"Liberto de sua condição assassina, o homem extinguirá a rosa mais mortal". A frase que Negrosoousa escreveu nas redes sociais para apresentar sua série de fotografias "A Rosa de Hiroshima" resume a mensagem que quis transmitir: o ser humano abraça a flor que matou, porque nutri-la significaria morrer, mas, ao arruiná-la, também destruiu a si mesmo.
Essas imagens - uma delas estampa a capa do O POVO deste sábado, 7 de agosto - surgiram a partir das experiências que enfrentou em março deste ano. "Estávamos passando pelo período mais letal da pandemia do Covid-19 no Brasil. Chegamos a ter 3 mil mortes diárias e chegamos a 300 mil mortos, o que me gerou uma conexão com o número até inferior do bombardeio de Hiroshima e Nagasaki", comenta.
Ao relacionar as duas tragédias, lembrou-se da música "Rosa de Hiroshima", baseada no poema de Vinícius de Moraes (1913 - 1980). "Naquele mês, também tínhamos a maior taxa de ocupação de leitos e estávamos vendo em noticiários sobre a condição mental de exaustão dos profissionais da saúde. O direcionamento corporal (das fotos), inclusive, foi desenvolvido em cima desse contexto. Os demais detalhes são apostas em símbolos que se conectam com saúde e fé", explica.
A maioria de suas produções dialoga com simbolismos que não são tão evidentes para um olhar desatento. Ele combina, por exemplo, a própria trajetória pessoal com referências históricas. "Minha influência vem da História e da simbologia regional. Muito do que leio e absorvo me direciona a imagens, personagens e histórias. Procuro 'beber' dessa fonte em meus trabalhos para construir minhas imagens e meus roteiros", afirma sobre seu processo criativo.
Negrosoousa constrói um universo próprio em suas obras, mas sua carreira começou a se formar há uma década, quando ganhou a primeira câmera analógica do padrinho. "Acredito que a familiarização mesmo veio com uma digital de minha mãe, quando comecei a me aventurar e registrar alguns amigos há 10 anos. Me recordo que, por estar ainda me familiarizando com tal tecnologia, pouco havia de exploração nas composições, mas havia a magia de fotografar", recorda. A partir disso, passou a investir nas narrativas visuais que nasciam com aquele equipamento.
Neste momento, permanece com atuação maior em Granja, no interior do Ceará. Para ele, a cidade em que nasceu permitiu uma melhoria na sua criação artística durante o isolamento social provocado pelo coronavírus.
Com a distância física dos grandes centros urbanos e o isolamento social, o fotógrafo explora as oportunidades da internet. Afirma, porém, que é necessário debater sobre a diáspora dos artistas e a importância de descentralizar as produções. "Essa dependência única que acaba contemplando geograficamente certos lugares também pode ser o 'contra' de alguma realidade. Nós acabamos simplesmente voltando nosso olhar para o verbo 'ir' e ignorando o verbo 'ficar'".
Para ele, a fotografia está ligada à sua própria maneira de existir. "Eu acredito que seja a permissão de estar presente. Através da fotografia, eu me faço e sou, tomo forma, redimensiono, me reinvento, reinvento coisas. É onde posso me proteger, posso atacar - sucintamente, devo dizer. No mais, é minha fortaleza e meu futuro", explica.
Na mostra O nosso papel é arte, as páginas do jornal adquirem o valor de artefato. O leitor poderá apreciar as criações artísticas, além de colecioná-las. O assinante do O POVO+ ainda terá acesso a todas capas em alta qualidade, para poder baixar e deixar a criatividade fluir: quem sabe imprimir para virar pôster na parede? Ou então decorar a tela do celular?
Para baixar as capas, basta acessar o link bit.ly/NossoPapelÉArte. O link direciona para uma pasta na nuvem com os arquivos em alta qualidade - a pasta será atualizada quinzenalmente.
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