Um dos cotados como terceira via para a disputa presidencial de 2022, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) projeta que, até novembro ou dezembro deste ano, esse bloco deve fechar um nome que tenha potencial para furar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT).
Para Mandetta, esse prazo até poderia ter sido abreviado, mas o adiamento das prévias nacionais do PSDB acabou dificultando essa negociação entre legendas como o DEM, PV, PDT, PSD e outras.
“Eu não acho bom que o PSDB tenha atrasado tanto essas prévias dele, jogado para novembro”, considera Mandetta, que diz respeitar, porém, a dinâmica interna do partido.
Segundo ele, é preciso entendimento entre essas forças. Do contrário, a fragmentação de candidaturas irá favorecer Lula e Bolsonaro, o que, conforme o ex-ministro, seria o pior cenário para o grupo.
“Eles (Lula e Bolsonaro) combinam como não demonstrar que eles são a falência da sociedade, eles são a confusão, a briga, o ódio, a violência”, critica.
Mandetta pondera, contudo, que “essa terceira via tem o tempo dela de maturação, que é 2021”, e que “a política não funciona na velocidade da Internet, ela não é assim”.
Questionado se reafirma disposição para concorrer ao Planalto ano que vem, ele responde: “Não tenho estrutura de impulsionamento, não tenho marketing, não tenho estrutura profissional de campanha. E apareço com 6% (nas pesquisas de intenção de voto), ou seja, essa mensagem de alguma forma chegou”.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista, concedida por videoconferência.
O POVO – A importância que o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula estão dando para a terceira via mostra que ela é muito mais relevante do que aquilo que se imagina?
Luiz Henrique Mandetta – É o pânico deles. Eles sabem, ficam competindo entre si e imaginando que eles vão ter uma eleição um contra o outro. A única chance que o Lula tem é contra o Bolsonaro e a única chance que Bolsonaro tem é contra o Lula. Se entrar o Ciro, se entrar eu, se entrar a terceira via organizada e for para o segundo turno, seja contra Bolsonaro, seja contra o Lula, vai ganhar a eleição de qualquer um dos dois. Eu vejo essas manifestações que eles fazem, e parece até que combinam. “Olha, não manda o seu povo pra rua neste final de semana, deixa ir só meu, porque, se forem, podem brigar e essa briga pode pegar mal pra nós dois.” Eles combinam como não demonstrar que eles são a falência da sociedade, eles são a confusão, a briga, o ódio, a violência. Eles não têm capacidade de pacificar, de dialogar com o país. Eles sistematicamente falam que a terceira via não existe e ocupam bastante espaço. Trabalham agora pra fragmentar, pra que saiam mais candidatos porque acham que, fragmentando, têm mais chances, com seus radicais, de irem para o segundo turno. Mas cada dia cresce o número de pessoas que falam que não querem nem um nem outro, que falam “eu quero ver”, “eu vou analisar” e “lá na frente eu vou decidir”. Já são mais de 54% da população que fala que não quer nem Lula nem Bolsonaro. É um número recorde para duas figuras que têm rejeição tão alta quanto como os dois têm.
OP – Há espaço eleitoral para que um terceiro nome cresça?
Mandetta – Só existe candidatura se uma parcela da população quer, não existe candidatura porque um indivíduo quer. Ela existe quando tem eco na sociedade, e essa vontade que a sociedade está manifestando nas pesquisas, ou onde eu ando ou todo mundo anda, é: cara, será que o meu critério de voto vai ser quem eu odeio menos? Eu odeio menos esse, odeio mais aquele. Vai ser em cima de quem provoca mais ódio que vai ser a decisão? Nenhum país vai pra frente desse jeito. As pessoas querem futuro, querem esperança, pacificação, resolução. Então o que eu vejo é que essa terceira via tem o tempo dela de maturação, que é 2021. A política não funciona na velocidade da Internet, ela não é assim “por que vocês não fazem um call?”. Vocês cinco aí, conversa, decide e tal e vai todo mundo pra casa. Não funciona assim. Ela é feita dos palanques regionais, dos apoios dos governadores, das candidaturas dos deputados federais, dos deputados estaduais. O eleitor vai à urna votar pensando no seu estado para deputado, pensando na Câmara, no Senado. São votos regionais com candidatos regionais, e ele vai dar um voto para presidente da República, que é um voto federativo, um voto nacional, é a somatória dos estados. A política vai se apropriando de cada uma dessas peças para montar um quebra-cabeças. Isso não é uma coisa simples, que depende de pessoas. Passa por muito diálogo, muita construção, não o diálogo de conchavo, mas de construção de uma lógica para poder ter eco, ter tração e poder levar essa mensagem para o eleitor.
"A única chance que o Lula tem é contra o Bolsonaro e a única chance que Bolsonaro tem é contra o Lula."
OP – Agora, concretamente, como estão as conversas para essa construção?
Mandetta – Está indo bem, está indo bem. A gente tem hoje nove partidos conversando juntos, que têm esses mesmos entendimentos. Partidos como PSDB, MDB, PDT, DEM, PSL, Novo, Podemos, Cidadania, PV. Todos eles já enxergaram esse tamanho e estão extremamente próximos, conversando, resguardando o direito dos partidos, cada um, de trabalhar seus nomes de pré-candidatos ou de possíveis candidatos. Mas debatendo muita coisa junto. Já se manifestaram junto sobre voto impresso, sobre reforma tributária. Agora, esse atentado contra a democracia vai provocar uma resposta conjunta. E os pontos de convergência em várias políticas estão sendo demonstrados. Na política de educação, de saúde, de cultura, que são diferentes tanto do PT quanto da de Bolsonaro. E isso vai causando convergência. Agora, tem pontos de divergência. Esses pontos de divergência, a gente está trabalhando. O esforço que vamos fazer é que, desses nomes, dessa química toda, a gente consiga chegar ao final e não fragmentar, sair disso com uma candidatura a presidente e vice desse escopo político-partidário.
OP – O que seria ponto de divergência hoje? Palanque regional?
Mandetta – Tirando as coisas políticas e passando para as coisas programáticas, acho que existe um debate sobre o papel do Estado e economia. O Brasil respondeu com intervencionismo estatal nessas crises. Depois levamos muitos anos pagando essa conta do intervencionismo estatal para concluirmos a ineficiência. Há necessidade do Estado, o Estado é necessário e tem que estar presente nas políticas públicas que ele se faz obrigado constitucionalmente. Temos uma carta de compromisso social em saúde, educação, seguridade social, combate à pobreza. Essas políticas são papel desse Estado. Agora, esse Estado tem que resolver seu problema econômico, e a gente não pode ficar fazendo promessas acima da nossa capacidade de honrá-las. O Estado brasileiro hoje tem uma capacidade de investimento extremamente reduzida. Esse tamanho do Estado e o formato é ponto que tem de divergência de economistas. A própria reforma tributária que saiu agora – que é um arrocho fiscal, não é reforma coisa nenhuma – tem várias maneiras de pensar e instruí-las. São mais complexas e motivam debates mais intensos entre essas cabeças.
OP – Qual o discurso que o senhor imagina que uma terceira via deveria encabeçar para se diferenciar do ex-presidente Lula e de Bolsonaro?
Mandetta – O fato de eles existirem já nos diferencia, o que eles são e o que eles representam. Nós não vamos passar pano pra ninguém, nem pra Lula nem pra Bolsonaro. Eles tiveram suas oportunidades e as jogaram, cada um do seu jeito, para uma vala terrível. Agora, a esperança de virar essa página e reconstruir esse país, acho que isso vai ser o eixo principal dessa via, de deixar muito claro que esses que foram cometidos por essas duas figuras não se pode repetir. A gente não esqueceu, a gente tem que aprender com os erros para ir pra frente. É a esperança vai ser o grande eixo.
OP – O senhor falou de 2021 e que o tempo da política é diferente do tempo das redes. Espera que esse nome surja ainda neste ano? É fundamental que ele apareça agora?
Mandetta – A gente tem dois momentos que são capitais. Um momento vai acontecer em outubro, quando vão se definir as regras da eleição. Se nós não estivéssemos vivendo esse pesadelo que estamos vivendo agora, seria normal que toda a classe política estivesse discutindo as regras da eleição. Hoje lá (no Congresso) tem gente propondo distritão, voto proporcional, distrital misto. Quer dizer, esse é um ponto fulcral em outubro: as regras. Isso pacifica um componente chave dessa eleição, que são os representantes de Assembleia Legislativa e Câmara Federal, atores importantíssimos. Terminando isso, a gente tem seis meses para a janela eleitoral, que vai ser em março. Se você está no partido A e não está confortável com o caminho... O meu partido está indo para apoiar Lula, eu não quero apoiar Lula... Eu vou sair desse partido e vou para um partido que vai ter uma candidatura independente, porque eu também não quero Bolsonaro... Ou eu quero Bolsonaro e vou atrás dele... Isso (a definição desses cenários) vai acontecer em março. Só que, aproximadamente em novembro ou dezembro, esses partidos (da terceira via) vão ter que dar essa sinalização, essa segurança, de que eles têm o caminho deles traçado nessa direção. Acho que até novembro e dezembro é quando vamos começar a fechar essa questão de nomes. Eu não acho bom que o PSDB tenha atrasado tanto essas prévias dele, jogado para novembro. Acho que isso vai ser um complicador. Se fossem em setembro ou outubro, daria tempo ideal, mas vamos respeitar, é uma questão deles, do partido, vão resolver isso internamente. É um componente que vai ter peso, é um partido que já disputou várias eleições presidenciais, comanda alguns estados importantes, como São Paulo, vai ter seu peso. E há candidaturas que já estão mais colocadas, com a de Ciro, vai se consolidando, vai tomando mais forma, mais musculatura, já tem trabalho de marketing profissional, impulsionamento etc. E depois a gente tem talentos, pessoas que sinalizam com um novo tempo, pessoas que são mais o novo e que vêm aí com uma série de caras. Tem o Eduardo Leite, tem o Moro, tem o Amoêdo. Tem outros nomes, mas, se saírem candidatos todos, vamos cair na vala de Lula e Bolsonaro, porque têm os radicais que garantem para eles.
OP – O senhor deixou um nome de fora, que foi o seu. Não sei se foi proposital.
Mandetta – Foi proposital porque eu queria que fizesse uma pergunta só pra mim.
"Agora, que estamos chegando num ponto de vacinação um pouco mais civilizado, com um atraso de seis meses, vamos ver se a gente já pode se permitir uma viagem pra encontrar as pessoas e debater com elas"
OP – Pronto, então queria saber como avalia hoje a possibilidade de uma candidatura. Como tem discutido isso no DEM? A candidatura própria já foi mais forte ou permanece forte?
Mandetta – Permanece forte. É uma tendência majoritária, 80% do partido está muito confortável com essa ideia, inclusive os governadores de Mato Grosso (Mauro Mendes) e de Goiás (Ronaldo Caiado), que vão para a reeleição, entendem que precisam ter uma candidatura. É o caso do Caiado, do Mauro. A candidatura de ACM Neto na Bahia precisa de uma candidatura a presidente, é bom que tenha um palanque de terceira via. Dentro do DEM isso está muito bem encaminhado, está bem resolvido. Algumas pessoas que estão no DEM e são muitas ligadas ao Bolsonaro, elas irão atrás do Bolsonaro, como é o caso do Onyx, da Tereza Cristina e de alguns deputados que são bolsonaristas. Independe de o partido ter candidato ou não à Presidência, eles irão sair e acompanhar essa pessoa porque estão identificadas e veem suas vidas políticas ali. Como tem pessoas de outros partidos que querem migrar para o DEM. Esse balanço a gente vai fazer lá pra março. O DEM está num momento bom, a gente elegeu muitos prefeitos, aumentou representatividade nas câmaras de vereadores, o partido está mais plural. Essa discussão vai ser muito viva, muito forte, mas, pelo que conheço do partido, a gente vai estar muito unido no final para tomar a decisão no momento certo.
OP – O senhor mantém disposição de entrar na disputa?
Mandetta – Eu vejo o seguinte: a gente tem que ter algumas forças. A primeira razão para uma pessoa entrar na coisa pública é a indignação. Você fica indignado de as coisas estarem como estão e você fala que não é possível que a gente não possa transformar isso com um grupo. A segunda é a coragem de dizer eu vou dar esse passo à frente, vou colocar meu nome e vou ver como as pessoas se aproximam ou dizem que não. Eu estou sem mandato, não estou deputado federal, não sou deputado estadual, não sou senador, não sou governador, sou um ministro da Saúde que lutou com todas as suas forças pela vida. Tenho feito entrevistas como esta que estou com você, por lives, por distância. Passei a pandemia restrito, usando praticamente só a rede social. Não tenho estrutura de impulsionamento, não tenho marketing, não tenho estrutura profissional de campanha. E apareço com 6% (nas pesquisas de intenção de voto), 5%, 8% em São Paulo, ou seja, essa mensagem de alguma forma chegou a partir do momento em que se começa a construir esse debate mais próximo. Por isso quero dar uma andada no Nordeste no mês de agosto. Vou à Bahia, já sei que vou no Recife.
OP – Vem ao Ceará?
Mandetta – Quero esticar até o Ceará. Acho que essa presença está fazendo falta. Agora, que estamos chegando num ponto de vacinação um pouco mais civilizado, com um atraso de seis meses, vamos ver se a gente já pode se permitir uma viagem pra encontrar as pessoas e debater com elas. Acho que isso é importante. E vamos vendo. Acho que o espaço é enorme.
OP – O senhor falou de algumas figuras do DEM que têm mais proximidade com o presidente. Imagina que Onyx vai deixar mesmo o partido?
Mandetta – Vai, vai, principalmente se o partido sinaliza que não vai com ele (Bolsonaro). Eles viraram figuras de imagem associada absolutamente. Nem eu quando fui... Eu não quis disputar a eleição de 2018, estava crédulo daquilo. Eu votei pelas bandeiras do Bolsonaro, depois me convidaram pra ser um ministro técnico, montei uma equipe técnica e fui trabalhar tecnicamente pelo SUS. Depois veio uma pandemia no meio do caminho, e ele se revelou uma pessoa antitécnica. Mas nunca fui indicado pelo partido, assim como a Tereza também não, assim como Onyx. O partido falou: são quadros do partido, se estão convidando, podem ir. Mas o partido nunca foi base do Bolsonaro, sempre teve posição independente. Eu tenho o Kim Kataguiri, que é extremamente de oposição ao Bolsonaro. Tenho inúmeros companheiros de bancada ali dentro que fazem voto independente, como a professora Dorinha, que é muito ligada à educação, foi relatora do Fundeb. Há uma posição no partido que, no momento certo, vai achar seu caminho.
OP – Mas acha que a presença dessas figuras no governo, e o fato de o senhor mesmo ter integrado o governo, podem atrapalhar planos futuros?
Mandetta – Acho que não. Veja bem, eu fui lá ajudar o governo com um número enorme de brasileiros que apoiaram aquelas bandeiras. Agora, se o presidente se revelou uma pessoa incapaz de conduzi-las e se revelou, além de incapaz, uma pessoa insensível com vidas, 540 mil mortes me separam do Bolsonaro. É uma distância considerável, dá pra dar algumas voltas na Terra. Se Bolsonaro teve 57 milhões de votos e hoje tem 22%, tem 30 milhões de brasileiros como eu que não querem mais votar nele. É um contingente enorme do eleitorado, e vai vir mais agora. Ele tirou o Moro, o pessoal que votou nele por causa do combate à corrupção ficou magoado. Agora ele chega e fala “eu sou o centrão”. No começo falavam “se gritar centrão, não fica um, meu irmão”, o Heleno cantava esse sambinha. Ele pôs Ciro Nogueira na Casa Civil. Ele está cego e surdo, vivendo com esses radicais de Internet e falando para eles as mentiras que ele fala e administrando o Brasil pelo número de likes que ele tem ali dentro. Esses caras estão bancando essa brincadeira, mas ele vai diminuindo, vai diminuindo, vai diminuindo. Ele só diminuir e vai diminuir mais.
"Fui ajudar o governo com um número enorme de brasileiros que apoiaram aquelas bandeiras. Agora, o presidente se revelou uma pessoa incapaz de conduzi-las, e se revelou, além de incapaz, uma pessoa insensível com vidas, 540 mil mortes me separam do Bolsonaro"
OP – O senhor falou do Ciro Nogueira. O presidente está levando o PP e o centrão para a cozinha do governo. Como o senhor interpreta esse movimento? É para salvar, garantir a permanência até 2022? Já é eleitoral?
Mandetta – Acho que ainda está pagando proteção. Ele sabe dos problemas de rachadinha dentro da família dele, fez aquela intervenção dentro da PF, esse pessoal deve ter muita munição, sabe a fragilidade em que ele está, sabe que não mais maioria, sabe que daqui pra frente esse distanciamento vai ser cada vez maior, no Senado está com muita dificuldade de trânsito. Então ele faz esse movimento primeiro pra comprar esse apoio, pra colocarem um tubinho de oxigênio no nariz dele pra ver se ele chega vivo ali na frente. Agora, esse pessoal costuma ir até o cemitério, costuma jogar coroa de flores lá dentro, mas nunca vi eles descerem no túmulo pra se enterrar junto. Esse pessoal estava no governo da Dilma, eram ministros, saíram do cargo de ministros, votaram no impeachment e assumiram o cargo na segunda-feira com o Temer. Quer dizer, é um pessoal que não tem muita paixão por ninguém. Mas pode ser uma sinalização também de que ele esteja se filiando ao PP, a esse partido, porque vai ter um problema partidário. Acho que, se filiando, esses partidos vão se sentir na obrigação de garantir, porque vão fazer bancadas, muitos bolsonarianos vão votar no centrão, no PP. Esse capítulo de como vai ser o comportamento político desse centro ainda está muito cedo, muito cru ainda pra gente saber. Eles estão olhando hoje para qual o cargo que tem para amanhã de manhã; segunda, qual vai ser a diretoria da Caixa; quarta, como vai ser a Petrobras; sexta-feira o Banco do Brasil, o Ministério da Saúde, o Ministério da Educação. Eles estão alugando apoio ao Bolsonaro e estão reajustando o aluguel de manhã, de tarde e de noite, e ele está pagando.
OP – Antes de encerrar, ainda sobre a terceira via. O senhor mencionou Ciro Gomes duas vezes. Como avalia a possibilidade de candidatura dele? Ciro reuniria condições para aglutinar forças? O senhor pode falar também sobre a possível candidatura do senador Tasso Jereissati (PSDB). Como vê as duas figuras, ambas do Ceará?
Mandetta – Primeiro, acho eu que eles têm todas as qualidades para pleitear o cargo. Ciro já tem três campanhas anteriores, tem recall, tem experiência administrativa, se posiciona diferente dessa esquerda cleptocrática. Eu, particularmente, me dou muito bem com ele. O Tasso é uma referência para a minha geração inteira. Eu lhe confesso que, antes de me filiar ao Democratas em 2009, eu sabia que queria ser de oposição, não queria estar naquele barco de apoiadores. Então me restavam poucos partidos que faziam oposição. Eu fiquei entre o DEM e o PSDB. E a figura no PSDB que mais encantava para ir para o PSDB era o Tasso Jereissati. Tenho certeza de que, se ele soubesse disso na época, se eu conseguisse falar com ele para assinar minha ficha e ele falasse assino, eu teria ido para o PSDB. Gosto muito dele. Acho um cara extremamente pacificador, acho que seria uma espécie de Joe Biden para o nosso país. Agora, dentro PSDB, temos ainda Eduardo Leite, que é uma força jovem, governador do Rio Grande do Sul, muito atento às questões sociais, de reforma. Fez reformas importantes, melhorou a economia do Rio Grande do Sul. É um talento. E tem o Doria, com todos os seus senões e rejeições dentro do PSDB, mas é governador de um estado potente, que é São Paulo, teve méritos nessa condução da vacina. E o Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus, também um homem de posições sempre muito fortes. O PSDB resolva isso dentro do PSDB, respeitemos o tempo dos tucanos e deixem que eles resolvam lá. Lógico que eu ficaria extremamente feliz se fosse o Tasso o resultado das prévias, Eduardo Leite, enfim. A candidatura do Ciro é muito posta, muito colocada, já vem de três campanhas. Não imagino ele num caminho de... Hoje o que nos move muito é assim: você quer apoio? Tem que se predispor a dar apoio. Pra gente chegar ao final e construir quem tem a melhor chance de enfrentar isso. Acho que ele tem o tempo dele e, nesse tempo, vai manter sua candidatura. Correta, necessária, importante, um homem muito cheio de números, cheio de certezas, mas vai chegar uma hora em que ele, lá por abril, maio ou junho, imagino que vá fazer um balanço de quais são os melhores caminhos e o importante é que ele tem porta aberta pra dialogar com o DEM, comigo, e eu tenho porta aberta pra dialogar com ele para o melhor para o país. E estou aqui no Mato Grosso do Sul, que é um estado pequeno, periférico dentro dos colégios eleitorais brasileiros, e o MDB, que faz parte dessa tentativa de construção de via, começou a trabalhar o nome da Simone Tebet, que é aqui do meu estado. Os nomes foram nacionalizados.
OP – Programaticamente, o DEM estaria mais próximo do PSDB ou do PDT do Ciro?
Mandetta – A análise do Ciro, do ponto de vista da economia, precisa ser melhor calibrada. Eu li o livro dele, fiz um debate com ele uns 20 dias atrás. Essa coisa de quanto o Estado vai intervir, que parece que agora voltou com Biden e a China, essa cantilena intervencionista, cada vez que o Brasil teve círculos de depressão e a solução foi que o Estado vai intervir, vai ser a locomotiva, vai fazer tudo, pagamos preços extremamente amargos. Existe não um distanciamento (com o PDT), mas um ponto de diálogo franco sobre essa condução do Estado brasileiro. A gente pensa mais em concentrar em educação, saúde, coisas que estão na carta constitucional, e deixar a iniciativa privada, estimular, induzi-la para que ande com as próprias pernas em questões ligadas à capacidade do país de gerar emprego, renda etc. Nesse ponto o PSDB pensa mais próximo, tem mais afinidade com esse discurso. Mas, quando debato com ele, sempre no final da conversa a gente chega num ponto de equilíbrio. Quem tiver capacidade de dialogar e entender mais o balanço do navio é que vai conseguir aglutinar.
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