“O desafio da mudança climática é global.” Este é o alerta da diretora de Impacto da Rede Brasil do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), Camila Valverde, de 49 anos. Ela, baiana de Salvador, encontrou realização profissional ao começar a trabalhar com sustentabilidade há mais de dez anos, trilhando caminhos no meio corporativo até chegar ao cargo da ONU em 2021.
“Os eventos de intensidade climática extremos – de chuvas, enchentes e secas – vão continuar. Nós vimos há poucos meses atrás a seca do Rio Amazonas, a gente viu cenas terríveis do rio seco. E a gente está vendo agora outras cenas opostas. A crise climática traz as tragédias climáticas, e 90% delas está associada à água ou a sua escassez ou o seu excesso. O impacto disso é que nós, como sociedade, não estamos preparados. A gente não trabalhou com adaptação climática no País”, explicou.
O aquecimento global e a emissão de gases de efeito estufa são alguns dos fatores que levam à crise climática, e as consequências dela são catastróficas para as populações vulneráveis e, até mesmo, para a economia, na visão de Camila, a qual vê a necessidade de manter as florestas vivas e em pé. Não somente a Amazônia, mas todos os biomas, relatou em entrevista ao O POVO no dia 16 de maio.
O POVO: Olhando para suas origens baianas, como foi esse processo até chegar ao cargo de diretora de impacto da Rede Brasil do Pacto Global da ONU. O que te levou a trilhar esse caminho?
Camila Valverde: Eu sou baiana nascida em Salvador. A minha geração e a dos meus irmãos e primos é a primeira geração que nasceu em Salvador, todo o restante veio do interior da Bahia – Irecê, Entre Rios e Inhambupe –, bem interiorzão mesmo.
E nasci em Salvador e fui criada na Cidade Baixa, que para mim é uma referência muito grande, porque é um bairro, posso dizer, periférico de Salvador, mas é um bairro onde fica a igreja do Bonfim. Então, eu cresci com todas as tradições da procissão da igreja, da lavagem do Bonfim, todos esses ritos que misturam todo sincretismo religioso que a Bahia tem. Então foi nesse ambiente que eu cresci.
Fiz administração de empresas, e a minha carreira inteira foi uma carreira, antes de entrar no Pacto, no setor de varejo. Entrei como estagiária no varejo e aí fiz uma carreira passando por todas as posições, até posições dentro da área de marketing, dentro da área de assuntos corporativos. E aí, dentro de assuntos corporativos, eu fiz comunicação, relações governamentais… e cheguei à (posição de) diretora de sustentabilidade.
Essa parte é muito importante porque foi o período que eu mais me realizei profissionalmente, porque, de fato, eu tinha atividades relacionadas ao bem-estar das pessoas, seja bem-estar do ponto de vista ambiental quanto à área social. Depois eu migrei para a área do negócio, que foi um complemento muito importante da minha carreira, que me ajudou a chegar onde eu estou hoje.
Eu trabalhei a maior parte do tempo nas áreas de apoio, áreas de suporte dos escritórios, mas ter vivido sete anos de operações de varejo me deu um conhecimento muito grande do “business”, de resultado de negócio, venda, despesa, margem e gestão de pessoas. Eu cheguei a ter na minha divisão duas mil pessoas entre os 10 hipermercados que eu liderava.
Então, a gestão de negócio e liderar pessoas foram muito importantes nesse período que eu toquei a operação. Mas, ao atingir o meu objetivo de conhecer o resultado de um negócio, de como opera o business do setor privado, me despertou o desejo de voltar para a área que eu tinha sido mais feliz: responsabilidade social e sustentabilidade.
Então, eu comecei a fazer um movimento de carreira, fui estudar, fiz um mestrado em Desenvolvimento Regional e Urbano, fiz um curso importante de diversidade e inclusão, que me atualizou dos conhecimentos e me colocou em contato com uma série de pessoas e profissionais importantes no Brasil. Conectei a minha rede toda daquela época.
E a primeira oportunidade que surgiu era a oportunidade perfeita, que foi para dirigir a área de Impacto aqui no Pacto Global da ONU no Brasil. É justamente uma área que desenvolve projetos para as empresas avançarem nas agendas de meio ambiente, de direitos humanos e de responsabilidade social, anticorrupção.
E como eu tinha uma experiência de operações, eu sei a linguagem das empresas, sei dialogar e sei onde estão as questões. Então, foi perfeito, porque era o propósito que eu queria, com o conhecimento que eu tinha adquirido.
OP: Nesse caminho, teve algum desafio até você chegar ao cargo na ONU?
Camila: Muitos desafios. Os desafios são enormes quando se trata de uma mulher parda, negra, pretos e pardos são negros no Brasil, em carreiras querendo chegar a posições de liderança. Muitas vezes, eu era a única mulher dentro do grupo de liderança em que eu me encontrava. Então, enfrentar os ambientes masculinos e machistas é sempre um desafio. Conciliar as carreiras e os papéis de executiva com os papéis da maternidade também é um outro desafio. Eu tenho dois filhos já grandes, com 18 e 20 anos, então, enfrentei todos esses desafios e barreiras que a maioria das mulheres enfrentam também.
OP: Pode explicar o trabalho feito na diretoria de impacto da Rede Brasil? Quais as principais iniciativas e como se dá essa atuação da entidade no cenário atual?
Camila: O trabalho aqui no Pacto Global da ONU, que é importante primeiro dizer que o pacto é uma iniciativa das Nações Unidas para trabalhar com as empresas, formada pelas empresas. Então, é a maior rede de empresas em prol da sustentabilidade corporativa no mundo, o Brasil é a segunda maior rede. O Pacto Global tem 20 mil organizações; no Brasil, a gente tem mais de 2.000 organizações.
O meu trabalho, com o time que eu lidero, é criar programas e projetos que, de fato, impactem na transformação das empresas, para que as empresas sejam mais sustentáveis, que elas trabalhem com as questões de direitos humanos, com as questões ambientais – tanto relacionadas à clima, à água, à circularidade quanto às questões de integridade e compliance também.
O meu trabalho é construir iniciativas e projetos para que as empresas participem e se comprometam. A gente monitora o que elas se comprometem, e a gente também oferece recursos e instrumentos para elas acelerarem essa agenda internamente.
OP: Quais são os principais desafios enfrentados no mundo hoje, em especial no Brasil, em relação às mudanças climáticas?
Camila: Olha, o desafio da mudança climática é global, a gente tem visto. E as causas, obviamente, são o aquecimento e emissão de gases de efeito estufa. A gente sabe que, globalmente, a emissão de gases, majoritariamente, vem do setor de óleo e gás.
No Brasil, essa matriz é um pouco diferente, ela vem mais do uso do solo. Vem do óleo e gás também, mas vem do uso do solo, de setores de transporte. Então, a nossa emissão aqui é diferente. E o nosso papel aqui no Pacto é fazer com que o setor empresarial trabalhe com a redução das suas emissões, em todos os setores.
A gente tem algumas iniciativas que apoiam as empresas para terem as suas metas de descarbonização. A gente apoia como? Desde formar os profissionais da empresa para compreender o que são as emissões – como reduzir, como fazer um inventário de gases de efeito estufa – até ter metas científicas de redução, com base científica para reduzir as suas emissões.
Isso passa por inovação, tecnologia, conscientização e engajamento da alta liderança das empresas. Então, eu diria que os nossos desafios no Brasil, de fato, são ter metas ambiciosas e atividades que ajudem as empresas a cumprir essas metas.
OP: A gente falou um pouco dos desafios, mas quais são as consequências sociais e econômicas que as mudanças climáticas podem gerar de impacto no Brasil?
Camila: Essa tragédia climática no sul do país, no Rio Grande do Sul, é uma realidade que ilustra muito bem o que é a crise climática que o mundo vivia, que o Brasil vivia e infelizmente continuará vivendo, porque as emissões já foram feitas e elas continuam acontecendo.
Então, os eventos de intensidade climática extremos – de chuvas, enchentes e secas – vão continuar. Nós vimos há poucos meses atrás a seca do Rio Amazonas, a gente viu cenas terríveis do rio seco. E a gente está vendo agora outras cenas opostas.
A crise climática traz as tragédias climáticas, e 90% delas está associada à água ou a sua escassez ou o seu excesso. O impacto disso é que nós, como sociedade, não estamos preparados. A gente não trabalhou com adaptação climática no País.
Toda vez que a gente tiver esses grandes efeitos, a gente vai ter um sofrimento da população muito grande, principalmente a população mais vulnerável, que mora em periferia, as pessoas pretas, as mulheres.
Por que eu digo as pessoas pretas? Não é pela cor, é porque infelizmente as pessoas negras são a maior parte da população pobre do Brasil. Esse é um assunto que precisa ser endereçado também quando a gente quer ter um país desenvolvido. A gente precisa investir nessa população, as empresas precisam investir para a gente ter um País menos desigual.
Mas, voltando à crise climática, os efeitos são catastróficos para as populações vulneráveis, de não ter onde morar, de faltar alimento. Mas também tem outros efeitos para a economia, por exemplo, os grandes alagamentos e as grandes enchentes afetam diretamente os negócios, principalmente o agronegócio, que deixa de produzir, deixa de empregar e deixa de vender para o comércio.
Os produtos ficam mais caros, ficando mais caro, quem tem acesso é só quem tem mais condições. Quem tem menos condições, de novo, sofre mais. Então, a gente tem esse efeito cascata de uma crise climática dentro da esfera social também.
OP: Tendo em vista que o Pacto Global da ONU tem atuado junto a empresas, quais as dificuldades que a área empresarial enfrenta para mitigar danos ao meio ambiente?
Camila: Olha, nós temos aqui no Pacto, a principal estratégia chamada Ambição 2030, que é um chamado para os líderes empresariais assumirem compromissos públicos com as questões de direitos humanos, climáticas, ambientais e anticorrupção. Nós temos 10 movimentos para acelerar essa agenda, que é a chamada Agenda 2030, com os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável. O que é importante ser dito também é que a responsabilidade é de todos, inclusive do setor empresarial.
Neste monitoramento que nós fazemos com as mais de 300 empresas que se comprometeram a ter mais mulheres em posição de liderança, mais pessoas negras em posições de liderança, a trabalhar com saúde mental dentro das organizações, propiciando um ambiente mais seguro do ponto de vista psicológico, com menos estigma para os colaboradores, a pagar em salários dignos, a educar seus colaboradores para terem todo o segundo grau completo e investir também em cursos superiores.
Todos os temas que a gente incentiva de direitos humanos, todos os de meio ambiente, relacionados à clima, à água, à circularidade e às questões de transparência. O que as empresas trazem quando a gente monitora os indicadores são duas dificuldades. A primeira delas é o financiamento para que as empresas separem e destinem um recurso para as ações que precisam ser feitas para essa transformação, seja ela nos temas que envolvem empresas e direitos humanos, seja ela nos temas que envolvem as questões ambientais.
A segunda é, de fato, engajamento da alta liderança nos processos. E aqui eu queria aproveitar a ocasião da entrevista e fazer um chamado para as altas lideranças estarem, cada vez mais, conscientes do seu papel e do seu poder da caneta em tomar decisões diárias, que pensem no desenvolvimento e na sustentabilidade dos seus negócios do ponto de vista social e ambiental, porque eu acredito muito que não haverá espaço para as empresas no futuro que não estiverem atentas a essas questões que a gente vive hoje.
OP: Hoje em dia, as noções de ESG (ambientais, sociais e de governança) estão ganhando, cada vez mais, espaço no ambiente corporativo, mas, de forma prática, como as empresas podem integrar questões de sustentabilidade em suas operações diárias? Como fazer isso chegar na ponta e não só nas grandes empresas?
Camila: Eu acho que a gente tem um fator chave para integrar e chegar na ponta que é a comunicação. A gente precisa comunicar as questões sociais, ambientais e de governança com uma linguagem mais acessível e de forma mais clara e objetiva, adaptada aos diversos públicos.
Uma linguagem de ESG precisa ser uma linguagem diferente quando a gente está tratando de grandes empresas do que quando a gente está tratando de pequenas e médias empresas, pois elas têm um número menor de colaboradores, uma multifuncionalidade maior dentro da organização e uma disponibilidade de tempo, às vezes, menor também para essas questões.
Então, tratar de gestão de resíduos, por exemplo, de emissão de gases, de diversidade e inclusão dentro das organizações… são os mesmos temas, mas a abordagem e os desafios são diferentes. Acho que a gente pode fazer chegar na ponta adaptando a linguagem.
E as grandes empresas através da sua cadeia de valor, através dos fornecedores delas. Então, as grandes empresas têm a responsabilidade, sim, de um chamado e de uma conscientização dos seus fornecedores, especialmente se têm fornecedores de pequenos e médios na sua cadeia de valor.
Eu posso te dizer que o Brasil está vivendo um grande momento de transição para uma economia verde por conta da nossa matriz, de fato, já ser uma matriz limpa se comparada com os outros países.
OP: Quais são as oportunidades para as empresas brasileiras no contexto da transição para energia limpa e renovável? O Ceará tem sido um grande precursor de iniciativas voltadas ao hidrogênio verde neste âmbito, como você vê essas iniciativas do Estado e o desenvolvimento de tais práticas pelo Brasil?
Camila: Eu posso te dizer que o Brasil está vivendo um grande momento de transição para uma economia verde por conta da nossa matriz, de fato, já ser uma matriz limpa se comparada com os outros países. A gente sai muito na frente em relação a isso, então, o Brasil é o país certo para as empresas multinacionais se instalarem, e a gente atrair recursos e investimentos, porque a gente já tem uma matriz limpa e continua buscando fontes de energias renováveis e combustíveis renováveis também.
E você deu um excelente exemplo do Ceará, que é referência inclusive em energia eólica, é um dos pioneiros também nesse sentido. Então, a minha questão para além da energia, que eu acho que seguirá vencendo as barreiras regulatórias e vencendo as barreiras de investimento que precisam ser feitos para conseguir atender às demandas que existem no País, é não esquecer as pessoas.
É colocar as pessoas no centro dessa transição. Não vai adiantar nós termos um País com a economia verde limpa se a gente continuar sendo um País desigual. Então, os novos empregos que serão gerados, a gente está pensando na inclusão das pessoas do nosso País? A gente vai reduzir a desigualdade como? São pautas que para mim têm que caminhar em conjunto.
OP: Neste sentido, quais são as melhores práticas globais em termos de adaptação às mudanças climáticas e como podemos aplicá-las no contexto brasileiro?
Camila: A gente pode listar Dinamarca e Noruega, porque são países que estão trabalhando agressivamente com reduções de emissões de gases de efeito estufa, desenvolvimento de energias limpas, inovando na indústria para acelerar essa transição. Além do que são países que já estão com infraestruturas mais resilientes.
Pode-se citar ainda a Holanda, que é um país que corre riscos de ter áreas submersas com o aumento do nível do mar, mas já estão trabalhando para controlar essa invasão da água. É um País que trabalha há anos com infraestruturas cinzas para impedir alagamentos, como aconteceu no Rio Grande do Sul, com diques em diversos pontos de rios.
Mas eu acho que o Brasil precisa, primeiro, entender. Os governos precisam entender que a gente precisa manter as florestas em pé, vivas e em pé, para ajudar nessa regulação do clima no Brasil. E aí eu não estou falando só da Amazônia, estou falando de todos os biomas.
Na ponta, na questão de adaptação, de fato, a gente precisa ter cidades mais preparadas do ponto de vista de drenagem, por exemplo, ou preparadas para situações de enchentes. Mais uma vez, com o exemplo do que aconteceu no Sul. Mas não só no Sul, o Maranhão tem várias cidades que sofreram alagamento agora, 30% dos municípios em estado de alerta no último número que vi.
A gente precisa estar atento a como as cidades estão preparadas para a questão da crise climática, porque ela vai gerar no Brasil e no mundo uma questão importante que se chama “refugiados climáticos”, como as cidades, as prefeituras, os governos, a sociedade civil e as empresas estão preparadas para viver esse crescimento gigantesco que vai acontecer de refugiados climáticas, de pessoas sem estar morando nas suas casas. Que condições a gente vai dar de emprego, de moradia, de dignidade?
Então, é onde se cruzam, infelizmente, os temas de meio ambiente e direitos humanos que estão, cada vez mais, colados um com o outro e sendo considerado o mesmo tema. As Nações Unidas no Fórum de Empresas e Direitos Humanos já têm tratado a questão do acesso ao meio ambiente saudável como um direito humano.
Para mim, essa é a questão de como pensar no futuro, eu acho que a gente ainda tem muito o que avançar no Brasil nesse sentido. Não adianta a gente se vangloriar de uma coisa muito boa, de fato, que é a nossa matriz limpa quando a gente está tendo eventos de crise climática e vendo as cidades despreparadas para tratar e cuidar das suas pessoas, da população, que, para mim, é o mais importante.
OP: A luta pela preservação ambiental, apesar de afetar a todos, gera embates em diferentes alas da sociedade, tendo em vista as divergências de interesses. Acho que isso fica muito claro com as bancadas do Congresso. Como a senhora vê isso com naturalidade ou se entristece quando vê alguém minimizar as questões climáticas?
Camila: Com certeza, me entristeço e não deixo de ficar indignada quando vejo uma parte das pessoas que têm poder de decisão, que ocupam posições importantes na sociedade, sendo negacionistas em relação à crise climática e o quanto isso pode afetar a vida dos brasileiros e das brasileiras, que é o que a gente precisa, de fato, colocar como ponto central e mais importante.
Compreendo que o desenvolvimento de uma economia e o desenvolvimento de um País é crucial para as pessoas terem qualidade de vida, mas, na minha opinião, o desenvolvimento não está desassociado das questões climáticas e dos cuidados que a gente precisa ter com a população.
Uma cidade desenvolvida ou um País desenvolvido não tem ou tem o menor número de desigualdade possível. E a gente está longe disso, né? É um país que as pessoas têm acesso ao meio ambiente saudável, e a gente está caminhando para um outro lado por conta da crise climática.
Então, desenvolvimento não é só crescimento econômico, não é só crescimento de PIB (Produto Interno Bruto). Eu gosto muito de uma de um economista que ganhou o Prêmio Nobel chamado Amartya Sen. Ele disse que desenvolvimento é acesso a liberdades fundamentais, acesso à saúde, acesso à educação, acesso à moradia.
Isso é um País desenvolvido. Isso é desenvolvimento. Acho que precisamos todos estudar mais sobre o que é desenvolvimento, ampliar, como sociedade, a nossa visão de desenvolvimento para não considerar somente um crescimento econômico em um setor específico como desenvolvimento.
OP: Há uma colaboração eficaz com o governo e com a sociedade civil, além das empresas, para enfrentar a crise climática de maneira integrada no Brasil? Como podemos promover isso?
Camila: Eu percebo, sim, no governo atual uma mobilização e um convite para o engajamento da sociedade civil, inclusive do setor empresarial, nas discussões de mudança do clima, nas discussões de políticas de empresas e direitos humanos, tanto promovidas pelo Ministério do Meio Ambiente, como do Ministério de Empresas, Direitos Humanos e Cidadania. Vejo que a gente vive um momento favorável de participação e construção de novos caminhos para o desenvolvimento do País.
OP: Além das questões climáticas, vi que tem atuação em temas como a inserção de jovens no mercado de trabalho e o empoderamento econômico feminino. Há outras áreas que ainda não atuou, mas que gostaria de trabalhar?
Camila: Eu posso levar para o lado pessoal, né? Tem uma população que eu ainda vou um dia trabalhar que é a população de rua. As pessoas em situação de rua estão vivendo um momento de perda de dignidade muito grande. Então, é um público que eu espero ainda poder contribuir dentro de algum projeto que eu venha participar para diminuir (a perda da dignidade) e dar mais dignidade para todos.
OP: Para finalizar, quem são as pessoas que te inspiram?
Camila: Olha, eu diria que, de modo profissional, eu já tive lideranças que me inspiraram muito, lideranças de varejo. Se puder citar nomes, eu diria a Daniela de Fiori, que é uma liderança muito importante do ponto de vista do trato das pessoas e dar o tamanho do desafio que, muitas vezes, o liderado não acreditava.
Quando se dá um desafio em que alguém acredita em você mais do que você acreditava, as portas se abrem ali. Então, do ponto de vista de liderança de pessoas e de liderança em temas-chave, foi uma pessoa que começou a trabalhar o tema de ter mais mulheres em posição de liderança antes de 2010 aqui no Brasil. E essa pauta cresceu muito com o trabalho dessa liderança.
A outra, do ponto de vista pessoal, foi meu pai, que já tem 20 anos quase que partiu, mas ele continua sendo uma referência em coragem para enfrentar os desafios, em ter iniciativa para liderar os temas que precisam ser liderados e acreditar que é possível fazer a transformação que a gente precisa.
OP: E quem vai fazer o papel da mudança?
Camila: Eu acho importante destacar que o papel e a responsabilidade com o desenvolvimento do País é de todos: do governo, de empresas, da sociedade civil… e todos têm a sua relevância no setor em que trabalham. É importante cobrar dos diversos atores, mas é importante avaliar se o seu papel está sendo feito.
Então, cada um dentro do seu “job” (trabalho) está fazendo a sua parte? Está com as informações necessárias para poder fazer a gente ser um País mais desenvolvido, com menos desigualdade? Acho que é trazer um pouco a responsabilidade de cada um.
Enquanto diretora de Impacto, Camila atuará nos mais diversos projetos conduzidos pela Rede Brasil por meio das seguintes plataformas de ação: Ação pela Água, Ação pelo Agro Sustentável, Ação pelos Direitos Humanos, Ação pelo Clima e Ação contra a Corrupção.
Ao longo de 25 anos, Camila desenvolveu e implementou projetos de impacto na área de Direitos Humanos relacionados à capacitação e inserção de jovens no mercado de trabalho e do empoderamento econômico feminino por meio de uma iniciativa empresarial pioneira denominada Movimento Mulher 360.
Na aérea ambiental, Camila atuou no desenvolvimento de ferramentas para pecuária sustentável no varejo e em articulação e implementação Logística Reversa de Resíduos Sólidos em parceria com diversos atores nacionais.
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