“Ori Inu” significa “cabeça interior”. A palavra, que surge do iorubá, representa a essência da alma e o seu ser espiritual. É também o nome da obra da artista visual Renata Felinto. Na imagem, a divindade no alto não é um Orixá, mas revela uma questão espiritual com base nos diferentes povos da África Ocidental.
“Penso muito nas divindades que não chegaram, que ficaram no mar, que esquecemos no tempo”, explica a também pesquisadora e professora da Universidade Regional do Cariri (Urca). A pintura também aborda os cuidados com a saúde mental, física, emocional e espiritual. É uma maneira de mostrar que, em todos os momentos, existe uma entidade ancestral que zela e que fundamenta a existência humana.
"Eu demorei quatro anos para acabar essa pintura devido ao meu tempo cronológico e psicológico. Me mudei de São Paulo para o Ceará, e ela for sendo feita aos poucos, foi sendo gestada e incorporando as minhas transformações mentais, corporais, emocionais, mas preservando uma essência interior", comenta. "Tenho feito os trabalhos no meu tempo, ao mesmo tempo que a vida transcorre. Foi assim que criei 'Ori Unu', reencaixando minha cabeça, meu ori no lugar depois de tantas mudanças", pontua.
Assim como "Ori Unu", a carreira de Renata Felinto transita com foco na ancestralidade negra. "Conceitualmente tem a discussão sobre a história e a presença das pessoas negras, negrodescendentes. Sempre que eu toco nessa questão, estou tratando de pessoas com fenótipo mais marcado, porque somos as que sofremos um tipo de racismo mais frontal", explicita. Mas os diálogos sociais, familiares e pessoais também estão em suas obras. "Narrativas me interessam muito e elas são uma característica da minha produção, cada obra tem um texto escrito para além do texto visual, que é uma obra de arte".
"Penso muito nas divindades que não chegaram, que ficaram no mar, que esquecemos no tempo."
A artista é professora universitária e passou a se interessar pela temática quando entrou no curso de bachalerado na Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Percebi a ausência total de abordagens que se referissem a artistas com a mesma origem que a minha no Brasil, e, mesmo do exterior, pensando nas questões fenotípicas, na aparência ou, como chamamos hoje, em grupos afro-diaspóricos", recorda. "Somos povos fundantes. Esse reconhecimento e espaço precisa estar inscrito também na academia, na pesquisa científica, de forma a forjarmos uma sociedade mais horizontal e menos intelectualmente e culturalmente colonizada", opina.
Suas referências estão em todos os lugares: nas leituras, nas conversas com os amigos, na observação do trabalho de outras pessoas e nas mulheres que são artistas e mães. "Diria que o mundo vivido é referência o tempo todo, bem como me mobiliza demais imaginar como minhas antepassadas passaram por ele e que estou aqui em função desses desafios vividos por elas. Isso me impulsiona muito", explica. Para ela, a arte é um caminho de salvação. É neste lugar que sua vida orbita e se equilibra.
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