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Janete Vaz: 40 anos de legado no empreendedorismo feminino
Reportagem Seriada

Janete Vaz: 40 anos de legado no empreendedorismo feminino

Cofundadora e membro do conselho de administração do Grupo Sabin, a empresária relembra trajetória profissional e pioneirismo na liderança feminina

Janete Vaz: 40 anos de legado no empreendedorismo feminino

Cofundadora e membro do conselho de administração do Grupo Sabin, a empresária relembra trajetória profissional e pioneirismo na liderança feminina
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As paisagens naturais de uma fazenda no interior de Goiás, próxima à cidade de Anápolis, compuseram o cenário dos primeiros anos de vida de uma das maiores empreendedoras do Brasil: Janete Vaz. A executiva, de 69 anos, é cofundadora e membro do conselho de administração do Grupo Sabin, grande empresa da medicina diagnóstica nacional, que registrou um faturamento de R$ 1,6 bilhão somente no ano passado.

Reconhecida pelo seu pioneirismo e liderança feminina no universo corporativo, a bioquímica e sua sócia Sandra Soares Costa construíram, desde 1984, um império de 350 laboratórios — distribuídos em 78 cidades, 15 estados e Distrito Federal —, com 6,5 milhões de pessoas atendidas por ano e 7.000 funcionários. O diferencial é que 77% da equipe de trabalho é composta por mulheres.

Os cargos de comando têm, também, 74% de ocupação feminina entre as diversas áreas da instituição. Análises clínicas, diagnósticos por imagem, anatomia patológica, genômica, imunização, check-up executivo e serviços de atenção primária integram o portfólio de serviços do Grupo Sabin, que também já investiu mais de R$ 57 milhões em iniciativas de impacto social, as quais beneficiaram 1,2 milhão de pessoas.

Em entrevista ao O POVO, a empresária destacou a inspiração de seus pais tanto na trajetória social quanto profissional. Com os olhos marejados de emoção, Janete Vaz relembrou partes de sua vida e de seu negócio. As atitudes ágeis daquela forte e sensível mulher inspiraram o último encontro do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) no Ceará, no dia 24 de janeiro.

 

 

O POVO - O que traz da sua origem em Anápolis para os negócios?

Janete Vaz - Eu nasci em uma fazenda no interior de Goiás, próximo de Anápolis, onde mudamos quando eu tinha 10 anos de idade. Literalmente, estudei na fazenda e só depois mudei para a cidade. Minha mãe foi muito importante nisso, porque ela deixou a parentela dela e mudou para a cidade por causa de mim, por causa dos meus estudos.

Minha referência é meu pai. Ele era um fazendeiro, com segundo ano primário, mas o papai era uma pessoa com conhecimento autodidata mesmo. Ele não teve uma Fundação Dom Cabral ou uma Getulio Vargas, mas soube pegar um negócio e construir o próprio negócio.

O pai dele faleceu quando ele tinha dois anos de idade. Aos 17 anos, ele se casou com a minha mãe. Então, eram dois meninos, e meu pai construiu um negócio. Quando ele faleceu, infartou aos 50 e faleceu aos 63 anos, deixou bens para todos nós, e temos muito reconhecimento pelo que ele fez.

A minha mãe foi a grande parceira do meu pai ao longo da jornada, ela tinha o jeito dela de ensinar, de orientar. Mamãe, hoje, está com Alzheimer, tem 91 anos. Ela foi muito influente para mim na parte do cuidado. Eu digo que o DNA do Instituto Sabin vem deste lado da minha mãe de cuidar de todo mundo.

Ela era a mais velha de oito irmãos e ela que criou os irmãos, então tem esse jeito de cuidar de todo mundo. Depois disso, eu a via cuidar das pessoas da fazenda. Olhar em todas as direções. Eu fiz isso naturalmente, eu vivi isso ao longo da minha vida.

O Instituto Sabin é um exemplo disso, em parceria com várias outras organizações. Ele participa desse ecossistema da saúde de um modo geral, sem deixar a parte da filantropia, do social e da pesquisa, que também é muito forte.

Mas ele nasceu ali mesmo, cuidando de todo mundo e olhando para todas as direções, para todos que precisavam, para dentro de casa. Quais as necessidades dos colaboradores. O Instituto abraça tudo isso.

Ele trabalha com um segmento de mercado que por si só já é social. A saúde é uma causa social. O nosso negócio já é um objetivo social, que é cuidar do bem mais precioso das pessoas, que é saúde.

Uma vez a minha sócia trouxe do laboratório Hermes Pardini, de Belo Horizonte, um folder que havia sete endereços. Eu falei: um dia nós seremos desse tamanho também. Quer dizer, essa visão de crescimento talvez tenha vindo observando outros laboratórios que já tinham começado.

OP - Quando percebeu que o Grupo Sabin deu certo?

Janete - Eu me formei (em farmácia-bioquímica) e já achei que poderia ter meu negócio. O espírito empreendedor veio desde o início, mas percebi que um diploma na mão não era suficiente, precisava de mais conhecimento. Em Brasília, comecei em um laboratório, onde conheci minha sócia, a Sandra, em 1980.

Em 1984, nós abrimos o laboratório com três colaboradores, quando eu tinha 29 anos. Foi uma oportunidade, tinha alguém vendendo equipamentos de um laboratório completo e nós começamos. Entramos com garra e ousadia, querendo fazer dar certo.

Uma vez a minha sócia trouxe do laboratório Hermes Pardini, de Belo Horizonte, um folder que havia sete endereços. Eu falei: um dia nós seremos desse tamanho também. Quer dizer, essa visão de crescimento talvez tenha vindo observando outros laboratórios que já tinham começado. Com dois anos de abertura, nós entramos na nossa primeira expansão, que foi dentro de um hospital. Nós montamos um laboratório dentro de um hospital.

A nona unidade já foi em uma grande sede própria, que foi um destaque por ser dentro de um shopping. O Sabin já estava com 15 anos, foi em 1999. Ali foi quando a gente viu que o nosso negócio deu certo, porque foi um destaque. A arquiteta foi muito feliz por trazer cores laranja e azul na decoração. Saímos na Revista Cláudia.

A empresária destacou a inspiração de seus pais tanto na trajetória social quanto profissional.(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA A empresária destacou a inspiração de seus pais tanto na trajetória social quanto profissional.

Nós chamamos atenção dos nossos concorrentes com aquela empresa de duas mulheres bioquímicas e não médicas. Existia muito forte o corporativismo médico até então. Nós fizemos um crescimento tão orgânico e tão intenso que eles não perceberam que nós já estávamos crescendo ao ponto de ser um destaque na estrutura. Passamos a ter a estrutura de laboratório maior e mais bonita da capital do País.

Eu falo que o outro diferencial que nos ajudou muito foi trazer as ferramentas da qualidade: as certificações. Começamos com a certificação da ISO (Organização Internacional para Padronização, em inglês) e isso trouxe uma adequação daquilo que nós já fazíamos dentro de normas internacionais. Depois dela, vieram outras certificações de qualidade.

Elas nos mostraram um direcionamento pautado nas melhores práticas existentes no Brasil e no mundo. Não é só colocar o negócio e buscar clientes, é preciso olhar quais são as práticas que ajudam a fazer as coisas certas.

Apanhamos no comecinho ali, isso também é importante a gente falar, porque às vezes as pessoas acham que foi só acerto. Tivemos dificuldades, porque nós tínhamos conhecimento do negócio: fazer exame; mas não conhecimento de negócio. Não foi fácil não. A gente teve todo esse aprendizado, e eu falo que todas as dificuldades que nós tivemos foram oportunidades de crescimento.

Em cada erro, eram dois degraus que a gente crescia, porque nós buscávamos conhecimento e mudávamos o rumo em uma direção que pudesse nos melhorar e aprimorar cada vez mais. Foi uma busca como se fosse uma escola mesmo.

Em 2010, era tanta gente buscando o Sabin para comprar, era um período em que o Brasil estava em uma ebulição ali de fusões e aquisições. Nós fomos à fundação, ficamos três dias com quatro professores e ali nós desenhamos um processo de crescimento, a nossa governança.

Construímos, em 2013, o nosso conselho de administração. Dia 2 de janeiro de 2014, a Dra. Lídia, que já estava há 15 anos no Sabin, assumiu a presidência executiva. Nós crescemos a partir daí… em três anos, o Sabin dobrou o seu valor depois da governança, depois de estruturado.

 Janete Vaz, empresária, analisa ampliar negócios no Ceará  e no Nordeste (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Janete Vaz, empresária, analisa ampliar negócios no Ceará e no Nordeste

OP - O Sabin pensa em abrir uma unidade no Ceará? Como vê o Estado?

Janete - Nós fizemos um planejamento estratégico do crescimento e, nesse planejamento, a gente faz um checklist de entrada. Vários itens entram aí, entre eles, qual é o plano, qual a seguradora que é dominante regionalmente e se essa seguradora vai nos garantir sustentabilidade ou não.

No caso, o Ceará tem uma particularidade que ninguém tem. Ele tem uma Unimed e tem uma Hapvida local. A Hapvida é verticalizada e a Unimed não é verticalizada aqui, mas a gente teria mais dificuldade para entrar. Mas não desistimos não, nós temos certeza que ainda chegaremos aqui. Este é o nosso propósito.

Eu gosto muito daqui, eu vejo que a saúde do Nordeste mudou de endereço. Ela começou em outras regiões do Nordeste e hoje a gente enxerga um ponto muito forte da saúde aqui no Nordeste. Para nós, sim, é um local estratégico e de possibilidades, então a gente enxerga que pode sim. Uma hora nós vamos atingir esse mercado aqui também com muito prazer.

OP - Em relação ao mercado, muitos concorrentes do Sabin estão na bolsa de valores. O Grupo considera abrir capital?

Janete - É uma opção que, em certo momento da vida, depois de estruturado, pode acontecer a qualquer hora. Não vejo isso para o Sabin nos próximos anos. Nossa decisão é de continuidade do nosso negócio e do nosso plano de expansão que fizemos.

Hoje, temos um plano de expansão desenhado, orgânico e inorganicamente, até 2030. Nós já adquirimos 30 negócios. Não paramos mais até que chegou a pandemia. A pandemia modificou um pouco a estrutura da saúde de um modo geral.

No ano passado, nosso maior investimento foi dentro de casa mesmo. Mudamos para o Iguatemi, pegamos uma área e fizemos todos os negócios nossos ali, porque, com a expansão e com o Covid, houve necessidade de ampliação de outros negócios.

Foi quando entrou a Imagem, entrou Amparo Saúde, que é atenção primária à saúde. Nós começamos com 30%, depois adquirimos 100% do negócio. A Amparo já está com 12 unidades no Brasil. Não estamos mais crescendo só o Sabin, e os próprios negócios que adquirimos já estão fazendo rede. Eles mesmos já estão adquirindo também.

Por exemplo, Mato Grosso é que comprou Tangará da Serra. A própria Palmas que adquirimos, ela mesma já adquiriu outros negócios na região, Manaus, Roraima é uma extensão de Manaus. Então, todas estas unidades que adquirimos já estão fazendo também novas aquisições e o processo começou a crescer nisso aí.

Outros negócios que fizemos, além da Imagem também, foi a Skyhub.bio, que não é um negócio, mas foi uma parceria que fizemos com o Laboratório Fleury. Também estamos nessa de inovação e tecnologia com uma startup, uma aceleradora. A Rita Saúde foi a última delas todas aqui, que é uma plataforma digital de saúde. Seria uma democratização de um trabalho de saúde e colocamos vários outros especialistas dentro dessa plataforma digital.

Em relação a números, nós faturamos R$ 1,6 bilhão em 2023. Para 2024, (a pretensão é) aumentar. A expectativa é boa. Eu não lembro os números colocados para a meta de 2024, mas eu tenho certeza que a gente vai superar. Eu estou com muita esperança no ano, com uma expectativa de que o mercado já estabilizou um pouco mais.

OP - Como foi o faturamento do Sabin no último ano, em 2023? Qual a expectativa para 2024?

Janete - A NRF (Federação Nacional de Varejo dos Estados Unidos, na sigla em inglês) do ano passado, em Nova Iorque, liberou dizendo que a meta era ‘fazer mais com menos’. O nosso planejamento estratégico de 2022 para 2023 era ‘fazer mais com o que já temos’. Eu achei incrível essa linearidade.

Este ano novamente, porque o que ela liberou era ‘causar uma experiência no cliente’. O que ele está propondo, nós já fazemos. Nós já trabalhamos com inteligência artificial na organização para ajudar tanto na parte da imagem quanto na gestão.

Nós já temos esses benefícios diferenciados para o cliente, nós temos pão de queijo, encantamento, mais músicos contratados do que a orquestra sinfônica de Brasília. Nós temos uma população voltada para a humanização do atendimento, que já tem mais de 20 anos que isso é o grande diferencial do Sabin.

Trazer para dentro da organização o tratamento do cliente como se ele fosse uma joia. Como se ele fosse a pessoa mais importante da minha vida e eu quero fazer o melhor para ele. Isso já é uma prática normal dentro do Sabin.

Em relação a números, nós faturamos R$ 1,6 bilhão em 2023. Para 2024, (a pretensão é) aumentar. A expectativa é boa. Eu não lembro os números colocados para a meta de 2024, mas eu tenho certeza que a gente vai superar. Eu estou com muita esperança no ano, com uma expectativa de que o mercado já estabilizou um pouco mais.

A saúde foi uma das que beneficiadas agora com a Reforma Tributária. No nosso segmento, eu não vejo dificuldade. Eu vejo dificuldade para aquelas empresas que não construíram raízes, que não estavam preparadas para todas essas mudanças que aconteceram. Mas nós sempre fomos muito conservadores.

Falas de Janete Vaz inspiraram o último encontro do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) no Ceará, no dia 24 de janeiro. (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Falas de Janete Vaz inspiraram o último encontro do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) no Ceará, no dia 24 de janeiro.

OP - Com a nova política industrial, como você vê o impacto no mercado da saúde?

Janete - A saúde do planeta sofreu um grande impacto nos últimos anos, após a Covid. Muitas empresas ficaram pelo caminho e não deram conta de dar prosseguimento ao negócio. Foram anos desafiadores, mas também de transformação e avanço tecnológico. Eu falo para vermos o que vem. A política foi lançada, mas não está estruturada ainda e não sei quais serão as exigências para que as pessoas possam ter acesso àquele montante determinado para a Saúde.

A nossa expectativa é grande, eu acho que é uma oportunidade e certamente vai ajudar a alavancar muitos novos negócios. A gente viu ali que está se voltando muito para negócios novos, literalmente… À medicação, à parte da indústria farmacêutica. Muitas mulheres encontram desafios burocráticos ao buscar recursos, mas a expectativa é que essa nova política beneficie e alavanque novos negócios.

OP - O Sabin é referência no corporativismo feminino. Como foi esse processo na empresa?

Janete - O Sabin tem mais de 7 mil funcionários e 77% são mulheres, o que já mostra que foi uma experiência natural para nós. Aprendemos a lidar com as mulheres no dia a dia e compreendemos desde cedo as dores e necessidades delas dentro das organizações, como é para a mulher administrar a vida pessoal dela e a vida profissional.

 

Acreditamos que as mulheres precisam estudar para crescer. Não apenas a empresa cresce, mas as pessoas crescem. Lançamos um desafio interno para que as pessoas voltassem a estudar e valorizassem suas profissões. Vimos o quão importante foi. Aquilo reverberava na empresa.

Todas as experiências que eu e a Sandra tivemos foram transferidas para a empresa e se tornaram uma valiosa experiência para nós. Compreendemos a necessidade das mães desempenharem diferentes papéis em momentos específicos, e as prioridades que elas não podem abrir mão, porque nós exercíamos aquele papel ali.

Acreditamos que as mulheres precisam estudar para crescer. Não apenas a empresa cresce, mas as pessoas crescem. Lançamos um desafio interno para que as pessoas voltassem a estudar e valorizassem suas profissões. Vimos o quão importante foi. Aquilo reverberava na empresa.

Sempre que elas passavam no vestibular, eu mandava uma mensagem, porque você trabalhar o dia inteiro e estudar à noite é um sacrifício, mas passa rápido e você vai sair em um outro patamar. A gente viu o quanto isso foi significativo, o quanto que este foi um benefício que fez um diferencial. Os benefícios acabaram ajudando muito.

Nessa de ajudar a valorizar as mulheres, ajudar a entender o que eram as dores delas e fazer com que elas tivessem coragem e inspiração para ir à frente. Depois, quando nós vimos, nós estávamos envolvidas com as causas das mulheres.

Janete Vaz e sua sócia Sandra Soares Costa construíram, desde 1984, um império de 350 laboratórios.(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Janete Vaz e sua sócia Sandra Soares Costa construíram, desde 1984, um império de 350 laboratórios.

A primeira palestra que eu fiz foi em 2002, era administrando com visão social. Depois disso, a gente começou a falar mais e, de repente, a gente se viu envolvida com as mulheres na liderança. Hoje uma das principais chamadas para palestra é para falar sobre liderança feminina. Esta inspiração acabou nos levando a cair neste mundo de mulheres inspiradoras.

E eu acho que a gente tem três fases na vida. A primeira, quem fala isso é o Oscar Motomura – que eu gosto muito –, é você estudar e aprender. A segunda fase é você trabalhar e ganhar dinheiro. E a terceira é devolver o que aprendeu e aproveitar aquilo que você construiu.

Eu acho que eu vivo hoje essa terceira fase, no momento em que eu estou colaborando, ensinando, incentivando, ajudando outras mulheres a também realizarem seus sonhos. Colaboro com grupos que geram oportunidades para mulheres serem donas de suas vidas.

No Grupo Mulheres do Brasil, oferecemos luz, palco e caminho, auxiliando-as a caminharem sozinhas. O que fazemos é gerar oportunidades para elas terem liberdade de fazer o que quiserem, dando luz, palco e caminho, além de dar as mãos para ajudá-las a caminharem sozinhas.

Atuamos em comitês, vários comitês. Aqui tem os nossos em Brasília, mas também o comitê central em São Paulo. Esses comitês são formados por um grupo de liderança de mulheres voluntárias. Todas somos voluntárias e abordamos temas como educação, políticas públicas, captação de recursos, além de palestras e recursos financeiros.

Nosso objetivo é transformar a vida das mulheres. Além disso, atuamos na área da saúde, cultura e em diversos trabalhos sociais. O Instituto Sabin é nosso patrocinador. Ele é voltado ao ecossistema da saúde, com ações sociais e pesquisa.

Eu achei que os meus filhos poderiam cobrar a minha ausência mais tarde. Procurei um casal de psicólogos e foi muito interessante quando eles falaram que o pouco tempo que eu tenho com eles é muito mais impactante do que muitas mães que não trabalham.

OP - Para você, houve dificuldade para conciliar a família e o negócio?

Janete - Fácil não é não. Eu cheguei a procurar um psicólogo na época quando a Raquel ainda estava pequena. O Rafael ainda não existia. Tenho três filhos e cinco netos. O Leandro um pouco mais velho, na época com cinco anos, e a Raquel com dois. Eu não tinha tempo para a família. Eu ajudava meus filhos, ensinava tudo o que podia até o horário de levar para a escola. Eu levava para a escola, porque sabia que o meu único momento com eles seria aquele ali.

Eu achei que os meus filhos poderiam cobrar a minha ausência mais tarde. Procurei um casal de psicólogos e foi muito interessante quando eles falaram que o pouco tempo que eu tenho com eles é muito mais impactante do que muitas mães que não trabalham. E o que os meus filhos iriam levar e agregar era o aprendizado daquilo que eu teria feito, que eles teriam orgulho de mim. Eu não esqueço dessa frase nunca. É um tempo de qualidade.

O que eu falo para todas as mulheres, inclusive nas palestras, é que a mulher precisa primeiro aprender a cuidar dela mesma, porque aí ela vai poder cuidar melhor dos outros. Outra coisa é que quem pode garantir o futuro e a sustentabilidade dela é ela mesma. Ela que precisa se preocupar com o que será do seu futuro amanhã e quem ela vai ter para cuidar dela amanhã.

Ela precisa entender isso e que tudo vai dar certo. Não precisa abandonar o emprego, não precisa abandonar sonhos, porque no final tudo vai dar certo. Ela só precisa não ficar parada e dar passos. Eu gosto muito de falar de coragem, porque um dos problemas é o medo.

OP - Quem são as mulheres que te inspiram?

Janete - Nossa, eu não coloco só mulheres não. Eu falo que não é só mulher que te ajuda na sua formação. Empreendedorismo não tem gênero. Você pode ser homem ou ser mulher e ter espírito empreendedor.

Eu tenho algumas inspirações que foram importantes na minha vida. A primeira delas é meu pai sem sombra de dúvida. Quando eu vejo aquele homem que não tinha nenhuma formação e ele nos ajudou no sentido de valores. Ele usava a linguagem que ele conhecia para falar de uma coisa que, hoje, nós chamamos de planejamento estratégico.

A sua palavra vale mais do que a sua assinatura. Se você não sabe administrar o pouco, você jamais vai saber administrar o muito. Se você quer ter uma boa colheita, escolha muito bem a semente. Olhe e cuide da terra, olhe o tempo da chuva. Você precisa plantar para ter uma boa safra. Você precisa olhar o produto que você quer colher.

Da minha mãe eu trago muito essa formação religiosa, essa formação de valores, do cuidar das pessoas, do respeito com as pessoas. Então eu digo que esses dois, sem sombra de dúvidas… me emocionam em falar.

Com os olhos marejados de emoção, Janete Vaz relembrou partes de sua vida e de seu negócio.(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Com os olhos marejados de emoção, Janete Vaz relembrou partes de sua vida e de seu negócio.

Eu tenho algumas outras inspirações. O Dr. Jorge Gerdau, a gente tem um projeto social com ele desde 2004 e, para mim, ele é um grande líder empresarial. A Luiza Helena Trajano é nossa companheira do Grupo Mulheres do Brasil. (...) Deus fez a Luiza e jogou a forma fora, porque ela é única. Ela é uma mulher que paga um preço caro para ajudar e para desenvolver. Destemida, corajosa, audaciosa.

A Sandra, que é a minha sócia, é uma pessoa que Deus colocou na minha vida, foi meu segundo casamento. Nós só chegamos aonde chegamos porque fomos sempre muito unidas, com muita confiança. Outras mulheres, minha filha, que é uma cuidadora de mim. Hoje eu tenho três netas, dentre cinco netos ao todo.

Eu acho que tudo o que a gente está construindo hoje é para ver se esses cinco conseguem chegar e ter um ambiente melhor, e as meninas mais ainda, que elas consigam ver um mundo diferente para as mulheres na época delas, que a gente possa ver mulheres mais realizadas, com mais equidade do gênero e com mais justiça.

 

 

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