Vivências, histórias, sentimentos… e natureza. Todos esses elementos juntos, reunidos, com aplicações em diferentes técnicas e mensagens, mas com traços de uma mesma identidade: a da artista visual, muralista e designer de superfície cearense Auxi Silveira.
Os primeiros passos na ilustração ocorreram em 2009, quando Auxi Silveira ingressou no curso de Design de Moda da Universidade Federal do Ceará (UFC). Na época ainda iniciante, ela “não se reconhecia de nenhuma maneira dentro da arte”, mas o cenário passou a mudar quando começou a ilustrar para moda, tendo início na estamparia. “Era tudo voltado para o mercado e foi a partir desse momento que eu passei a identificar meu repertório, imaginar como eu gostaria que fosse minha trajetória dentro da arte”, relata.
Nos caminhos de sua história, o que começou na estamparia aos poucos foi migrando para outras superfícies, como telas e painéis, e transmitindo cada vez mais sentimentos em seus trabalhos. “Quando você está no mercado de moda, você está muito voltado para o comercial, e aí não consegue imprimir tanto da sua personalidade naquele trabalho. À medida que fui passando para outras superfícies fui depositando mais meus sentimentos, minhas vontades, as pinturas do jeito que eu queria, até me reconhecer como artista”, acrescenta.
Em seus trabalhos, Auxi carrega a “identidade botânica” que percorre sua história, pois chegou a morar em uma região repleta de “matas” e floresta e com ambiente favorável ao desenvolvimento da paixão pela natureza. De fato, foi isso que aconteceu: ao começar a ilustrar, voltou seu olhar para a botânica não só do Brasil, mas de outros países, chegando, por vezes, a misturar a “mata oriental com a mata ocidental”.
“Eu também trago junto com isso referências da minha história. Eu misturo um pouco de tudo: minhas vivências e meus sentimentos, com a natureza sempre em primeiro lugar. Ela me inspira demais”, enfatiza.
Lidar com a aplicação de sua arte em diversos segmentos - estampas, murais, decoração e telas, por exemplo - é algo que Auxi já aprendeu a fazer, buscando sempre “trabalhar dentro da sua identidade”. “Mesmo que seja para um papel de parede ou para uma estamparia de moda, como eu estou ali desenhando e imprimindo a minha identidade, o meu trabalho, dá para desenrolar. Existe um caminho comum, eu estou sempre falando do meu repertório. O que vai diferenciar mesmo é a técnica usada”, destaca.
“Ora em vigília, ora como mensageira, observadora ou elemento de força”: a onça presente na acrílica sobre tela “O mensageiro dos tempos” não faz sua primeira aparição em uma obra de Auxi. Na verdade, ela é um elemento que acompanha os trabalhos da artista, agregando significados às expressões visuais. Não seria diferente, então, com a arte que estampa a sobrecapa do O POVO deste sábado, 24:
“Essa obra nasceu de uma constatação: não há coração que pese o mesmo que uma pluma. Na mitologia egípcia, para se conquistar a plena vida eterna, o coração é pesado junto a uma pena e precisa ser mais leve que esta pluma. Mas não acredito que há coração vivido que não carregue o peso da sua história, seja ela qual for. A vida é densa. Viver é denso”.
O “Senhor Cabeça de Onça” de “O mensageiro dos tempos”, posto em harmonia com pássaro e flores, traz um desejo de Auxi de “representar dois extremos: a leveza e a força”. “Eu acho incrível essa combinação. Eu uso tudo isso de uma maneira que faça sentido também para o meu imaginário”, complementa.
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