Logo O POVO+
O senhor das horas: Cariri tem único mestre de relojoaria de torre do Brasil
Reportagem Seriada

O senhor das horas: Cariri tem único mestre de relojoaria de torre do Brasil

Natural de Juazeiro do Norte, Geraldo Ramos tem mais de meio século de vida dedicada à arte de fazer relógios de torre
Episódio 26

O senhor das horas: Cariri tem único mestre de relojoaria de torre do Brasil

Natural de Juazeiro do Norte, Geraldo Ramos tem mais de meio século de vida dedicada à arte de fazer relógios de torre
Episódio 26
Tipo Notícia Por
 
 

A arte da relojoaria de torre no Brasil passa pelas mãos de um cearense que entende o movimento dos ponteiros como ninguém. Aos 83 anos, Geraldo Ramos Freire, de Juazeiro do Norte, orgulha-se de ser o único mestre brasileiro na fabricação de relógios, colunas e sinos de igreja. O reconhecimento veio em 2015, da Secretaria da Cultura do Ceará, após mais de cinco décadas de vida dedicada à relojoaria mecânica.

Nascido em 1938, ele deu os primeiros passos na profissão aos 12 anos, por incentivo do pai, um habilidoso ferreiro e fundidor, dono da oficina mais requisitada na terra do Padre Cícero à época. Após algum tempo no ofício, Ramos mudou de planos e de cidade ao se instalar Fortaleza, onde ingressou nos quadros da Força Aérea Brasileira (FAB) ao completar 18 anos. Àquela altura, a carreira militar era o objetivo de vida.

Mas, depois de três anos de Aeronáutica, ele retornou a Juazeiro do Norte no começo da década de 1960, após muita insistência da família. “Minha mãe não queria que eu fosse militar. Fez uma promessa para eu voltar. Vivia dizendo que eu ia morrer em uma guerra. Meu pai também tinha a mesma preocupação. O desejo deles era que eu voltasse logo”, contou Ramos.

Geraldo Ramos Freire ajustando engrenagem de relógio mecânico durante produção em sua oficina(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Geraldo Ramos Freire ajustando engrenagem de relógio mecânico durante produção em sua oficina

No regresso a Juazeiro, o ex-militar voltou a ajudar o pai na oficina mecânica da família. Após alguns meses aprimorando habilidades na fundição, foi convidado por padre Gino Moratelli a reativar a antiga fábrica de relógios mecânicos dos Salesianos, uma das primeiras do Brasil, fundada na década de 1930 pelo também relojoeiro Pelúsio Correia Macêdo, com o apoio do fundador da cidade e entusiasta da arte de relojoaria de torre, padre Cícero Romão Batista.

O sacerdote, inclusive, foi uma das inspirações de Ramos para aceitar o desafio de mergulhar num universo até então desconhecido por ele. "Eu não tinha nem ideia do que era um relógio de igreja. Foi uma coisa que chegou como um chamado, e eu acredito que foi um chamado do Padre Cícero." Com perspicácia, criatividade e uma generosa dose de talento, Geraldo Ramos não só descobriu a verdadeira vocação como também rompeu as fronteiras do Cariri e do Ceará ao produzir relógios de torre para igrejas em diversas cidades do Brasil.

 

"Foi uma coisa que chegou como um chamado, e eu acredito que foi um chamado do Padre Cícero." Geraldo Ramos

 

Em 58 anos de profissão, foram 60 produções, espalhadas por igrejas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Maranhão, Pará, Piauí, Alagoas, Sergipe e Ceará. O primeiro relógio, instalado em paróquia de Mossoró (RN), em 1963, resiste aos efeitos inevitáveis do tempo. O trabalho mais recente é de 2020. Convidado pela Prefeitura de Juazeiro do Norte, restaurou o tradicional relógio da coluna da hora da Praça Padre Cícero, fabricado por Pelúsio Macêdo, por volta de 1930, sob a supervisão do próprio "Padim".

Nesta entrevista, mestre Geraldo explica a relação entre o relógio juazeirense e o famoso e imponente Big Ben, de Londres. O artesão também revela o segredo por trás da complexa engrenagem do aparelho mecânico que, segundo ele, depende apenas do movimento da Terra e da atuação do peso sobre a gravidade para entrar em funcionamento.

 

 

O POVO - Como surgiu o interesse do senhor pela arte de fazer relógio?

Geraldo Ramos - Há muito tempo. Comecei no ofício aos 12 anos. Meu pai era ferreiro, trabalhava num torno mecânico da oficina de um português. Eu aprendi o básico nesse torninho. Não tinha nem ideia do que era um relógio de igreja. Foi uma coisa que chegou como um chamado, e eu acredito que foi um chamado do Padre Cícero. Mas, antes de me dedicar de vez à relojoaria, eu servi à Força Aérea Brasileira (FAB) de 1957 a 1960. Pense num período bom. Eu sempre quis ser militar, sonhava com aquilo. Mas a minha família não estava muito de acordo, se preocupava demais comigo. Minha mãe não queria que eu fosse militar. Fez até uma promessa para eu voltar. Vivia dizendo que eu ia morrer em uma guerra.

Geraldo Ramos Freire, terceiro da esquerda para a direita, com o pé direito apoiado num bloco de madeira, nos tempos de militar da FAB(Foto: arquivo pessoal)
Foto: arquivo pessoal Geraldo Ramos Freire, terceiro da esquerda para a direita, com o pé direito apoiado num bloco de madeira, nos tempos de militar da FAB

O POVO - Descobriu a vocação para a relojoaria de torre no retorno a Juazeiro?

Geraldo Ramos - Posso dizer que sim. Foi uma longa história. Tudo começou quando o padre Gino (Moratelli) foi à oficina do meu pai e pediu que eu fosse dar uma olhada nos equipamentos da oficina dos Salesianos, que já estava fechada há mais de dez anos. Ele queria que eu trabalhasse fazendo relógios, mas eu ainda não sabia por onde começar. Mesmo assim, fui.

Quando cheguei lá, fiz a revisão no maquinário e vi que tudo ainda estava em bom estado. Resolvi, então, aceitar o desafio. Fizemos um acordo de arrendamento. Eu não queria ser empregado, porque eu já trabalhava com meu pai, então não compensava. Uma coisa que me desanimou no começo é que, quando eu fui para a oficina, tinha um relógio-piloto, no qual eu iria me inspirar para fazer os outros. Poucos dias depois de eu começar, apareceu um padre de fora interessado nesse bendito relógio e terminou que padre Gino acabou vendendo pra ele. Eu fiquei sem nenhuma referência.

Naquele momento, era eu numa oficina com um monte de peças soltas e sem saber de quase nada. Daí eu comecei a olhar, fui pegando nas peças, vendo tamanho, espessura, peso, forma… Tentei de todas as formas imaginar como poderia transformar aquilo tudo num relógio. Acho que veio uma luz do Padre Cícero que me ajudou a aprender como fazer.

Devoto do Padre Cícero, mestre Geraldo mantém escultura do fundador de Juazeiro do Norte na entrada da oficina onde trabalha há mais de cinco décadas(Foto: Luciano Cesário)
Foto: Luciano Cesário Devoto do Padre Cícero, mestre Geraldo mantém escultura do fundador de Juazeiro do Norte na entrada da oficina onde trabalha há mais de cinco décadas

O POVO - Como conseguiu sair praticamente do zero para o primeiro relógio?

Geraldo Ramos - Como tinha o relógio da matriz, eu ia lá, olhava a estrutura, batia umas fotografias, e isso foi me ajudando. A primeira encomenda veio de um frade de Mossoró (RN). Eu prometi fazer a entrega em dois meses, antes da virada do ano, já pensando nas doze badaladas do Réveillon. Ele não acreditou, achou que era pouco tempo e pediu que eu desse uma declaração por escrito. No fim, acabou dizendo que nem precisava porque já tinha responsabilizado padre Gino pelo cumprimento do prazo.

O POVO - Os planos foram bem sucedidos?

Geraldo Ramos - Demais, tudo dentro do tempo. A instalação, eu lembro, foi em 1963. Até hoje funciona, lá na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

 

"Tentei de todas as formas imaginar como poderia transformar aquilo tudo num relógio. Acho que veio uma luz do Padre Cícero que me ajudou a aprender como fazer." Geraldo Ramos

 

O POVO - Em quem o senhor se inspirou para ingressar nesse ofício?

Geraldo Ramos - A inspiração veio pela mão do "Padim". Eu considerei isso como um chamamento dele, porque não era uma coisa que todo mundo sabia ou se interessava em fazer. Juazeiro só se tornou referência em relógio de igreja no Brasil por causa dele, que viu potencial em mestre Pelúsio e o incentivou a ingressar nesse ramo. Aliás, esse pioneirismo é na América Latina, porque na primeira metade do século XX, só se fabricava relógio de torre em Nova York, na Suíça e aqui.

O POVO - Como é o processo de fabricação de um relógio de torre, desde a concepção?

Geraldo Ramos - Bom, é mais ou menos assim: você tem um modelo de alumínio, pega a areia e molda naquela areia. Aí, quando ele seca, é só derreter o bronze a 1.600 graus Celsius e fazer o envase. Depois começa o processo de tornear, daí você vai fazendo os ajustes de cada peça, até a montagem final. É tudo 100% artesanal.

 

Entenda como é o funcionamento de um relógio mecânico de torre:

 

O POVO - O que difere um relógio de braço, eletrônico, de um relógio de torre, mecânico?

Geraldo Ramos - A diferença maior é a dimensão, claramente, mas também tem o processo de fabricação e a funcionalidade das peças. O eletrônico, o próprio nome já diz, é mais tecnológico e funciona com ajuda de bateria ou pilha. Nesse de igreja, não. O movimento dos ponteiros se dá em função do peso e da gravidade. Repare que, se a Terra fosse parada no espaço, nós não teríamos condições de ter esse tipo de relógio. Porque quando o ponteiro vem, é a força gravitacional da Terra. Quando volta, é a atuação do peso. Então, esse casamento faz com que ele funcione. Na minha opinião, toda faculdade deveria ter um relógio mecânico de igreja pra dar aula de física. Não tem objeto de estudo melhor.

O POVO - Além da hora, quais outras funções podem ser adicionadas ao relógio?

Geraldo Ramos - Ele também consegue marcar dias, meses e as fases da lua. E todas essas outras funções também são possíveis graças ao movimento do ponteiro. Porque automaticamente, à medida que o tempo vai passando, a hora vai mudando, depois o dia, o mês e assim por diante. O interessante é que tudo funciona tão devagar que você nem vê.

O POVO - Qual o tempo médio de fabricação?

Geraldo Ramos - De 60 a 90 dias, trabalhando todo dia, dá para fazer um, tranquilo.

 

"O que está em Mossoró [é o mais importante]. Gravei no relógio uma frase em homenagem a Padre Cícero: "Padre Cícero, o patriarca da fabricação de relógio em Juazeiro do Norte." Me orgulho até hoje de ter registrado isso." Geraldo Ramos

 

O POVO - Por que os relógios mecânicos não têm prazo de validade?

Geraldo Ramos - Lá na Europa tem deles funcionando desde antes da descoberta do Brasil, em 1300, mais ou menos. A duração maior é justamente porque o que faz ele funcionar é o próprio movimento da Terra. Como as peças são muito resistentes, só precisa fazer manutenção de tempos em tempos, que eles duram até sabe Deus quando. Outra coisa é que eles funcionam tão devagar que não têm possibilidade de se desgastar. A engrenagem, que é de aço, por exemplo, pode durar centenas e centenas de anos.

O POVO - Tem ideia de quantos relógios mecânicos o senhor já produziu?

Geraldo Ramos - Sessenta. Anoto um por um. A conta é fechada.

O POVO - Tem algum desses que o senhor considera mais importante?

Geraldo Ramos - O que está em Mossoró. Foi o primeiro que eu fiz e ainda hoje funciona lá direitinho. Para mim, esse é especial também porque gravei no relógio uma frase em homenagem a Padre Cícero: "Padre Cícero, o patriarca da fabricação de relógio em Juazeiro do Norte." Me orgulho até hoje de ter registrado isso.

Habilidoso, mestre Geraldo lida com facilidade com os equipamentos da oficina, afirmando nunca ter sofrido um acidente de trabalho(Foto: Luciano Cesário)
Foto: Luciano Cesário Habilidoso, mestre Geraldo lida com facilidade com os equipamentos da oficina, afirmando nunca ter sofrido um acidente de trabalho

O POVO - O senhor foi responsável pela restauração do relógio da coluna da hora, da Praça Padre Cícero, e me disse há pouco que esse relógio tem uma relação curiosa com o Big Ben, de Londres. Que relação é essa?

Geraldo Ramos - Ele é uma imitação do Big Ben, apesar de o de lá ser bem maior. Tirando isso, a única diferença entre eles é que o Big Ben é cuidado 24 horas por um engenheiro mecânico e dois técnicos, e qualquer coisinha que acontece com ele [o relógio], o parlamento inglês cai em cima. Aqui, o parlamento de Juazeiro não quer nem saber do nosso [risos].

O POVO - Qual foi o preço do relógio mais caro que o senhor já fabricou?

Geraldo Ramos - 750 mil cruzeiros. Foi justamente o primeiro que fiz. Na época, era muito dinheiro. A preço de hoje, seria uns R$ 120 mil.

O POVO - E qual foi o lugar mais distante para onde já enviou um relógio produzido aqui na sua oficina?

Geraldo Ramos - Do que eu me lembre, foi para Cardoso Moreira, no Rio de Janeiro. Antigamente era uma vila, mas hoje é uma cidade. Também fiz alguns para igrejas de Brasília e de Minas Gerais.


 

O POVO - Como essa procura de tão longe chega até o senhor?

Geraldo Ramos - Contatos, né? Teve um que vendi para Minas Gerais, por exemplo, que foi por meio de um amigo meu que era caminhoneiro, o Siri. Numa parada dele por lá, ele ouviu um padre conversando com uma pessoa dizendo que estava querendo comprar um relógio em São Paulo. Aí ele foi e disse: "Ei, lá na minha cidade faz relógio, em Juazeiro do Norte." Teve uma outra situação, no Rio de Janeiro, que ainda hoje lembro. Tinha um gaiatinho lá que começou a conversar besteira, e perguntou: "Esse relógio veio de onde?" Eu disse: "Do Ceará." Então ele perguntou: "De Fortaleza?" Eu disse: "Não, de Juazeiro." O cara ficou: "Juazeiro, Juazeiro, Juazeiro? Não conheço." Depois eu fui e disse: "Olha como vocês aqui são burros, porque todo menino amarelo de lá onde eu moro sabe onde fica o Rio de Janeiro" [risos].

O POVO - Os relógios produzidos pelo senhor foram instalados somente em igrejas?

Geraldo Ramos - Igreja e coluna da hora. Mas posso fazer para qualquer lugar. Onde o cara quiser, eu faço a instalação.

O POVO - O senhor tem ensinado essa arte para seus descendentes?

Geraldo Ramos - Tô começando a ensinar para o mais velho e para esse daí [aponta para Marcos Freire, seu filho]. É importante porque pelo menos se você vender um relógio desse daí, dá pro cara comprar umas "cocadinhas" pra comer [risos].

Marcus Freire, filho de Geraldo Ramos, aprende com o pai os segredos por trás do funcionamento de um relógio de torre(Foto: Luciano Cesário)
Foto: Luciano Cesário Marcus Freire, filho de Geraldo Ramos, aprende com o pai os segredos por trás do funcionamento de um relógio de torre

O POVO - O avanço da tecnologia impacta, de alguma forma, na utilidade e no papel simbólico dos relógios mecânicos?

Geraldo Ramos - Não. Porque esse relógio trabalha sobre a lei da gravidade, e isso nunca vai mudar, passe o tempo que passar. Além do mais, o papel simbólico dele nas igrejas é insubstituível. Ele é um regulador do tempo e um despertador para as pessoas atentas. Ajuda a situar. A badalada é forte, dá pra ouvir num raio grande. Nenhum relógio desses mais modernos faz isso. 

O POVO - O que a arte de fazer relógio já proporcionou de mais importante ao senhor?

Geraldo Ramos - Dinheiro, sou muito sincero. Quando você vende um relógio daquele, aí você pega o dinheiro e vai comprar um bem, uma coisa ou outra, um maquinário para melhorar a oficina… Sem contar que é o sustento da família. Há outras coisas importantes também, claro. Viajar por muitas cidades é uma delas.

 

"Muitas vezes esse reconhecimento vem mais de fora do que das pessoas e das autoridades daqui." Geraldo Ramos

 

O POVO - Depois de mais de meio século dedicado a essa arte, se sente devidamente reconhecido pelo seu trabalho?

Geraldo Ramos - Eu penso que sim. Na vida, quem não é o maior tem de ser o melhor. Talvez foi o Padre Cícero que tenha os influenciado [Ministério da Cultura] a me dar esse reconhecimento. Isso, de certa forma, me fez sentir que escolhi fazer a coisa certa na vida. Mas tem uma coisa: muitas vezes esse reconhecimento vem mais de fora do que das pessoas e das autoridades daqui.

O POVO - Além de relógios, o senhor também fabrica sinos de igreja. Como desenvolveu essa outra habilidade?

Geraldo Ramos - Eu aprendi de espertalhão. Como meu pai era ferreiro e eu tinha um manual de fundição, eu fui ver como era que fazia. Peguei alguns ensinamentos com um cara que trabalhava com bronze, e me coloquei a fazer. Eu posso dizer que aprendi no sopapo. Fiz o primeiro em 1964, tá instalado em Araripe até hoje.

Geraldo Ramos Freire posa pra foto ao lado de sino de igreja produzido na sua oficina, em Juazeiro do Norte(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Geraldo Ramos Freire posa pra foto ao lado de sino de igreja produzido na sua oficina, em Juazeiro do Norte

O POVO - Quanto custa um relógio produzido pelo senhor nos dias de hoje?

Geraldo Ramos - Sai na faixa de R$ 120 mil, mas depende do tamanho, do formato, do material utilizado. Quem me escuta falando assim, pensa que sou milionário, mas o custo de produção é muito alto. A matéria-prima é cara.

O POVO - O senhor falou que os relógios de torre costumam durar anos a fio. Mas como é o processo de conservação?

Geraldo Ramos - Ele é bem durável, mas tem de ter os dois M-M: Manuseio e Manutenção. O manuseio é você ir lá de oito em oito dias e dar uma olhada, dar uma lubrificada, uma espanadazinha. E a manutenção é ver como a engrenagem e as outras peças estão se comportando, e regular se for preciso. Hoje, infelizmente, está faltando isso nos relógios de Juazeiro. Quase todos estão abandonados.


 

Eternizar o legado

Sexto dos sete filhos de Geraldo Ramos, Marcus Aurélio Freire, 36 anos, acompanhou atentamente a entrevista do pai às Páginas Azuis do O POVO, na oficina do mestre localizada em frente à linha férrea, na Avenida Carlos Cruz, no centro de Juazeiro do Norte. No fim do encontro, Marcus revelou um projeto ainda embrionário, mas que deve sair do papel nos próximos meses, como forma de homenagem ao legado do seu pai à arte de relojoaria de torre em Juazeiro do Norte. Ele e os seus seis irmãos planejam fazer um museu vivo para eternizar o trabalho e difundir a história de vida do mestre Geraldo.

“A gente sempre se preocupou com a ideia de mostrar como a trajetória do meu pai é uma peça importante tanto na história de Juazeiro, do Cariri, do Ceará como do Brasil. E com esse reconhecimento dele como mestre, pelo Ministério da Cultura e também pela Secretaria da Cultura do Ceará, eu senti ainda mais essa necessidade de mostrar todo esse valor histórico, porque ele [Geraldo Ramos] mesmo às vezes ficava triste por não ser valorizado”, conta Marcus, acrescentando ainda que o projeto também inclui a produção de um livro documentário, que irá retratar bastidores por trás da produção dos relógios produzidos por Ramos.

 

O que você achou desse conteúdo?