A pandemia de Covid-19 que vivenciamos traz repercussões que vão além do intenso quadro clínico que o indivíduo acometido vivencia. Traz medos, inseguranças, incertezas e interfere não só na saúde, mas em toda a sociedade.
Para o adoecimento orgânico, nossas armas são os medicamentos, ventiladores mecânicos, leitos de internação e outros insumos. Mas, para o adoecimento proveniente do medo, a única arma possível é a informação. E uma informação eficaz só se faz com transparência.
A população anseia por saber mais sobre o comportamento da doença. Quer saber quantos doentes, como estão os leitos de hospital, quantos mortos. E quer saber sem sensacionalismo. Quer que alguém diga se está aumentando, diminuindo, quais são as perspectivas e se o avanço está perto ou longe do previsto – e, por alguém, leia-se uma instituição responsável e com credibilidade.
A Covid-19 ainda traz um agravante: temos poucos testes, os testes têm uma sensibilidade baixa (ou seja, nem sempre quando o resultado é negativo quer dizer que o indivíduo não tem a doença) e ainda há demora em sair o resultado.
Com isso, nem sempre é fácil entender o que os números informados querem dizer – suspeitos, positivos, negativos, por data de ocorrência, por data de resultado, afinal, isso foi ontem ou no dia que ocorreu?
Podemos usar este ou aquele dado (ou parte do dado) para que os números confirmem esta ou aquela situação. E números bem torturados confessam qualquer crime. Essa máxima é repetida frequentemente em epidemiologia e estatística.
Nosso dever, enquanto gestores em saúde, enquanto líderes e influenciadores é garantir que as informações cheguem de maneira fácil e clara à população. Que as informações traduzam a realidade e que possam ser utilizadas com segurança como base para as tomadas de decisão.
Em meio a tantas perguntas (porque sobre o coronavírus temos mais perguntas do que respostas) somente o exagero da comunicação pode trazer um pouco de luz para iluminar os caminhos de quem precisa equilibrar o medo de contágio, a necessidade de proteger os seus, a garantia de acesso aos serviços de saúde de quem adoece e a manutenção da economia para gerar os recursos essenciais para que nosso país não se acabe junto com o vírus.
Médica, professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza e diretora Geral do Hospital Unimed Fortaleza
Especialistas refletem sobre perspectivas da pandemia do novo coronavírus