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Os rivais do Brasil no Oscar 2025: Dinamarca, Irã, França e Letônia
Reportagem Seriada

Os rivais do Brasil no Oscar 2025: Dinamarca, Irã, França e Letônia

Além do fenômeno francês Emilia Pérez, Ainda Estou Aqui concorre na categoria internacional com filmes de outros três países, todos com exibição no Brasil. Conheça as produções, saiba onde assistir e confira as avaliações dos críticos e do público para os rivais do Brasil no Oscar 2025
Episódio 2

Os rivais do Brasil no Oscar 2025: Dinamarca, Irã, França e Letônia

Além do fenômeno francês Emilia Pérez, Ainda Estou Aqui concorre na categoria internacional com filmes de outros três países, todos com exibição no Brasil. Conheça as produções, saiba onde assistir e confira as avaliações dos críticos e do público para os rivais do Brasil no Oscar 2025
Episódio 2
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Quando o sul-coreano Parasita venceu a Palma de Ouro em Cannes e se tornou o primeiro filme internacional e não falado em inglês a vencer o Oscar de Melhor Filme, um dos assuntos comentados naquele 2020 pré-pandêmico foi o forte laço que a indústria de Hollywood sempre traçou com o circuito de festivais europeus.

A categoria de Melhor Filme Internacional na premiação americana, portanto, não está interessada em apresentar um panorama dos filmes mais artisticamente relevantes de cada nação, funcionando mais como uma espécie de garimpo das obras que ganharam destaque nos grandes eventos estrangeiros.

Central do Brasil, por exemplo, indicado em 1999 também em Melhor Atriz com Fernanda Montenegro, havia vencido o Urso de Ouro em Berlim.

Ainda Estou Aqui está indicado a três categorias no Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz(Foto: Divulgação/Assessoria)
Foto: Divulgação/Assessoria Ainda Estou Aqui está indicado a três categorias no Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz

Neste ano, curiosamente, todos os concorrentes do Brasil na categoria vieram do 77º Festival de Cannes, evento que O POVO teve a oportunidade de cobrir.

O francês Emilia Pérez de Jacques Audiard, o dinamarquês A Garota da Agulha de Magnus von Horn, e A Semente do Fruto Sagrado de Mohammad Rasoulof, competiram na mesma corrida do cearense Motel Destino pela Palma de Ouro.

Flow de Gints Zilbalodis, da Letônia, foi exibido na Un Certain Regard, mostra paralela do Festival de Cannes que o Brasil venceu em 2019 com A Vida Invisível, do Karim Aïnouz.

 

 

Onde assistir aos concorrentes à categoria Melhor Filme Internacional no Oscar 2025

 

 

 

Quem são os adversários de Ainda Estou Aqui?

Contando a história de uma ex-traficante mexicana que precisa lidar com o mal que causou no passado, Emilia Pérez teve seus direitos de distribuição adquiridos pela Netflix, empresa em constante ascensão em meio aos estúdios clássicos de Hollywood, e que por isso está cada vez mais dedicada à campanha do Oscar.

Neste ano, conseguiu o recorde de 13 indicações para o filme francês, incluindo a histórica de Karla Sofia Gascón, a primeira mulher trans na categoria de Melhor Atriz.

Karla Sofia Gascón estrela Emilia Peréz(Foto: Divulgação/Netflix)
Foto: Divulgação/Netflix Karla Sofia Gascón estrela Emilia Peréz

O filme, porém, vem recebendo duras críticas desde que começou a ser exibido pelo mundo por conta da sua representação da sociedade mexicana, apontada como uma visão “estereotipada” e insensível. O desenvolvimento da personagem trans da trama também vem sendo questionado.

Paul B. Preciado, filósofo de grande referência nos estudos sobre teoria queer, publicou um artigo no jornal El País dizendo que o filme está “carregado de racismo e transfobia”. Nada disso, no entanto, afetou diretamente sua campanha até agora, tendo recebido indicação até na categoria principal de Melhor Filme. Estreia no Brasil em 6 de fevereiro, com sessões de pré-estreia ainda no final de janeiro.

O diretor do filme Semente do Fruto Sagrado foi perseguido pelo governo iraniano(Foto: Divulgação/Mares Filmes)
Foto: Divulgação/Mares Filmes O diretor do filme Semente do Fruto Sagrado foi perseguido pelo governo iraniano

O iraniano A Semente do Fruto Sagrado foi exibido em Cannes sob suspense porque o diretor foi perseguido pelo governo e estava secretamente refugiado em algum país europeu. Até o momento da sessão, no último dia do festival, sua presença era incerta — mas ele conseguiu chegar a tempo até de ser laureado na cerimônia de encerramento com um “prêmio especial do júri”.

Honrando os thrillers hipnotizantes do Irã — de cineastas como Asghar Farhadi, Abbas Kiarostami e Jafar Panahi —, seu filme conta a história de uma família que testemunha a revolta pública de mulheres contra as imposições religiosas do governo teocrático. Elas, porém, mãe e duas filhas, vivem a ameaça do patriarca que trabalha como juiz para o sistema opressor.

Rasoulof permeia essa ficção com gravações reais dos protestos nas ruas da capital iraniana, construindo um manifesto forte e autêntico sobre a realidade. Pela visível relação de ódio que o país tem com seu próprio cinema, o filme só conseguiu chegar no Oscar como representante oficial da Alemanha, país que também assina a produção.

Quem tem essa imagem preconceituosa de um “cinema iraniano cult” vai se surpreender com um filme ágil e apreensivo, esperto como suspense/ação e assertivo como uma obra de mensagem política contra a repressão. O filme estreou neste mês no Brasil e segue sendo exibido em algumas salas.

Em A Garota da Agulha, a protagonista se vê envolvida num esquema de venda de bebês(Foto: Divulgação/MUBI)
Foto: Divulgação/MUBI Em A Garota da Agulha, a protagonista se vê envolvida num esquema de venda de bebês

A Garota da Agulha entrou no streaming da MUBI na última sexta-feira, 24. A estreia discreta talvez se justifique porque a empresa está focada na campanha de “A Substância”, da Coralie Fargeat, indicado a Filme, Direção, Atriz, Roteiro Original e Maquiagem.

Distante de todo esse barulho, o filme dinamarquês volta ao início do século XX para contar a história de uma mulher desamparada que, de repente, se vê envolvida num esquema de venda de bebês.

Baseado em acontecimentos reais, a trama tem um aspecto muito frio e duro, sensação acentuada pela fotografia em preto & branco que salva a apatia quando começa a parecer um filme de terror.

Sem palavras faladas, Flow narra a jornada de um gato em um planeta que parece ter sido abandonado pelos seres humanos(Foto: Divulgação/Mares Filmes)
Foto: Divulgação/Mares Filmes Sem palavras faladas, Flow narra a jornada de um gato em um planeta que parece ter sido abandonado pelos seres humanos

Por último, uma das animações mais cativantes dos últimos anos. Feito inteiramente em programa gratuito e com equipe mínima, o letão Flow chega ao Oscar como um grande vitorioso — no começo do mês venceu o Globo de Ouro de Melhor Animação numa categoria com Disney, DreamWorks e Netflix. No último final de semana, tornou-se o filme mais assistido nos cinemas na história da Letônia, seu país de origem.

Sem palavras faladas, o filme narra a jornada de um gato em um planeta que parece ter sido abandonado pelos seres humanos. Enfrentando grandes enchentes em meio aos vestígios deixados pela civilização, ele acaba formando um grupo de sobreviventes com uma capivara, uma ave, um cão e um lêmure, que navegam num barco por rumos desconhecidos.

É uma aventura sensorial para adultos e crianças, bem longe do óbvio. Flow chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 30.

 

 

Avaliação dos filmes concorrendo a Melhor Filme Internacional

 

Ainda Estou Aqui é o único na categoria que não veio de Cannes. Sua estreia mundial aconteceu no 81º Festival de Veneza, vencendo o prêmio de Melhor Roteiro para Murilo Hauser e Heitor Lorega.

No dia da premiação, burburinhos dos jornalistas brasileiros e estrangeiros especulavam uma possível vitória de Fernanda Torres em Melhor Atriz, prêmio que acabou entregue a Nicole Kidman, por Babygirl. Como ironia do destino, a atriz australiana foi uma das titãs da indústria que Fernanda venceu meses mais tarde no Globo de Ouro.

Ainda Estou Aqui estreou em janeiro de 2025 nos Estados Unidos(Foto: Divulgação/Assessoria)
Foto: Divulgação/Assessoria Ainda Estou Aqui estreou em janeiro de 2025 nos Estados Unidos

O Quarto ao Lado, primeiro filme falado em inglês do renomado cineasta espanhol Pedro Almodóvar, venceu o Leão de Ouro na mesma edição e até teve campanha feita pela Sony Pictures Classics para a indicação de Tilda Swinton, mas o filme veio desaparecendo das premiações até chegar zerado no Oscar.

A empresa, portanto, passou a mirar seu foco no brasileiro, emplacando as indicações em Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz e a histórica de Melhor Filme.

Passada a euforia das indicações, agora o trajeto é ainda mais intenso. Os filmes têm até a metade de fevereiro para atingirem os mais de 10 mil votantes da Academia de Artes e Ciências de Hollywood.

Será que ainda há tempo de Ainda Estou Aqui correr atrás da preferência tendo um concorrente tão promovido quanto o musical francês? Vamos descobrir no dia 2 de março, domingo de Carnaval.

Próximo dos quatro milhões de espectadores, Ainda Estou Aqui segue em cartaz nos cinemas brasileiros como um sucesso de bilheteria desde o dia que estreou, três meses atrás.

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