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Priscila Boy: "A Educação está em transformação e precisamos nos preparar"
Reportagem Seriada

Priscila Boy: "A Educação está em transformação e precisamos nos preparar"

Priscila Boy é pedagoga e especialista em dois pontos fundamentais sobre a educação brasileira nos tempos atuais: Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dispositivo que norteia a educação básica; e reforma do ensino médio, uma decisão política que muda os rumos do mercado de trabalho

Priscila Boy: "A Educação está em transformação e precisamos nos preparar"

Priscila Boy é pedagoga e especialista em dois pontos fundamentais sobre a educação brasileira nos tempos atuais: Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dispositivo que norteia a educação básica; e reforma do ensino médio, uma decisão política que muda os rumos do mercado de trabalho
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O mundo está em transformação e tem como uma das principais locomotivas de mudança a tecnologia digital e as demandas a ela atreladas. Todos os segmentos da sociedade já refletem o que a Internet, as redes sociais e, mais recentemente, a inteligência artificial (IA) proporcionam. Saúde, entretenimento, economia, segurança. Na educação não será diferente. Na verdade, já está sendo. É nesta perspectiva de futuro construído no presente, e num passado sob necessidade de ser ressignificado que Priscila Boy, palestrante e pedagoga, escreve seu mais recente livro — poucas páginas de orientações certeiras.

Priscila Boy Pedagoga, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior(Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo Priscila Boy Pedagoga, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior

Foi com muita propriedade e certeza que ela conversou com O POVO durante a sessão de autógrafos da obra "Uma Escola em Transformação" no lounge da Fundação Demócrito Rocha (FDR) na XX Semana de Educação, que aconteceu no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. A educadora atualmente oferece cursos específicos para professores e gestores sobre duas temáticas que incidem em toda a educação básica brasileira: a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o Novo Ensino Médio (NEM).

As transformações destacadas por Priscila não são mais sobre não mais usar a lousa e giz e adaptar para a digital. Ela defende que a Educação precisa ser pensada a longo prazo, sem disputas políticas e com foco no mercado de trabalho, na inteligência artificial e todas as suas possibilidades inevitáveis, mas também transformadoras.

 

 

O POVO - O seu mais novo livro se chama “Uma Escola em Transformação”. O que precisa ser transformado?

Priscila Boy - É um livro que já está dentro da perspectiva do século novo, que é o “microlearning”. Hoje não se vende livros grossos, de 500 páginas, e nem cursos de 10 aulas de uma hora cada, são vídeos de 15 minutos. O livro é uma síntese, um resumo do que a escola precisa transformar.

A gente começa falando de mudar o currículo em função da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No segundo capítulo, mostramos que é preciso mudar o planejamento, quando trazemos o planejamento reverso, uma ferramenta pautada por três pilares. A primeira é a identificação de onde eu quero chegar e isso a gente tira da BNCC, que são as habilidades mandatórias (compulsório, regulado por lei). No segundo momento, a gente planeja e depois busca as evidências.

É trabalhar o seguinte: o menino tem direito a aprender. Quais são as evidências que ele precisa me mostrar de que ele aprendeu? Eu posso dizer que a evidência que ele vai produzir é um texto autoral, ou um portfólio de fotos…

E aí, se muda planejamento, preciso mudar a avaliação. A BNCC trouxe as competências socioemocionais, que não são tangíveis com avaliações quantitativas. Eu não tenho como medir solidariedade numa prova, mas tenho como elaborar rubricas de avaliação.

OP - É como se o planejamento começasse já olhando para os resultados

Priscila - Por isso se chama reverso, porque eu começo do fim. Ao invés de chegar lá no final e fazer avaliação, eu já planejo que evidências eu vou coletar. Uma vez que eu tenho essa clareza, aí sim vou planejar as experiências de aprendizagem.

E a gente hoje desfoca de planejar atividades. Experiências a gente trabalha com todos os sentidos. Então, quando eu promovo experiência, eu tenho que trabalhar a visão, audição, tato, criatividade, relacionamento.

Ao invés de fazer uma atividade de 2+2 = 4, ou desenhar uma mesa para o menino marcar um X e saber o que está em cima, eu pego uma mesa e peço para essa criança escolher a fruta que gosta. Isso é identidade. Peço pra ele escolher a fruta preferida e colocar em cima da mesa, então ele vai ter a experiência de tomar uma decisão. A mesa está aqui na minha frente, onde que é em cima, onde que é embaixo? Onde é a cadeira? Essas experiências que envolvem sentidos, texturas, cores e cheiros, formas, estão no planejamento reverso.

E aí, se muda planejamento, preciso mudar a avaliação. A BNCC trouxe as competências socioemocionais, que não são tangíveis com avaliações quantitativas. Eu não tenho como medir solidariedade numa prova, mas tenho como elaborar rubricas de avaliação.

OP - O que são essas rubricas?

Priscila - São elementos que eu construo, com dimensões e indicadores que eu vou aferir. Se eu quero trabalhar a solidariedade, que a criança se preocupe mais com os colegas, eu vou graduar as rubricas que eu vou elaborar. Por exemplo: diante de uma situação problema de divisão de uma cesta das frutas que eu ia picar, eu percebi que esse menino, no primeiro momento, pegava as frutas só para ele.

No segundo momento, quando a gente foi trabalhando a importância das partilhas, de que todo mundo tem direito de comer as frutas, de que tem mais gente que gosta de maçã na sala, embora tenha menos maçãs, ele já partilhou com o outro. Ou seja, eu tenho ali uma evidência de que ele realmente está solidário.

Priscila Boy, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior: é precisa mudar a forma de avaliar o que os alunos aprenderam(Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo Priscila Boy, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior: é precisa mudar a forma de avaliar o que os alunos aprenderam

OP - São aqueles indicadores de “Habilidade Em Desenvolvimento”, “Habilidade Não Desenvolvida” e “Em Desenvolvimento, que se vê muito na educação infantil?

Priscila - Poderia ser, mas a gente costuma fazer uma uma gradação mais palatável. Por exemplo: “Eu gostei”; “Ainda não”, “Ai, que joia”... e a gente vai criando e fazendo um pareamento com uma nota. A rubrica é uma ferramenta que nos ajuda a organizar os dados. Aí eu digo assim: se ele distribuiu a maçã e pegou tudo para ele, então na atividade que valia quatro, ele tirou um. Se ele já dividiu uma maçã com o colega, vai tirar dois. Se ele dividiu com mais pessoas e a proposta era essa, então a nota será quatro. Vou vinculando os indicadores a dados, que podem ser notas ou não.

OP - O último capítulo do livro fala sobre Inteligência Artificial (IA), um tema muito importante, mas ainda pouco explorado dentro das escolas…

Priscila - A inteligência artificial chegou e mudou totalmente as relações de trabalho e de oferta (de emprego). A gente tem hoje a inteligência artificial automatizando algumas ocupações e isso vai gerar desemprego, que poderá gerar um caos social.

Temos de trazer para a escola um trabalho numa dimensão humana, precisaremos regular o uso, trabalhar a solidariedade, partilha, divisão. Há localidades onde as pessoas vão perder os empregos e não vão saber fazer nada.

A inteligência artificial vai nos ajudar a entender e personalizar. Há hoje pesquisas para saber como o aluno aprende. A íris do olho dele olha para onde, para o quadro? Olha para o professor, para o livro? Eles percebem o que atrai mais o aluno, considerando a diversidade dos alunos, em relação à aprendizagem.

A gente consegue hoje, com biotecnologia e inteligência artificial, monitorar a temperatura do corpo. Se com aquele conteúdo, o menino fica mais nervoso, mais confortável, mais alegre. Tem muita oportunidade que a gente pode se valer para otimizar os processos.

OP - É usar uma nova tecnologia para ter uma referência mais individualizada do aluno e, portanto, também mais humanizada?

Priscila - Esse advento da tecnologia, que promoveu globalização, possibilitou relacionamentos com o mundo inteiro, o que era difícil. Acontecia uma tragédia na China, até você mandar uma equipe de televisão para lá, eram três ou quatro dias para saber o que aconteceu.

Nós assistimos às Torres Gêmeas sendo atacadas ao vivo (em ataque terrorista em Nova York, em 11 de setembro de 2001). Precisamos entender que a tecnologia também muda as relações entre as pessoas. Hoje eu me relaciono com pessoas do mundo inteiro, com culturas, valores e padrões diferentes. Isso vai exigir de mim também saber me relacionar.

Há empresas que estão no mundo inteiro, que fazem um call (ligação) de madrugada, porque está na China. E isso vai fazer você mudar sua rotina de sono, tem uma série de implicações. Não é só “a tecnologia chegou”. Mas ela chegou e vai mudar os relacionamentos, a saúde. Se você fica o dia inteiro na rede social, isso vai mudar o seu perfil comportamental.

Outra questão é a informação sintetizada, as pílulas, isso está mexendo com a forma do cérebro de aprender. O aluno hoje não consegue focar 50 minutos em você, ele não fica (focado). Ele pergunta uma coisa e quer a resposta na hora, se você passar 20 a 30 minutos, ele muda de assunto

OP - Como essas transformações chegam ao chão da sala de aula?

Priscila - A primeira coisa que chega é um aluno diferente. O aluno está no TikTok (rede social chinesa voltada a vídeos, com presença maciça de jovens), que foi construído com consultoria de antropólogos, filósofos e neurocientistas. O TikTok te prende. Era um minuto e agora passou para três (de limite de tempo nos vídeos). Em um minuto não dá tempo de você cansar, em um minuto também não dá tempo de se saciar com a informação inteira, então você fica rolando para o próximo, e próximo… e com essa diversidade de tema, muita coisa interessante, a pessoa fala ‘gente eu não posso sair do TikTok, porque eu preciso estar a par das coisas’. Ele prende você.

Outra questão é a informação sintetizada, as pílulas, isso está mexendo com a forma do cérebro de aprender. O aluno hoje não consegue focar 50 minutos em você, ele não fica (focado). Ele pergunta uma coisa e quer a resposta na hora, se você passar 20 a 30 minutos, ele muda de assunto, porque ele está sendo formatado assim na rede social. O aluno hoje não tem aquela paciência que tínhamos. Esse é um ponto.

Em segundo lugar são os conteúdos que esse aluno consome nas redes sociais, as trends, um linguajar próprio que o professor não domina. Professor está lá na frente falando um linguajar que o aluno não entende. Os jovens estão participando de trends de linguagens mesmo, estamos tendo modelagem de linguagens.

O meme, por exemplo, é extremamente sofisticado. Para você entender um meme, precisa ter todo um contexto. Você não sabe quem é a Luísa Sonza (cantora), que foi traída pelo Chico (Veiga, mais conhecido como Moedas, influenciador), e a internet só fala disso. Você coloca alguma coisa de traição aparece a Luísa com o Whindersson Nunes (comediante, ex-namorado de Luísa), com moedas aparecendo (o Chico investia em bitcoins). Para entender um meme sobre o assunto, teria de saber disso tudo.

OP - Por isso a capacitação de professores é o grande ponto, né? A realidade ensino/aprendizagem já mudou e estamos atrasados?

Priscila - A gente precisa de formação constante e percebemos que não é só uma vez. A pessoa vem para um evento como esse (XX Seminário de Educação), ok, ela veio. Mas é apenas um start (início) para ela buscar um aprofundamento. Mas é preciso fazermos esses eventos assim para despertar uma mudança de mentalidade. A gente muda é com mudança de mentalidade.

OP - Você falou sobre a importância dos dados. O Ceará regula muito bem seus dados, sendo destaque em alguns índices de proficiência. Como essas transformações impactarão nessas análises, que hoje são decisivas para obtenção de recursos, por exemplo?

Priscila - A gente tem as novas tecnologias, a inteligência artificial, as novas formas de planejar, por meio de experiências, tudo com um foco, tudo na escola tem uma intenção educativa. No meio empresarial, o "core business" (ramo de atividade básica) da escola é aprendizagem. Então quando eu mudo planejamento, mudo as atividades, mudo como objetivo: esse aluno tem que aprender mais.

E se ele aprender mais, vai alimentar esses índices de proficiência, porque nada mais são do que uma aferição, um espelho, de que aquele investimento que eu estou fazendo na escola — e é muito dinheiro que se investe em educação — está voltando em forma de aprendizagem. Se sim, ok, valendo a pena. Se não está voltando, eu tenho que fazer alguma coisa.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 21-09-2023: foto: Priscila Boy Pedagoga, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior; MBA executivo internacional em marketing (FGV). (Foto: Yuri Allen/Especial para  O Povo)(Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 21-09-2023: foto: Priscila Boy Pedagoga, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior; MBA executivo internacional em marketing (FGV). (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)

OP - Faz parte do pensamento contemporâneo de empreender, em que se troca mais facilmente de estratégia caso o resultado não seja atingido?

Priscila - Eu não vejo todos os professores dispostos a tentar novas estratégias. Vejo alguns desdenhando das novas estratégias. “Ah, isso é moda” ou “Ah, já passei por isso” ou “Vou me aposentar”. Eu vejo muita resistência diante do novo, mas porque alguns não sabem como fazer e pensam “não sei fazer, vou continuar fazendo do mesmo jeito, tá dando certo”.

O professor pode pensar “eu tô dando minha aula, o aluno pode não estar tirando 10, aprendendo tudo, mas está aprendendo um pouco, os meninos estão aí lendo”. Não estamos afirmando que é preciso jogar tudo o que o professor está dizendo fora, mas a gente tem hoje condições de fazer melhor, então precisamos melhorar.

OP - Quando falamos em tecnologia e os malefícios do uso irrestrito de telas, a educação infantil talvez seja a mais afetada. E nos países mais ricos, crianças na primeira infância são foco de políticas públicas educacionais. Há um direcionamento específico para a faixa etária?

Priscila - Não é recomendado tela para crianças abaixo de dois anos, mas tecnologia não é só a digital. A gente pode fazer, por exemplo, algumas coisas com sucatas, blocos, papelão, texturas, folhas secas. São tecnologias que vão proporcionar o desenvolvimento da criatividade e da autonomia. A gente precisa trabalhar na infância as experiências dos sentidos: textura, cheiro, paladar.

Adulto tem clareza de muitas coisas. Quando você escuta o som de uma buzina, identifica o que é, quando você pega numa coisa áspera, também. O aluno pequeno ainda não está com esses sentidos desenvolvidos, então é preciso investir nas experiências, e a BNCC do infantil fala isso, das experiências de aprendizagem.

OP - Uma base, como a BNCC, existe em todos os países?

Priscila - Há bases nacionais em vários países. Nos Estados Unidos tem o “Common Core” (base comum, em tradução livre), tem na Austrália, na Europa. Claro que a gente tem espectros diferentes. Na França, por exemplo, há um direcionamento mais para competência e não foco em habilidades. No Brasil, eles resolveram focar em habilidades, porque é o “saber fazer”, algo monitorável. Já competência é a mobilização de vários recursos.

Você não mede competência, mas habilidades é possível monitorar. Habilidade de leitura é possível monitorar, mas o aluno ser um leitor crítico e reflexivo e produtor, isso é muito amplo.

Alguns países trabalham com matriz de grandes competências, como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que é uma avaliação internacional que trabalha habilidade de forma específica, mas dentro de uma grande competência.

OP - E essa é uma das diferenças com as avaliações feitas no Brasil, que avalia as habilidades?

Priscila - Existe uma matriz. A matriz do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) é feita de habilidades que vieram da BNCC, foi inspiração. Refizeram a matriz de referência agora com habilidades, que são coisas monitoráveis, são descritores de desempenho. Isso mostra que temos um foco no conteúdo.

OP - Quais as principais diferenças entre Pisa e Saeb, do ponto de vista qualitativo?

Priscila - Eu não tenho uma profundidade de conhecimento sobre o Pisa, mas como ele é mundial, precisa dialogar com o universo global. Então vai avaliar a competência que você pode aferir em qualquer cultura, estado, país e lugar. O Saeb já pode dialogar mais com localidade, então vai fazer um mapeamento de coisas estruturantes e fundantes e pode carregar um pouquinho na regionalidade.

Em outras línguas, quando você fala de construção de texto, de artigo, de verbo, a gente sabe que a língua portuguesa, por exemplo, tem algumas coisas que na língua inglesa não tem. É muito complicado fazer uma matriz mundial, então o Pisa trabalha com grandes competências para atender esse universo mais global.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 21-09-2023: foto: Priscila Boy Pedagoga, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior; MBA executivo internacional em marketing (FGV). (Foto: Yuri Allen/Especial para  O Povo)(Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL 21-09-2023: foto: Priscila Boy Pedagoga, pós-graduada em Antropologia Filosófica e docência do ensino superior; MBA executivo internacional em marketing (FGV). (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)

OP - Você já escreveu um livro e oferece um curso sobre o Novo Ensino Médio, que foi confirmado para 2024. Qual sua opinião sobre esse passo da Educação que tem tido tanta polêmica?

Priscila - O Novo Ensino Médio foi uma mudança necessária, em função da evasão (escolar), da não permanência e do desinteresse que faz o jovem sair da escola. Infelizmente, foi pautado por disputas políticas. Começou a ser escrito em um governo, veio outro governo, depois a transição do governo da Dilma (Rousseff), aí o (Michel) Temer assina, aí o Bolsonaro vem e não acredita no ensino médio como era, e fica no silêncio. Agora o Lula vem e as pessoas ponderam que ele não vai deixar o Temer assinar a reforma que começou a ser construída no governo do PT. Então a disputa a todo momento, infelizmente, é política, é sobre quem assina.

As pessoas não estão preocupadas de verdade. Qual foi a proposta do governo atual, que matriz foi apresentada? Mudaram a formação geral básica, que era de 1.800 horas e ampliou para 2.400 horas. Ou seja, mais coisa coletiva, como era. O ensino médio era todo coletivo.

Aí a gente tem os itinerários (formativos), que vão ser avaliados no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), mas não temos uma matriz. Não se debruçaram para construir uma matriz de referência para algo que vai ser avaliado. O itinerário tem algumas habilidades de cruzamentos, eixos estruturantes, mas você não tem uma matriz na sua mão, dizendo que isso aqui será avaliado no Enem. Não tem.

O Governo (Federal) deveria construir essa matriz de referência para o itinerário, regular, dizer o que é eletiva, quais as habilidades que a eletiva tem. Ou seja, caminharam muito pouco ainda.

A sensação que passa é que o debate é só sobre quem assina. Daqui a 50 anos, quem fez uma grande mudança no ensino médio no Brasil? Quem assinou? Porque a memória vai se perdendo ao longo do tempo, então eles fazem questão. Não estou criticando o governo Lula, nem o Temer, nem o Bolsonaro, que queria uma escola militar. Ele queria um modelo de ensino médio diferente.

Cada pessoa que entra, ao invés de ter um foco e uma política de estado, fica com uma política de governo. Muda o governo, eles querem mudar tudo. Isso é muito danoso para a Educação, que não funciona a médio prazo. Educação é longo prazo.

OP - O ensino técnico, dentro do Novo Ensino Médio, é uma das questões mais polêmicas e com diferentes análises. O que você acha dessa estrutura?

Priscila - A rede pública tem um aluno que, em sua maioria, é de condição socioeconômica baixa e precisa entrar no mundo do trabalho, que hoje já não exige tanta graduação. Se esse menino tiver uma qualificação, tem mais chance de estar empregado. E é mais fácil você montar um curso técnico.

Mas o que está acontecendo na rede pública é que não estão deixando ele escolher, estão montando só ensino técnico no itinerário, o aluno tem que fazer aquilo. Está muito nebuloso ainda esse Novo Ensino Médio, precisamos esperar a publicação oficial, clarear mais o que o Governo está propondo, para a gente poder tecer comentários mais concretos.

 

 

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