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Sob o Sol escaldante: crise climática acentua desigualdades sociais
Reportagem

Sob o Sol escaldante: crise climática acentua desigualdades sociais

Impulsionado pelas mudanças climáticas, o forte calor que atinge cidades como Fortaleza revela desigualdades sociais que afetam principalmente os mais pobres tanto em seus locais de trabalho como de morada
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Capa série Calor (Foto: Ilustração Adobe Stock com intervenção de Camila Pontes)
Foto: Ilustração Adobe Stock com intervenção de Camila Pontes Capa série Calor
 

Mesmo quando o sol tenta se esconder por entre as nuvens nesse período das chuvas no Ceará, a cidade de Fortaleza mantém sua temperatura quase inabalável. Os termômetros, como nos demais meses do ano, persistentemente apontam para médias próximas dos 30º C, marcando cada dia com "um sol para cada cabeça", como dizem os cearenses. Esse clima incandescente, aliás, tem se acentuado nas últimas décadas, impactando, sobretudo, os mais vulneráveis socialmente.

Distante dos escritórios climatizados, inúmeros trabalhadores que enfrentam as ensolaradas ruas da capital cearense sentem literalmente o peso do aquecimento global em sua pele. Em suas rotinas diárias, aqueles que trabalham expostos ao sol lutam a todo instante de suas jornadas por cada palmo de sombra possível, buscando assim fugir e se resguardar dos intensos e abrasivos raios solares.

Estes trabalhadores são confrontados há tempos por problemas e condições climáticas discutidos décadas atrás por ativistas e pesquisadores, os quais previram seus sinais ao longo do tempo e agora testemunham parte de seus resultados tangíveis. Esses fenômenos, associados ao aquecimento global, parecem intensificar-se devido a um desequilíbrio contínuo no meio ambiente. Como consequência, aqueles já inseridos nesse contexto enfrentam um aumento significativo nos desafios diários.

Em um ecossistema global extremamente conectado, em que cada ação realizada é responsável por reações em cadeia, o aquecimento do globo terrestre tem sido intensificado por um desbalanço do efeito estufa. Considerando-o como natural e necessário à sobrevivência no planeta, esse fenômeno trata-se dos raios solares absorvidos pela terra que são devolvidos para o espaço como irradiação infravermelha.

Graças ao desmatamento e à poluição marinha, porém, que atuam para fazer com que essa “refrigeração natural” da Terra aconteça, alguns gases presentes na atmosfera prendem os raios solares, mantendo assim a temperatura do ambiente global mais alta a cada dia que passa. Como resultado disso, está a sensação e a constatação de que o planeta está verdadeiramente em estado de ebulição.

Apesar de já ser habitualmente mais quente, o mês de julho registrou um recorde em 2023, por exemplo. Conforme mostrado pelo O POVO+, o referido mês teve uma média de 0,72º C acima do padrão global assinalado desde 1991. Para se ter ideia, o dia 6 de julho deste ano foi o mais quente já catalogado, com uma temperatura média global chegando a 17,08º C. Em condições normais, o planeta teria uma temperatura média de 15º C. 

 

Anomalia de temperatura média global

 

Ao focar nas informações de temperatura locais, observa-se que as temperaturas máximas estão gradativamente aumentando no Brasil, no Nordeste, no Ceará e em Fortaleza. Dados extraídos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), indicam que os dias mais quentes nessas regiões estão, de fato, tornando-se mais calorosos a cada ano.

Considerando o período de 2003 até o início de dezembro de 2023, em uma janela de tempo mais curta, portanto, é perceptível que a intensidade do calor se acentua à medida que os anos avançam. Em resumo, isso denota que os dias mais quentes continuam a se tornar progressivamente mais escaldantes.

Vale lembrar que cada barra da visualização abaixo indica um ano e que sua coloração vai ficar mais forte conforme tiver sido registrada a temperatura naquele período. Nesse sentido, 2017 foi o ano com temperatura máxima mais elevada na Capital, com 34,5º C. Os anos de 2010, 2012, 2020 e 2021 vêm na sequência, registrando 34,4º C. 

 

Temperaturas máximas no Brasil, Nordeste, Ceará e Fortaleza de 2000 a 2023

 

Especificamente em Fortaleza, as máximas registradas em 2003 atingiram 33,4º C. Nos últimos 12 anos, por outro lado, os dias mais quentes apresentaram, pelo menos, 34º C em oito anos distintos.

 

Fortaleza registra máximas acima de 34ºC nos últimos anos


 

Bronzeados pelo trabalho, ambulantes sofrem na pele o impacto do Sol

Na Praça do Ferreira, um verdadeiro indicador das atividades econômicas e sociais de Fortaleza, milhares de cearenses transitam diariamente fazendo compras, contratando serviços ou realizando diversas outras tarefas. Mas mesmo nesse espaço, o próprio Sol que há décadas ouviu uma sonora vaia ressoando em sua direção ainda continua imperando sobre as cabeças de centenas de pessoas que trabalham sob esses chãos de ladrilhos portugueses.

Cotidianamente entre os primeiros a chegar na Praça está o vendedor Elson Paiva, que estaciona seu isopor carregado de garrafas de água, latas de refrigerante e até mesmo de cerveja todos os dias na travessa Severiano Ribeiro, que fica localizada entre o Cineteatro São Luiz e a Loja Marisa. Embora seja dono de uma pele naturalmente negra, ele carrega consigo as marcas de quem passa boa parte do tempo exposto aos intensos raios solares.

"Estou há sete anos trabalhando aqui na Praça e percebo que nos últimos tempos o calor tem aumentado", relata. Seu termômetro, contudo, não é analógico, quanto menos digital. Elson distingue os dias quentes dos mais amenos por meio de seu próprio labor, que se intensifica especialmente quando a temperatura sobe. "Os clientes procuram beber mais água", confirma.

Aos 62 anos, Elson Paiva é vendedor de água e outras bebidas em geral. Suas vendas aumentam sempre que a temperatura na Cidade sobe(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Aos 62 anos, Elson Paiva é vendedor de água e outras bebidas em geral. Suas vendas aumentam sempre que a temperatura na Cidade sobe

Ainda de acordo com ele, os efeitos da sua exposição ao Sol se fazem presentes inclusive agora, depois de já estar há tantos anos trabalhando no local. “Eu passo protetor solar antes de sair de casa, bebo muita água e sempre procuro uma sombra para me proteger, mas mesmo assim à noite ainda sinto minha pele arder”, informa, dizendo que busca sempre tomar banho e passar outro protetor antes de dormir.

Em buscas na internet e em farmácias pela Cidade, os preços dos protetores solares variam facilmente de R$ 40 a mais de R$ 150, fazendo com que Elson precise calcular dezenas de garrafas de água que precisaria vender para poder comprar apenas um desses produtos. “Se fossem mais baratos seria bem melhor”, constata.

Enfrentando o Sol, Nadynne Andrade é vendedora de chips de telefonia na Praça do Ferreira, em Fortaleza(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Enfrentando o Sol, Nadynne Andrade é vendedora de chips de telefonia na Praça do Ferreira, em Fortaleza

Na mesma Praça, Nadynne Andrade exibe um verdadeiro leque de SIM cards, os famosos chips de celular. Das 9 horas às 17 horas oferecendo seus produtos a quem passa pelo local, ela afirma que mesmo sem ficar diretamente exposta já sente no corpo os efeitos do astro mais poderoso do nosso céu. “A gente não precisa nem estar no Sol para bronzear. Então é direto bebendo água, por conta da voz, e procurando sombra”, afirma, contando que às vezes vai trabalhar com camisas mais longas – e às vezes não.

Aos 28 anos, Nadynne também diz que ao chegar em casa sua fisiologia sempre denuncia os resultados de um extenuante dia de trabalho. “O pescoço arde, o rosto arde. Quando chego em casa, minha pele está toda vermelha por causa do sol. Para amenizar, busco hidratar a pele e tento tirar essas manchas de bronze que ficam no braço por conta da manga da camisa”, completa.


 

Uma voz nordestina na luta contra a crise climática e o racismo ambiental

Situações como as vivenciadas pelos vendedores ambulantes Elson Paiva e Nadynne Andrade podem ser consideradas como exemplos daquilo que as injustiças ambientais são capazes de gerar na sociedade no dia a dia. Diante disso, uma reflexão sobre essas desigualdades ecoa nas palavras da ativista Mikaelle Farias, que nomeia tais disparidades como “racismo ambiental”. Em entrevista ao O POVO+, ela faz um alerta para examinar como o meio ambiente impacta a vida daqueles mais vulneráveis economicamente.

Estudante de Engenharia de Energias Renováveis pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ela tem 22 anos e traz consigo não apenas conhecimento acadêmico, mas também uma longa bagagem cultural enraizada em suas origens. Membro do Fridays for Future, o mesmo movimento do qual faz parte a sueca Greta Thunberg, ela destaca a complexidade das mudanças climáticas e os desafios enfrentados principalmente pelas comunidades mais pobres.

Desde sua infância em Campina Grande, onde cresceu em uma favela próxima a um lixão a céu aberto, Mikaelle absorveu ensinamentos valiosos de sua avó cigana. Mas o ponto de virada na sua jornada de ativismo aconteceu somente em 2019, quando o Nordeste foi impactado pelo derramamento de petróleo em suas praias. Esse evento a impulsionou a se unir aos movimentos ambientais juvenis e a assumir um papel ativo na luta contra as mudanças climáticas.

A paraibana Mikaelle Farias tem 22 anos e é uma das vozes nordestinas no ativismo contra as mudanças climáticas(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal A paraibana Mikaelle Farias tem 22 anos e é uma das vozes nordestinas no ativismo contra as mudanças climáticas

Hoje Mikaelle é uma das (poucas) vozes nordestinas presentes anualmente nas Conferências do Clima realizadas pela Organização das Nações Unidas, as chamadas COP. Recentemente, ela participou da COP 28, evento sediado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde foi firmado um acordo que prevê a redução gradual do uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural) para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas no planeta.

Diante disso, segundo a jovem paraibana, existe uma interconexão entre as crises climáticas, sociais e econômicas. "Não é apenas um planeta super quente ou super frio. Estamos lidando com uma teia complexa de problemas que afetam diretamente as pessoas mais pobres e aquelas que vivem em periferias", destaca. Ela enfatiza que o calor intenso e as recentes ondas de calor têm afetado de maneira singular e significativa o Nordeste.

Mikaela ressalta que populações muitas vezes distantes dos centros urbanos sofrem, não apenas com as mudanças climáticas, mas também com limitações de acesso a recursos básicos como alimento, água e energia. "Precisamos de políticas públicas e projetos governamentais para enfrentar as mudanças climáticas, especialmente levando em consideração as necessidades dessas comunidades mais vulneráveis", aponta.

Mikaelle Farias e Greta Thunberg, ativistas membros da Fridays for Future(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Mikaelle Farias e Greta Thunberg, ativistas membros da Fridays for Future

Para fazer com as carências da região ganhem relevância de maneira nacional e internacional, ela sinaliza para a importância de mais nordestinos se organizarem e se fazerem presentes em eventos como a COP 30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro de 2025. “A gente precisa se juntar para conseguir debater mais sobre o nosso território. As pessoas ficam muito voltadas às questões da Amazônia, e realmente tem muitos problemas por lá, mas também precisam dar visibilidade ao que acontece aqui, que são coisas também urgentes”, declara.

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), vários impactos “irreversíveis” devem acontecer no mundo caso a humanidade não freie o aquecimento global. Nesse contexto, o Nordeste brasileiro aparece na lista como uma das três regiões do planeta que estão em processo mais acelerado de desertificação e secagem de rios.

“O aumento da frequência e intensidade das secas pode fazer com que rios perenes se tornem intermitentes; e rios intermitentes desapareçam, ameaçando peixes de água doce em habitats já caracterizados por calor e secas”, diz o relatório, que também menciona que “quaisquer alterações induzidas por mudanças climáticas nos regimes de fluxo e na conectividade dos rios” devem mexer na composição de espécies e gerar fortes “impactos sociais”.

Agora voltando para a entrevista com Mikaelle, ela destaca a existência de uma reflexão que aponta que certos grupos têm acesso a condições mais favoráveis, como morar em locais mais estruturados e trabalhar em ambientes climatizados, enquanto outros enfrentam desafios extremos sob o calor intenso, como moradias precárias ou postos de trabalho expostos ao sol. “Isso é racismo ambiental, que é quando pessoas mais marginalizadas ficavam mais expostas e vulneráveis às questões climáticas”, pontua.

Quando questionada sobre a conscientização das pessoas que ainda desacreditam nas mudanças climáticas, Mikaelle ressalta a importância de mostrar, na prática, como essas transformações impactam o cotidiano dos seres humanos. Ela enfatiza a necessidade de superar desinformações e fake news, destacando o papel das políticas públicas e da participação ativa na promoção de uma sociedade mais resiliente.

Além do mais, a ativista afirma ainda o compromisso urgente a ser assumido por todos para criar um amanhã mais sustentável para as gerações que estão por vir: “Não quero deixar um futuro incerto para as próximas gerações. Por isso precisamos agir agora."

 

Assista à sua participação no TEDx em que palestra sobre ativismo e justiça climática


 

Construções irregulares também impactam as populações vulneráveis

Na complexa luta contra as mudanças climáticas, outras duas facetas que também chamam a atenção por prejudicar aqueles mais vulneráveis são os locais de moradia e a própria composição urbana. Construções irregulares que são mais comuns do que se imagina, por exemplo, são verdadeiras amostras de como os efeitos do aquecimento global acabam por se tornar mais impactantes na vida das pessoas com baixo poder aquisitivo.

Em 2019, cerca de 50% dos imóveis no Brasil tinham algum tipo de irregularidade, conforme apontou o Ministério do Desenvolvimento Regional (hoje Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional). À época, dos 60 milhões de domicílios urbanos brasileiros, 30 milhões não possuíam escritura. É verdade que a informalidade acontece tanto em condomínios de luxo como em favelas, locais cujas irregularidades acontecem tanto devido às invasões a loteamentos como por terem sido criados à revelia da lei.

Conforme aponta o professor Newton Becker, da Universidade Federal do Ceará (UFC), porém, a maior parte das habitações que não seguiam padrões técnicos eram aquelas instaladas em zonas onde a vulnerabilidade social se faz mais presente. Pós-Doutor em Engenharia Hidráulica e Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), ele atua no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Urbanismo e Design da UFC e reflete sobre como a falta de um olhar profissional sobre as construções pode acabar comprometendo não somente a ventilação como também o conforto nos imóveis mais precários.

Newton Becker é professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC)(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Newton Becker é professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC)

“Várias pessoas vivem em lugar de privilégio, com uma climatização artificial ou com intervenções arquitetônicas que pensam em uma boa ventilação”, diz, completando: “Hoje, por mais que ainda se projete a questão da ventilação cruzada, ainda mais no nosso contexto de semiárido que tem uma certa umidade do litoral, todos os ambientes são propostos, em uma nova construção ou em adaptações, já prevendo algum tipo de climatização artificial. Então tudo vai ter a espera de ar condicionado. Nada mais é pensado para funcionar com um conforto passivo e que não precise de consumo de energia.”

A lamentação, por outro lado, é que nem todas as pessoas podem usufruir de um ambiente de trabalho (como já mostrado nesta reportagem) ou mesmo de uma moradia com essas características. Moradores de favelas ou kitnets, por exemplo, muitas vezes residem em espaços que dividem a mesma parede com os vizinhos, sem pode contar nem com janelas ou sequer recuos laterais. Tais aspectos impedem algo essencial para a amenizar a temperatura nessas residências, que é a ventilação cruzada.

“A ventilação cruzada é aquela que tem uma entrada e uma saída, que pode ser por outra janela ou pelo teto. Quando você não tem recuo lateral e geralmente só tem uma porta e talvez uma janelinha de exaustor na cozinha, a ventilação desse ambiente certamente fica comprometida”, relata Newton.

Ele destaca que esse tipo de situação também acontece em meio a um cenário em que quase a totalidade das construções urbanas no País são realizadas na informalidade. Ele cita uma pesquisa de 2018 realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), que apontou que 85% das construções são realizadas sem a participação de um profissional habilitado.

“Isso significa que essas moradias não vão cumprir as normas técnicas, nem as Leis de Uso e Ocupação do Solo (Luos). Os kitnets são exemplo disso, porque seus donos, por vezes sem contar com qualquer alvará de funcionamento, vão sempre querer aproveitar o máximo do espaço possível sem passar pelos trâmites legais que são exigidos pela Secretaria de Meio Ambiente ou pelos conselhos técnicos. Então isso vai acontecer e vai prejudicar quem vai ser o usuário final”, afirma Newton, relembrando ainda das autoconstruções. “Aí ainda entra as questões da precariedade de material”, lastima.

Pesquisa

Pesquisa de 2018, realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), apontou que 85% das construções são realizadas sem a participação de um profissional habilitado

A paraibana Mikaelle Farias tem 22 anos e é uma das vozes nordestinas no ativismo contra as mudanças climáticas
A paraibana Mikaelle Farias tem 22 anos e é uma das vozes nordestinas no ativismo contra as mudanças climáticas

Bronzeados pelo trabalho, ambulantes sofrem na pele

Na Praça do Ferreira, um verdadeiro indicador das atividades econômicas e sociais de Fortaleza, milhares de cearenses transitam diariamente fazendo compras, contratando serviços ou realizando diversas outras tarefas. Mas mesmo nesse espaço, o próprio Sol que há décadas ouviu uma sonora vaia ressoando em sua direção ainda continua imperando.

Cotidianamente entre os primeiros a chegar à Praça está o vendedor Elson Paiva, que estaciona seu isopor carregado de garrafas de água, latas de refrigerante e até mesmo de cerveja todos os dias na travessa Severiano Ribeiro, que fica localizada entre o Cineteatro São Luiz e a Loja Marisa. Embora seja dono de uma pele naturalmente negra, ele carrega consigo as marcas de quem passa boa parte do tempo exposto aos intensos raios solares.

"Estou há sete anos trabalhando aqui na Praça e percebo que nos últimos tempos o calor tem aumentado", relata. Seu termômetro, contudo, não é analógico, quanto menos digital. Elson distingue os dias quentes dos mais amenos por meio de seu próprio labor, que se intensifica especialmente quando a temperatura sobe. "Os clientes procuram beber mais água", confirma.

Ainda de acordo com ele, os efeitos da sua exposição ao Sol se fazem presentes inclusive agora, depois de já estar há tantos anos trabalhando no local. "Eu passo protetor solar antes de sair de casa, bebo muita água e sempre procuro uma sombra para me proteger, mas mesmo assim à noite ainda sinto minha pele arder", informa, dizendo que busca sempre tomar banho e passar outro protetor antes de dormir.

Em buscas na internet e em farmácias pela Cidade, os preços dos protetores solares variam facilmente de R$ 40 a mais de R$ 150, fazendo com que Elson precise calcular dezenas de garrafas de água que precisaria vender para poder comprar apenas um desses produtos. "Se fossem mais baratos seria bem melhor", constata.

Na mesma Praça, Nadynne Andrade exibe um verdadeiro leque de SIM cards, os famosos chips de celular. Das 9 horas às 17 horas oferecendo seus produtos a quem passa pelo local, ela afirma que mesmo sem ficar diretamente exposta já sente no corpo os efeitos do astro mais poderoso do nosso céu. "A gente não precisa nem estar no Sol para bronzear. Então é direto bebendo água, por conta da voz, e procurando sombra", afirma, contando que às vezes vai trabalhar com camisas mais longas - e às vezes não.

Aos 28 anos, Nadynne também diz que ao chegar em casa sua fisiologia sempre denuncia os resultados de um extenuante dia de trabalho. "O pescoço arde, o rosto arde. Quando chego em casa, minha pele está toda vermelha por causa do sol. Para amenizar, busco hidratar a pele e tento tirar essas manchas de bronze que ficam no braço por conta da manga da camisa", complementa.

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