Como uma celebração de toda a indústria de cinema dos EUA, unindo profissionais de todas as áreas técnicas, artísticas e comerciais, a premiação do Oscar é como uma resposta para o mundo sobre o que pensa a Academia de Artes e Ciências de Hollywood.
Para evitar o vazamento dos vencedores das 23 categorias, os organizadores do evento garantem uma série de protocolos para garantir o segredo absoluto do resultado, a começar pela radicalidade do tráfego dessa informação: apenas duas pessoas sabem os resultados até o momento em que o envelope é aberto no palco.
A empresa responsável pela apuração, auditoria e produção dos envelopes é a PricewaterhouseCoopers (PwC), companhia global que, inclusive, envolveu-se em polêmica no Brasil em 2023 por não ter identificado o rombo bilionário das Lojas Americanas.
A grande questão que ainda assombra o serviço da PWC prestado à Academia do Oscar é a troca de envelopes em 2017 que acabou anunciando erroneamente a vitória de Melhor Filme a La La Land, quando o vencedor havia sido Moonlight. Na mesma noite, a companhia assumiu toda a responsabilidade pelo equívoco constrangedor.
A PwC foi contratada após duas grandes controvérsias na edição de 1936, primeira vez que os troféus passaram a ser chamados de “Oscar”. Naquele ano, Bette Davis ficou indignada por não ser indicada e fez uma grande campanha para ser votada à revelia. Como os votos eram escritos nominalmente, havia margem para alguém ganhar mesmo sem ter sido indicado – o que veio a acontecer na mesma edição.
Hal Mohr venceu o Oscar de Melhor Fotografia por seu trabalho em Sonho de uma Noite de Verão, mesmo sem estar concorrendo, porque os votantes escreveram o nome dele na cédula e assim foi aceito.
O casal de sócios da PwC, responsável há anos pelo processo do Oscar, Brian Cullinan e Martha Ruiz, foram “expulsos” após o vexame de 2017, mas a empresa foi mantida e o esquema central de segurança permanece o mesmo.
Para conseguir agir com mais velocidade diante de um possível erro na hora do anúncio, a Academia passou a exigir que um terceiro auditor tivesse acesso ao resultado quando finalizado – como ele não recebe uma cópia física do resultado, parte do seu trabalho é memorizar cada um dos prêmios.
Ainda há alguns funcionários que auxiliam em tarefas específicas e descentralizadas, mas apenas dois fazem o trabalho pesado: imprimir cada uma das mais de 10 mil cédulas e contar, manualmente, uma a uma, para ter certeza de que o resultado digital está correto.
Quando o processo é concluído, os envelopes são lacrados dentro de duas maletas, cada uma com uma cópia de cada categoria. Os auditores levam cada uma em carros e trajetos diferentes, escoltados pela polícia de Los Angeles, e passam pelo tapete vermelho – as celebridades não são eles, mas as malas.
Esse esquema cinematográfico rígido não existia até 1940, quando o Los Angeles Times não respeitou o embargo e publicou os vencedores antes da cerimônia.
Cada auditor fica de um lado diferente do palco, tanto para entregar o envelope de cada categoria a quem vai anunciar, quanto para conferi-lo junto a equipe responsável pelo evento quando o vencedor é declarado.
Uma prova de que ninguém dos bastidores sabe o resultado é que quando “La La Land” foi anunciado vencedor, em 2017, o áudio oficial da transmissão narrou um pequeno texto pré-gravado celebrando a vitória errada.
A essa altura, é bem provável que a dupla já saiba todos os vencedores que serão laureados no próximo domingo, dia 2 de março. Quanto a nós, só vamos descobrir no mesmo segundo que os demais espectadores do mundo inteiro.
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