entre 10 e 12 anos, por exemplo, uma fatia de 77% já possuía um smartphone. Quando isso não acontece, o acesso aos aparelhos móveis dos pais representa 17% dessas crianças.

 

Acesso infantil ao smartphone

 

Conforme Fernando Paiva, jornalista e editor do Mobile Time, “o smartphone é um objeto de desejo das crianças”. Tanto é que cada vez mais cedo elas começam a pedi-lo de presente aos pais. “A proporção cresce conforme a idade avança. Na faixa de 10 a 12 anos, 92% das crianças já pediram um smartphone de presente aos pais. A pressão social é grande nesse sentido”, avalia.

Para se ter ideia, até mesmo pais com crianças na faixa etária de 0 a 3 anos relatam terem recebido o pedido de presente de um smartphone pelo menos uma vez.

 

Seu filho(a) já pediu smartphone de presente?

 

Para a psicóloga infantil Bruna Kesley, a necessidade de estar diante das telas virou uma necessidade cada vez mais precoce nos últimos anos. Antes da pandemia, por exemplo, a implementação de tecnologias voltadas para o ensino já era vista em escolas com intuito de desenvolver e promover inovação por meio de aparelhos eletrônicos.

 

Bruna Kesley, psicóloga. Fala sobre a relação das crianças com smartphones

“Mas o período pandêmico não fez um convite. Ele literalmente levou a educação infantil e de adolescentes ao uso contínuo das telas"

Agora com todas as interações escolares partindo da mediação de smartphones e computadores, uma “revolução comportamental” entrou em curso, de acordo com Bruna. “Todos tiveram que assimilar, aprender diferente, com algumas faltas que o modo presencial exige, como maior dinâmica, tomada de decisão e até a frustração”, menciona ela, que é pós-graduada em Psicologia Humanista e Existencial.

Na mesma pegada, a pedagoga Fadna Fernandes menciona que o “ideal” seria o controle da exposição às telas pelo menos até os nove anos, variando o tempo de uso entre uma e duas horas por dia. Trabalhando diretamente com crianças que estão nesta fase e no processo de alfabetização, ela comenta que tem notado uma distância considerável entre os alunos.

Fadna Fernandes, pedagoga especialista em alfabetização. Fala sobre a relação das crianças com smartphones

“Eu vejo é que crianças que têm mais dificuldades em adquirir leitura e escrita são as que usam o smartphone em excesso"

“Muitas vezes, os pais deixam as crianças com acesso a celulares por falta de tempo, achando que elas estão aprendendo. Porém esse uso exagerado faz com que as crianças tenham mais problemas com atenção, tornando-se muito imediatistas e se cansando rápido de atividades do dia a dia, pois estão acostumadas à rapidez do mundo online”, pontua.

 


Movimento sem telas

Ainda em fevereiro de 2020, antes mesmo da explosão de casos de contaminação e mortes por Covid-19, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou uma atualização do seu “Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde”.

Lançado em 2016, o documento alerta sobre os riscos causados à saúde e ao bem-estar de crianças e adolescentes que têm contato constante com tecnologias digitais, como smartphones, computadores e tablets.

Para especialistas da SBP, é necessário um melhor controle e regulação dos pais e responsáveis das crianças quanto ao conteúdo consumido digitalmente. “Se as experiências por meio das telas não forem melhor reguladas, terão impacto no comportamento e estilo de vida até a fase adulta”, constatam no manual.

Entre os riscos as quais as crianças estão expostas, citam:

 

 

Como remover os smartphones das mãos das crianças

O problema do uso abusivo de telas por crianças está dado. Agora o desafio é saber como retirar um aparelho de quem praticamente já nasceu com ele nas mãos. O tempo de exposição aos dispositivos digitais, por exemplo, é uma das preocupações, uma vez que seus limites são facilmente ultrapassados.

Conforme dados do Panorama Mobile Time/Opinion Box: Crianças e smartphones, o tempo médio de uma criança de 0 a 3 anos chegou a 2 horas e 56 minutos em 2022. Daquelas com idades de 10 a 12 anos, esse valor sobe para 4 horas e 46 minutos.

 

Média de tempo de crianças usando smartphones em minutos

 

Mas como restringir, controlar e evitar o uso de dispositivos eletrônicos das mãos das crianças sendo que até muitos de nós, adultos, não conseguimos largar nossos aparelhos? Por aqui, já discutimos isso na reportagem “É possível viver longe das telas e das redes sociais?”. Para saber mais detalhes, clique aqui e confira.

Agora voltando aos pequenos, a psicóloga Victória Costa aponta que a redução do tempo de tela precisa ser feita de maneira progressiva. “Vamos supor que a criança costuma ficar 5 horas. O ideal é que passe para 4 horas, depois 3. E aos poucos que também sejam introduzidas outras atividades na vida dessa criança”, afirma.

Segundo ela, entre as tarefas que podem ser consideradas estão as de ajudar a lavar louça e de pôr a mesa para refeições; também têm as atividades físicas, como natação, futebol, karatê, balé; ou mesmo programações mais livres, em que a criança possa explorar a própria casa, seus brinquedos, visite amigos.

Vitória Costa, psicóloga. Fala sobre a relação das crianças com smartphones

"Também não tem problema a criança ficar no tédio. O mais apropriado é que tenha essa gradação do uso de telas, diminuindo-o aos poucos e trocando-o por outras atividades"

O “Manual de Orientação #MenosTelas #MaisSaúde”, da Sociedade Brasileira de Pediatria, destaca uma série de indicações direcionadas tanto para pais e responsáveis, como para educadores, com intuito de evitar agravos ocasionados pela utilização inadequada das tecnologias digitais. Ao mesmo tempo, também busca estimular práticas saudáveis na rotina das crianças.

 

Recomendações para evitar problemas ocasionados pelas telas

 

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